quarta-feira, março 19, 2008

E para não deixar uma página em branco...

...enquanto permaneço expectante sobre a 'coisa' educativa, fica um poema...

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade, Mãos dadas.

terça-feira, março 18, 2008

Vaidosa ou envergonhada?

Hoje recebi um telefonema da Ensino Magazine a convidar-me para comparecer em Castelo Branco (não anotei a data) para receber o 2º prémio de um concurso de sites - não, não tem a ver com o blogue, trata-se de uma minha velhinha página para alunos. A conversa ao princípio parecia de tontos, eu não me lembro nada de ter concorrido (nem me vejo a fazê-lo), provavelmente alguém o fez por mim, tinham os meus dados todos, até a idade - que indiscrição, eu costumo deixá-la em branco! ;o)
Criei o site em mil novecentos e noventa e tal (não sei precisar), há que tempos que está abandonado. É verdade que na altura teve alguma divulgação, por exemplo a APM referenciou-o, e o 'visual' até estava engraçado devido à ajuda, nesse aspecto, do meu amigo Francisco Cerqueira (ajuda que não está omitida na página), mas isso era naquela altura, essas coisas de visuais e técnicas de construção ficam ultrapassadas muito depressa.
E não é que lá estou eu, mais a minha página web - ali!!!

Isto até vem a propósito da velocidade a que evoluem as novas tecnologias, nomeadamente nos instrumentos e técnicas para construção de páginas web. Nessa altura eu ainda usava o velhote FontPage mais umas inclusões à mão de javascripts (digo "ainda" porque há poucos meses pus uma paginazita na net - Lógica para Todos, mas não ponho link porque foi uma experiência mais para tentar manejar o xhtml), essas técnicas estão ultrapassadas, e até designs que são engraçados numa dada altura ficam absolutamente fora de moda ao fim de dois ou três anos.

Mas... pronto, embora dividida entre ficar vaidosa ou ficar envergonhada - e claro que envergonhada não é pela dita página, é porque fico sem jeito com "prémios" -, agradeço o prémio e partilho-o aqui.

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Adenda
Esqueci-me de dizer que o prémio também tem forma material, é um telemóvel. (Mas o meu não é arcaico, ainda não está a precisar de substituição ;o) )

sábado, março 15, 2008

Pensando em voz alta (nas últimas posições dos sindicatos)

(Pensar em voz alta/escrevendo ajuda a raciocinar)

1.
A proposta de António Vitorino de haver um período experimental no processo de avaliação de desempenho dos professores foi largamente considerada uma boa proposta (e recorde-se que AV não foi, de modo nenhum, o primeiro a apontar esse caminho). Mas, face a ela, importa que seja bem esclarecido o que significa um período experimental de um decreto.
Ora, eu não sou jurista, mas julgo que tal não significa usar umas tantas pessoas (neste caso, professores) como cobaias que possam ser (menos ainda só essas) vítimas de experiências. A ideia que tenho de um período experimental é que ele se destina a testar o processo, os métodos e os respectivos instrumentos, e a tirar conclusões sobre o que é adequado e o que não serve e até eventualmente contribua para obstáculos à seriedade e credibilidade que se deseja para uma avaliação exequível, isenta e justa. Não me tinha passado pela cabeça que desse período resultasse necessariamente avaliação de professores - então, seriam escolhidos para cobaias?! -, mas sim a avaliação do modelo. E acho que não preciso de ser jurista e saber exactamente em que termos seria decretado o período experimental para considerar que não seria lógico nem legítimo que determinados professores sofressem mesmo uma avaliação ao mesmo tempo que se tirariam conclusões sobre erros do modelo a requererem ser corrigidos antes da sua aplicação à generalidade dos professores.

2.
Não compreendo o argumento do ME de não poderem deixar de ser avaliados os professores contratados e os que estão em condições de progressão no presente ano lectivo (estes, aliás, num muito pequeno número, segundo ouvi Jorge Pedreira dizer).
Há algum impedimento legal a que os contratos sejam renovados segundo as normas que vigoravam anteriormente, dispensando também, portanto, avaliação neste ano lectivo dos respectivos professores?
Quanto aos que estão em condições de progredir, lembro-me do sucedido quando esteve instituída a candidatura ao então 8º escalão (e lembro-me muito bem pois fui abrangida por ela). Esperámos muitos meses para que os nossos currículos pormenorizados e trabalhos de natureza educacional fossem analisados e fôssemos chamados a exame, mas o atraso não nos trouxe prejuízo significativo em termos remuneratórios pois foi simplesmente decidido pelo governo o pagamento do aumento salarial por acesso ao 8º escalão com rectroactivos reportados ao momento em que atingíramos as condições de mudança de escalão.

3.
Da reunião negocial de ontem entre ME e FENPROF, declarou Mário Nogueira, em nome desta, a não aceitação do que o ME propôs. (Pelo pouco que li, creio que também a FNE tomou posição semelhante). Dispenso-me de resumir as declarações de MG, todos já as conhecemos.
Não as ouvi sem algumas interrogações iniciais cá para comigo mesma (daí o título deste post). Depois reflecti e, além das considerações anteriores, perguntei-me o que é isso de "procedimentos mínimos" de que fala o ME. Volto a dizer que não sou jurista, gostava que algum jurista viesse a público explicar que figura legal é essa de aplicação simplificada de um decreto-lei, ou de procedimentos mínimos na aplicação do mesmo. E concluí que os sindicatos não podiam deixar de tomar a posição que tomaram (ainda que corram o risco de à primeira vista parecer intransigência quando se pretende transigência por parte do ME), pois de facto um decreto ou se aplica, ou se revoga, ou se suspende, não me consta que exista a figura legal da tal aplicação simplificada mediante "procedimentos mínimos" (agravada ainda por simplificação ao critério de cada escola, em nome dessa palavra autonomia que agora anda a servir para tudo, e com todos os riscos de critérios desiguais entre os professores de escolas diferentes)

Nota: Relembro que disse estar apenas a pensar em voz alta, até nem é meu costume pronunciar-me antes de ler as propostas e respectivos fundamentos divulgados com precisão nos locais e documentos próprios - locais que não são a comunicação social, mas nesta já ouvi directamente Jorge Pedreira e Mário Nogueira após a reunião. Assim, o que escrevi é o que, para já, me parece, podendo uma informação mais pormenorizada e precisa melhorar os meus raciocínios imediatos ou corrigir algumas questões sobre isto de legalidades, nomeadamente quanto ao significado legalmente correcto seja de período experimental de um decreto, seja de aplicação simplificada ou mínima do mesmo (se é que este segundo caso pode ter qualquer ponta de cabimento legal).

quinta-feira, março 13, 2008

Manifestações que não desejo

Considero um erro esse apelo que corre por mail e sms para uma manifestação de professores à porta do comício do PS no próximo sábado, no Porto, e considero que não ficará bem a quem aderir.

Considero que manifestações à porta de reuniões partidárias (como se viu uma há pouco tempo em Lisboa), inclusivamente perturbando a entrada de quem quer participar - e em reuniões partidárias incluo comícios - tiram qualquer autoridade a quem quer que seja dos promotores e participantes quando acusarem políticos ou outros de atitudes pouco democráticas.

terça-feira, março 11, 2008

domingo, março 09, 2008

Sugestão de leitura

Por acaso o nome do autor deste artigo não me é especialmente conhecido, de momento não me recordo das ideias/posições que costume ter. Simplesmente, ao ler o seu artigo de hoje no Público, achei que põe o dedo certeiro pelo menos nalgumas feridas ("equívocos", como designa o autor - José Madureira Pinto, sóciólogo e professor na universidade do Porto).
(Julgo que o artigo só é acessível online a assinantes, por isso copiei-o par aqui).

sábado, março 08, 2008

8 de Março de 2008

Também Dia Internacional da Mulher, e também o dia em que vi uma manifestação de professores que jamais imaginara ver.







E conheci pessoalmente alguns dos amigos da blogosfera, de diferentes pontos do país - por ordem de encontro, a 3za, a Tit, a Maria Lisboa, o Tsiwari e o Miguel. Conheci-os com emoção. Adorei! :)
[Graças aos telemóveis, mas não foi fácil encontrá-los assim sem ponto de encontro prévio, como se deve imaginar! Bem... a persistência é sempre fundamental ;) ]

sábado, março 01, 2008

No dia 8 participarei porque...

...porque quero uma Escola Pública que proporcione aos meus netos e a todas as crianças e adolescentes - e em igualdade de oportunidades - Ensino e Educação de qualidade. Para isso, quero que as reformas necessárias no Sistema Educativo sejam preparadas e implementadas:

- com objectivos transparentes,


- com o respeito pela mais alta prioridade do trabalho dos professores, que é o trabalho para e com os alunos,

- sem medidas precipitadas, cuja pressa origina, para além de atropelos e contradições legais, a desestabilização do funcionamento das escolas pelo lançamento de profundas mudanças com os anos lectivos já a decorrerem.

Quero, sim, uma Escola Pública exigente quanto à formação/competência dos docentes, para o que a avaliação dos mesmos deve concorrer e é necessária, mas uma avaliação de desempenho mediante um processo formativo, estimulante, credível, justo e exequível, e não um processo burocratizado e absorvente do tempo dos docentes e dos orgãos de gestão das escolas, inevitavelmente desviante da mais alta prioridade acima referida.

Quero, sim, o que contribua para o verdadeiro sucesso educativo, sem escamoteamento desse objectivo por urgências em melhorar resultados estatísticos quaisquer que sejam os significados destes e custe o que custar, mesmo que esse custo, na verdade, venha a recair na Educação e no Futuro dos alunos, seja por facilitismo, seja por economicismo e deterioração das condições de trabalho dos professores, nomeadamente condições de tempo e exequibilidade, de colaboração, de estímulo e de respeito,
e também de salvaguarda de uma gestão democrática.