quinta-feira, março 30, 2006

Adenda: Crescer, hoje...




Preferia poder olhar só esta imagem, mas...













Crescer não é fácil.
Nunca foi fácil aos pais ajudar a crescer, nem à escola ajudar também. Mas era mais fácil, e a sociedade dava uma ajuda, falava de perspectivas e de valores.
"As grandes corporações empresariais e seus personagens tomaram conta do circuito cultural da infância e da juventude", e eu acrescento... com a ajuda dos media. E acrescento também que aos valores vigentes não chamo Valores, e que às perspectivas oferecidas aos jovens chamo aliciamento ao Salve-se quem puder (com valores ou contra eles), drogue-se quem não puder.

Assim curtinho, que é só uma adenda.

E olho outra imagem, que é mais complexa que a primeira.

Diane Tremblay, Adolescence

P.S. E acho que agora o "open-closed" fica do lado direito ;)

Uff!! Avaliações terminadas!

O Uff! não é só pelo terminar da correcção dos últimos testes e da reflexão sobre a avaliação do final de período. É também porque aquele vaivém de ânimos para cima e quase logo a seguir para baixo (ou de arrelias para baixo e quase logo a seguir para cima) até parou num nível mais para cima do que para baixo.

O meu 8º, que me pusera quase "à beira de um ataque de nervos" no início do ano, por ser a segunda vez que recebia uma turma já crescidinha com comportamentos e, depois, durante mais tempo, indisciplina no trabalho surpreendentes, como se não fossem meninos educáveis, muitos transitados com o dois em Matemática inevitável com tanta desatenção, lá foi mudando lentamente. E, melhor ainda do que as melhorias nas aprendizagens, foi a surpresa da avaliação consciente e responsável que fizeram, auto e hetero e também do funcionamento global das aulas. Enfim... eles às vezes parecem parados no crescimento, mas afinal é como no crescimento propriamente dito, o físico - como o meu neto, que ainda há um mês media a ver se já estava da minha altura (mas não estava) e não é que agora está mais alto do que eu?

Quanto àquele meu nono sempre "difícil", só ontem acabei de corrigir os testes - terceiros do Período e feitos quase a seguir aos segundos, nalguma esperança de recuperações. A esperança não era muita (confesso o pecado), mas bastantes lá mostratram que recuperaram - neste teste os conteúdos mantinham-se só com um pouco mais e as competências gerais estavam ao mesmo nível de exigência. Com uma ajudinha, diga-se, pois a sorte de terem tido Estudo Acompanhado mesmo antes do teste obrigou-os a fazer o que em casa "não têm tempo" e, sobretudo, impediu que fossem esquecidas as recomendações, exemplificadas, sobre leitura atenta de enunciados e sobre erros graves por mera distracção ou insuficiente concentração - porque é assim de facto, as recomendações concretas sobre atenção cuidadosa até entram mesmo por um ouvido, mas deixem-se passar três ou quatro dias e lá se abre o outro para as deixar sair.

Adenda:
Acho que escrevi esta entrada só para ficar aqui para a reler quando recomeçarem as aulas - para me lembrar de que ainda na semana passada o vaivém que acima referi não estava nada em sentido ascendente. A avaliação não resulta de dois dias, mas resulta o ânimo, porque estes dois últimos me deram outra coisa diferente de níveis a atribuir, e que foi a atitude e excelente resposta de qualquer das minhas três turmas à reflexão que fizeram durante uma hora a propósito da habitual auto e hetero-avaliação, pois, nisso, foi até uma surpresa verificar que duas cresceram mesmo (a outra já era mais crescida). (Isabel, nisso não se mingua a seguir, pois não? Diz-me, por favor, que já foi comprovado por alguém que não...)

segunda-feira, março 27, 2006

"Blogue em intermitência" ??


Está a parecer-me que a situação fica melhor definida assim...
;)

Mais um "A fazer" para a lista dos "A adiar"

Várias questões e alguns casos individuais me ocorrem colocar ou contar quando corrijo testes de Matemática, especialmente do 9º ano - já se trata dos 14-15 anos e, também, do momento de uma primeira decisão, mesmo que ainda não precisa, sobre o futuro profissional. Não questões ou casos sobre o já sobejamente comentado (e, quiçá, de forma algo parcial, que aponta causas, mas não todas) à volta de facilitismos, de falta de trabalho ou esforço, de indisciplina e desatenção que tornam as aulas pouco ou nada produtivas para os respectivos alunos. São outras as questões que também ficam a pairar na minha mente, relativas a dificuldades, erros e respostas em branco.
Dificuldades, erros e respostas em branco sempre houve, insucesso também. Mas, se é verdade que algo parece diferente nas recentes gerações de alunos, há outra coisa que não tem nenhum "parece" porque é verdade mesmo: algumas características comuns a muitos alunos não tornam nenhum realmente representativo de outros. Cada criança, pré-adolescente ou adolescente não é igual a mais nenhum, cada um é único.
Espero que a minha memória guarde essas questões e esses casos que, mais uma vez, ao corrigir testes de Matemática, ou me suscitam reflexões sobre défice nas competências, ou me mostram exemplos de uma relação com esta disciplina que faz negativas em testes (decorrentes de reais difuculdades) irem progressivamente subindo, ao longo de um ciclo, até ao primeiro Bom a ultrapassar os habituais de outros que, no mesmo teste, até escorregaram pela escada mal se segurando no degrau abaixo.

P.S. A minha lista das "coisas adiadas" não é bem a mesma das "coisas a adiar". As adiadas... vão sendo adiadas devido a falta de tempo ou a outras prioridades; as a adiar... bem, essas precisam de análise, ponderação e organização, precisam, pois, de tempo de férias das tarefas e reflexões quotidianas, precisam, afinal, de esperar por momento mais calmo, menos confuso e menos propício a escritos impulsivos do que o corrente ano lectivo, para que este cantinho possa retomar o seu rumo inicial de memórias de prof.
(Entretanto, o cantinho vai continuando a dar sinais de vida... "intermitentes")

sábado, março 25, 2006

"Desintermitência" 1

Nota: O título é da autoria da Tit, no comentário que me deixou na entrada abaixo ;)

Quando me levantar, o sábado vai ser para ver testes e reflectir nas avaliações. Mas os efeitos de um jantar íntimo, só a três (nada de casa, num restaurante, pois então!) hão-de perdurar enquanto alguns testes (alguns só??) me derem a tentação daqueles maus pensamentos vociferantes... Pois se o jantar não deixou de ser azul e cor de rosa, apesar de um dos meus convidados me ter contado que teve um desastre em Francês (um teste calamitoso)!




Adenda:

Bem, aquele meu nono que ora me anima um bocadinho, ora me faz quase entrar em desespero, pediu-me tanto que só fizesse o teste 2ª feira... ainda tenho o domingo para me almofadar a fim de dar uma voltinha pelas mesas a ver o andamento dos testes sem ficar à beira de um ataque de nervos.

Quanto às pautas provisórias, a preencher ainda com cinco dias de aulas à frente... comigo não contem. Quando os putos estão cheios de testes, e ainda precisam de umas (tentativas de) recuperações, e os meus ficam para o fim, sou indisciplinada, pois, por princípio, não escrevo níveis em lado nenhum antes de os discutir com eles - pelo menos, quero que os sintam justos primeiro, além de que não é um teste que define a avaliação (nem até os três que fiz no Período - escandalize-se quem quiser, inclusive a Milu, que classifica os alunos por um exame).

P.S.: A propósito... por acaso, voltei a encontrar o H. há dias, no ano passado dera-lhe nível quatro (tinha cincos a quase tudo, era muito trabalhador, mas ainda precisava de "rodar", eu sabia-o e ele também), ficou envergonhadíssimo porque não se saíu bem no exame (_Setôra, a nota já não contava, fui nessa onda, concentrei-me pouco, afinal a prova era fácil, que vergonha, todos a falarem de nós! - foi o que me disse na altura), mas no 10º teve 16 no 1º Período, embora não estivesse contente: "Vou baixar, ainda não sei se para 15 se para 14 (...) mas volto a levantar!".

xiiiiiiii... a "desintermitência" tinha que sair comprida, por isto é que quero evitar escrever por agora, ia só deixar o jantar azul e rosa como pensamento antes de dormir e... os dedos ficam logo com corda!

quarta-feira, março 22, 2006

Blogue em intermitência

Eu andava a querer repensar os conteúdos deste cantinho e a própria razão dele, mas não há dúvida de que não estou no momento adequado para isso - nem sei se vou ter tempo para escrever "mais do mesmo", quanto mais para pensar em novos rumos de escrita!!
Os afazeres profissionais são os do costume, mas os outros é que vão estar acrescidos durante um tempinho. Alguns até são domésticos (costumo reduzi-los ao mínimo, excepto em circunstâncias especiais, temporárias, como a que se avizinha), mas outros têm a ver quer com coisas pendentes, quer com as que têm que começar a sair da lista das adiadas.
Nas pendentes, estão as que ando a precisar de procurar ou programar (ou inventar), pois uma avó tem um papel importante, e eu quero tê-lo, e a minha casa não tem um sótão, nem arcas misteriosas, como tinham, respectivamente, as casas das minhas avós. Nas adiadas, está, por exemplo, a transposição para a net, de uma forma mais cuidada, do Lógica para todos da minha sala de aula.
E isto de uma página na net traz-me logo a perspectiva de outra tarefa que não vou recomeçar agora, mas que já retirei das que tinha colocado na categoria "acabou, é tempo de me reformar disto".
A tal página, que iniciei há um ano e nunca mais peguei, talvez possa prosseguir sem mais (para as duas antigas, de Mat para alunos, que ainda andam lá pela web, nem quero olhar - quem aguenta páginas que, no ritmo acelerado de novas técnicas, ao fim de três ou quatro anos já parecem de outra era?). O que não dá para prosseguir sem mais é outra coisa que destaco a seguir.

O recuo na decisão de me reformar de aprendizagens "técnicas" feitas todas quase sózinha desde que tive o primeiro computador, só com umas dicas de vez em quando de amigos, ou seja, de me reformar de tentativas, experiências, pesquisas durante horas e horas quando umas curtas sessões rapidamente dariam o "pontapé de saída" poupando grande parte dessas horas todas, esse recuo, dizia, deve-se a que as ditas sessões não estão à mão e... não me importo nada que o neto já me ensine umas coisas, o que não quero é trair a incumbência que recebi ainda ele não teria quatro anos de me encarregar da sua "formação informática" - não quero perder oportunidades de o interessar por outras que o façam descobrir no pc bem mais do que entretenimento e pesquisa de alguma informação. [Será que os computadores nas escolas já foram percebidos como instrumentos estimulantes da criatividade e propícios a que se "solte" a que alguns alunos, ou muitos, até têm escondida em si sem dela se aperceberem? Sem dela se aperceberem eles e professores, porque há alunos que já entram nas aulas com uma prévia recusa delas] Perder essas oportunidades que, com jeitinho, até fazemos surgir, perdê-las porque, mesmo com 13 ou 14 anos, eles já sabem dizer que "agora já se fazem coisas mais giras"... ná, a avó não quer passar à categoria de retrógada!!! (mesmo que também tenha que alinhar de vez em quando em maluquices horríveis dos entretenimentos deles, para se mostrar "actualizada")

Estar este cantinho em intermitência não quer dizer que eu prescinda das voltinhas por outros cantinhos. Neste, é que não sei se é de dizer até já, ou até para a semana, ou até conseguir pôr organização no meu tempo (e na minha cabeça?).
O melhor é não dizer. Aliás, também preciso deste cantinho para quando me apetece falar comigo por intermédio de um poema que me responda, ou calar-me no silêncio em que, com seus pincéis, uma mão me deixou sons.

terça-feira, março 21, 2006

segunda-feira, março 20, 2006

Não me apetece escrever

Tantas memórias... mas para quê? Já não sei bem se pareceriam inventadas, turmas inventadas, alunos inventados! Mas ainda tenho alunos como os das melhores memórias (antigas e recentes, e não estou só a falar de alunos dos níveis 5 ou 4), não me esqueço de os ajudar a voar - de qualquer modo, voarão sozinhos, ou caminharão sozinhos com pés firmes. No entanto, tenho demasiados a ter primeiro que convencer a experimentarem pôr umas asas, e depois, a arranjar para uns cola mais resistente para que elas não caiam, e a tentar que outros as reponham quando as perdem no caminho para casa, ou quando elas caiem nos encontrões, em casa, à TV e à Playstation, ou quando, outros ainda, em casa ou na barraca ou na rua do bairro levaram eles, cedo, encontrões - estes, raros a chegarem-me à sala de aula de um 3º Ciclo porque os encontrões os deixaram pelo caminho, os deixaram lá onde anda tudo aos encontrões.

Uns levarão mais tempo, alguns muito tempo, mas confio que, mesmo que não aprendam a voar, mesmo que só aprendam a caminhar com os pés, todos acabem por aprender a Ser.
______
Adenda:
"Confio"... confiar quererá dizer desejar?
Mas acordem os que dormem, pensem neles e ajudem-nos! Voltem a dar-lhes valores e mostrem-lhes que vale a pena!

sábado, março 18, 2006

Adenda

Depois de as minhas memórias terem desaparecido durante umas horas (ou de o blogue ter enlouquecido temporariamente, mas ele, não eu!!!), só agora posso acrescentar: Bom fim de semana!

sexta-feira, março 17, 2006

"Venham os Bárbaros!"

Quando, na quarta feira, propus "um tempo sem temas sérios, só humor", excedi o possível - a menos que fôssemos passar esse tempo em Marte. Mas rectifico: um tempo entremeando com humor os temas sérios (creio que foi isso que o Miguel Pinto aceitou ao proporcionar-nos de imediato o riso, ou seja, a desintoxicação). O riso, sobretudo partilhado, liberta cargas indevidamente a mais nas nossas costas.

Tratando-se, então, de um entremear e já que não tenho jeito para entradas humorísticas (mas, para isso, também o
Miguel Sousa aceitou a proposta - um exemplo aqui), deixo hoje uma "coisa séria" para quem, eventualmente, tenha deixado escapar o pontosnosii deste mês (Revista Mensal de Política Educativa, suplemento do jornal O Público, dia 14) - excertos do Editorial Venham os Bárbaros, de Santana Castilho:

"O que está errado? O que se pode fazer?
Errada está a quebra do consenso secular entra a família e a escola e esta e a sociedade em geral, quanto à orientação das gerações mais novas. A escola não se realiza sem sacrifício, disciplina e trabalho. Mas, fora da escola, a indústria da comunicação e do espectáculo faz a apologia do prazer imediato, do consumo supérfluo, da extravagância e do efémero. O absolutismo moral e vários dogmas éticos tradicionais e universais foram substituídos por «morais» aberrantes, que derivaram da preponderância dos «direitos individuais» sobre os pilares seculares da vivência colectiva. Os pais deixaram de ser os aliados primeiros do professor na modelação dos filhos. Hoje, delegam neles todas as responsabilidades, mesmo as indelegáveis. E depois acusam e exigem. (...)
O que se pode fazer? Sem negar a complexidade das razões económicas, sociais, morais e outras que estão na origem de um modelo de convivência violenta e indisciplinada na comunidade escolar, exigir dos responsáveis pela definição da política educativa duas coisas, a saber: que contribuam para pôr cobro ao histerismo colectivo que aponta os professores como os responsáveis pelo descalabro do sistema, em vez de o fomentar maliciosamente; e que assumam, de forma consequente, que os problemas nucleares do seu ministério são hoje o facilitismo e a indisciplina. *
A continuarmos assim, estamos quase prontos. Venham os bárbaros!"
* (destaque meu)

quarta-feira, março 15, 2006

Saiamos da cilada!

Deixei há bocado uma proposta ao Miguel Sousa (esperando que o Miguel Pinto, nosso grande dinamizador de debates, lá fosse lê-la): "andam mesmo a desgastar-nos, a stressar-nos (...). Por isso, temos que brincar mais aqui pela blogosfera, quase que propunha um tempo sem temas sérios, só humor, mas... não tenho jeito para isso, faço a proposta ..."

E, a seguir, foi uma memória que me trouxe a escrever a presente entrada. Tive um professor (em segunda fase escolar, eu já muito e muito crescidinha) que tinha duas atitudes aparentemente contraditórias (sublinhe-se o aparentemente). Uma, era a de ser muito exigente - e eu, como alguns colegas, não o tivemos de passagem, tivemo-lo o tempo quase todo numa fase em que voltávamos a ser alunos; outra, descreve-se na persistente recomendação que nos fazia, lembrando-nos que, além de termos família, não tínhamos só aquele trabalho (trabalhão, diga-se): "não se deixem avassalar demais, não deixem de ir ao cinema, não se esqueçam que só temos uma vida e que a vida são dois dias!".
E, neste momento, pergunto-me como consegui seguir aquele conselho, mas consegui porque o que ele dizia era o que eu pensava. E, a verdade é que devo ter visto mais filmes nesse tempo do que vi nos últimos dois ou três anos, porque às vezes passam-se meses "sem ter tempo" para ir ao cinema. E, a verdade também, é que li livros pesadões e por acréscimo às temáticas obrigatórias (por interesse e gosto, aliados à oportunidade), enquanto que agora tenho fases em que "não tenho tempo" para o simples prazer de ler um bom romance. (As aspas querem dizer que não estou nada convencida do que está escrito entre elas).
Porquê???
Porque o tempo de um dia não é o mesmo quando gostamos do que fazemos, ou quando, mesmo estando a fazer quase nada, há fadiga psicológica, desencanto ou stress.

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Mas... afinal, estes estados psicológicos porquê???
Paixão pela educação é uma coisa - estar-se apaixonado é sempre maravilha. Aceitar carregar uma cruz que não é nossa, porque acham que as nossas costas é que são largas e que nós até somos réus, isso é outra coisa. E, o que os outros acham ou querem é uma coisa, e o que nós achamos ou queremos é outra!

Acho que andamos a esquecer-nos disso!

Quando paramos para dizer: Espalham o descrédito e o desrespeito? Alimentam o facilitismo nos putos e encolhem os ombros por eles andarem a não se deixar ensinar e a não deixarem que os colegas que querem aprender, aprendam? E os pais dos que querem aprender e são prejudicados por todo este clima que se vive, passivos, a deixarem que confaps e cª falem e actuem em seu nome? O silêncio não se chama conivência? Então, porque continuamos a afligir-nos porque os nossos alunos têm um real insucesso? Os nossos alunos não são os culpados, mas há limites para carregarmos as culpas dos outros - quando paramos para dizer?

Quando paramos para dizermos isso a nós mesmos
, para destressarmos, para irmos ao cinema, para brincar, para falarmos de poesia e termos tempo para o que até conseguimos quando nos tratam bem ou nos sentimos bem, para continuarmos a dar aulas, mas recusando a fadiga psicológica que estamos a consentir que nos invada apenas porque queremos salvar pequenos mundos chamados turmas, habitados por meninos que não são nossos e que, em boa parte, têm quem cuide deles e tenha o dever de cuidar, a começar pelos mais altos responsáveis que hipocritamente usam essa expressão cuidar estando-se nas tintas (desculpem a expressão, mas não tenho outra) para o real sucesso desde que sobrem os suficientes, protegidos nas escolas privadas, para garantir ao país a continuidade da existência de "gente de sucesso" - quando paramos para dizermos isto a nós mesmos?.

Em suma, o que quero dizer (a mim e aos que trabalham empenhadamente - se outros houver, esses não stressam) é que não vimos da escola para casa sem nesta nos sobrar tempo porque temos que continuar a trabalhar para os alunos. Não. O que não nos sobra não é o tempo contado em horas ou minutos. O que não nos sobra é o tempo psicológico, porque nos deixámos cair numa cilada. Saiamos dela, trabalhemos tranquilamente, o tempo necessário para que aprendam os alunos que queiram aprender ou sejam POR TODOS estimulados a isso (e não o tempo a mais, e cada vez mais, em esforços que se provam inúteis quando outros se demitem de que o não sejam ou até contribuem para que o sejam), trabalhemos até muito, ou muito a mais, quando isso pode ser paixão e nos deixam que seja, mas...
... mas saiamos da cilada!

Adenda:
E tu, Isabel, arranja tempo para escreveres mais curtinho! (Isabel responde: foi a cilada que me tirou a capacidade de síntese!) Ora, ora, Isabel, esse texto todo ainda é sintoma de que não saíste da cilada! (Isabel opta por não responder a provocações)

terça-feira, março 14, 2006

Educação Matemática...

A Tit pergunta: O que se passa afinal com a Educação Matemática?.... E relata uma pequena conversa que ouviu, entre duas estudantes do Ensino Superior. Lembrei-me de um episódio que um amigo me contou num comentário logo no início deste blogue, fui buscá-lo e deixei-o em comentário à entrada da Tit. Mas fiquei a pensar nele porque...

... Pressupõe-se que a Educação Matemática, que se deseja para todos, esteja nos alicerces de posteriores saberes avançados na área da Matemática. Mas, pelos vistos, nem sempre é tanto assim...
Aqui fica o episódio, tal como me foi contado pelo meu amigo Jorge:

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Adenda:

E, a propósito de Matemática...

... celebremos o dia do Pi!

(Mês 3, dia 14...)







(Autor não identificado)

segunda-feira, março 13, 2006

A Srª Ministra faz alguma ideia disto?

Na semana passada tive reunião de Departamento (que abrange o 2º e o 3º Ciclos). Saí dela a olhar mais uma vez para a evolução da nossa população escolar do 2º Ciclo nos muito poucos últimos anos.
A Srª Ministra ocupa os seus informadores sobre a realidade das escolas na procura de escolas modelo, de experiências modelo, de aplicações modelo de algumas das suas medidas, para mostrar que os não modelos gerais se devem tão somente a que os respectivos professores e gestores são maus. Não que haja algum mal em mostrar modelos, o mal existirá se a Srª Ministra (como parece) não se preocupar em indagar se esses modelos têm os mesmos obstáculos que os mais gerais não modelos. E, pior que não pedir informações sobre a realidade que decorre dos problemas sociais que invadem as escolas e turmas do Básico, é não fazer mesmo ideia nenhuma dessa realidade. Será que tem alguma ideia dela?

A minha escola já beneficiou daquela heterogeneidade, relativa à população escolar, propícia ao "puxar para cima" os alunos de estratos sociais desfavorecidos, mas a construção de escolas numa zona em acelerado crescimento, que abrangia, habitada por classe média e mesmo média-alta, alterou significativamente as características da nossa população escolar. No entanto...

No entanto, sempre tivemos grande número de alunos habitando quer em bairros degradados (daqueles que uma pessoa não deve atrever-se a visitar sozinha), quer em zonas cujas famílias residentes tinham condições económicas difíceis e muito pouca instrução. Dos primeiros sempre nos vieram aqueles casos chamados problemáticos, em que lemos facilmente o que está por trás dos problemas e que sempre nos fizeram juntar ao papel de professor os papeis de mãe ou pai, de psicólogo e de assistente social - o que não somos, mas eles não têm e então fazemos o melhor que sabemos. Mas, dos segundos, vinham-nos os filhos dos tantos pais ou mães que, apesar de não instruídos, apesar das suas condições difíceis, quando vinham à escola a primeira preocupação que tinham era perguntar ao director de turma O meu filho (a minha filha) porta-se bem? E, eram bastantes aqueles cuja vinda à escola não era inútil se convocados por algum motivo de comportamento.
De há poucos anos para cá, os quintos anos que a minha escola recebe (principalmente os quintos, mas não só) estão a tornar o trabalho dos professores muitíssimo desgastante nas aulas, e nem tempo têm decerto para avaliar as consequências desse desgaste pois, em casa, cada vez é mais o trabalho para produzir materiais diversificados e inventar estratégias. Ou é uma turma inteira que calhou assim se formar por falta de informação atempada, ou são, às vezes, apenas dois ou três alunos espalhados por todas as turmas que inviabilizam um normal funcionamento das aulas. Mas...

Mas, a isto junta-se um fenómeno que eu chamo da actualidade: a propagação da (apenas, mas enorme) indisciplina (no estar na aula e no trabalho/estudo) como que por imitação ou contágio - note-se que grande parte desse tipo de indisciplina não se pode atribuir a condições familiares/sociais degradadas que deixam os meninos a crescer sós aprendendo as regras de rua dos seus bairros. E, mais uma vez, ao ouvir os relatos da situação na reunião de Departamento, eu penso: Ou bem que políticos e sociedade acordam, ou há que perguntar quanto tempo terão de resistência muitos (e bons, e dedicados) professores dos primeiros dois ciclos de ensino?

A Srª Ministra faz ideia disto?

P.S.: O assunto é "mais do mesmo" e eu até estou em tempo de semipausa neste cantinho e na blogosfera "docente" em geral. Mas, a leccionar só 3º Ciclo, senti que ao menos devo este post aos meus colegas do 2º Ciclo da minha escola - a todos também que, no 2º e no 1º ciclos, vivem quotidianamente excessivos desgastes em esforços por vezes impossíveis de resultarem, o que a Srª Ministra da Educação despreza, acrescentando mais tarefas, em vez de cuidar.

domingo, março 12, 2006

Bom domingo!



Domingo é o melhor dia para...
olhar para cima?
(ná... fica-se na lua
ou com dor no pescoço!)
... olhar mais além?
(ora, é isso mesmo)









Wassily Kandinsky (1929), Upward

sexta-feira, março 10, 2006

(Sem título)

Why Are You Angry?
Paul Gauguin (1896), No te aha oe riri? (Why Are You Angry?)

Not angry... however...

Numa encruzilhada, Isabel?

(Vão aí dois filmes que quero ver, tenho à cabeceira um grosso volume que quero ler - em inglês, para meu susto, mas estou farta de pensar só em educação, preciso de pensar para onde caminha o mundo -, e tenho uma prioridade, a de perceber, na encruzilhada, que rumo dar ao meu património de memórias - sim, as memórias são um património de cada um, podem não ser escritas, mas há momentos em que temos que as rescrever na mente para que a agulha da bússola se mantenha visível. E, para tanta coisa, não chega o fim de semana, por isso prevejo que este cantinho vai continuar numa semipausa, como cantinho sem mobília, só paredes para pendurar um ou outro quadro, colar algum papelito rabiscado a tinta desbotada ou com esse meu lápis metafórico que por vezes tenho a mania de usar, mais para missiva a mim própria)

quinta-feira, março 09, 2006

Nem tudo são flores (Adenda à orquídea do dia 8)

Sempre me fez confusão como por vezes, numa escola, um só "valter" infiltrado (de calças ou de saias) consegue "destilar" dióxido de carbono. Não só (nem tanto) no ambiente humano, sobretudo no ambiente pedagógico, poluindo desejos de desburocratização e a própria autonomia pedagógica. A sua acção não traz assinatura porque nem poder tem para tal, mas , autista e prepotente, paira, com origem nebulosa em pelouros habilidosamente construídos para serem unipessoais. Ninguém reconhece a omnisciência a quem de tal está autoconvencido, mas a pressão sub-reptícia para a impor empata, consegue criar tensões, obstáculos, dificuldades e, a alguns, perda de paciência.

...

imagemdodia.com.sapo.pt/destilado.jpg
(faça clic na imagem para ler)

quarta-feira, março 08, 2006

No Dia Internacional da Mulher...



Esta foi a flor que recebi na minha escola.











Todas as mulheres que trabalham na minha escola receberam hoje uma orquídea.
(Estando o nosso Conselho Executivo no seu segundo mandato, esse gesto é já uma tradição, como outros com que contribui para, ao ambiente humano, "a cor dar".)

terça-feira, março 07, 2006

segunda-feira, março 06, 2006

Adenda

Marina M. Montanaro, Do Not Write When You Are Angry
[risos]

Continuando a (des)enrolar o novelo

Há umas duas semanas peguei noutra ponta dos meus novelos, perguntando-me: "Que efeitos teve a actual política educativa na minha pessoa?"
Hoje volto à auto-observação (nem é preciso acrescentar "análise", pois basta olhar-me, reparar). E dou-me conta de que ando frequentemente irritada, quando, afinal, sempre foi minha prática simplesmente distanciar-me, sair mesmo fora de contextos que mexem com os meus... "nervos".
Distanciar-me ou sair fora da política educativa estrita (estrita, porque há os prolongamentos, os ajudantes extra) não é possível - é coisa de demasiadas consequências para poder alhear-me. Mas, andar a ler certos escritos que, por muito que peguem nos leitores desprevenidos ou pouco dados a exigências, só merecem o meu desdém... ora, Isabel, até parece mesmo vontade de te irritares!

Artigos e... até publicações com capinha e tudo, pois, à vontade de autopromoção, há sempre promotores a ajudar.
Não escrevem só desinformação (ou opinião sem informação). Há quem seja mais habilidoso e use métodos, para vender o seu peixe, com aparência de fundamentos ou de comprovativos. A habilidade está no uso de métodos não só redutores, mas também deturpadores e até falsificadores, que facilmente escapam a leitores que estão fora do contexto. E assim se induz esses leitores à tal generalização de realidades que até existem aqui e ali, ou de ridículos que também até existem ali e acolá. E até acontece haver quem pretenda desmontar ou ridicularizar (pseudo)conceitos que, por acaso, não deixam de andar aqui, ali ou acolá em confusão, sem primeiro se ter o próprio desconfundido bem a si mesmo.

E, com esta prosa (vaga, porque decidi não me dar mais ao trabalho de explanar sobre o que deito para o lixo, e lixo toda a gente sabe que abunda), termino hoje as minhas auto-exposições a irritações face a certos escritos que andam tentando fazer a cabeça da opinião pública.

Uff! Parece que desta fase tendente à irritação já me libertei! Sempre é um avançozito a direito pelo fio do meu novelo...
(Era só questão de reparar como me deixei andar irritada durante uns dias por umas leiturinhas na cama antes de adormecer - até perder a paciência para as linhas finais face à tomada de consciência dos estados de irritação em que me tenho deixado cair)

domingo, março 05, 2006

Bom domingo!

Ainda estou a meio de uma "coisa" que estou a fazer para ver se consigo que os meus nonos anos percebam porque é que um teste nada difícil foi um desastre. Houve um 100% e houve positivas de alunos que até têm algumas dificuldades mas são muito concentrados, e houve negativas que nem quis contar. E os erros e respostas em branco nem têm muito a ver com a questão de terem estudado ou não. Vão debruçar-se sobre alguns itens do teste, eles têm que perceber o que lhes acontece com a atenção e o que lhes bloqueia o raciocínio (eles e eu).

E assim a noite já vai pelas 2h e eu nem vejo se há lua, quanto mais olhá-la!
E a minha neta hoje atendeu o telefone e a primeira coisa que disse foi que amanhã queria vir para a avó.
E eu queria ir para a cama dormir 12 horas... 10... bem, ao menos 8... para estar em forma para a nossa tarde de domingo.
Só vim aqui para descansar uns minutos do que estou a tentar fazer e para pôr essa imagem, que o que me apetecia era estar no lugar do pássaro (esqueçamos que é um corvo).

Aaron Horowitz, Full Moon over Raven in Tree

sábado, março 04, 2006

Ando muito distraída!

Não tinha dado conta desta notícia, já de 24 de Fevereiro.
Depois de a ler, até fui ao Portal do Governo procurar as datas de nascimento do primeiro ministro e da ministra da educação. Descobri que em 25 de Abril de 1974 tinham respectivamente 16 e 17 anos, idade para perceberem o porquê da festa e não esquecerem.

"Há duas maneiras
de governar:
pela força
ou pela farsa."
(Glauco Mattoso)

Eu acho que não há só essas duas maneiras, mas está a parecer-me cada vez mais que os meus dois objectos da pesquisa biográfica que acabei de fazer não conhecem terceira maneira. Talvez Sócrates prefira a primeira enquanto Maria de Lurdes Rodrigues saltita entre uma e outra.

(Eu dou as minhas aulas e faço greve a uma tarefa da componente não lectiva, logo... faço um dia inteiro de greve! Aliás, até dei todas as aulas durante quatro dias e, nestes, fiz greve às tarefas da componente não lectiva, donde se conclui que... estive quatro dias inteirinhos em greve! Cá para mim a notícia é uma comédia em cujo título se poderá ler tentativa de força para uma pessoa comprar bilhete e assistir a uma representação burlesca, só não sai a rir porque é uma farsa com reminiscências sombrias)

Adenda: Eventuais distraídos como eu poderão elucidar-se melhor aqui. (Comunicado de Imprensa da FENPROF de 25/02/2006)

sexta-feira, março 03, 2006

Regressando à blogosfera?

Quis fazer das férias do carnaval umas férias mesmo, sobretudo meter numa gaveta com cadeado a política para a educação-ensino. Não estive ausente da blogosfera a cem por cento, mas estive pelo menos a noventa e cinco.
Hoje regressei para percorrer aqueles blogs "docentes" que visito assiduamente. Encontrei mais duas transcrições de artigos de jornal - nem vale a pena pô-los aqui, pois há oito meses que, na imprensa, se destila veneno sobre os professores, tudo se pode dizer ou insinuar sobre eles (nós) para os retirar da categoria de trabalhadores.
Liberdade de imprensa? Sim, mas eu associo responsabilidade à liberdade e, neste caso, associo ao menos a responsabilidade de procurar informação antes de se ser assertivo (já nem falo da responsabilidade pelas consequências que esta campanha venha a ter).

Memórias de professora?? Em tempo de ofensa, ou de cólera, ou, talvez mais apropriadamente, de... saturação (evito a palavra que está na ponta dos meus dedos) de certa gente do meu país (que não é a gente do meu país, eu disse "certa" gente, mas é gente que influi no seu destino próximo), em tempo assim não me apetece escrever memórias.

Mas ganhei a noite neste regresso (devagarinho, tão devagarinho... será regresso?).
Ganhei a noite ao encontrar o novo espaço da Teresa - um outro, além dos que já conhecíamos. Tem o rosto que não resisti a mostrar já aqui, especialmente aos colegas de Matemática (mas não só), é só clicar para verem tudo...

Teresa Martinho Marques


Adenda (10 de Março): O Sabor e Saber mudou de endereço, se o clic na imagem não vos guiar, façam o clic aqui.

quarta-feira, março 01, 2006

Pensamento para Lio

Sondra Wampler, Rose Bud

Au jour de ton sixième anniversaire, je pense à toi, Lionore, et... me voilà... je suis avec toi!

Preciso de mais uns dias...

Nos cinco dias de férias que programei, coisas prosaicas - como o frio com a chuva lá fora que só ontem se foi e alguns afazeres não escolares (nos escolares cumpri a "greve") - foram pouco propícias ao encontro daquele silêncio onde ouço em sussurro os segredos da vida. Hoje descobri que estava aí, em reposição, o fabuloso Leopardo, de Visconti, e acabo de chegar a casa ainda possuída por tudo o que o filme me traz à mente. Mas, neste dia que começa antes de ir para as horas de sono, não é só por ter ainda comigo apenas um filme que percebo que preciso de mais uns dias (apesar de, ao acordar, me ir pôr a ver testes) com espaço para esse silêncio que me permite pensar, sem palavras, o universo, que me ajuda a olhar, sem linha de horizonte a confinar a visão ao presente e ao quotidiano, o mundo humano e a História, que me faz sentir, sentindo apenas, o sentido das memórias de ontem e das que são de hoje, de cada momento em que se param as azáfamas para dar lugar ao que na vida e no próprio quotidiano emociona ou encanta sem medidas de tempo ou de distância.