quarta-feira, novembro 16, 2005

"Pedagogia diferenciada na sala de aula"

Comecei a ler o Despacho Normativo nº 50/2005 e não li mais, irritada, depois de:

"3—O plano de recuperação pode integrar, entre outras, as seguintes modalidades:
a) Pedagogia diferenciada na sala de aula."

Como disse já o Miguel Pinto, "num ápice, a pedagogia não diferenciada foi legitimada". Sim, porque apenas "pode integrar" (como uma mera sugestão).
Não sei o que sente cada professor, mas eu, desta vez, nem me senti ofendida, apenas gozada. Mas é toda a minha vida profissional que é gozada, como acho que se notará nesta memória tão longínqua que me lembrei há tempos de guardar neste cantinho.
E mais não digo, porque tenho uma coisa mais importante para fazer: libertar-me da irritação, que esta ministra, a mim, não merece que me lembre sequer que existe. (Se ela desse aulas, saberia sequer o que é diferenciar?)

11 comentários:

Madalena disse...

Temos feito o melhor nas piores condições. Querem ser enganados? Ou querem enganar alguém? Os pais, por exemplo. Mas o pior de tudo é quererem enganar os alunos? Não entendo esta política de educação.
também estou muito triste com isto tudo Isabel!

Miguel Pinto disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
IC disse...

Madalena, acho que esta política de educação nem é para tentar entender - é uma política com preocupações prioritárias economicistas, agravada pelo facto de a Ministra nada perceber de Educação.
Obrigada pela visita :)

Miguel Pinto disse...

À medida que me distancio das questões do quotidiano para ver do "alto" [a metáfora da águia lá do meu cantinho], para ver "melhor", encontro lá no fundo, bem longe, aspectos positivos: não tenho memória de encontrar no discurso docente um foco tão intenso de concórdia. É um bom prenúncio!

Se traçar uma analogia às “velhas” estratégias de liderança utilizadas no futebol, direi que os professores exorcizam um adversário mobilizando o grupo para um objectivo concreto e tangível. É um bom prenúncio!

É nesta fase que seria necessário uma boa liderança para os professores. Não direi que necessitamos de um D. Sebastião, mas começo a acreditar que nos faz falta uma liderança séria…

Bom… já desci… e já aterrei!
Na verdade, é sempre possível encontrar num ministro fraco algo de positivo…

IC disse...

Miguel, com a última frase é que me despistaste! Bem... se calhar o despiste até se deve só à minha irritação (dupla)de momento ;)

Adkalendas disse...

Caros colegas
Talvez me possam ajudar. Eu fiz uma leitura muito rápida ao Despacho, e não percebi uma coisa. As actividades de recuperação serão, em grande medida, desenvolvidas fora de aula, não?
Por quem?
Se os professores da turma já têm horário completo, como vão eles desenvolver esse tipo de actividades?
Será que li mal?
Obrigado.

Miguel Pinto disse...

fr
O que diz o Despacho é isto:
"6.o
Gestão e avaliação
1—A direcção executiva do agrupamento ou escola
assegura os recursos humanos e materiais necessários
à execução dos planos de recuperação, de desenvolvimento
e de acompanhamento,
[...]
2—As propostas constantes dos planos a que se
refere o número anterior são elaboradas, realizadas e
avaliadas pelos diferentes órgãos e intervenientes no
processo, segundo o critério de adequação às situações
diagnosticadas, os recursos disponíveis e os efeitos positivos
nas aprendizagens."
A minha leitura é que este trabalho será realizado nos TE's, SEC's, TH's, etc... Ou não?

Miguel Pinto disse...

Isabel
Creio que o teu despiste é controlado, seguro. :o)
A Milu com o que faz e não faz acabou por colocar os professores, por enquanto, no mesmo lado da barricada. Ora, vê lá se isto não é positivo... ;o)

IC disse...

Miguel, eu não deixei de pensar que o sentido da tua frase era esse, mas faltava o "por enquanto", e isso... a ver vamos amanhã...

IC disse...

fr e Miguel: agora já li o despacho todo e não sei responder a fr. Por um lado, a alínea d) do ponto 3 refere AULAS de recuperação ( não actividades) o que, se não foi deslize da ministra que venha a ter a lata de corrigir, não poderá deixar de integrá-las na componente lectiva (embora tb estejamos a dar na componente não lectiva os apoios obrigatórios, em Matemática por exemplo, aos alunos de NEE e NEP, que são aulas de facto, mas disfarçam porque não têm esse nome). Por outro lado, o meu presidente, face a protestos de não terem sido satisfeitos pedidos de tempos para actividades necessárias (o grupo de Mat por ex. tinha pedido aulas de apoio, apesar de serem indevidamente integradas na componente não lectiva)avisou que já havia provas de que se se reclamasse por não poderem ser realizadas acções mais úteis (que as famigeradas substituições) devido a não sobrarem professores por causa das imensas horas destinadas a ter sempre pelo menos 1 para garantir substituções, a ministra respondia: ENTÃO AUMENTEM AS HORAS DA COMPONENTE NÃO LECTIVA NÃO INDIVIDUAL.
Por isto, não sei, mas é melhor prepararmo-nos para essa directiva que escrevi em maiúsculas. O despacho tb fala no aproveitamento do Estudo Acompanhado, e o que isto tudo ainda vai dar (receio) é no seguinte: ninguém proporá aulas de apoio (a menos que venham a ser consideradas aulas extraordinárias) e o Estudo Acompanhado acabará por ser completamente subvertido (já está parcialmente pelos professores que o aproveitam para aulas suplementares da sua disciplina)

Adkalendas disse...

Muito obrigado, cara IC.
De facto, foi essa a sensação com que eu fiquei também, mas como li o despacho de forma rápida, o problema podia ter sido meu.
O que me parece é que a redacção do Despacho permite todos os abusos, em particular as aulas de recuperação, de apoio ou de reforço, fora da Componente lectiva, o que é inaceitável.
Com as horas de componente individual que a escola me atribui actualmente já não consigo fazer o trabalho de preparação e avaliação que costumava fazer.
Se isto vai ser assim, e cada vez pior, adeus preparação, adeus avaliação (da bem feita), adeus ensino de qualidade.
O reverso da medalha é: professores funcionários desqualificados; desqualificação da formação académica; professores guardadores de rebanhos.
Andamos para trás.