sábado, dezembro 31, 2005
sexta-feira, dezembro 30, 2005
A propósito das TIC
Era ainda o tempo em que boa parte dos professores não estava sensibilizada para a introdução do computador na sala de aula - ou seja, para deslocar turmas para a sala de informática, que para termos as salas de aula equipadas com computadores ainda devemos ter que esperar pelo menos um decénio (só??). Excepto os mais jovens professores, a grande maioria sentia-se ultrapassada por novas tecnologias que não sabia utilizar. Fazendo eu parte daqueles que não se deixaram ultrapassar, foi-me então fácil, nos pedidos de horário, conseguir que qualquer das minhas turmas tivesse garantido um tempo de Matemática com a sala dos computadores disponível para requisição quando necessitasse.
Além de outros objectivos nas actividades no computador, tornou-se meu hábito incluir de vez em quando apenas a intenção de dar um certo carácter lúdico a exercícios de Matemática que podiam ser realizados em fichas na sala de aula, mas que recursos disponíveis gratuitamente na internet me permitiam construir como mais desafiantes, pela interactividade e indicação automática de pontuações, além de que os alunos diziam que o simples facto de estarem no computador já lhes dava uma sensação lúdica.
Neste ano que decorre, subitamente eliminei das minhas perspectivas de planificação de aulas esse tipo de exercícios no computador, pois sente-se a actual geração de alunos de tal maneira a querer só o divertido ou atraente, sem hábitos de trabalho e esforço, sendo os jogos no computador uma das aliciantes que lhes tira tempos e aptência para estudo, que, embora as actividades que referi (não outras necessárias, inclusive requerendo pesquisa, etc., claro) não fossem propriamente jogos, tinham para os alunos um pouco esse carácter e... pronto, eliminei-as, com este pensamento de que jogo no computador já a maioria tem demais. Deverá parecer uma barbaridade eliminar algo que torne aulas mais alegres/divertidas para os alunos - falo de alunos já de 8º e 9º ano e até gostaria que, se acaso me lerem, comentassem - mas a verdade é que, de repente, deitei fora as referidas actividades no pc. (Aquelas só, não outras que, aliás, não são menos motivadoras ou atractivas pois a ideia de irem trabalhar no computador logo lhes provoca contentamento)
quinta-feira, dezembro 29, 2005
A doença do meu pc
quinta-feira, dezembro 22, 2005
Feliz Natal!
P.S. Ah, ia esquecendo: Procurem um supermercado da nova rede de Supermercados Milu, que tem lá um frigorífico especial com perus congelados, marca Valter, com grande anúncio a dizer Encomende aqui o seu peru Valter, já assado para a ceia de Natal!
;)
domingo, dezembro 18, 2005
quinta-feira, dezembro 15, 2005
...
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Carlos Drummond de Andrade, excerto de A Flor e a Náusea
As férias deste blogue
terça-feira, dezembro 13, 2005
Poesia...
- Poesia tem que ter rima, professor?
Responder o quê, meu Deus?
O Modernismo aboliu a rima.
(Mas será o meu aluno um modernista?)
Eu falei pra ele do Drummond,
do Bandeira, dos concretos, da Cecília.
Mostrei também os românticos e os árcades.
Até dos simbolistas eu dei aula.
Poesia deve ter sentimento, meu filho!
- Sabe o que é, professor,
é que eu andei pensando
numa poesia para a nossa escola.
Estudei versos parnasianos,
tentei a rima e versos decassílabos alexandrinos.
Pobres rimas me vieram:
amor com dor, dor com professor.
Se a rima é fraca, desisto dela.
Vou fazer uma poesia pra lá de moderna,
onde haja escola rimando com cidadania,
professor rimando com respeito,
aluno rimando com feliz.
Que me perdoem os poetas de plantão,
os senhores da métrica e os doutores do verso.
Patryck Araújo Carvalho (professor)
Ciências e "Ciências"
segunda-feira, dezembro 12, 2005
Antidesencantos II
Mas, os antídotos que aí vamos buscando são pequenos contentamentos. São algumas reacções ao mesmo tempo ainda incrédulas mas também exuberantes quando testes comprovam o ultrapassar de um mau começo; São os conflitos resolvidos, conflitos (devidos a comportamentos que trazem adolescentes já com mais dois anitos que os colegas) até ao dia certo para dizer, a sós, "vai começar hoje o teu ano em Matemática?" e ouvir um "vai" de polegar levantado (e foi); São as novas intenções que, bem dispostos com as férias e conscientes de que agora já é 9º ano, manifestaram alguns nos primeiros dias e que, se acaso não eram para durar, nós é que não as largámos mais, eu e também os novos colegas de grupo - coloque-se nas mãos da turma, já experiente e entendida no que funciona e no que não funciona, a reorganização de grupos apropriada a segurar boas intenções e, nisso, quase sempre posso ficar descansada - e acontece o primeiro teste positivo em Matemática ao fim de um ano, seguido do agora ainda mais positivo que, por exemplo, o H. vai receber.
E, na verdade, se conseguimos alguns (bastantes) antidesencantos na sala de aula, não quer dizer que sejam sinónimos de encantamentos. Olho o lema deste blogue, aí em cima, que lá está escrito porque toda a vida tantas vezes vi que, com um ambiente propício e a confiança posta neles, os putos ficavam com o dobro do tamanho que pareciam ter (e que lhes atribuíam erradamente) - recordações não só antigas de professora não apenas de Matemática, de professora simplesmente, de directora de turma, de promotora ou participante de experiências e iniciativas, mas memórias também pouco antigas, do decurso dos anos 90. E, de repente, em escassos anos, já não basta encontrarem professores a acreditarem e a apostarem neles - parece que tentar criar o ambiente propício se tornou, muito mais que nunca, um remar contra uma maré, de origem difusa, mas forte, que entra pela escola mas vem de fora.
quarta-feira, dezembro 07, 2005
Breve refúgio
Eu pecador que junto ao mar me purifico
lançando e recolhendo a linha e olhando alerta
o infinito e o finito e tantas vezes fico
como o último homem na praia deserta.
Eu pescador de cana e de caneta
que busco o peixe o verso o número revelador
e tantas vezes sou o último no planeta
de pé a perguntar. Eu pescador.
Eu pecador que nunca me confesso
senão pescando o que se vê e não se vê
e mais que o peixe quero aquele verso
que me responda ao quando ao quem ao quê.
Manuel Alegre, excerto de Oitavo Poema do Pescador
terça-feira, dezembro 06, 2005
domingo, dezembro 04, 2005
Que espaços para diálogo com o adolescente?
E, subitamente, agudizou-se-me a consciência, o reparo, desta incongruência que referi acima: rodeados de professores que pensam neles e se preocupam com eles, que pensam não só numa turma, mas em cada um, e no entanto por vezes sozinhos - como acontece às vezes connosco, adultos, que rodeados de gente, sentimos solidão.
sábado, dezembro 03, 2005
sexta-feira, dezembro 02, 2005
Alguns antidesencantos I
A D. é minha aluna desde o 7º ano. Com um desempenho positivo, mas, na maior parte das vezes, pelo mediano, aquém das suas capacidades como sempre lhe disse - fases longas de tendência para a conversa e a "preguicite".
Numa aula recente, com a turma ainda com dificuldades para "entrar" na resolução de problemas não rotineiros aplicando os conteúdos trabalhados, a D. disse-me: Eu para a Matemática dou pouco. Sem reproduzir o diálogo que se seguiu, sintetizo-o na sua tónica: Sempre te disse o contrário e escusas de teimar porque disso quem sabe sou eu. (Não manifestou se me deu razão ou não, mas vi-lhe o olhar contente)
A D. resolveu no teste os dois "problemas difíceis" e teve um dos quatro melhores testes da turma, atingindo 83%, resultado de que há bastante tempo nem se aproximava.
A A. também é minha aluna desde o 7º ano, cujo início a fez passar por um choque pois esteve muito longe do nível 5 a que vinha habituada - o que não lhe aconteceu só em Matemática. Muito responsável e briosa e sendo a Matemática a sua disciplina preferida, os pais tiveram que pedir para me falar para me porem a par de que a A. andava extremamente preocupada e nervosa com a Matemática - uma iniciativa muito importante, dado que na aula a atitude reservada não me fazia suspeitar de tal estado da menina em casa. Tive logo longa conversa com ela, elucidando-a e tranquilizando-a de facto (pedira aos pais que me mantivessem informada do evoluir da situação, pelo que a tranquilização foi confirmada).
A A. é a aluna mais novinha da turma - daqueles alunos que, iniciando o 1º ano ainda com 5 anos, por vezes vêm a ter algumas dificuldades e a necessitar de maior esforço na fase temporária do 3º Ciclo, especialmente em Matemática. Sempre com a "matéria" bem estudada, foi progredindo relativamente a dificuldades na sua aplicação na resolução de problemas. Mas o salto que deu tem ficado aquém do que quer dar.
Este ano, numa dessas aulas que referi em que a turma estava ainda com dificuldade em "entrar" em certos problemas, a A. (não pela 1ª vez) chegou um tanto desolada por não ter conseguido resolver o problema do TPC. No final, já a turma levantada para sair, disse-lhe de chofre: _A., tenho uma coisa para te "ensinar" e chegou a altura. Diz-me agora só: naqueles problemas, a tua cabeça está muito preocupada com a ideia de que não consegues resolvê-los, ou não? _ Aceno afirmativo. _ Pois é essa a causa, mas agora vai para o recreio, iremos falar e resolver isso. No dia seguinte, ao entrar no pátio da Escola, a A. viu-me e veio logo ter comigo para me dizer, sem qualquer introdução à conversa: _ A minha mãe disse que acha o mesmo que a stôra.
Pronto, estava dado o primeiro passo, pois ela não teria ido contar à mãe, ou, pelo menos, não me abordaria logo assim se não tivesse já começado a "ver" ela mesma o que queríamos dizer. Referi-lhe o assunto mais uma ou duas vezes, mas na intenção de aguardar pelo teste para, em cima de um problema em que estivesse com dificuldade, lhe pedir para rever e me descrever como estava a pensar e tudo o que estava a pensar durante essa tentativa - o que Flavell designou por experiência metacognitiva, imediatamente a seguir a uma tarefa cognitiva. Mas... não foi preciso! A A. também resolveu os dois "problemas difíceis" e teve o segundo melhor teste da turma, ultrapassando as duas alunas que habitualmente têm melhor desempenho.
Estes são exemplos de alguns dos antidesencantos que vamos tendo. Guardo Antidesencantos II para depois dos testes das minhas outras duas turmas. Essas são turmas mais complicadas, onde, para bastantes alunos, não se trata de ir mais além de um positivo desempenho que já consigam, mas sim de mostrarem (a mim, mas sobretudo a eles mesmos) o que afinal começaram a conseguir quando já não acreditavam conseguir um pouco sequer e o desinteresse vinha instalado. E estou esperançada de que já vou ter nestas turmas mais alguns "antidesencantos".
quinta-feira, dezembro 01, 2005
Tempo de desencanto II
Sergei Samsonov
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O terrível paradoxo é o de tudo ter mudado no mundo e o mundo nada ter mudado. Não é preciso mostrar estas estatísticas aqui, pois todos as conhecem.
Alguém que já viveu também tantos Tempos num só tempo de vida - Amélia Pais - deixou no meu post anterior um comentário lindo, como lindo igualmente o que escreveu no seu blog: "Volte sempre -por aqui navega-se entre flores." Refiro-o porque revela esse olhar positivo semelhante ao que sempre teimei, e teimei, e teimei manter. Mas a realidade no presente é mesmo essa que afirmei acima: o mundo nada mudou, as estatísticas nada mudaram - as estatísticas da pobreza e do sofrimento e também as da riqueza que violentamente afrontam tão enorme parte da humanidade. E há estatísticas por fazer, uma delas, a dos jovens delinquentes por raiva e desespero.
Também porque é um pensamento sobre o mundo, e eu vivo num pequeno país em que não deixam de ser pequenas aquelas diferenças estatísticas, face à enormidade das mundiais.
É também tempo de Natal. E, se na intimidade da família e na alegria das minhas crianças ele é bom, não deixa de ser o momento do ano em que o exterior me parece mais alienado, o que deve estar a concorrer um pouquito para esta minha "crise" de desencanto.
quarta-feira, novembro 30, 2005
Achei...
Um blogue que me deu a sensação de ser um poema à poesia.
...
Que o poema seja microfone e fale
uma noite destas de repente às três e tal
para que a lua estoire e o sono estale
e a gente acorde de novo em Portugal.
(...)
Que o poema diga o que é preciso
Que chegue disfarçado ao pé de ti
e aponte a terra que tu pisas e eu piso
e que o poema diga: o longe é aqui.
terça-feira, novembro 29, 2005
Tempo de desencanto
segunda-feira, novembro 28, 2005
Versus Admirável Mundo Novo
domingo, novembro 27, 2005
sábado, novembro 26, 2005
Sugestão de leitura
Acabei de encontrar por acaso um endereço, uma referência a um seu texto, num dos tantos comentários a posts na blogosfera (comentário apenas identificado como anonymous) Trata-se de um texto longo, mas que sugiro como a não perder, mesmo que se concorde aqui, se concorde menos ali e não se concorde acolá. É um texto que permite multiplicar-se em várias reflexões/discussões bem pertinentes.
Transcrevo apenas algumas afirmações soltas, de modo nenhum na ideia (que seria redutora e incorrecta) de sintetisar as ideias de um texto que aborda e coloca muitas questões, mas como meras "motivações" para a sua leitura, também para as controvérsias que suscite mas que, a meu ver, por isso mesmo inovam e dinamizam a nossa reflexão.
(...) no nosso mundo de hoje, uma das funções mais silenciadas da escola, mas nem por isso menos incontornável, é a de tomar conta dos filhos enquanto os pais vão trabalhar. (...) Estamos pois perante uma situação terrível - a mais terrível de todas, a meu ver - a progressiva e alarmante transferência para a escola das responsabilidades educativas que, naturalmente, e desde sempre, pertencem à família. (...)
(...) a escola está hoje confrontada - diria mesmo sufocada - com uma complicada alquimia por intermédio da qual procura responder a tantas novas responsabilidades educativas. (...)
(...) Estamos perante dois conceitos - educação e ensino - que se confundem hoje de forma dramática. (...)
(...) este verdadeiro emaranhado de equívocos, deslizamentos lógicos e falhas conceptuais em que está enredada a instituição escolar(...)
(...) Há hoje dois discursos educativos de sinal contrário: um centralizador, estatizante, que aponta para grandes reformas planificadas pelos organismos centrais (...) outro, descentralizador, liberal, hoje triunfante e invasor embora nunca vitorioso, que dá "prioridade às escolas e não ao sistema" (...) Ambos estes discursos têm em comum o facto de proporem grandes mudanças. Em ambos, uma procura voluntarista de mudança, uma vontade bárbara de reforma, uma "mania" de inovação.
Ora, o que importa (...)
sexta-feira, novembro 25, 2005
Memória de uma aventura...
(Fotos privadas, 2001)
E depois... a subida... a subida... e o passeio com a maravilhosa paisagem por baixo. E depois... a descida, até eu ter que pensar se ia conseguir aterrar a correr, isto é, sem me estatelar. Mas a aventura toda não posso mostrar, que o fotógrafo não tinha asas para acompanhar.
P.S.: Suponho que cá também seja como lá, em que só um encartado tem permissão para levar um não encartado, por isso até uma bisavó centenária (que contam que ainda há algumas em forma) pode experimentar a aventura com segurança... aqui fica o desafio às vovós ;-)
quinta-feira, novembro 24, 2005
Fim de semana...
Pela blogosfera sem sabermos uns dos outros
terça-feira, novembro 22, 2005
E quando falam deles?...
O debate e as minhas imagens
segunda-feira, novembro 21, 2005
Outra vez... é demais.
Aparte casos de agentes de ensino que talvez devessem estar a fazer outra coisa - que existirão, ou então esta profissão seria uma excepção a todas as outras -, não se pode deixar de reconhecer que existem práticas a corrigir. No aspecto específico em que tocará este post, não se esquece as dificuldades e o stress que certas turmas causam, sobretudo no início do 2º Ciclo (também certamente no 1º Ciclo), pela existência nelas de alunos que são o reflexo do seu meio sócio-familiar extremamente desfavorecido e problemático. Não se esquece que, antes de se ter condições para ensinar as matérias escolares, há por vezes um tempo longo em que os objectivos são o saber estar numa aula em posturas minimamente razoáveis, o motivar para a escola e o integrar em tarefas escolares. Mas os dois casos que aqui vou focar já não são esses.
Mais uma vez os professores de uma turma, por um acaso em que todos ou quase todos a recebe pela 1ª vez no 8º ano, se depara com ela sem ter sido educada a saber estar numa aula, revelando hábitos de aí estar em grande barulho e agitação mesmo quando a professora explica, e mesmo com comportamentos de quem está num recreio - e sem vigilante. Não se trata em geral de alunos chamados "problemáticos", não se trata em geral de alunos com procedimentos que requerem sanções disciplinares por, por exemplo, frontais faltas de respeito aos professores. Trata-se de alunos que puderam passar o 7º ano na atitude e no ambiente referidos. Não que eu pense que não foram admoestados. Penso, sim, que existe um problema de confusão, de não consenso e sobretudo, talvez, de grande insegurança quanto à questão da permissividade. E esta é uma questão que precisa de ser debatida nas escolas. Não para acusar, mas para reflectir e construir. Não para estigmatizar, como faz ou permite fazer a actual ministra da Educação, mas para concertar actuações e consciencializar todos de consequências irremediáveis que estas situações podem ter quando só se colmatam num ano tão tardio como o 8º.
Foi assim que me chegou a turma que, no ano lectivo anterior, recebi no 8º - turma de que já aqui falei em Setembro, chamando-lhe a minha prioridade e contando que a minha pergunta "como vou fazer?" se seguia à pergunta que me fazia no 3º Período do ano anterior: "posso fazer alguma coisa?" (Também depois voltei a mencioná-la para contar que já me estava a dar alegrias).
Foi novamente assim que me chegou a minha turma de 8º deste ano. Mais uma vez, foram necessárias algumas semanas (a mim e decerto aos meus colegas) para conseguir (sem recurso a sanções disciplinares) o ambiente minimamente indispensável a um normal funcionamento. E, após essa etapa, nada mais fiz até ao fim da 1ª semana deste mês de Novembro senão tentar colmatar algumas grandes lacunas do 7º ano - lacunas inevitáveis quando os respectivos alunos são os primeiros a reconhecer que não prestavam atenção no ano anterior; lacunas em matéria essencial, mas apenas, por agora, relativa a pré-requisitos indispensáveis para a aprendizagem do que vamos tratar no início do 8º. No entanto, nem esta acção de recuperação tem resultado para bastantes alunos dado que, embora agora já razoavelmente disciplinados, hábitos de concentração e de trabalho na própria aula, motivação e sentido de responsabilidade não se adquirem de um momento para o outro.
domingo, novembro 20, 2005
E hoje é domingo. E depois...
Permito-me transcrever palavras do Miguel Pinto, pois penso que o seu "há muito tempo" remonta a tempo anterior àquele em que a actual Ministra da Educação nos deixou sem espaço-tempo para reunir e discutir o que de facto urge discutir sobre Educação / Ensino-Aprendizagem.
"Há muito tempo que venho denunciando o défice de discussão no interior das escolas.
Já é domingo, mas o Miguel deu-me a deixa, não resisti a deixar dito já algo em comentário que escrevi lá no seu post.
Mas, hoje é mesmo domingo, fico-me por esse comentário lá, e com esta referência ao seu texto (o qual, atenção, não se confina ao que transcrevi, que deve ser lido no respectivo contexto).
sexta-feira, novembro 18, 2005
A anedota do dia (verídica)
Contrastes
Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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A fuga
Mário Eloy Pereira
quarta-feira, novembro 16, 2005
"Pedagogia diferenciada na sala de aula"
"3—O plano de recuperação pode integrar, entre outras, as seguintes modalidades:
a) Pedagogia diferenciada na sala de aula."
Como disse já o Miguel Pinto, "num ápice, a pedagogia não diferenciada foi legitimada". Sim, porque apenas "pode integrar" (como uma mera sugestão).
Não sei o que sente cada professor, mas eu, desta vez, nem me senti ofendida, apenas gozada. Mas é toda a minha vida profissional que é gozada, como acho que se notará nesta memória tão longínqua que me lembrei há tempos de guardar neste cantinho.
E mais não digo, porque tenho uma coisa mais importante para fazer: libertar-me da irritação, que esta ministra, a mim, não merece que me lembre sequer que existe. (Se ela desse aulas, saberia sequer o que é diferenciar?)
Última hora...
Ainda ontem tinham 18 (dezoito) razões ...
Mas quem se surpreende ao fim de 23 anos? (Sim, desde Novembro de 1982, tivemos muito tempo para aprender que contar com tanta unidade é pura ingenuidade).
terça-feira, novembro 15, 2005
Até 6ª feira, aguardo.
Que há "horários dos docentes que descaracterizam profundamente os aspectos essenciais da sua profissionalidade", e que "grassa a desmoralização nas salas de professores", os quais se sentem "humilhados e ofendidos na sua dignidade profissional"
Que a imagem dos educadores e professores tem vindo a ser sujeita a um inqualificável ataque, "provindo até de quadrantes inesperados", "com o intuito de denegrir a imagem do conjunto dos docentes perante a sociedade", num péssimo serviço à Educação pois "não é possível atingir-se a mais alta qualidade nos processos de ensino-aprendizagem sem professores profissionalmente motivados e socialmente prestigiados"
Que "os professores estão entre os primeiros interessados numa escola de qualidade, em que sejam tomadas medidas sérias de promoção do sucesso educativo para todos", mas não em que sejam tomadas medidas precipitadas que redundam em mera guarda de alunos, sem condições nem tempo para planear, viabilizar e estruturar projectos de modo a, efectivamente, "da permanência acrescida resultarem condições mais favoráveis às aprendizagens dos alunos e ao combate ao abandono escolar" e para se caminhar sob perspectivas de real transformação da escola.
segunda-feira, novembro 14, 2005
Repetindo: carroça à frente dos bois.
"A Srª Ministra não fala com os agentes educativos antes de decidir e tem um péssimo sentido de timing. Se assim não fosse, teria tido a calma de, durante este ano lectivo, apresentar o seu projecto de componente não lectiva e teria tido a dita de ouvir sugestões úteis e as Escolas teriam tido tempo de estruturar os tempos referidos em respostas úteis e realmente transformadoras da Escola. No próximo ano lectivo concretizar-se-ia o projecto."
(...)
"Não podemos continuar a oscilar entre estes dois desgraçados polos que têm marcado a nossa História: diálogo permanente sem decisão ou decisionite autista e arrogante. A primeira cria a deriva e o caos, a segunda uma ordem inoperante e crispação social - no próximo dia 18 há greve de professores."
?????
Unity Jump
"Na opinião da ministra há questões que têm de ser clarificadas, mas nada que se aproxime da exigência de suspensão, na medida em que, referiu, os órgãos de gestão sentem-se "confortados" com estes dois despachos." (Despachos 16795/2005 e 17387/2005) (Reunião FENPROF / M.E. de 11 de Novembro de 2005)
"Confortados"???!!! Não será que a Srª Ministra está mais uma vez a generalizar, contente, a partir de alguns eventuais casos confortáveis? (Que o meu CE não está nadinha confortado, isso sei; mas sobre tudo o mais desta presente história, já não sei nem o que sei nem o que não sei)
quinta-feira, novembro 10, 2005
Aguardemos o uso da lógica
"O M.E. recusou reconhecer a perturbação existente nas escolas, avaliando positivamente a aplicação da legislação, embora tivesse sido obrigado a reconhecer a insatisfação que grassa na classe docente disponibilizando-se a reapreciar os dois diplomas em causa..."
quarta-feira, novembro 09, 2005
Roots of Empathy
terça-feira, novembro 08, 2005
...
(Dizem que o cão ladra por medo e eu digo que o anónimo se esconde por cobardia)
Anonymous said...
"(Mas fico por aqui, confesso que não estou habituada a falar com anónimos) -------------------------------Concordo.Diria mesmo que nos tempos que correm é mais seguro. E depois é reconfortante falar sempre com os mesmos sobre o mesmo.Por isso é que se inventou a net.Assim só falamos com gente conhecida.Pobre juventude do meu país que tais mestres tem que aturar.Fique com os seus e não se deixe contagiar, a vidinha não está para grandes aventuras... "
domingo, novembro 06, 2005
sexta-feira, novembro 04, 2005
...
Que sentido isto faz?
Pensei num espaço onde iria colocando e guardando memórias profissionais. Como professora de Matemática, notas sobre aquilo em que sempre pensei - a disciplina de maior taxa de insucesso, os métodos que a podem minorar, esse ganhar gosto pelas aulas de Matemática quando os putos descobrem que, afinal, são capazes, aquelas aulas em que ao fim de dois meses pequenotes de 10 anos punham os seus grupos a funcionar activamente e pareciam mini-professores esquecidos até de onde andava a professora na sala ocupada com outro grupo qualquer, mais outro pequenote, também "dispensando" a professora para dizer em voz alta "discutam mais baixo, assim não conseguimos concentrar-nos!".
Mas não apenas como professora de Matemática, que antes disso sou professora - educadora simplesmente. Também memórias soltas de coisas maravilhosas que eles e eu descobríamos que eles eram capazes de fazer, por exemplo, mas não só, naquele espaço que dava a direcção de turma - coisas, entre outras, como aqueles convites das turmas aos pais para uma reunião sobre tema que bem queriam discutir com estes, mas a que só se atreviam sob a segurança de uma preparação que eles próprios faziam, mas que faziam com essa segurança de a fazerem com a dt - coisas que sempre me continuavam a maravilhar e que tão encantados deixavam os pais, coisas, enfim, essas e outras, que são o motivo do lema deste blog.
Criei o blog mal conhecendo a blogosfera e desconhecendo completamente aquela a que costumo chamar blogosfera docente. Não me preocupava ter ou não visitas, era um espaço para ir escrevendo quando tivesse tempo, talvez para mais tarde, quando reformada, fazer dos soltos algum todo organizado.
Seriam memórias sobretudo do longo tempo a leccionar 2º Ciclo - que é de pequenos que eles têm que começar, se não começam aí já é difícil o 3º Ciclo ser igual. 2º Ciclo em que permaneci a leccionar a maior parte da vida por força dos estágios não congelados na altura em que principiei, que os outros estavam congelados, e a oportunidade de segurança e estabilidade profissional tinha que se sobrepor ao gosto de passar a vida a trabalhar com adolescentes.
Mas as memórias mudaram. Mudaram um pouco quando a minha escola de há já bastantes anos (e definitiva, que não se deita fora a sorte de chegar a dois passos de casa) passou a escola 2,3, e a profissionalização para o 3º Ciclo (e Secundário, que não existem "professores de 3º Ciclo") me permitiu ter ainda o gosto de trabalhar com adolescentes - mudaram um pouco sobretudo ao deixar quase de leccionar 7º para receber as turmas já no 8º. Não foi, no entanto, essa a razão importante da mudança.
Que sentido podem ter memórias dessas coisas a que chamei maravilhosas para quem, no tempo para um cargo pedagógico, é obrigado a passá-lo todo a preencher papeladas e registos, a enviar cartas com aviso de recepção para ficar a prova de que foram convocados os pais que nunca apareceram, etc., etc., etc.?
Que sentido podem ter memórias daquela velha defesa quase militante (muitos já hoje reformados) de diferentes métodos e estratégias para o ensino-aprendizagem da Matemática, para desenvolver nos putos uma relação desafiante e autónoma com essa disciplina, para quem (incluindo-me a mim) se vê não só num sistema degradado por um percurso de disparates e prioridades hipócritas de sucessivos ministérios da educação, não só, para mais, numa sociedade que cada vez menos educa as suas crianças para o hábito de trabalhar, pensar, fazer esforço, mas também se vê por fim responsabilizado por um sistema em que, se algumas responsabilidades tem, é o menos responsável de todos (e até impede esse sistema de ainda mais degradado estar) - em suma, se vê por fim desrespeitado e desprestigiado para que outros se protejam disso?
Que sentido?
(...)
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
a outra metade é silêncio.
Que a minha vontade de ir embora
se transforme na calma e paz que mereço
que a tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflicta meu rosto num doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
pois metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
e que o seu silêncio me fale cada vez mais
pois metade de mim é abrigo
a outra metade é cansaço.
Que a minha loucura seja perdoada
pois metade de mim é amor
e a outra metade também.
quarta-feira, novembro 02, 2005
Pequenos tijolos que também fazem alicerces
Em O Anjo, a autora conta que a avó Ana, que nunca fora à ecola, um dia, passava ela já dos 70 anos, anunciou, no silêncio de uma refeição: "_ Apareceu-me um anjo esta noite. (...) _ O anjo mandou-me aprender a ler." E prossegue Alice Vieira, um pouco adiante: "Nunca mais voltou a falar do assunto, que as mulheres nunca repetiam uma ordem ou um desejo: o que se dizia uma vez, dito ficava. Ela própria se encarregou de arranjar uma professora. (...) Se o anjo voltou a ter interferência na aprendizagem da avó Ana, não se sabe nem ela o disse. Sabe-se apenas que a avó Ana aprendeu a ler e a escrever no espaço de um mês. _ Foi o anjo - era a sua única explicação" E a autora termina logo a seguir o conto, assim: "Dizem que, desde essa altura, um anjo passou a velar pelos destinos das mulheres da nossa família. Entre a comunidade celestial devemos gozar da fama de sermos exemplarmente obedientes."
Em Cheiros Perdidos, Alice Vieira lembra o tempo "em que as coisas cheiravam àquilo que eram", os cheiros genuínos das maçãs, dos morangos, do pão, dos soalhos das casas... . Refere como as nossas casas hoje cheiram aos ""purificadores do ar"" que prometem vários aromas e "se ficam todos pelo mesmo odor plastificado a coisa nenhuma que, como toda a gente muito bem sabe, é o pior cheiro que existe à face da terra" (Sublinhado meu). E, quase no final do conto: "Acreditem que eu até tenho saudades do terrível sabor do óleo de fígado de bacalhau (antes de ele ter sido adocicado para os paladares das sensíveis crianças dos nossos dias), do azedo genuíno dos primeiros iogurtes (...) e da intragável canja de galimha, à qual, antes de partirmos para a praia, a tia Clara juntava o então indispensável óleo de rícino. Aquilo sim, aquilo eram sabores a sério, puros e duros. Aquilo (...) formava o carácter de uma pessoa."
domingo, outubro 30, 2005
Adenda...
(Não as vou contar por considerar que sejam significativas no conjunto das provas nacionais, mas porque uma me doeu pela menina de que se trata, e a outra fez-me pensar que teria sido educativo para a aluna que o resultado não se limitasse a ser um 3 em vez do 4 de frequência, mas que fosse uma negativa mesmo. E a 1ª história já a tinha contado ao Rui no (In)Docentes , a propósito de critérios discutíveis de alguns items, só que ainda não tinha analisado o resto da prova).
1ª história
A S. era uma aluna com algumas dificuldades, no 8º ano dei-lhe sempre nível 2. Mas era uma menina com uma baixa auto-imagem quanto às suas capacidades, pelo que dizia que em Matemática nem valia a pena tentar melhorar, que era a disciplina mais difícil. Preocupei-me em tirar-lhe essa ideia, encorajei-a e, depois de ter conseguido resultado positivo no penúltimo teste do 9º ano, foi feliz no teste global (não os dispensei dele, ainda que estivessem dispensados da formal prova global), embora com uma positiva baixinha. Não hesitei em atribuir-lhe nível 3 final, apesar de pensar que não se aguentaria num exame que, previsivelmente (e correctamente) incidiria bastante em competências mais gerais que a S. ainda não tinha. Mas ela até não ia precisar mais de estudar Matemática, o que ia precisar, sim, era de mais autoconfiança.
Ao ver a classificação zero num item em que o critério fora criticado pelos correctores, fiquei triste, porque bastava terem atendido ao que os correctores consideravam para que a S. não se visse na pauta da sua turma com aquele marcante nível 1, ali único, isolado. Certo que não teria nível positivo, mas face aos resultados gerais nacionais, não era isso que faria que voltasse a sentir-se inferiorizada. Mas hoje, ao completar a análise, apeteceu-me ir ver na escola se ainda lá existiria o contacto dela (não o farei, é um assunto complicado). Porque o corrector da sua prova cometeu um erro, desrespeitando claramente os critérios do respectivo item, a que atribuiu zero em vez do sete devido, o que tiraria sobejamente aquele 1 à menina.
(Que esta história não sirva para acusar correctores, um erro acontece e alguns critérios requeriam muita atenção. No meu blog também entram sentimentos e afectos que desabafo, histórias pessoais ou humanas que têm significado para mim (neste caso para uma menina também), mas não têm significado no tema "resultados dos exames, critérios e causas")
2ª história
A C. era uma aluna dotada mas com uma enorme preguiça. Só por esta preguiça é que chegou a oscilar comigo entre o 3 e o 4, mas depois de mais do que uma vez termos conversado, lá se empenhou e fixou-se no 4 (com uns cincos nalgumas disciplinas). Não apareceu nas aulas que mantivemos na escola após o fim oficial do ano lectivo para o 9º ano. Depois do exame, percebi logo que não lhe tinha ligado nadinha. Agora, ao ver a prova dela, verifico que foi um exemplo exagerado relativamente ao menor esforço que muitos alunos fizeram por o resultado "não contar". A C. só teve nível positivo na prova porque respondeu correctamente aos items que apenas requeriam raciocínio, mas não se deu ao trabalho de responder a nenhum dos que requeriam cálculos escritos. Até a inequação deixou em branco (o que suponho que mais nenhum aluno meu fez, e vi provas de alguns que eram alunos daquele 3 não médio e seguro). Em suma, esta história só para imaginar que a mãe e encarregada de educação lhe aplicaria um valente sermão educativo se a soubesse. (Mas não deixo de me lembrar de alunos até bastante necessitados das aulas suplementares que demos, cujos pais não os obrigaram sequer a aproveitá-las - a C. até nem precisava nada dessas aulas). (E não se interprete que acredito que esta atitude tão excessiva da C. tenha sido frequente)
Uff!!
A.L., amiga e colega de tantos anos, aqui te deixo o desejo de que esta análise de provas das nossas turmas do 9º que ambas fizemos agora não te tenha reavivado mais ainda a tua memória recente. Sou mãe, é impossível duvidar que não possa haver drama maior que ele estar ali contigo ainda na véspera e deixar de estar de repente... e tão difícil compreender porquê! E àquelas duas turmas de 9º que recebeste sem as conhecer, uma a chegar-te tão perdida em Matemática, estoicamente não as deixaste, deste-lhes aulas suplementares a compensar aquelas a que seria humanamente impossível não teres faltado. Eu sei que adoras estar com os alunos, que eles ainda estão a ser neste momento o teu refúgio, não podia deixar de colocar aqui - mesmo que não dês por isso - a minha homenagem à tua força.
sexta-feira, outubro 28, 2005
Interrupção por uns dias
quarta-feira, outubro 26, 2005
Infiltrados??
Ganhei o dia
terça-feira, outubro 25, 2005
domingo, outubro 23, 2005
domingo com jogos
"Será que nasceste nos anos 60 ou 70 ?
Como conseguiste sobreviver?
Os carros não tinham cinto de segurança, nem apoio de cabeça nem seguramente airbags.
No banco de trás era a festa, era divertido e não era perigoso.
As barras das camas e os brinquedos eram multicolores ou pelo menos envernizadas e com tintas contendo chumbo ou outros produtos tóxicos.
Não havia protecção infantil nas tomadas eléctricas, portas das viaturas, medicamentos e outros produtos químicos de limpeza.
Podia-se andar de bicicleta sem capacete.
Bebia-se água da mangueira de rega, num chafariz ou não importa qualquer outro sítio, sem que fosse água mineral saída de uma garrafa estéril.
Fazíamos carros com caixas de sabão e aqueles que tinham a sorte de ter uma rua asfaltada inclinada junto de casa podiam tentar bater records de velocidade e aperceberem-se, tarde demais, que os travões tinham sido esquecidos... Após alguns acidentes, o problema era normalmente resolvido!
Tínhamos o direito a brincar na rua com uma única condição: estar de volta antes de anoitecer. E não havia telemóvel e ninguém sabia onde estávamos nem o que fazíamos... Incrível!
A escola fechava ao meio-dia para almoço, podíamos ir comer a casa.
Arranjávamos feridas, fracturas e às vezes até partíamos os dentes, mas ninguém era levado a tribunal por isso. Mesmo quando havia grande bagunça, ninguém era culpado excepto nós mesmos.
Podíamos engolir toneladas de doces, torradas com toneladas de manteiga e beber bebidas com Açúcar de verdade, mas ninguém tinha excesso de peso, porque nos fartávamos de correr na rua.
Podíamos partilhar uma limonada com a mesma garrafa sem receio de contágio.
Não tínhamos Playstation, Nintendo 64, X-Box, jogos vídeo, 99 programas de TV por cabo ou satélite , nem vídeo, nem Dolby surround , nem GSM , nem computador , nem chat na internet , mas nós tínhamos.... amigos !
Podíamos sair, a pé ou de bicicleta para ir a casa de um colega, mesmo se ele morasse a alguns km , bater à porta ou simplesmente entrar em casa dele e sair para brincarmos juntos. Na rua, sim na rua no mundo cruel! Sem vigilância! Como é que isso era possível?
Jogávamos futebol só com uma baliza e se um de nós não era seleccionado uma vez, não havia traumas psicológicos, nem era o fim do mundo!
Por vezes um aluno talvez um pouco menos bom que os outros tinha que repetir. Ninguém era enviado ao psicólogo ou ao pedopsiquiatra. Ninguém era disléxico, hiperactivo nem tinha " problemas de concentração". O ano era repetido e pronto, cada um tinha as mesmas oportunidades que os outros.
Nós tínhamos liberdades, erros, sucessos, deveres e tarefas ... e aprendíamos a viver e a conviver com tudo isso.
A pergunta é então: mas como conseguimos sobreviver ? Como pudemos desenvolver a nossa personalidade ?
Será que tu também és desta geração?
Se sim, envia esta descrição aos teus contemporâneos, mas também aos teus filhos sobrinhos e sobrinhas, etc. para que eles vejam como era, naquele tempo!
Eles vão achar que a nossa época era aborrecida .... ah, mas como éramos felizes !"
sexta-feira, outubro 21, 2005
Mais um escape
Já folheei as provas de exames de alguns dos meus alunos do ano passado e, a seguir, meti provas, grelhas e outra papelada num envelope e guardei-o fora da minha sala de trabalho, para não ter tentações, pois quero fim de semana!!