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Adenda
Uma memória que concorre para a minha posição: Aqui
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Não consigo, não consigo mesmo imaginar, para mais nesta prova deste ano, como é que a excelente e impecável P. cometeu tantos erros ou lacunas para descontar pelo menos 31 pontos!!! Como é que cometeu quiçá tantos ou quase tantos como colegas de não mais do que nível 3 médio??? Enfim, já não sei aventar hipóteses de causas de certos resultados nos exames, enquanto que até agora, se causas certas não sabia em cada caso, várias me pareciam óbvias enquanto conjunto de situações ou atitudes dos alunos passíveis de ocorrer e de concorrer para taxas de insucesso a nível nacional que interrogo se não são excessivas em termos de correspondência real a verdadeiro défice de competências dos nossos jovens alunos - e, note-se, o tipo de resultados que exemplifiquei não entra na estatística do insucesso, pois limitei-me a casos que, mesmo baixando em relação à nota de frequência, se mantiveram na escala positiva.
P.S.:
Acrescento, não para fugir a pôr-me em causa, mas apenas porque, sendo verdade, é uma achega para a reflexão sobre o assunto, que tenho a felicidade de poder dizer que os alunos que me saíram das mãos para o Secundário com 5 andaram neste pelos 18, 19, valendo então as perguntas: 'o que indica a nota de exame?', 'a nota de exame numa idade de 9º ano indica o mesmo que as notas que os professores atribuirão no Secundário?', 'para que sucesso trabalhamos?', 'significa o sucesso num exame o mesmo que sucesso no prosseguimento da escolaridade ou na vida?'
(Quando ponho o meu cantinho em pausa, gosto de deixar uma imagem bonita. Mas, em tempo de provas globais e, a seguir, exames, porque não deixar esta?)
Testes antes das provas globais, eu entendo, claro, mas com um tempinho de intervalo, até porque o teste só é a última prova de que não aprenderam quando já não há tempo para esse importante momento que é o da aprendizagem na correcção individual dos testes, aproveitando os erros para os compreenderem, aproveitando o professor para mais um 'forcing' para que compreendam ou corrijam noções mal assimiladas. Agora, dois testes seguidinhos, multiplicados por n disciplinas, preenchendo considerável percentagem do tempo de um curto 3º Período... e os professores de Matemática e de Português que apanhem depois com o alarido das taxas de insucesso nos exames - sim, esses professores que tiveram as turmas, com tantos alunos difíceis e fraquitos, preocupadas com TESTE, TESTE durante semanas em que ainda era o tempo de ensinar um bocadinho mais e, para alguns, dado ser a altura em que se sentem mais responsabilizados, de aprenderem talvez dois ou três bocadinhos mais. Eu consegui um "buraquinho", ou seja, um dia sem terem outro teste, para o meu, mas não estou nada preocupada por ter feito só UM (enquanto colegas fazem dois e mais prova global), estou é aborrecida comigo por - em vez de ter perguntado a mais professores do que àqueles dois a quem cheguei a perguntar, afobados com matrizes, testes e provas globais, se pensavam que os professores de Matemática e de Português não precisavam de fazer teste nenhum e se achavam que nada tinham a ver com estas duas disciplinas - ir ainda zangar-me com a minha melhor turma, como hoje, cheinha de testes desde a semana passada, nervosos, alguns com essa coisa bloqueadora que é o medo ou ansiedade perante uma situação 'diferente' porque para a semana terão outros com um nome diferente, que até não faria grande diferença se não fosse envolvido por um ambiente também diferente, todo formal, onde nem haverá a presença do seu professor (não ajudaria a resolver a prova, mas um sorriso tranquilizador ao passar e olhar ou uma simples expressão no olhar, daquelas que eles entendem como 'Pensa mais um bocadinho', até ajuda sem qualquer fraude).
Às vezes dizemos: já têm 15 anos, já não podem ser tão pouco responsáveis. Mas era bom que, nessa história dos exames nacionais que virá a seguir, se pensasse um pouco: ainda têm 15 anos, alguns 14, e, ainda por cima... isso bonito, mas difícil, que se chama adolescência.
O artigo que me deu algum apoio, fazendo-me desatar a escrever o desabafo, em vez de ir para a cama, artigo de João Filipe Matos - até o conheço, foi meu professor de metodologias de investigação qualitativa, "pegámo-nos" numa das primeiras aulas, mas depois demo-nos muito bem, coisa que também acontece comigo e alguns alunos indisciplinados ;) - está aqui
Azul...
Joan Miró (1961), Bleu II
Diálogo com aluno
Bem quero dar férias aos resultados em Matemática, mas eles perseguem-me ;). Encontrei o H., ainda não tinha encontrado nenhum aluno depois da saída dos resultados, fiquei logo interessada na oportunidade.
Já falei da minha turma de 9º deste ano lectivo findo, a propósito de hábitos de trabalho. O H. era uma das excepções, era bastante trabalhador. Era aluno de quatros e cincos - em Matemática atribuí-lhe 4 e no exame teve 3. Não comecei por lhe falar do seu caso, e reproduzo o diálogo tão fielmente quanto é possível de memória (mas está muito fresco).
Eu: Então, que pensas do desastre em Matemática, assim pelo país todo? H.: Stora, acho que também teve a ver com os 25%, todos sabiam que já não reprovavam... mesmo os que tinham boas notas, era preciso que corresse muito mal para baixarem a que já tinham! Acho bem que para o ano seja 30%. Eu: Achas que não estudaram naquelas duas semanas... tiveste 3, também não estudaste? H.: Estudei um bocadinho, mas pouco. Eu: Bem, mas também não me parece que tenha saído alguma coisa que esquecesses nesses dias, achaste a prova difícil? H.: Não acho que a prova tenha sido difícil e vimos logo isso cá fora quando as storas nos chamaram a atenção para as respostas. Eu: Olha, até fiquei contente por te ter encontrado, não é pelo teu caso, ficaste nos 30% que tiveram positiva, é porque queria perceber o que se passou no geral, por isso era importante se conseguisses explicar como foi contigo. H.: Eu devia ter-me concentrado mais, não me esforcei... assim como esforço nos testes. Eu: Mas tu és muito responsável, como foi isso? Ou a prova não foi como esperavas, isso pode ter dificultado... H.: Não sei... não, acho que não. Stora, eu também estava como muitos, sairam as pautas e sentimo-nos assim... assim em férias. Se fizessemos outra vez... eu pelo menos esforçava-me mais durante a prova para não fazer má figura, falaram tanto de nós, toda a gente a ver os resultados... (...) Eu: E lá em casa, os teus pais que acharam destes resultados? H.: Ah, o meu padrasto disse logo que os professores de Matemática não são competentes. Eu: E tu, também pensas isso no geral? H.: Eu acho que há melhores professores e há... pronto, os professores não são todos iguais. Mas os alunos também não estudam, estudam pouco, também vejo isso.
P.S.: H. é um só caso, obviamente que não se pode fazer nenhuma espécie de generalização. Mas não dei conta de que os jornalistas tenham ido ouvir alguma amostra razoável de alunos. Talvez porque, ocupados com sensacionalismos, não lhes sobre tempo para investigar ao menos um pouquito; ou talvez porque, contactando pouco com adolescentes, não lhes passe mesmo pela cabeça que, fora do contexto disciplinas-avaliação, eles sabem pensar mais do que parece. Quanto aos que estudarão estes resultados e suas causas, não se lembrarão de ouvir também um pouco os alunos, ainda que apenas para detectar causas acessórias, que decerto não foram as causas de fundo de resultados preocupantes, mas podem ter contribuído significativamente para um resultado tão excessivo?
ADENDA: O Ministério da Educação deve ao país uma explicação fundamentada em pareceres de teóricos da educação e psicólogos sobre questões já levantadas por entidades competentes, tais como: O enunciado do exame exigia um grau de abstracção inadequadamente elevado? A resposta a alguns items exigia um grau de formalização que excede o programa do 9º ano? Sim ou não?
"A escola tem urgentemente que se reorganizar para dar a cada aluno a possibilidade de desenvolver as suas áreas fortes. Só desta forma a escola poderá ser verdadeiramente inclusiva" |
;) |
(Para tudo, há sempre um gif na Net :))