Acabei de corrigir os testes de um dos meus nonos anos.
A D. é minha aluna desde o 7º ano. Com um desempenho positivo, mas, na maior parte das vezes, pelo mediano, aquém das suas capacidades como sempre lhe disse - fases longas de tendência para a conversa e a "preguicite".
Numa aula recente, com a turma ainda com dificuldades para "entrar" na resolução de problemas não rotineiros aplicando os conteúdos trabalhados, a D. disse-me: Eu para a Matemática dou pouco. Sem reproduzir o diálogo que se seguiu, sintetizo-o na sua tónica: Sempre te disse o contrário e escusas de teimar porque disso quem sabe sou eu. (Não manifestou se me deu razão ou não, mas vi-lhe o olhar contente)
A D. resolveu no teste os dois "problemas difíceis" e teve um dos quatro melhores testes da turma, atingindo 83%, resultado de que há bastante tempo nem se aproximava.
A A. também é minha aluna desde o 7º ano, cujo início a fez passar por um choque pois esteve muito longe do nível 5 a que vinha habituada - o que não lhe aconteceu só em Matemática. Muito responsável e briosa e sendo a Matemática a sua disciplina preferida, os pais tiveram que pedir para me falar para me porem a par de que a A. andava extremamente preocupada e nervosa com a Matemática - uma iniciativa muito importante, dado que na aula a atitude reservada não me fazia suspeitar de tal estado da menina em casa. Tive logo longa conversa com ela, elucidando-a e tranquilizando-a de facto (pedira aos pais que me mantivessem informada do evoluir da situação, pelo que a tranquilização foi confirmada).
A A. é a aluna mais novinha da turma - daqueles alunos que, iniciando o 1º ano ainda com 5 anos, por vezes vêm a ter algumas dificuldades e a necessitar de maior esforço na fase temporária do 3º Ciclo, especialmente em Matemática. Sempre com a "matéria" bem estudada, foi progredindo relativamente a dificuldades na sua aplicação na resolução de problemas. Mas o salto que deu tem ficado aquém do que quer dar.
Este ano, numa dessas aulas que referi em que a turma estava ainda com dificuldade em "entrar" em certos problemas, a A. (não pela 1ª vez) chegou um tanto desolada por não ter conseguido resolver o problema do TPC. No final, já a turma levantada para sair, disse-lhe de chofre: _A., tenho uma coisa para te "ensinar" e chegou a altura. Diz-me agora só: naqueles problemas, a tua cabeça está muito preocupada com a ideia de que não consegues resolvê-los, ou não? _ Aceno afirmativo. _ Pois é essa a causa, mas agora vai para o recreio, iremos falar e resolver isso. No dia seguinte, ao entrar no pátio da Escola, a A. viu-me e veio logo ter comigo para me dizer, sem qualquer introdução à conversa: _ A minha mãe disse que acha o mesmo que a stôra.
Pronto, estava dado o primeiro passo, pois ela não teria ido contar à mãe, ou, pelo menos, não me abordaria logo assim se não tivesse já começado a "ver" ela mesma o que queríamos dizer. Referi-lhe o assunto mais uma ou duas vezes, mas na intenção de aguardar pelo teste para, em cima de um problema em que estivesse com dificuldade, lhe pedir para rever e me descrever como estava a pensar e tudo o que estava a pensar durante essa tentativa - o que Flavell designou por experiência metacognitiva, imediatamente a seguir a uma tarefa cognitiva. Mas... não foi preciso! A A. também resolveu os dois "problemas difíceis" e teve o segundo melhor teste da turma, ultrapassando as duas alunas que habitualmente têm melhor desempenho.
Estes são exemplos de alguns dos antidesencantos que vamos tendo. Guardo Antidesencantos II para depois dos testes das minhas outras duas turmas. Essas são turmas mais complicadas, onde, para bastantes alunos, não se trata de ir mais além de um positivo desempenho que já consigam, mas sim de mostrarem (a mim, mas sobretudo a eles mesmos) o que afinal começaram a conseguir quando já não acreditavam conseguir um pouco sequer e o desinteresse vinha instalado. E estou esperançada de que já vou ter nestas turmas mais alguns "antidesencantos".
A D. é minha aluna desde o 7º ano. Com um desempenho positivo, mas, na maior parte das vezes, pelo mediano, aquém das suas capacidades como sempre lhe disse - fases longas de tendência para a conversa e a "preguicite".
Numa aula recente, com a turma ainda com dificuldades para "entrar" na resolução de problemas não rotineiros aplicando os conteúdos trabalhados, a D. disse-me: Eu para a Matemática dou pouco. Sem reproduzir o diálogo que se seguiu, sintetizo-o na sua tónica: Sempre te disse o contrário e escusas de teimar porque disso quem sabe sou eu. (Não manifestou se me deu razão ou não, mas vi-lhe o olhar contente)
A D. resolveu no teste os dois "problemas difíceis" e teve um dos quatro melhores testes da turma, atingindo 83%, resultado de que há bastante tempo nem se aproximava.
A A. também é minha aluna desde o 7º ano, cujo início a fez passar por um choque pois esteve muito longe do nível 5 a que vinha habituada - o que não lhe aconteceu só em Matemática. Muito responsável e briosa e sendo a Matemática a sua disciplina preferida, os pais tiveram que pedir para me falar para me porem a par de que a A. andava extremamente preocupada e nervosa com a Matemática - uma iniciativa muito importante, dado que na aula a atitude reservada não me fazia suspeitar de tal estado da menina em casa. Tive logo longa conversa com ela, elucidando-a e tranquilizando-a de facto (pedira aos pais que me mantivessem informada do evoluir da situação, pelo que a tranquilização foi confirmada).
A A. é a aluna mais novinha da turma - daqueles alunos que, iniciando o 1º ano ainda com 5 anos, por vezes vêm a ter algumas dificuldades e a necessitar de maior esforço na fase temporária do 3º Ciclo, especialmente em Matemática. Sempre com a "matéria" bem estudada, foi progredindo relativamente a dificuldades na sua aplicação na resolução de problemas. Mas o salto que deu tem ficado aquém do que quer dar.
Este ano, numa dessas aulas que referi em que a turma estava ainda com dificuldade em "entrar" em certos problemas, a A. (não pela 1ª vez) chegou um tanto desolada por não ter conseguido resolver o problema do TPC. No final, já a turma levantada para sair, disse-lhe de chofre: _A., tenho uma coisa para te "ensinar" e chegou a altura. Diz-me agora só: naqueles problemas, a tua cabeça está muito preocupada com a ideia de que não consegues resolvê-los, ou não? _ Aceno afirmativo. _ Pois é essa a causa, mas agora vai para o recreio, iremos falar e resolver isso. No dia seguinte, ao entrar no pátio da Escola, a A. viu-me e veio logo ter comigo para me dizer, sem qualquer introdução à conversa: _ A minha mãe disse que acha o mesmo que a stôra.
Pronto, estava dado o primeiro passo, pois ela não teria ido contar à mãe, ou, pelo menos, não me abordaria logo assim se não tivesse já começado a "ver" ela mesma o que queríamos dizer. Referi-lhe o assunto mais uma ou duas vezes, mas na intenção de aguardar pelo teste para, em cima de um problema em que estivesse com dificuldade, lhe pedir para rever e me descrever como estava a pensar e tudo o que estava a pensar durante essa tentativa - o que Flavell designou por experiência metacognitiva, imediatamente a seguir a uma tarefa cognitiva. Mas... não foi preciso! A A. também resolveu os dois "problemas difíceis" e teve o segundo melhor teste da turma, ultrapassando as duas alunas que habitualmente têm melhor desempenho.
Estes são exemplos de alguns dos antidesencantos que vamos tendo. Guardo Antidesencantos II para depois dos testes das minhas outras duas turmas. Essas são turmas mais complicadas, onde, para bastantes alunos, não se trata de ir mais além de um positivo desempenho que já consigam, mas sim de mostrarem (a mim, mas sobretudo a eles mesmos) o que afinal começaram a conseguir quando já não acreditavam conseguir um pouco sequer e o desinteresse vinha instalado. E estou esperançada de que já vou ter nestas turmas mais alguns "antidesencantos".
4 comentários:
tb tenho desses desencantos...adoro-os..e como tb acompanho duas turmas desde o 7ª ano e agora já estão no 10ª vejo as coisas boas que eles estão fazendo...é uma delicia
Antidesencanto... eh,eh,
Ao ler esta entrada e o comentário do Miguel fiquei animado e não deixei de pensar com os meus botões: E se a blogosfera docente, ou parte dela, se dedicasse a recuperar, durante um período de tempo, os nossos antidesencantos. Creio que estamos a precisar de partilhar alegrias e nada melhor do que invocar os acontecimentos, actividades, projectos, acções simples ou complexas,… que nos animem…
Fica aqui o desafio. Agora vem o fim-de-semana para retemperar e para a semana logo se vê.. ;)
Desafio aceite pela minha parte. Embora a verdade, verdadinha, ao parecermos instáveis nos estados de espírito, é que desencatados com a (anti)política educativa (e não só, pelo menos eu)andamos mesmo, mas como recusamos e combatemos o estado de espírito negativo, agarramos as pequeninas coisas positivas, mesmo sabendo muito bem que são uma gotinha no oceano.
Mas vamos a isso, juntemos as nossas gotinhas ;)
A minha experiência é menor que a vossa... mas também gosto de ver os antidesencantos que, de vez em quando, me oferecem... E nem só sob a forma de um teste!
Fico contente sobretudo por uma atitude diferente do habitual... se vier de quem não é naturalmente muito educado!!
Partilharei os meus antidesencantos!
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