terça-feira, outubro 04, 2005

A que (des)propósito terei sorrido?

(Ao reler esses princípios)



In Convenção sobre os Direitos da Criança, 20 de Novembro de 1989, Nações Unidas - ractificada por Portugal em 21 de Setembro de 1990 (destaques meus):
"
A Convenção assenta em quatro pilares fundamentais ...
(...)
o interesse superior da criança deve ser uma consideração prioritária em todas as acções e decisões que lhe digam respeito.
(...)
a opinião da criança que significa que a voz das crianças deve ser ouvida e tida em conta em todos os assuntos.

Artigo 1
Nos termos da presente Convenção, criança é todo o ser humano menor de 18 anos, salvo se, nos termos da lei que lhe for aplicável, atingir a maioridade mais cedo.

Artigo 18
1. Os Estados Partes diligenciam de forma a assegurar o reconhecimento do princípio segundo o qual ambos os pais têm uma responsabilidade comum na educação e no desenvolvimento da criança. A responsabilidade de educar a criança e de assegurar o seu desenvolvimento cabe primacialmente aos pais e, sendo caso disso, aos representantes legais. O interesse superior da criança deve constituir a sua preocupação fundamental.
2. Para garantir e promover os direitos enunciados na presente Convenção, os Estados Partes asseguram uma assistência adequada aos pais (...)

Artigo 31
1. Os Estados Partes reconhecem à criança o direito ao repouso e aos tempos livres, o direito de participar em jogos e actividades recreativas próprias da sua idade e de participar livremente na vida cultural e artística.
"

segunda-feira, outubro 03, 2005

O dia de escape


Bunn, Escape
Terminou o meu domingo.
Ao domingo as tarefas para a escola já estão terminadas (por norma, que todas as normas têm excepções), pois não tenho computador senão à noitinha (podia ter de manhã, mas essa é para dormir). Tenho-o disputado à vez, numa gestão de tempos nem sempre fácil, mas não sobra para mim (nem quereria que sobrasse). Também não tenho nem ministério da educação, nem governo, nem... país, pois não vejo telejornal - às 8 estou a dar o jantar às crianças, às 10 estou a regressar de as levar a casa, e não vou depois procurar outro, nem quero saber a que horas há (também por norma, com as ditas excepções, nalgum momento extraordinário).
Neste momento, apetece-me particularmente prolongar o escape do domingo. Sobre o que se passa nas escolas, até já tinha "decretado" pausa, quando comecei as aulas. Escrevi, então: "o momento presente é confuso e preocupante. Mas, nele, já houve o tempo para prever, conjecturar consequências, interrogar. Agora, opto por parar e esperar. Porque o tempo está nublado, não há visibilidade para vislumbrar o evoluir deste momento. Resta, portanto, aguardar. (E desejar que o que for trigo cresça e o que for joio vá para a lixeira)"
Não cumpri o meu decreto, mas agora acho que vou cumpri-lo. Até porque não tenho estado imune a tensões - ter amigos que não são professores (ou que são sindicalistas) torna este momento propício a uma ou outra discussão acesa, com divergências que excedem as habituais, estas naturais e estimulantes. Distancio-me sempre de ambientes de tensões interpessoais, mas de amigos não, e era só o que faltava permitir que a Srª Ministra da Educação ocupasse a minha cabeça a ponto de ter tensões (ainda que momentâneas) com dois dos meus maiores amigos!!!
E, ao meu domingo que terminou, sucede-se uma semana em que o tempo de escola é ocupado fundamentalmente com alunos - não são as minhas crianças do domingo, que fazem menos barulho que eles - claro, eles são muitos mais duma vez, que não tenho 25 netos ;), e já são adolescentes - mas é um barulho que é silêncio de política e políticos. Eu até não teria nada contra o barulho da política, em tudo presente, se não fosse feito por políticos (leia-se políticos como equivalente a interesses político-económicos, que não são propriamente os interesses da anónima humanidade, de que existe uma pequena parcela cá, e o resto todo pelo mundo).
Mas, como também o conteúdo inicialmente previsto para este blog não é oportuno por agora, pois a grande confusão do presente já me dificulta discernir, sobre memórias de prof de Mat (ou mesmo sobre pensamento que não preciso de ir buscar à memória), o que ainda é relevante, e o que já não é nem prioritário, nem sequer de alguma importância.
Assim... neste momento apetece-me, como disse no início, prolongar o escape, cumprir também o meu decreto de pausar para aguardar, mas fico sem saber o que faça no meu blog!!!

domingo, outubro 02, 2005

Adenda: Mas foi só uma vez

"Grito" e assunto terminados, da minha parte.
Até porque, além de o assunto andar pouco sintonizado, o exercício do silêncio é tão importante quanto a prática da palavra (dizia William James).


D. Gehrman, Crackling Silence

sábado, outubro 01, 2005

Chegou a minha vez

Na situação criada nas escolas, temos lido reacções de colegas resultantes de revolta (por isso naturalmente emotivas, provavelmente daquelas que gritamos nada convencidos de que vamos levá-las à prática), em que se afirmam disposições, formuladas diferentemente mas com uma tónica comum que traduzo: contar as horas de trabalho e, esgotadas as 35 semanais... parou, a correcção de testes é adiada, a preparação do material para as aulas é suspensa, aos alunos diz-se: não há, não reclamem.

Chegou a minha vez do "grito", só que não foi esse. Direi qual foi depois de descrever a gota de água que me encheu, e que é o facto de (além das 10 horas marcadas no meu horário como componente não lectiva) estar com um trabalho esgotante, nas aulas de duas das minhas turmas e em casa por causa delas (um 8º novo e um 9º que já fora a minha "dor de cabeça" no ano passado, descrita AQUI), trabalho que poderia ficar atenuado e com maior probabilidade de ter algum sucesso se não estivesse a minha escola subjugada às prioridades da Srª Ministra da Educação.
Transcrevo a última parte de um meu post anterior (parte essa que é a tal gota de água) :
"Um pequeno mas bem elucidativo exemplo. Face às preocupações com a Matemática, fiz em Julho, ao saber do aumento das horas na escola, o levantamento dos alunos (em número alarmante) que iam ingressar no 8º e no 9º sem nunca, incluindo o 2º Ciclo, terem tido mais que nível 2 nesta disciplina, para que se desse um apoio suplementar destinado a aquisição daquelas bases mínimas sem as quais fica impossível a qualquer profesor, nas horas curriculares, conseguir recuperá-los e integrá-los, mesmo quando estão receptivos a isso. Soube posteriormente que tinha sido impossível conseguir essas horas porque não sobrava nenhuma, das necessárias para ter professores em todos os tempos, destinadas à prioridade imposta de serem ocupados os alunos em qualquer falta de um professor. Quem tiver tido paciência de me ler até aqui, vê bem nisto uma amostra da cegueira da Srª Ministra quanto às prioridades.
Mas... fica-se passivo???!!!"

E o meu grito foi o final de um documento que redigi ontem, dirigido ao CP da minha escola, em que descrevo a razão de ficarem inviabilizados dois projectos que tinha sugerido (duas ideias muito bem recebidas pelo CP, para a escola preparar actividades efectivamente de reforço educativo, a que qualquer professor substituto poderia conduzir as turmas). E ficaram inviabilizados devido a que necessitavam de tempo para que equipas de professores interessados (e havia) trabalhassem neles em termos de lhes dar conteúdo, planificar, e definir os materiais a executar - e esse tempo não há. Não há por razão óbvia: com 24 horas já preenchidas nos horários (fora as das reuniões) (a maior parte, da componente não lectiva, nas tais substituições para actividades avulsas com alunos), com as 35 horas ultrapassadas por aqueles que já as totalizavam ou excediam e que são aqueles (bastantes) que costumam mostrar-se mais disponíveis e entusiastas para estas "coisas", não sobra tempo (para montar tais projectos não basta meia dúzia de horas, pois tratava-se de recursos a criarmos na escola para toda a escola), nem alento (nem horas comuns necessárias).
A essa descrição, acrescentei o relato resumido do caso que aqui comecei por (re)descrever - a minha gota de água a tranbordar a taça.

E o tal final do documento (a que acima chamei o meu grito, caso - pouco provável - em que não venha a ser o grito da minha escola) é assim:
"Caso o Conselho Pedagógico não subscreva este relatório com a finalidade de envio ao gabinete adequado do Ministério da Educação (de preferência ao gabinete da Srª Ministra), desejo usar o meu direito de o enviar a título individual por intermédio da escola, acompanhado portanto de ofício adequado a essa formalização." (O documento, por agora, é assinado como professora e coordenadora do 3º Ciclo de Matemática)

_______

Adenda

Um esclarecimento, decorrente de possível mal entendido em que um comentário me fez reparar: independentemente de o CP da minha escola entender ou não adequado o envio do meu documento em seu nome, não estará em causa o seu acordo com o conteúdo do mesmo, incluindo o do presidente do meu CE, também presidente do CP. Este esclarecimento deve-se a que, dadas as notícias de que alguns conselhos executivos cumpriram o mais gravosamente possível para os professores as normas impostas superiormente ou até as excederam, na minha escola não temos esse caso, temos sim o caso do cumprimento o menos gravoso possível dentro da (muito pouca, mas alguma) margem de maleabilidade que foi dada aos conselhos executivos, nomeadamente na decisão do número de horas da componente não lectiva para trabalho individual.

quinta-feira, setembro 29, 2005

...

Wait for Me!

Sophie Anderson, Wait for Me

Exercício de lógica

Quem me ajuda a encontrar os erros ou vícios de raciocínio?
(Que algum tem que haver nas minhas deduções mais abaixo, ilógico seria pensar que as conclusões eram tão fáceis)

Desculpem o entretenimento, até estou pouco interessada em discutir educação/ensino à luz de três ou quatro artigos de legislação - qualquer governo os altera rapidamente. Estou disponível, sim, para discutir à luz de princípios e, esses, não me lembro de qualquer despacho ou mesmo decreto com poder para os alterar em cada um.
Apenas aconteceu que uma interrogação receosa, embora incrédula, me passou pela mente. O abaixo-assinado lançado pela FenProf agradou-me porque se centra na dignidade da profissão docente. Entretanto, reentro no site da FenProf e o texto à cabeça fez que me perguntasse se afinal agora a grande questão era que todas as actividades de substituição de professores fossem pagas a todos, como se o pagamento já legitimasse ocupação/entretenimento de alunos, mesmo que com uma Coisa Qualquer.

Dedução 1
(Relativa a serviço obrigatoriamente considerado como extraordinário e extensivo a quaisquer actividades de substituição, não só a aulas caso o professor seja da mesma disciplina ou área do colega que falta - ECD)
-"Assegurar a realização, na educação pré-escolar e no ensino básico, de actividades educativas de acompanhamento de alunos, destinadas a suprir a ausência imprevista e de curta duração do respectivo docente" (dever, ECD)
-"O docente incumbido de realizar as actividades referidas deve ser avisado, pelo menos, no dia anterior ao início das mesmas" (ECD)
-Conclusão: O docente não tem que comparecer na escola para assegurar o serviço referido se não tiver sido avisado pelo menos no dia anterior, ou seja, a previsão, no seu horário, de horas expressamente destinadas a esse serviço, só poderia ser uma indicação de que estas são destinadas a eventuais prestações do mesmo, sob aviso.

Dedução 2 (Relativa a ocupação plena e legal dos alunos durante o seu horário lectivo)
- "Cada Conselho Executivo deverá proceder à aprovação de um plano de distribuição de serviço docente, identificando detalhadamente os recursos envolvidos, que assegure a ocupação plena dos alunos em actividades educativas, durante o seu horário lectivo, na situação de ausência imprevista do respectivo docente a uma ou mais aulas". (P.E. e Org. Ano Lectivo 2005/2006)
- Pressupõe-se que a Srª Ministra da Educação pretende que a ocupação plena dos alunos em actividades educativas abranja os tempos em que faltam professores sem que tal pretensão seja ferida de ilegalidade face a um decreto-lei em vigor - o Estatuto da Carreira Docente.
-Então (conclusão): Na ausência de um docente, a atribuição de horas de permanência obrigatória na escola não pode implicar que, nessas horas, os respectivos professores vão para as aulas das turmas, o que seria uma substituição requerendo aviso prévio, podendo apenas implicar que conduzam os alunos para actividades educativas alternativas (e as realizem com eles), previstas na escola com os recursos identificados detalhadamente pelo respectivo Conselho Executivo.

terça-feira, setembro 27, 2005

Não resisti, mas...

Não resisti a escrever a entrada abaixo, mas como tinha decidido fazer uma pausa nessas questões para aguardar as evoluções e não ter "efervescências" em tempo de espera, pois efervescentes já são os meus alunos e, embora seja outra efervescência, que é a adolescência, eu tenho que estar calma para compreender essa sem raspanetes além do quanto indispensável, volto à terapia preventiva :)


Salvador Dali, Rosa Meditativa

Ao menos nisto, passividade... Não!

Do abaixo assinado lançado pela FenProf, recorto e transcrevo apenas o que se segue porque se refere ao "ao menos nisto" do título deste post. (Os destaques são meus)
"Abrir um processo negocial sério, objectivo e participado que permita reverter (...) a construção de horários dos docentes que descaracterizam profundamente os aspectos essenciais da sua profissionalidade, provocam um incalculável desgaste físico e psicológico tanto mais trágico quanto em nada contribui para uma melhoria real do funcionamento das escolas nem para a melhoria do ensino e das aprendizagens dos alunos."

Que Sócrates e seus ministros, face às sua prioridades economicistas pressionadas por um alarmante déficit (aonde ele remonta nem é dito), tomem medidas correctas ou incorrectas, favoráveis ou prejudiciais ao objectivo, ou mesmo justas ou injustas, não prepotentes ou prepotentes, disso pode dizer-se que têm uma (mesmo que só esta) legitimidade: a da maioria - e absoluta - concedida democraticamente nas urnas de voto.

Mas já legitimidade alguma vejo na intromissão na educação e ensino de quem revela ignorância dos objectivos educacionais e do que concorre para os favorecer e reforçar.
(Qanto ao seu manual, Dr. Valter Lemos, este podia 1º ter mostrado o seu brilhante curriculum na oportunidade que teve de intervir na fraude que são várias ESEs e institutos onde os futuros profesores de 1º e 2º ciclos têm que se conformar com a formação que lhes é proporcionada)
Poderá a Srª Ministra da Educação ter tido boas intenções, possíveis de virem a dar frutos. Mas, a sua precipitada e obsessiva preocupação prioritária de estarem os alunos sempre ocupados na falta de professores, sobrepondo essa obsessão à viabilização, nas escolas, de ocupações pedagógicas (que, se acaso sabe o que isso é, pelo menos não faz a mínima ideia de que não se improvisam, mas sim se preparam mediante projectos e recursos) destruiu o que, eventualmente, poderia corresponder a intenções válidas. Destruiu, porque exigiu dos professores a ocupação do tempo em tarefas inevitavelmente mais anti-pedagógicas do que pedagógicas (porque os professores não conseguem fazer omeletes com ovos podres e ficaram sem tempo disponível para encontrar os ovos sãos) ; destruiu ainda mais (também por ignorância pedagógica?) ao desrespeitar a dignidade profissional do professor (que é também a dignidade do ensino); destruiu mais ainda pelo ambiente de confusão em que obrigou o ano escolar a iniciar-se (não vislumbrando mais nenhuma condição para que ele comece bem senão a colocação atempada dos professores); e finalmente, matálo-à definitivamente se não descobrir a tempo que é impossível dignificar o ensino desprezando os professores.
Coloco este post, porque ninguém poderá insinuar que não quero trabalhar : tenho na escola as 23 horas mais as horas das reuniões (e com mais 2 horas lectivas a substituir uma redução por cargo pedagógico que continuo a exercer), em vez das 14 + horas das reuniões que tinha (num horário total que nunca ficou aquém das 35 h e agora ainda não fiz as contas a quantas chega), bastante cansada mas pelo menos com o gosto de estar, por acaso, com uma tarefa pedagogicamente válida, numa equipa que está a concretizar um projecto de integração de alunos "problemáticos", já aprovado e preparado antes de a escola imaginar as medidas que se avizinhavam.
E, pese o inconveniente da extensão do texto, não termino sem demosntrar a justeza das acusações que acima fiz à Srª Ministra (pena que não venha até à bolgosfera docente), com um pequeno mas bem elucidativo exemplo. Face às preocupações com a Matemática, fiz em Julho, ao saber do aumento das horas na escola, o levantamento dos alunos (em número alarmante) que iam ingressar no 8º e no 9º sem nunca, incluindo o 2º Ciclo, terem tido mais que nível 2 nesta disciplina, para que se desse um apoio suplementar destinado a aquisição daquelas bases mínimas sem as quais fica impossível a qualquer profesor, nas horas curriculares, conseguir recuperá-los e integrá-los, mesmo quando estão receptivos a isso. Soube posteriormente que tinha sido impossível conseguir essas horas porque não sobrava nenhuma, das necessárias para ter professores disponíveis em todos os tempos com vista à prioridade imposta de serem ocupados os alunos em qualquer falta de um professor.
Quem tiver tido paciência de me ler até aqui, vê bem nisto uma amostra da cegueira da Srª Ministra quanto às prioridades.
Mas... fica-se passivo???!!!

...

The Voice of the Winds

René Magritte (1928)

domingo, setembro 25, 2005

Ode à poesia

(...)
Poesía,
porque contigo
mientras me fui gastando
tú continuaste
desarrollando tu frescura firme,
tu ímpetu cristalino,
como si el tiempo
que poco a poco me convierte en tierra
fuera a dejar corriendo eternamente
las aguas de mi canto.

Pablo Neruda

(Ode à poesia, extracto)

sábado, setembro 24, 2005

Ainda a Matemática - Convite

Em Julho, os professores deste país, mas particularmente os de Matemática (pelo menos os do ensino básico, e especialmente - mas não só - os do 3º Ciclo) foram, explícita ou implicitamente, chamados de incompetentes. Depois, a Srª Ministra da Educação veio publicamente atenuar a vaga que percorreu a opinião pública, mas a ideia já estava instalada em boa parte desta.
Com excepções, que sempre as há em qualquer profissão, mas que, como tais, não têm relevância, os professores de Matemática foram gravemente injustiçados - sobre isso não tenho dúvidas. O que não quer dizer que não saibamos todos que a maioria dos nossos alunos tem um déficit em certas competências matemáticas essenciais, mesmo que saibam a "matéria" - lidamos com isso há muito tempo, mas vários factores, alheios ao nosso esforço, concorrem para esse facto. O que não quer dizer, também, que deixemos de repensar constantemente a nossa prática. E, nas escolas, nas reuniões de departamento cheias de informações do CP, de papelada a repetir todos os anos, etc., escasso tempo fica para reflectir e repensar em conjunto.
Aqui fica, então, um convite a colegas de Matemática que (talvez) de vez em quando visitem este cantinho (pois alguns, não "bloguistas", eu sei que não o desconhecem) para que alimentem algum debate, seja sobre o tema "métodos" do post abaixo, seja sobre o problema global.
Aos colegas que conhecem mal o ambiente da "blogosfera docente": é um ambiente informal de textos, opiniões e comentários espontâneos, mas também um ambiente de partilha que torna as nossas preocupações (e por vezes desalentos) menos solitárias. E este blog também está aberto a eventuais conversões em posts, de comentários que por aí fiquem despercebidos e que, no entanto, possam alimentar um debate (e opiniões contrárias até são dinamizadoras!).

sexta-feira, setembro 23, 2005

Vestígios

Joan Miró (1918), The Waggon Tracks

Aonde irei neste sem-fim perdido,
Neste mar oco de certezas mortas? —
Fingidas, afinal, todas as portas
Que no dique julguei ter construído...

Mário de Sá-Carneiro, Ângulo (extracto)

Matemática e métodos de ensino - Adenda

_________________________
Adenda III (ao texto mais abaixo)
Que adendas desordenadas! É que nos blogs escreve-se de momento, não se "prepara" um artigo. E queria deixar num mesmo post sobre o tema as notas que não me ocorreram logo, mas sem as quais o que penso e defendo sobre o assunto pode ficar distorcido.
Todos sabemos que um método de ensino não vale por si só, vale pelo que o professor fizer com ele. Não há padrões, muito menos um padrão único. O que me parece essencial é que o ensino-aprendizagem da Matemática, pelo menos para os mais novos, da escolaridade obrigatória, assente num método verdadeiramente activo, de modo a conduzi-los, sempre que possível, à (re)descoberta, e à construção da sua relação com a Matemática. E seria um erro, a meu ver, que o professor, ao interiorizar isto, se forçasse a modos de o pôr em prática mediante modelos que não sejam já significativos para ele. Das teorias e dos artigos fundamentados que não faltam sobre a educação matemática, o professor recolhe novas perpesctivas, e o que delas fica nele é o que pessoalmente (re)constrói no alargamento e aprofundamento da sua prática, não na demolição de tudo o que já construiu no seu modo de ensinar. Defendi a estrutura de aprendizagem cooperativa porque ela foi significativa para mim desde o meu início. Mas dela o professor pode bem retirar pistas para um método efectivamente activo sem se forçar a adoptá-la.
Última nota: Um método efectivamente activo também assusta alguns professores (sobretudo em ambientes de ensino ainda bastante tradicionais) pela ideia de que o tempo não chegaria para "dar a matéria" - mas há que interrrogar o facto de alunos que sabem a matéria falharem redondamente, por exemplo, num exame que (correctamente) exige menos dos conteúdos e mais das competências de interpretação, relacionação, dedução lógico-matemática e até de mera identificação, entre as tais matérias sabidas, de qual há que aplicar na situação.
_________________________________________

Num post que escrevi (em momento prematuro por estarmos em férias, e que se encontra aqui), referi resistências e desistências relativas a um método de ensino-aprendizagem da Matemática, nas idades da escolaridade básica, que chegou a ser uma directiva e, progressivamente, se desvaneceu. Escrito sob o impulso de uma citação lida num outro blog, ao relê-lo agora, senti necessidade de algumas clarificações.
Ao falar de uma estrutura de funcionamento das aulas de Matemática assente no trabalho em grupo e respectiva dinâmica, esqueci de pôr o sublinhado. Confunde-se, por vezes, aprendizagem cooperativa com aprendizagem num ambiente de colaboração, ajuda mútua ou ajuda de uns a outros. Mas, desenvolvimento do espírito de colaboração ou de ajuda, sendo objectivos educacionais desejáveis, que podem ser perseguidos por qualquer professor de qualquer disciplina, nada ou pouco tem a ver com a aprendizagem, em si, da Matemática. A defesa da aprendizagem cooperativa na educação matemática, implicando, obviamente, a colaboração entre pares, pressupõe, por um lado, o efeito da dinâmica de grupo, e esta não surge apenas porque alunos estão trabalhando juntos e colaborantes numa mesa; pressupõe, por outro lado, atividades cognitivas que envolvam tentativas de construção, conjunta e partilhada, face, por exemplo, a um problema ou a uma solicitação à interpretação ou à explicação de uma situação.
"É através das situações e dos problemas a resolver que um conceito adquire sentido para o aluno" (Vergnaud, 1970). A aprendizagem é um processo construído internamente (a menos que se chame aprendizagem ao simples facto de o aluno memorizar e saber repetir ou fazer o que o professor ensinou ou treinou), que requer reorganizações cognitivas. E, a estas, não tenho dúvidas de que são bastante favoráveis os confrontos de respostas diferentes entre pares, em que uma discrepância entre conhecimento ou pontos de vista é propícia a gerar os conflitos cognitivos, reconhecidos na psicologia como propiciadores de situações de desenvolvimento cognitivo.
Só para terminar, acho oportuno lembrar um nome: Jean Piaget (que explicitava o termo cooperação: co-operação). E, para o lembrar tal como exactamente o considero, cito João Rangel de Lima, do Inquietações Pedagógicas: "O genial Jean Piaget que ainda espera ser compreendido/aplicado". Mas acrescento que, não tendo sido Piaget pedagogo nem teórico da aprendizagem, não deixou de escrever umas mensagens aos pedagogos, essas bem simples de ler, compreender e aplicar.
________________________________________
Adenda II
Poder-se-à perguntar como, então, nos tempos em que se ensinava expondo e explicando longamente para turmas disciplinadamente em silêncio, havia alunos que desde cedo eram bons/excelentes em Matemática. Passando por cima do facto de que, nesse tempo, era uma elite que estudava e prosseguia estudos (elite pelo número), recordo-me miúda de liceu e respondo (na minha perspectiva pessoal, claro).
Até acho que nasci a gostar de Matemática, por isso, entre disciplinas a que não estava atenta por fastio ( e até ia chumbando numa no 7º ano por passar as aulas a jogar a batalha naval com a colega da frente), em Matemática estava de facto atenta. Também tive a sorte de qualquer das duas professoras que tive serem boas professoras em termos de exposição organizada e clara, e de não serem tão distantes dos alunos como o era a maioria. No entanto, tenho a certeza de que não teria tido o meu 20 no exame do 5º ano e o meu 19 no do 7º (desculpem a imodéstia, mas é precisa para chegar ao que quero dizer, e também tive notas bastante medianas em várias outras disciplinas), se não acontecesse o seguinte: Era em casa (nessa idade era estudante "aplicadinha" e briosa, mas na Matemática fazia-o por gosto) que, com os apontamentos e problemas resolvidos no caderno, com vários passos que até poderia tentar memorizar, mas que na aula ficaram obscuros dado que a tolerância à colocação de dúvidas era bastante limitada, era em casa, dizia, que eu, com o meu lápis no papel (ando sempre a repetir que a Matemática não entra pelos olhos e ouvidos) reconstruía, às vezes penosamente, o que ouvira e trazia no caderno. Era em casa, em suma, que eu descobria, que a aprendizagem se tornava o que se chama em psicologia uma aprendizagem significativa, que se estabelecia a minha relação com a Matemática. As professoras ensinavam bem, mas há aprendizagens que só acontecem pelo (re)descobrir.
Será que não seriam semelhantes os testemunhos de "bons" alunos em Matemática dessa época de ensino não só tradicional, mas em que o aluno era, em geral, ser totalmente passivo na sala de aula?
Com este simples testemunho, apenas quero dizer que a educação matemática tem que ser para todos (ou tantos quanto possível), pelo que têm que se questionar também os métodos, pois até são poucas as crianças que nascem com o "esquisito" gosto por essa disciplina, e depois, ainda por cima, ouvem falar dela desde pequenos como o papão da sua vida escolar.

terça-feira, setembro 20, 2005

Waiting

Jack Pierce (2005), Waiting

Tempo para pausa

Comecei as minhas aulas.




De que árvore florida
chega? Não sei.
Mas é seu perfume...

Matsuo Bashô

M. L. Esgueva (2001), Simplicity

Comecei as minhas aulas. Terá que decorrer algum tempo para que possa chamar "memórias" ao que trouxe do reencontro.
Quando iniciei este blog, queria escrever memórias de prof de Mat. Mas o momento presente, confuso, agitado e interrogado, nem me deixa disponibilidade mental para olhar para trás, nem me permite discernir o que ainda é relevante do que deixou de o ser.
E, desviando o pensamento da Educação para olhar o mais que vai acontecendo no palco da Governação, começo (como já disse por aqui) a sentir-me sufocada.
Por tudo isto, é tempo de fazer uma pausa. Uma pausa para aguardar. Uma pausa nos posts resultantes de pôr de imediato os dedos no teclado perante uma nova medida, uma notícia que me faz murmurar aos meus botões a palavra prepotência, um artigo que me faz saber que mais outra pessoa está a sentir o mesmo que eu, e também uma discussão com algum amigo que não é prof, que só não acaba aos gritos porque acaba no pedido mútuo de desculpas pelos gritos.
Em suma, o momento presente é confuso e preocupante. Mas, nele, já houve o tempo para prever, conjecturar consequências, interrogar. Agora, opto por parar e esperar. Porque o tempo está nublado, não há visibilidade para vislumbrar o evoluir deste momento. Resta, portanto, aguardar. (E desejar que o que for trigo cresça e o que for joio vá para a lixeira)

domingo, setembro 18, 2005

Aparte sem comentários

Como informa o Educare aqui , foi previsto que fossem entidades públicas e privadas, como autarquias, institutos de línguas e associações de pais, a responsabilizarem-se pelo ensino do Inglês no 1º Ciclo, incluindo a contratação de professores. Ontem, de passagem por um blog em que o autor referira a quantia que paga à hora a quem lhe anda a pintar a casa, bem como a quantia líquida que recebe por hora um professor de QE, li um comentário (não anónimo, bem identificado por nome próprio e apelido), em que o comentador concluía, com honesta ironia, que, como recrutado para leccionar Inglês no 1º Ciclo, ia ganhar por hora quase tanto como um professor QE no fim da carreira (acrescentando que, então, pena era que fossem apenas 12 horas mensais).

sábado, setembro 17, 2005

Sugestões de leituras

I
Aos colegas de Matemática, sobretudo aos que o Ministério da Educação pretende "reciclar":
Artigo de interesse do Inquietações Pedagógicas:
Aqui.
__________________________________________

II
Artigo que os jornalistas poderiam publicar (a meu ver): Uma farsa


Há duas maneiras
de governar:
pela força
ou pela farsa.
Glauco Mattoso
Bem... o autor não diz Há duas maneiras... Mesmo que o pense, eu acredito que haja outra, por isso achei oportuna a citação.

sexta-feira, setembro 16, 2005

...

The Window

Henri Matisse (1905)

Assim não está a dar!

Lembro-me de me sentir sufocada neste país (já era adulta).
Porque estou hoje a sentir o ar irrespirável?
Afinal, O Poder agora é dado por regras democráticas... faz parte dessas regras o risco de ser dado ao Engenheiro Posso, Quero e Mando.
Há que procurar os locais respiráveis, mas como a escola tem um portão que não a protege, estou mesmo a precisar de 2ª feira... da minha sala de aula. (Claro, também está na escola, mas tem estado de porta fechada, não está contaminada)

...

Alberto Godoy (2004), Atado a la Tierra

terça-feira, setembro 13, 2005

Aparte para um aplauso...

...à Sra Ministra da Educação
Aplauso por ter chegado a essa conclusão. Já é um passo para perceber! Uma dica: não serão guardar meninos; mas podem (vir a) ser também reforços PEDAGÓGICOS, com os respectivos espaços, recursos materiais e tempo para planificação e organização.

segunda-feira, setembro 12, 2005

A minha prioridade

Uma das turmas de 9º que vou ter, e que já tive no 8º, já me anda na cabeça antes de começarmos. A pergunta "como vou fazer?" segue-se à pergunta que me fazia no 3º Período do ano anterior, "posso fazer alguma coisa?"
Como isto tem a ver com as preocupações no país com o déficit de preparação dos alunos em Matemática, mas os actuais alunos não podem ficar à espera dos resultados de medidas sobre o 1º Ciclo, a minha prioridade é a de saber o que faço numa situação com que, decerto, muitos outros professores de Matemática se deparam. Mas, começo por enquadrar o problema, deixando para post posterior a questão do "posso fazer alguma coisa"? (ou a questão do "podemos fazer alguma coisa?")
"...é necessário encontrar apoios para ajudar os alunos a ultrapassar as suas dificuldades. Há muito insucesso porque, muitas vezes, um aluno pára num certo nível de escolaridade e não se criam meios para o ajudar a recuperar." (Manuela Pires, APM - aqui)
O direito a apoios e complementos educativos está consagrado na LBSE para todos os alunos da escolaridade obrigatória que deles necessitem. Esse direito veio a ser concretizado com, nomeadamente, a instituição de aulas de apoio pedagógico acrescido (APAs), prioritariamente em Matemática e Português. Enquanto decorreram na minha escola (principalmente no 6º ano), o balanço foi sempre positivo - grande parte dos alunos abrangidos (sob condição de empenho e assiduidade e dando lugar a outros quando esta não se verificava) colmataram lacunas e progrediram, conseguindo mesmo completar o ano sem a reprovação em Matemática que tinham tido no ano anterior. A seguir, o crédito de horas foi cortado, restringindo-se actualmente essas aulas às NEE. Este corte reflectiu-se muito significativamente no aumento do número de alunos que chegam ao 8º ano desistentes em Matemática devido a que foram transitando desde o 5º ou 6º ano sempre com nível negativo nessa disciplina. A sequencialidade/verticalidade desta dá-lhes a consciência da quase impossibilidade de acompanharem as aulas, mesmo quando, pela maior maturidade, desejam modificar a situação. E, num ano já tão adiantado, o professor não faz milagres, pois tem limites a sua capacidade de se multiplicar por um trabalho de recuperação destes alunos e por mais outras estratégias e apoios individualizados a outros tantos que, embora sem aquela falta das mais elementares bases, também chegam reprovados do ano anterior, quando acontece que a turma é maioritariamente frágil na aprendizagem.
O corte do crédito de horas para estes reforços não foi feito por causa do actual déficit, foi ainda feito no tempo das "vacas gordas" dos fundos europeus. Na turma que referi e recebi no 8º ano, 26% dos alunos vinham desistentes da Matemática e, apesar de até os ter conseguido estimular e motivar, antes do 3º Período já estavam de novo desistentes, pois a recuperação de bases indispensáveis a conseguirem ser bem sucedidos era demasiado extensa, acrescendo, ao limite de capacidade dos professores que referi acima, que a generalidade destes alunos não tem apoio em casa nem para aquisição de hábitos de aí cumprirem tarefas esforçadamente, muito menos condições económicas para explicações. Com estes alunos (que, compreensivelmente até, não conseguem permanecer 90 minutos, desistentes do trabalho, sem perturbar o funcionamento da aula), com a maioria dos restantes a requererem muita atenção individualizada e persistência do professor, e... com aumento do número de alunos com um conjuntinho de alunos repetentes que não conheço, mas sei já que vou ter na turma...


Este post não é nenhum queixume pessoal. É, sim...
uma queixa, muito mais em nome dos alunos do que no meu, a quem, das prioridades na educação, fez sempre discursos, e dos desinvestimentos e cortes, fez sempre várias práticas (também na formação de professores). Por falta de verbas, ou por prioridades no seu destino, de que vão vindo a público pequenas amostras (ou ínfimas...)?

Entretanto, aguardemos!

Virar de página...

com uma bonita imagem a iniciar o novo capítulo.

going to school



J. Bastien-Lepage (1882)


No dia 1 iniciou-se o ano escolar. Preparou-se o ano LECTIVO - apesar de a Srª Ministra continuar ocupada a agredir os professores (a "ultima" foi a retirada do direito à assistência na doença a filhos com mais de 10 anos). Mas, a seu tempo serão colhidos os frutos sãos, e os podres cairão. Stop por agora no stress - os meus alunos estão a chegar, vou entrar em novo capítulo. Portanto, regressarão a este blog as memórias soltas de prof - memórias deles, onde a Srª Ministra não tem entrada.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Pausa

E enquanto não me posso refugiar na sala de aula, só com os putos, é melhor não me esquecer de ir olhando as estrelas...


Lonewolf

Duas irritações num só dia?! E os motivos, por acaso, nem sequer me tocam: já sei que não me vão calhar substituições porque terei duas tarefas que até fazem muito sentido para mim, e quanto à medida arbitrária sobre as faltas, até é raro precisar de faltar. (Refiro-me aos dois posts anteriores).

O que está errado e injusto não deixará, a seu tempo, de ir para o lixo (a menos que as escolas virem para escolas do conformismo e os sindicatos não se recomponham da bordoada que têm apanhado em quase todo o sítio em que se escreve sobre educação - bordoada justa, meus amigos!).

quinta-feira, setembro 08, 2005

Atenção!

Quase ninguém deu por isto, os conselhos executivos recebem ordens que são ilegais e os sindicatos não os apoiam ao menos com informação e com alerta e denúncia públicas... está tudo virado ou tudo pedrado????

As aulas de substituição previstas no nº 2 do artº 5º do Despacho 17387/2005 de 12/08 são, de acordo com o ECD, trabalho extraordinário. Como tal, se o/a obrigarem a fazer “aulas de substituição” deverá exigir a sua remuneração. (link para o blog Profesores contratados e desempregados)

P.S. Falei com um amigo, sindicalista do SPZS, que confirmou - mas também só alertaram agora as suas escolas.

Do arbitrário ao caricato

Só hoje me dei conta do ponto 7 do artigo 2º do Despacho n.º 17387/2005: "A ausência do docente à totalidade ou a parte do tempo útil de uma aula de noventa minutos de duração é, em qualquer dos casos, obrigatoriamente registada como falta a dois tempos lectivos."
Ainda recentemente, no 3º Período do anterior ano lectivo, tive uma impossibilidade de comparecer a horas à 1ª aula, o que, mais ainda do que em outras turmas, era bastante indesejável no caso - 9º ano. Procurei resolver o problema a tempo de ir dar o 2º tempo dos 90 minutos e até telefonei para a escola para que prevenissem os alunos. O telefonema nem era necessário, pois todos estavam informados sobre as regras dos dois tempos de cada bloco: Tal como os alunos (e para estes assim continuará a ser), os professores tinham um tempo de falta por cada um dos dois tempos do bloco de 90 minutos a que faltassem. Agora (arbitrariedede? despotismo? malvadez?) apanham logo com dois tempos de faltas mesmo que só faltem a um.

O caricato: Imagino a mesma situação neste ano. Tenho motivo imperioso a obrigar-me a faltar, mas conseguiria despachar-me a horas de comparecer no 2º tempo. Como já tenho falta ao bloco todo, vou dar uma volta a entreter-me até à aula seguinte e o professor substituto vai entreter os meus alunos mais um tempo além daquele a que precisava mesmo de faltar. Ou, mais caricato ainda, tenho um percalço no caminho que me atrasa, portanto chego à escola já com falta marcada e o professor substituto a entrar na minha aula, vou para a sala de professores aguardar a aula seguinte, e o professor substituto lá estará na minha aula também no 2º tempo do bloco a entreter os alunos, que até têm a sua professora na escola.

Atenção: Uma coisa é chegar atrasada, já ter a falta devida, os alunos por ali perto a perguntarem stora, não dá aula? e eu a dizer claro que dou, desculpem, atrasei-me, até já tenho falta, mas estou aqui. Outra coisa é sobrepor o direito dos alunos às aulas ao meu direito (e dever, no meu entender) a não me submeter, de cabeça rastejante, a penalizações sem critério (continua a estar escrito que "as faltas dadas a tempos registados no horário individual do docente são referenciadas a períodos de quarenta e cinco minutos" (ponto 6) - penalizações, ainda por cima, a quem se preocupava em dar ao menos um tempo na impossibilidade de dar os dois do bloco. Quando isto vem de quem, em primeiro lugar, deveria preocupar-se com os alunos no tempo em que anda a magicar como "carregar" nos professores, fico de facto muito indisposta a que me ponham em dilema.
Para já, deixo para os pais, tão apelativos, à Srª Ministra, por aulas de substituição, que apelem eles agora à mesma Srª Ministra que não exagere a maltratar os professores, não vão os malvados originar ainda mais aulas de substituição
.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Incomodidade

Sabemos todos que muita coisa anda mal, que muita coisa anda injusta. E não sabemos também, nesta era da globalização, que o nosso globo é uma teia de interesses e um escândalo de injustiças? Então, que neste meio minúsculo do nosso país e, particularmente, da nossa profissão, não percamos a cabeça (apesar dos motivos todos). Que abanemos os sindicatos para cumprirem pertinentemente o seu papel, que chamemos em voz bem alta a atenção para o que urge mudar, isso sim. Mas as pessoas, individualmente, são produtos das situações - mudem-se as situações erradas, que as pessoas erradas logo ficarão "acertadas".
O título deste post será percebido por quem tiver andado, nas últimas semanas, pelo Educare, por exemplo. Terá notado que, além de comentários justamente doridos, há outros em que se perde a cabeça em ataques interpessoais, e que, no caso último das colocações e da anunciada medida sobre os futuros concursos, se voltou a entrar num clima de professores contra professores, inclusive QZs contra QEs e viceversa - e professores contra professores é o que, a meu ver, menos precisamos agora, e só à Ministra da Educação será útil.
Referi o Educare porque é público e porque também lá vi (li) bastantes colegas, de cabeça mais esfriada, a chamarem a atenção para isso.
Também dentro das escolas haverá coisas injustas, coisas a mudar ou a eliminar. Mas também aí há que distinguir bem o trigo do joio, sob pena de ao vermos nitidamente algum joio, começarmos a ter tendência para o ampliar ou o vermos, indevidamente, multiplicado.

São compreensíveis nervosismos e até crispações, neste momento. A meu ver, há que aguardar mais uns dias para que se estabeleçam condições mínimas de serenidade. E, então, (re)comecemos a pensar a Educação.
________________________

A Flower for the Teacher

W. Homer, 1875

terça-feira, setembro 06, 2005

...



Em seus caramujos,
os tristes sonham silêncios.
Que ausência os habita?

...

A vida bloqueada
instiga o teimoso viajante
a abrir nova estrada.

In: KOLODY, Helena.(Antologia, 1999)

Paul Cezanne (1902-06), Route tournante en sous-bois

Passividade, NÃO!

Peço desculpa, a quem eventualmente tenha lido o texto que aqui tinha escrito, por o ter substituído. Retirá-lo nada teve a ver com o texto, mas com a oportunidade dele num momento em que ainda não estão criadas as condições para pensar a escola. Estamos ainda em dias de preocupação com as nossas próprias condições de trabalho, nem sequer conhecendo os nossos novos e mais longos horários, e não sabendo se (ou como) vamos poder tornar pedagogicamente úteis aos alunos as novas tarefas, dando a volta às aberrantes preocupações prioritárias com que a Sra. Ministra as impôs precipitadamente: "para que nenhum aluno ande no recreio ou esteja desocupado" (como disse numa das reuniões com presidentes de conselhos executivos), esquecendo que a elevação da qualidade da educação e a dignidade profissional dos que pugnam por ela não admite arremedos de actividades para entreter meninos.
Por isso, por agora, mantenho apenas o título: Passividade, NÃO!

P.S. O post seguinte explica este.

sábado, setembro 03, 2005

Entremeando

Afinal, apresentei-me 5ª feira, mas fiquei com um fim de semana prolongado. Na minha escola as actividades (reuniões) só começam na 3ª porque ainda se está em final de obras. Não que tenha havido alguma verba adicional, claro, mas o nosso Sr. Fernando lá vai atenuando o aspecto dos pavilhões que, desde há uns 20 anos, são provisórios, com alguma pintura aqui, alguns remendos ali, e arranjando mais um espacinho acolá com um tabique a criar dois espaços num que já era reduzido.

Entretanto, mais (más) notícias na Educação, outras fora dela, nacionais e internacionais, continuam a fazer-me teimar em entremear a visão da realidade do país (e do mundo) que temos com outras visões. Outras esperanças também.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.
(Augusto dos Anjos)

Amanhã vou vencer a preguiça de sair da cidade e vou à praia ver o mar.

Henri Moret (1905), Calm Day

Adenda
: Eu tenho a sorte (pelos muitos anos de serviço) de já não ser congelável (só quando o congelamento é de salários). Mas que raio de medida é mais esta agora de irem congelar por 3 ou 4 anos a esperança de quem ao menos esperança ia tendo de num próximo ano não ter que se despedir da família ou não fazer tantos quilómetros diários??!!!
_______________________________________________________________


Juntos,

um homem e a brisa

viram uma página


Betty Drevniok


Claude Monet (1873), Sunrise

quarta-feira, agosto 31, 2005

Fim das férias!

Que ideia essa de pintarem o fim de férias a cor de rosa!!! Ainda mudei para tons de cinza, mas depois lembrei-me das filosofias do pensamento positivo, do não contrariar os sinais que a vida nos dá, etc.... Bem, não foi a vida, foi só o Google que me acenou com o cor de rosa, mas, pelo sim, pelo não, decidi não contrariar...
Pode ser que o J.M. (o meu presidente) amanhã tenha alguma notícia cor de rosa. Além de que... que cor iria eu dar às férias do C.C. e da M.M. (equipa de horários), que se dispuseram a ter férias na 2ª quinzena de Julho para começarem a trabalhar a 1 de Agosto? (A puxarem pelos neurónios para não haver horários zero e para não porem tarefas absurdas nas tais horas...) (Ainda negam que os professores é que vão impedindo que as escolas vão ao fundo?)


Adenda (1 de Setembro) - Bom ano lectivo para todos!_____________________________________________________


Ya se ha abierto
la flor de la aurora.

(¿Recuerdas
el fondo de la tarde?)

El nardo de la luna
derrama su olor frío.

(¿Recuerdas
la mirada de agosto?)

Federico García Lorca

terça-feira, agosto 30, 2005

Hora de intervalo

Tú querías que yo te dijera
el secreto de la primavera.

Y yo soy para el secreto
lo mismo que es el abeto.

Árbol cuyos mil deditos
señalan mil caminitos.

¡Ay! No puedo decirte, aunque quisiera,
el secreto de la primavera.

Federico García Lorca

Afinal, a quem cabe endireitá-la?

Ora respondam, por favor!
Nem que seja para animação...

Deixo hipóteses de respostas
e pontinhos em aberto.
(Preferia que preenchessem
os pontinhos...)

- Ao governo?
- Aos professores?
- Às ciências da educação?
- À sociedade?
- A mim (genérico)?
- A empresários? (credo...)
- Aos alunos? (E se os puséssemos 1 semana a governar a escola?... Quem sabe se não dariam umas ideias...)
- ........................................

segunda-feira, agosto 29, 2005

Recomeçando a reflectir no "déficit" em Matemática

O Miguel Sousa chamou a atenção para um post sobre o pensamento crítico, num blog a seguir referenciado por link. Dele transcrevo o seguinte:
É mesmo: não conhecemos a dimensão do problema nem a sua origem.
Deixo duas breves achegas (mais como interrogações), guardando, para quando conseguir rebuscar, em artigos acumulados aqui por cantos da casa, referências a investigação que as fundamentem (investigação que confesso não saber se também tem sido feita em Portugal).

Primeira: A incapacidade (prefiro dizer dificuldade) referida é conhecida pelos professores de Matemática logo nos 2º e 3º Ciclos desde há tanto tempo quanto me lembro de ensinar. Embora não deixando de me interrogar sobre se, face ao tempo requerido pelos programas para ensinar "a matéria", não teremos nós professores deixado insuficiente espaço para trabalhar mais nessa dificuldade geral dos alunos (geral, com excepções que são as daqueles alunos de nível excelente), não tenho deixado também de me interrogar sobre se essas dificuldades não terâo algo a ver com um estádio de desenvolvimento em que, por exemplo, capacidade de formulação de hipóteses, de relacionação e de raciocínio dedutivo estão ainda incipientes. Até me interroguei, na altura, sobre a adequação, no nosso país, à mudança da idade de ingresso no 1º Ciclo aos 6 anos completados para o ingresso ainda com 5 anos. Tem sido frequente deparar-me com bons alunos, com evidentes boas capacidades, a necessitarem de maior esforço do que outros colegas e a terem dificuldades na resolução de problemas, a quem pergunto, entraste para o 1º Ciclo ainda com 5, ou já com os 6 anos, sendo sempre a resposta a que espero: 5 anos.

Segunda: É largamente conhecido o chamado "problema da transferência" (e foi identificado e estudado há bastante tempo) - os alunos não transferem aprendizagens feitas num contexto, para outro contexto.
Um simples exemplo disso é bem conhecido de professores de Matemática e de Física logo no 8º ano, quando o professor de Matemática tem o cuidado de iniciar e trabalhar equações literais quando vão ser necessárias em Física, incluindo as fórmulas do programa de Física, e o professor desta disciplina tem que, a seguir, repetir o trabalho, com, por um lado, perplexidade de ambos, por outro, já familiaridade com o caso. Quantas vezes tenho perguntado a turmas: Como é que a vossa professora de Física diz que não sabem resolver, não é o mesmo que aprenderam, e sabem fazer, aqui?
Pergunto-me? Isto tem a ver com o tal problema da transferência? Porquê? Tem a ver, nesta idade, com o binómio conhecimento conceptual - conhecimento procedimental, ou com o binómio conhecimento declarativo memorizado, mas não apreendido - conhecimento procedimental?
(Não nego que alguns professores "pequem" por quase reduzirem o ensino da Matemática ao ensino e treino de procedimentos exigidos pelo programa de modo a que os alunos os mecanizem, mas isso não é para aqui chamado pois é uma completa inverdade que tal corresponda ao geral)

P.S. Assumo que escrevo este post sobre o joelho, motivado de imediato pela leitura do texto acima transcrito. Não pretendo reduzir, nem o problema, nem a necessidade urgente de estudo sobre as suas causas latas.

sábado, agosto 27, 2005

Calma

Domingo
Andava também a esquecer que, mesmo quando parece parado, o mundo pula e avança (até porque não se extinguem os homens que sonham) ;)



Imóvel,
o barco.
No entanto, viaja.
Yeda Prates Bernis


Claude Monet (1887), La Barque

_____________________________________
Sábado
Ando a esquecer que "a História nunca parece História quando a estamos a viver".
Vou aproveitar o último fim de semana das férias...

Calm

(Foto de Marc Appezzato)

sexta-feira, agosto 26, 2005

Porquê?

Porque temos sempre a esperança com cerca??
Porquê também a mediocridade consegue ser ditadura?



...Neste país do pouco. Neste país do pouco.
(Manuel Alegre, 1981)

Preparando-me...

Com o regresso à escola a aproximar-se, já recortei dos catálogos de livros as compras mais urgentes.

Este último
(O Feiticeiro de OZ)
não é para mim, é para ofercer à Milu R.

Ah! E também não me posso esquecer de comprar esse recipiente que falta na sala de professsores, que o presidente do C.E. não consegue pensar em tudo, apesar de se desvelar na protecção do ambiente.


P.S. Tudo compras para consumir na primeira quinzena de Setembro, claro. Depois, tenho os alunos, portanto, depois, não me chateie, Senhora Ministra, que só repararei em si se acaso fizer alguma coisa por eles.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Aos que aguardam colocação

Opening to Tomorrow


Karen Vernon

Eu sei que não sabem ainda para onde irão com a casa (leia-se vida) às costas... que nem sabem ainda quando vão saber. E solidariedade é uma palavra inútil perante a indiferença dos que comandam (sem pressa, que a vida dos professores não faz parte das prioridades) estavelmente sentados, e ainda afrontam com escândalos de certos subsídeos de deslocação. Deixo apenas estas flores, pensando no seu título. Porque eu acredito sempre num outro amanhã.

segunda-feira, agosto 22, 2005

Que silêncio!!


ADENDA
Achei que uma ilustração surrealista era apropriada...

Silêncio com surpresas ou sem surpresas?
Alguém me dá notícias?
A Senhora Ministra está de férias? Nunca mais a vi nem ouvi, não é que tenha saudades, só não sei se deu algum passito atrás. (Não é ingenuidade minha, é só hipótese de lhe terem mostrado o previsível caos do recomeço escolar... nem sei se vou encontrar a escola cheinha de professores o dia todo, mas fechada por falta de funcionários auxiliares).
O Educare parece de férias, a Fenprof ainda mais, nos jornais nunca mais vi a secção Educação.
Serei eu que ando pouco atenta e já está tudo negociado, programado, organizado... escolas renovadas e entusiasmadas e eu aqui a continuar a pensar cobras e lagartos?

sábado, agosto 20, 2005

Ora esta...!




Métodos de ensino... manuais escolares... Onde estava a minha cabeça, para tais assuntos em férias??!!
Xôô... agora vai para fim de semana!

Manuais escolares

Ontem fui a um hipermercado, reparei logo no grande anúncio "Regresso às aulas" apontando a secção de material escolar, o que me trouxe à memória o meu habitual litígio com os manuais escolares - dizendo mais precisamente, com o manual de Matemática, que é com esse que lido. Litígio que, enquanto pessoal, não teria importância, pois só me dá o trabalho de gastar mais um pouco de tempo a seleccionar o que possa aproveitar do manual (que é importante que os alunos o usem, além de que custou caro) ao planificar as minhas aulas. (Minhas, sim, malgrado os autores dos manuais os elaborarem extensamente como se as aulas de cada professor fossem obviamente as que as suas cabeças concebem).
Mas, aparte o meu litígio pessoal não importante, a verdade é que o negócio das editoras com os manuais foi progresivamente tendo consequências negativas de não pouca importância. Seja porque alguns professores se sentem obrigados a tornar o manual no seu guia de aula dado que os alunos o compraram a alto preço, seja porque a concorrência leva os próprios autores a recheá-los tornando-os um aliciante à dispensa da planificação pessoal e autónoma das aulas pelo próprio professor. E, assim, alguns (eu evito sempre dizer muitos porque os casos que observo são de facto poucos) passaram a dar as aulas consoante a gestão ("flexível") do curriculum concebida pelos autores, usando as estratégias que estes entendem ditar (para qualquer turma e quaisquer alunos), propondo os problemas e exercícios profusamente a jeito de não se ter que os criar, mas em que cada vez menos se consegue discernir critérios de escolha, ordenação ou graduação (a não ser, por vezes, o de ser o problema "engraçadinho"). E com essa auto-incumbência de tudo fornecerem ao professor, acrescida do trabalho de procurar bonequinhos acessórios a encarecerem o dito e a infantilizar os alunos, é natural que lhes sobre menos tempo (aos autores que concorrem às editoras, cuja concorrência, por sua vez, impõe assim) para se preocuparem com uma organização simples e uma clareza que torne de facto o manual acessível e, portanto, útil ao aluno - além de que seria menos oneroso se se cingisse ao necessário dado que o manual é (devia ser) o manual do aluno, não é (não devia ser) o manual do professor.
Também o rigor científico nem sempre anda nas preocupações da negociata, e inevitavelmente escapa o errozito científico aqui e ali a quem escolhe a braços com umas duas dezenas de manuais chegados em catadupa e em cima da hora para analisar em 15 dias no meio do intenso trabalho das últimas semanas de aulas.

P.S. Quase no final de escrever este post fiz uma breve pesquisa e encontrei:

sexta-feira, agosto 19, 2005

E quando a primavera...

(Ainda a propósito de autonomia)

E quando a primavera começa a produzir mais conversa e menos trabalho, é frequente eu fazer um grande discurso que pouco efeito tem nos efeitos da primavera. Mas isso é porque também tenho altos e baixos, fadigas e caídas na rotina que me fazem andar um tanto esquecida de que mais eficaz do que meus discursos é "passar a bola" da análise da situação e das decisões responsáveis para a turma. Uma mesa a presidir e a ordenar a discussão, a stora pedindo a palavra o menos possível...
Dizemos muito que eles precisam de ser mais responsáveis pelo seu estudo (e é verdade), subscrevemos também que educar é preparar para a autonomia, mas esquecemos (eu pelo menos às vezes esqueço, apesar de o saber bem) que eles são capazes de ser autónomos e responsáveis quando mostramos que acreditamos nisso e nisso apostamos.

(Que coisa, as poucas fotos que tenho são de quando leccionava o 2º Ciclo, mas serem dessa idade até reforça o que acabei de dizer)

quinta-feira, agosto 18, 2005

Matemática e métodos de ensino

A minha necessidade de aproveitar as férias todas para destressar da actual política educativa (ou pseudopolítica educativa) não se estende às coisas da sala de aula - aí estão só os alunos (e eu).

Encontrei, numa entrevista de conceituado professor universitário ligado às questões do ensino da Matemática e à investigação nesta área, uma citação do grande matemático português do século XX, José Sebastião e Silva: “A modernização do ensino da matemática terá de ser feita não só quanto a programas mas também quanto a métodos de ensino. O professor deve abandonar, tanto quanto possível, o método expositivo tradicional, em que o papel dos alunos é quase cem por cento passivo, e procurar, pelo contrário, seguir o método activo, estabelecendo diálogo com os alunos e estimulando a imaginação destes, de modo a conduzi-los, sempre que possível, à redescoberta”. Lembrei-me então da 2ª questão que deixei agendada para pós-férias no meu post de 25 de Julho, que aí resumi assim: "Da defesa e até luta de bastantes professores de Matemática pela adopção generalizada de novas metodologias especificamente adequadas ao ensino-aprendizagem dessa disciplina nos anos da escolaridade básica (novas na prática, que nada novas nas teorias e investigações na área da educação matemática), até à resistência que não se situa apenas nos próprios - os professores de Matemática -, mas na cultura e/ou clima ainda prevalecente na escola portuguesa."

Creio que a parte da afirmação de Sebastião e Silva relativa a expor mantendo diálogo com os alunos é uma questão ultrapassada na escolaridade básica, pois julgo que nenhum professor conseguiria manter, nessas idades, os alunos mais do que cinco minutos atentos sem uma constante interacção com eles. E, embora a isso se chame método activo, não é isso por si só que, a meu ver, retira o cunho de ensino tradicional ao ensino-aprendizagem da Matemática, podendo esse diálogo não ser mais do que um expediente para a captação da atenção num método que não deixa, por isso, de privilegiar a exposição.
Mas, Sebastião e Silva acrescenta o que é o cerne da questão: a condução dos alunos à descoberta/redescoberta. E aqui lembro um dos meus lemas de sempre: qua a Matemática não entra pelos olhos ou ouvidos, mas pelo lápis no papel.
Não cabendo num post escrito ao correr das teclas enveredar por fundamentações teóricas, lembro apenas que da defesa e luta de bastantes professores nas décadas de 70 e 80 pela assunção de uma estrutura de funcionamento das aulas de Matemática assente no trabalho em grupo e respectiva dinâmica se chegou ao apoio mediante directrizes claras do gabinete de Matemática, a dada altura existente na Direcção Geral do Ensino Básico, no sentido de um método, efectivamente adequado à aprendizagem da Matemática, baseado na referida estrutura de funcionamento. Directrizes que se foram desvanecendo na resistência (talvez por insegurança devida a formação insuficiente para tal) dos professores de Matemática e também à desistência de alguns face à surdez de certas escolas à necessidade de não criarem obstáculos práticos à existência de salas apropriadas à exequibilidade de tal método.
Não me imagino a seguir outro, em toda a minha vida só entendi as aulas de Matemática assim. E os alunos também entendiam (e entendem) a diferença positiva, por isso colaboravam nos mais diversos expedientes no tempo em que o mobiliário de sala de aula (as carteiras, que não sei se ainda existem nalgum museu) de facto os requeriam para poderem trabalhar em grupo.

E aqui, trata-se de outra interacção bem para além da interacção professor aluno: a interacção entre os alunos, nos grupos e entre grupos, enfim, na aula toda.
Poder-se-ia pensar que o trabalho em grupo também não se trata de mais do que um expediente para substituir a real dificuldade de apoio constante a pelo menos 25 alunos pela maior facilidade desse apoio a um máximo de 6 grupos. Mas esquecer-se-ia o que de essencial essa estrutura de funcionamento dá aos alunos, preparando-os para um posterior ciclo, o Secundário, em que factores como a extensão dos programas decerto não a tornam exequível, mas em que também já não é imprescindível.
Dá-lhes uma relação com a Matemática baseada no trabalho de descoberta (também na tentativa e erro e compreensão deste), por si mesma desafiante como o mostram as frases frequentes: stora, não corrija ainda, deixe-nos acabar; stora, não explique ainda, já estamos a ir... . E dá-lhes sobretudo autonomia no trabalho nessa disciplina, pois trabalham uns com os outros, sim, mas boa parte da aula sem professor, cujo papel, além de exposições obviamente também necessárias, é o da explicação e do apoio apenas indispensáveis, que, na dinâmica criada, eles próprios (os putos) fazem questão de querer apenas nos impasses de naturais e inevitáveis dificuldades.
Piaget dizia que a verdadeira finalidade da educação é a preparação para a autonomia. Atrevo-me a parafraseá-lo dizendo que os métodos verdadeiramente adequados ao ensino-aprendizagem da Matemática nos anos do Básico são os que preparam para uma relação autónoma com ela no futuro trabalho pessoal que lhes exigirá.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Caminhar, sonhar e voar




"Os pés ... caminhos para seguir sempre; o professor e os alunos ... o sonhar e voar constante necessário à nova escola."





Mural cerâmico modelado pelos alunos
numa escola modelo no estado de Paraíba, 2002/2003
Centro Estadual de Ensino-Aprendizagem Sesquicentenário

Pequeno desvio

Digo e repito que ainda estou em férias. Com a diferença de que já estou ao pé do computador, por isso comecei a dar uns passeiozitos pelas notícias da Educação e por um ou outro artigo sobre esta. Por intermédio do Outroolhar conheci A Página da Educação e nela encontrei um artigo de que não resisto a transcrever o excerto seguinte (é só um pequeno desvio às férias).

O Governo não sabe nada (ou obriga-se a uma amnésia...) sobre o património teórico-prático das ciências da educação. Ignora a reflexão crítica acumulada sobre a avaliocracia; não estimula formas alternativas de avaliação contínua; esquece os efeitos de selectividade social dos exames e o florescente mercado das explicações; não estimula o ensino experimental e laboratorial; nada adianta sobre as modalidades de ensino tutorial ou acompanhado, apenas se preocupa obsessivamente em ocupar a carga não lectiva do horário docente – mas com que projectos, com que ideias, com que concretização?! O Governo não cumpre promessas. O seu programa proclama que jamais os meios – rentabilização de recursos, cortes orçamentais – se transformarão em fins. Alguém ainda acredita?

terça-feira, agosto 16, 2005

Do saco de viagem

Da cidade, passei a ponte para a montanha... as árvores... o rio. Também para outras gentes, que nos cruzam sem nos conhecerem e nos dizem bom dia.
Como disse abaixo, já pendurei em casa os ambientes que a memória trouxe no saco de viagem.
IC
_______________________________________________


Jamais levaria para estas férias leituras sobre escola, excepto quando a leitura antes começada é de narrativa divertida (oportuna também). Por isso, entre os livros de férias, levei o Diário da Stôra Lili.
________________________________________________


Música, levei só em português. Não de Portugal... deve ter sido um acto falhado, o trauma do deficit já me faz ver deficit em tudo.
E, não só pelo deficit, como podia este país ser agora uma canção?

Mas...
Eu sei que há momento
que se casa com canção
(Bethânia)
E...
Já murcharam tua festa, pá,
mas certamente
esqueceram uma semente
nalgum canto de jardim.
(Chico)
_____________________
P.S. São apenas simbólocos os ambientes de férias que tenho deixado aqui. Para reparar nas coisas simples e na poesia que falta. Também para a serenidade de olhar os momentos agitados na perspectiva dialéctica de ser o progressivo e inevitável desiquilíbrio até à ruptura que sempre foi a condição para a mudança qualitativa e o progresso, e para a serenidade de nos sabermos num processo longo com a certeza (ou esperança) de que há luz no fim do túnel, ainda que demasiado longínqua para a vislumbrarmos no nosso presente.

Ainda em férias

Com mais dezena e meia de dias, agora quase todos cá pela cidade, vou já pendurar em casa coisas que a memória trouxe no saco de viagem, para manter o ambiente. Até ao regresso à escola, a que decerto não resistirão penduradas face ao clima ventoso previsível. Na sequência da já ocorrida precipitação ministerial, confesso que antevejo denso nevoeiro a dificultar a distinção entre medidas pedagógicas para diminuir o deficit das aprendizagens dos alunos e camuflagens hipócritas de medidas apressadas por ditames europeus para redução de outro deficit - o DEFICIT.
De tão súbitas preocupações com o sistema educativo eu até diria que repararam na carroça com seu burro há tempo de mais estacionada, mas disto de pô-la a andar à frente do burro é melhor não dizer nada para não perturbar as minhas imprescindíveis férias!