terça-feira, setembro 27, 2005

Ao menos nisto, passividade... Não!

Do abaixo assinado lançado pela FenProf, recorto e transcrevo apenas o que se segue porque se refere ao "ao menos nisto" do título deste post. (Os destaques são meus)
"Abrir um processo negocial sério, objectivo e participado que permita reverter (...) a construção de horários dos docentes que descaracterizam profundamente os aspectos essenciais da sua profissionalidade, provocam um incalculável desgaste físico e psicológico tanto mais trágico quanto em nada contribui para uma melhoria real do funcionamento das escolas nem para a melhoria do ensino e das aprendizagens dos alunos."

Que Sócrates e seus ministros, face às sua prioridades economicistas pressionadas por um alarmante déficit (aonde ele remonta nem é dito), tomem medidas correctas ou incorrectas, favoráveis ou prejudiciais ao objectivo, ou mesmo justas ou injustas, não prepotentes ou prepotentes, disso pode dizer-se que têm uma (mesmo que só esta) legitimidade: a da maioria - e absoluta - concedida democraticamente nas urnas de voto.

Mas já legitimidade alguma vejo na intromissão na educação e ensino de quem revela ignorância dos objectivos educacionais e do que concorre para os favorecer e reforçar.
(Qanto ao seu manual, Dr. Valter Lemos, este podia 1º ter mostrado o seu brilhante curriculum na oportunidade que teve de intervir na fraude que são várias ESEs e institutos onde os futuros profesores de 1º e 2º ciclos têm que se conformar com a formação que lhes é proporcionada)
Poderá a Srª Ministra da Educação ter tido boas intenções, possíveis de virem a dar frutos. Mas, a sua precipitada e obsessiva preocupação prioritária de estarem os alunos sempre ocupados na falta de professores, sobrepondo essa obsessão à viabilização, nas escolas, de ocupações pedagógicas (que, se acaso sabe o que isso é, pelo menos não faz a mínima ideia de que não se improvisam, mas sim se preparam mediante projectos e recursos) destruiu o que, eventualmente, poderia corresponder a intenções válidas. Destruiu, porque exigiu dos professores a ocupação do tempo em tarefas inevitavelmente mais anti-pedagógicas do que pedagógicas (porque os professores não conseguem fazer omeletes com ovos podres e ficaram sem tempo disponível para encontrar os ovos sãos) ; destruiu ainda mais (também por ignorância pedagógica?) ao desrespeitar a dignidade profissional do professor (que é também a dignidade do ensino); destruiu mais ainda pelo ambiente de confusão em que obrigou o ano escolar a iniciar-se (não vislumbrando mais nenhuma condição para que ele comece bem senão a colocação atempada dos professores); e finalmente, matálo-à definitivamente se não descobrir a tempo que é impossível dignificar o ensino desprezando os professores.
Coloco este post, porque ninguém poderá insinuar que não quero trabalhar : tenho na escola as 23 horas mais as horas das reuniões (e com mais 2 horas lectivas a substituir uma redução por cargo pedagógico que continuo a exercer), em vez das 14 + horas das reuniões que tinha (num horário total que nunca ficou aquém das 35 h e agora ainda não fiz as contas a quantas chega), bastante cansada mas pelo menos com o gosto de estar, por acaso, com uma tarefa pedagogicamente válida, numa equipa que está a concretizar um projecto de integração de alunos "problemáticos", já aprovado e preparado antes de a escola imaginar as medidas que se avizinhavam.
E, pese o inconveniente da extensão do texto, não termino sem demosntrar a justeza das acusações que acima fiz à Srª Ministra (pena que não venha até à bolgosfera docente), com um pequeno mas bem elucidativo exemplo. Face às preocupações com a Matemática, fiz em Julho, ao saber do aumento das horas na escola, o levantamento dos alunos (em número alarmante) que iam ingressar no 8º e no 9º sem nunca, incluindo o 2º Ciclo, terem tido mais que nível 2 nesta disciplina, para que se desse um apoio suplementar destinado a aquisição daquelas bases mínimas sem as quais fica impossível a qualquer profesor, nas horas curriculares, conseguir recuperá-los e integrá-los, mesmo quando estão receptivos a isso. Soube posteriormente que tinha sido impossível conseguir essas horas porque não sobrava nenhuma, das necessárias para ter professores disponíveis em todos os tempos com vista à prioridade imposta de serem ocupados os alunos em qualquer falta de um professor.
Quem tiver tido paciência de me ler até aqui, vê bem nisto uma amostra da cegueira da Srª Ministra quanto às prioridades.
Mas... fica-se passivo???!!!

8 comentários:

Miguel Pinto disse...

Já imprimi o abaixo-assinado. ;)

Anónimo disse...

Quanto aos sindicatos, estou muito céptico. Não têm atacado as questões pertinentes, retirando delas dividendos, de uma forma eficaz e sensivel. É inegável de que somos uma classe alvo de invejas (se bem que não percebo a razão) e de maledicência irracional - isto representa um melindre face à opinião pública, porque há "muitos" que não "são algo" por eventuais culpas imputadas a professores (síndroma do bode expiatório).
Este Governo tem sido muito hábil e sensivel a este género de opiniões públicas mesquinhas, tirando partido de ressentimentos e recalcamentos que sempre existiram, de uma forma ou outra, na população portuguesa muito susceptível ao "fado". Contudo, a sensibilidade do ME tem-se esgotado neste género de medidas populistas, apresentando umas ideias muito giras sem lhes passar pela cabeça que estas têm de ser exequíveis - para isso necessitamos de um SISTEMA NOVO que liberte o professor da burocracia e o devolva ao ensino: É aqui que os sindicatos têm falhado, não colocando em clara evidência esta teia pegajosa e castrante que é a burocracia (tarefas administrativas que são da competência dos senhores das secretarias) no serviço docente.

IC disse...

Miguel, mas agora resta ver por que vai optar a FenProf em eventuais reuniões com o ME: se pela linha do abaixo assinado, se pela que se vê em destaque ao abrir o seu site, em que parece que a grande questão agora é o pagamento das horas de substituição a todos e não só a alguns - ímplicita a ideia de que, se for pago, o conteúdo do serviço a que nos obriguem já pode ser uma coisa qualquer?? Bem... já me ia esquecer que estou em tempo de espera para ver ;)

Caro J, obrigada pela visita. A questão da burocracia tem tido muitas implicações negativas, pois não é só aquela que caberia aos serviços administrativos, é tb a série de papelada "pedagógica" em que vai o tempo das reuniões para o aspecto formal, para ficar arquivada e bonitinha não se lembre alguma inspecção de a querer ver, quando dantes (se calhar há muito tempo)o conteúdo é que se discutia, pois estava na nossa cabeça e preocupações, não eram precisos exercícios de redação (e, documentos bons há, é preciso só saber onde os ir encontrar).

Rui Diniz Monteiro disse...

Absolutamente de acordo. É claro que há professores que não são assim... como também há assessores a cometerem crimes, como a ministra teve a oportunidade de descobrir há pouco tempo. Só que não são a regra!
Sou sindicalizado desde a 1ª hora, mas a actuação dos sindicatos tem sido sempre decepcionante: sempre pequeninos, meios agachados, como se face a canhões respondessem com espadas de madeira e mesmo assim acertassem sempre ao lado!
Excelente o teu blog, Isabel, eu é que tenho pouco tempo agora para andar na net!

Anónimo disse...

O problema dos nossos ministros é quererem mostrar obra sem conhecerem exactamente que obra é que querem mostrar.Ficam as suas intenções mesmo as maléficas registadas e parece-me que é isso que eles querem.Mais tarde recordam que foi o ministro x que que quis ou fez...Quando se mexe no ensino para bem ou mal(últimamente tem sido o prato forte)dizem que é para bem dos alunos e os professores só têm é ir atrás mesmo sem serem ouvidos. Pois, o que acontece e ainda não aprenderam, é que têm sido cometidos erros sobre erros e continua-se a cometer os mesmos erros. Sr. ministra ouça os principais actores, professores e alunos e verifique se a ocupação dos furos sem qualquer tipo de projecto é bem-vinda. Verifique que está a criar um ambiente hostil entre professores e alunos.Uns porque são obrigados a cumprir a lei e outros porque julgam que os tratam como criancinhas para serem guardados.Um abraço.

AnaCristina disse...

O problema põe-se no lobby da CONFAP. Interessa ter os miúdos enfiados na escola o maior tempo possivel, assim não ficam em casa sozinhos e, supostamente, estão protegidos do mundo mau. Juntando o útil ao agradável, o ME só veio credibilizar a nossa profissão. Toda a gente, não-professor, diz que nós não fazemos nada, temos muitas férias e só damos 22 horas de aula. Então, o ME pensando sempre no nosso bem, resolveu mostrar que trabalhamos...

Tristemente, é assim que os nossos governantes pensam! Eu só gostava que saíssem dos gabinetes por umas horitas e viessem à escola, dar uma aula em frente a 30 mocitos que pensam em tudo menos em estar ali...
Talvez passassem a olhar a escola de forma diferente...

IC disse...

Rui
Obrigada pelas simpáticas palavras. Quanto aos sindicatos, ando há bastante tempo criticamente distanciada/silenciosa, mas estou quase a dispor-me a quebrar o silêncio - bastantes dirigentes da FENPROF conhece bem esta sócia nº 198 do SPGL e sabe que se ela se der ao trabalho de mandar umas palavrinhas pouco doces estará mesmo a traduzir, com conhecimento, o descontentamento dos seus sindicalizados, e bem precisam de pensar nisso.

Agostinho
Agradeço aqui a força que deixaste no comentário no post posterior. Força também, retribuo o abraço.

Ana Cristina
A voz da CONFAP é a voz de alguns pais, mas, entre os outros pais todos, há muitos esclarecidos e até professores, será que estão assim tão de acordo? Há os que sabem o que é Educação e o que não o é, e os filhos mais crescidos também percebem e contam-lhes (os putos parecem que só querem recreio, mas não são assim só como às vezes parecem). Isto é mais uma das razões porque penso que a situação acabará por rebentar.

Miguel Pinto disse...

Isabel
O desafio não está esquecido... ;)