sexta-feira, outubro 29, 2010

Tão actual... que desesperança!

Soneto quase inédito

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.


Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.


E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,


Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

JOSÉ RÉGIO - Soneto escrito em 1969

1 comentário:

Existente Instante disse...

É, querida amiga Isabel.
O Régio, esse enorme poeta, tão esquecido numa modernidade que tudo quer varrer na voragem do pó dos "pós". Um Régio que por vezes vejo profanado pelo presidente do Clube do meu coração, que de vilania em vilania vai vivendo o dia-a-dia, mas que podia deixar "Deus e o Diabo" em paz!

E todavia Isabel (e desculpa o tratamento por Tu) deixo-te qualquer coisa no meu blogue, suave como seda, doce com ambrósia de deuses, terno como lágrima quente em sulco rosto de vida.
Assim , sim, vale a pena envelhecer! Escoooregar suavemente no plano inclinado como menino-menina em escorrega de jardim...de cabelo ao vento e tudo!
Gosto tanto do que por aqui vai deixando! Luminâncias, Isabel.