domingo, abril 26, 2009

Consertando o mundo

Um cientista vivia preocupado com os problemas do mundo e estava resolvido a encontrar meios de minorá-los. Passava dias em seu laboratório em busca de respostas para suas dúvidas...
Certo dia, seu filho, de sete anos, invadiu o seu "santuário" decidido a ajudá-lo a trabalhar. O cientista, nervoso pela interrupção, tentou fazer com que o filho fosse brincar em outro lugar.
Vendo que seria impossível demovê-lo, o pai procurou algo que pudesse ser oferecido ao filho com o objectivo de distrair sua atenção. De repente, deparou-se com o mapa do mundo e alegrou-se, pois era exactamente o que procurava! Com o auxílio de uma tesoura, recortou o mapa em vários pedaços e, junto com um rolo de fita adesiva, entregou ao filho dizendo:
- "Você gosta de quebra-cabeças? Então vou lhe dar o mundo para consertar... Aqui está o mundo todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho, mas não se esqueça: faça tudo sozinho!"
Calculou que a criança levaria dias para recompor o mapa. Algumas horas depois, ouviu a voz do filho que o chamava calmamente:
- "Pai, pai, já fiz tudo. Consegui terminar tudinho!"
A princípio, o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível, na sua idade, ter conseguido recompor um mapa que jamais havia visto. Relutante, o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que veria um trabalho digno de uma criança. Para sua surpresa, o mapa estava completo. Todos os pedaços haviam sido colocados nos devidos lugares. Como seria possível? Como o menino havia sido capaz? Perguntou-se o cientista e resolveu averiguar com o filho como ele tinha conseguido tal feito:
- "Você não sabia como era o mundo, meu filho, como conseguiu?"
- "Pai , eu não sabia como era o mundo, mas, quando você tirou o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem. Quando você me deu o mundo para consertar, eu tentei... mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os recortes e comecei a consertar o homem, que eu sabia como era. Quando consegui consertar o homem, virei a folha e vi que havia consertado o mundo!"

Autor desconhecido. Fonte

sexta-feira, abril 24, 2009

Tempo de Abril - Nunca deixemos cerrar as portas que Abril abriu!

(Não é preciso esperar pelo dia 25. Há que trazer a data no nosso espírito nestes dias de Abril - e não só, mas sempre, sobretudo neste tempo em que tantos ferem os valores morais, as liberdades, a democracia e a esperança)


(...)
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era liberdede.

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.

(...)
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.

Disse a primeira palavra
na mdrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.

(...)
Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.

(...)
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu
.
(...)

Ary dos Santos. Excertos de As portas que Abri abriu.

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Nem toda
a força do pano
todo o ano

Quebra a proa
do mais forte
nem a morte

terça-feira, abril 21, 2009

Jacek Yerka

Recebi do Miguel um pps intitulado "O pintor dos sonhos". Obras de Jacek Yerka, pintor surrealista polaco, contemporâneo. Porque nos leva ao sonho, à fantasia a que só chega o imaginário das crianças, fui procurá-lo ao YouTube.

sábado, abril 18, 2009

Mimos na blogosfera

Estes foram mimos da Teresa, a quem já agradeci.



dardo


lemonade

palabras con rosas

symbelmine

Passo os prémios para a Amélia Pais, a Fátima André, o Henrique, o José Matias Alves, a Matilde, o Miguel Pinto, a Teresa Marques e o Tsiwari (ordem alfabética).
Quase todos já os receberam, mas os mimos amigos nunca são demais, não é? ;)

quarta-feira, abril 15, 2009

A terminar a minha insistência na metacognição - algumas sugestões de leitura

No meu próprio blogue tenho alguns textos sobre o tema (que se pode encontrar na lista de marcadores), mas se vou sugerir dois deles não é porque considere importante o que escrevo, mas porque são de natureza prática dado que descrevem dois exercícios metacognitivos a aplicar na sala de aula a toda a turma.

- Um é um exercício metacognitivo sobre a atenção:
aqui

- Outro é um exercício mais lato, proposto por Gibbs, G. (1981) e que adaptei ao nível etário dos meus alunos: aqui (há que saltar por cima de considerações pessoais prévias para chegar à descrição do exercício).

Passando a artigos de natureza mais teórica, deixo como sugestões de leitura:





Pronto, cesso aqui a minha insistência no tema "metacognição". Aliás, todo o professor a vai aplicando intuitivamente, mais esporadicamente ou mais frequentemente, mas a sua aplicação intencional, planeada e estruturada está ainda muito pouco integrada nas práticas. Por isso a minha insistência na actividade metacognitiva, que considero muito importante no processo de aprendizagem, na tomada de consciência pelos alunos de causas de algumas das suas dificuldades e na aprendizagem/descoberta de estratégias para melhor estudarem e aprenderem.

segunda-feira, abril 13, 2009

Ainda para o recomeço das aulas

Que tal imaginarmos que cantamos em coro? (eu também, que já não tenho alunos, mas tenho netos). Não é preciso ter boa voz, até pode ser desafinada, o que é preciso é ânimo e disposição para cantar ;)





Pensamento para o recomeço das aulas

O que me dizem, esqueço
O que me explicam, entendo
O que faço, aprendo

Confúcio


Confúcio não estaria a pensar em aulas, nós é que estamos sempre com umas (despropositadas?) associações de ideias... ;)

sábado, abril 11, 2009

Boa Páscoa!


Boa Páscoa para todos!

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Matin de Pâques

Maurice Denis (1891)
(Clicar para ampliar)

quinta-feira, abril 09, 2009

É Primavera

chegado para ver as flores,
sobre elas dormirei
sem sentir o tempo


Buson

Tradução de Olga Savary

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Claude Monet (1900)

segunda-feira, abril 06, 2009

Voltando à metacognição

Um exercício metacognitivo sobre a atenção

Tem-se estudado muito mais a psicologia da atenção do que a sua pedagogia. Há que procurar os caminhos para ajudar os alunos a gerirem mentalmente esse acto primordial na aprendizagem - o acto de atenção.
Embora o interesse seja uma condição necessária para a atenção, há, no entanto, alunos em que aquele é manifesto sem que esta seja bem conseguida. Muitos alunos têm formas inadequadas de atenção, tais como atenção impulsiva (só parte da informação é focada, e a outra ignorada) e atenção superficial ("passar" pela informação sem verdadeiramente a processar e compreender).
O primeiro passo para que o aluno possa corrigir esses hábitos deficientes é a tomada de consciência deles mediante uma auto-observação. Esta poderá ser conduzida pelo professor dando oportunidades aos alunos de aprenderem a interrogar-se sobre a existência ou não de dificuldades pessoais de atenção e sobre a necessidade de utilizarem estratégias de concentração.

O exercício que se segue pretende conduzir os alunos a auto-observarem a sua capacidade de persistência na atenção, a detectarem dificuldades pessoais de concentração, a identificarem formas deficientes de estar atento, a reconhecerem a necessidade de utilizarem estratégias de concentração e a enumerarem algumas estratégias que influenciem positivamente o processo de atenção.

Na primeira parte do exercício utiliza-se o método de auto-observação [segundo proposta de Hallahan, D. et al ( 1979), self-monitoring of attention: a play with one actor]; na segunda parte segue-se o método de discussão.

Começa-se por distribuir aos alunos um texto de estudo pedindo-se que o leiam atentamente durante alguns minutos. Com pequenos intervalos de tempo o professor faz soar uma campaínha e os alunos interrompem a leitura, interrogam-se sobre se estavam verdadeiramente atentos e assinalam num pequeno conjunto de itens o que corresponde à atenção com que estavam no momento do toque da campaínha. No final, cada aluno conta as falhas de atenção detectadas.
Passa-se então a uma discussão subordinada ao tema "às vezes parece que estou atento, mas não estou". Os alunos comentam os resultados que obtiveram e dão testemunhos espontâneos que revelam uma atenção deficiente. Discutida a situação aplicada, o debate generariza-se a outras. Finalmente, surgem - espontaneamente ou por solicitação do professor - testemunhos de estratégias de concentração (por exemplo, relativas ao ambiente de estudo - há alunos que precisam de silêncio, outros precisam de música de fundo, outros de certas características do local de estudo, etc.).

Um dos testemunhos de que me lembro quando da realização deste exercício (ainda hoje o recordo) foi: "pois... eu acho que às vezes estou tão preocupada em estar atenta que acabo por estar a pensar mais que tenho que estar atenta do que estar a ouvir mesmo a professora". Também me lembro que vários alunos contaram as suas estratégias de concentração, sobretudo no ambiente de estudo em casa, mas a memória já não me permite relatá-las.

Em suma: A questão da atenção e das dificuldades com ela é primordial, sendo muito importante que o professor observe e compreenda essas dificuldades dos alunos (mesmo que calados e parecendo atentos) e procure ajudá-los a superá-las levando-os, antes de mais, a tomarem consciência delas, bem como fazendo-os constantemente participar e mantendo-se ele próprio atento a todos. Lembro-me de um texto de La Garanderie em que este colocava na boca dos alunos: "Professor, em vez de nos dizer para estarmos atentos, diga-nos como devemos fazer para conseguirmos estar atentos".
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Adenda
Eu sei que actualmente há turmas muito indisciplinadas em que é verdadeiramente difícil gerir a atenção dos alunos. Mas as turmas não deixam de ser receptivas a um debate sobre questões da aprendizagem - neste caso, sobre a atenção. Nem em todas o professor conseguirá ser bem sucedido, mas... há que não desistir, não é?

Neste tempo de desconfiança e decadência

Hoje evoco e deixo três poemas(*)

Este é o tempo
Da selva mais obscura

Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura

Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura

Este é o tempo em que os homens renunciam

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Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação

Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão

Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo da ameaça
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Cantaremos o desencontro:
O limiar e o linear perdidos

Cantaremos o desencontro:
A vida errada num país errado
Novos ratos mostram a avidez antiga


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(*) Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, abril 03, 2009

Já que falei de metacognição...

(É um tema que me é caro. Nos anos idos da candidatura ao 8º escalão, o meu trabalho foi sobre metacognição - uma parte teórica e outra prática que deu o nome ao trabalho: Seis exercícios para aprender a aprender, exercícios esses que apliquei numa turma e que os alunos espontaneamente consideraram muito benéficos para eles. Mas ao meu blogue não trago estudos, teorias, investigações, ele não é um espaço académico, é apenas um cantinho para considerações pessoais simples - muito simples.)
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Já nos princípios do século passado Dewey escrevia: "O lado intelectual da educação consiste na formação de hábitos de pensar conscientes, meticulosos e perfeitos" (1910); "Se todos os professores compreendessem que a qualidade do processo mental, não a produção de respostas correctas, é a medida do desenvolvimento educativo, algo pouco menos do que uma revolução no ensino teria lugar na escola" (1916). Ora, passado praticamente um século sobre estas palavras, não só não parece que a dita revolução tenha acontecido, como, ainda por cima, nos debatemos com uma "crise" de (falta de) hábitos de pensar e estudar entre muitos dos nossos alunos.
Entretanto, depois da introdução do conceito de metacognição por Flavell na década de 70, muitos estudos foram feitos, muitos artigos foram escritos e muitos programas foram experimentados, alguns até cá em Portugal. No entanto, a maior parte dos professores foi estando alheia, limitando-se ao ensino directo de estratégias de estudo, sobretudo desde que foram implementadas as aulas de Estudo Acompanhado.
Os alunos mais fracos, que apresentam deficiências a nível cognitivo, são também os que mais dificilmente têm acesso a um procedimento metacognitivo. Sendo os que menos consciência têm da inadequação de algumas das suas atitudes mentais durante a aprendizagem (por exemplo, na atenção superficial, na preocupação em darem as respostas que o professor quer que dêem mais como quem tenta adivinhar do que quem quer pensar e compreender, na procura na memória da solução de um problema em vez de o interpretar, etc.), são, pois, os que menos conseguem avaliá-las e controlá-las. Cabe ao professor ajudar esses alunos a consciencializar os seus processos cognitivos a fim de que se apercebam de hábitos deficientes e descubram a necessidade de utilizar estratégias eficazes.
Não retiro importância aos conteúdos a aprender, mas muitos destes não serão os que os alunos irão necessitar na vida adulta, nesta irão ter que se actualizar, irão ter que saber aprender. Por isso sempre considerei que qualquer conteúdo de um programa deve propiciar também a oportunidade de desenvolver e monitorar o processo cognitivo - os processos, em si, de aprendizagem -, para o que muito contribui o desenvolvimento da capacidade metacognitiva. Mas tenho a impressão de que falar da importância de desenvolver nos alunos competências metacognitivas é conotado por alguns assumidos "anti-eduquês" como coisa do "eduquês" - será só impressão minha?
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Nota: Um exemplo de um exercício metacognitivo amplo pode encontrar-se pelo meio deste post aqui.

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Adenda

Um mimo de Páscoa muito fofinho, da Fátima André: