domingo, setembro 02, 2007

Memórias do uso das TIC na sala de aula - I

Uma questão de perspectiva

Passada meia dúzia de anos ou pouco mais, as minhas modestas memórias tornaram-se desactualizadas e toscas face à recente quantidade de novos recursos de fácil acesso e utilização. No entanto, não mudaram as diferentes perspectivas em que podem ser encaradas e utilizadas as TIC no ensino. Não mudaram porque não são as novas tecnologias que trazem em si as perspectivas e os objectivos com que podem ser usadas - isso está em cada um que as use.

Dispenso-me de citar autores que mais recentemente e com bem maior desenvolvimento colocam essa questão (colegas os têm citado na blogosfera), limitando-me a recordar a ideia essencial de um dos primeiros artigos que li sobre a mesma questão, ainda a minha escola não tinha quaisquer computadores a serem usados por professor com alunos. Perdi o artigo, também o nome do autor, mas a ideia não esqueci por ser uma das primeiras abordagens ao assunto que li. Alertava o autor para que "a introdução dos computadores na sala de aula" tanto poderia significar inovação, como poderia simplesmente perpetuar métodos tradicionais e estagnados introduzindo nestes apenas 'ambientes' e 'visuais' mais vistosos e modernos.

De facto, o envolvimento dos alunos na aprendizagem construindo-a de forma activa, a promoção da reflexão e o desenvolvimento de competências tão importantes como o espírito crítico não vêm embalados nas novas ferramentas. São, sim, objectivos que professores perseguiam sem essas novas ferramentas e continuarão a perseguir com elas, explorando as maiores potencialidades que, sem dúvida, as mesmas oferecem - e aqueles que eventualmente se contentem com ser meros transmissores de conhecimentos a turmas algo passivas continuarão iguais, ainda que com ferramentas actuais.

Ora, da parte do actual ME, vieram anúncios de investimentos (ou intenções de investimentos) na formação dos professores no âmbito das TIC. Claro que, antes de mais, os professores precisam de aprender a manejar as novas ferramentas. Mas isso, a meu ver, não basta. E, se é verdade que o professor reflecte, repensa, evolue e assume a sua formação contínua, também é verdade que tem direito a uma formação inicial e à existência de acções de formação posteriores que, no domínio das TIC, lhes abram perspectivas do uso das mesmas no sentido de elas contribuirem para maior e melhor alcance dos objectivos acima referidos. E, pelo que conheci das ditas acções de formação, já existentes, (conheci pouco diretamente, mas vi guiões e ouvi relatos), a maioria tem-se destinado a que os formandos aprendam a manejar programas e outros recursos de modo alheado a (ou independente de) perspectivas da sua aplicação no processo de ensino-aprendizagem de forma efectivamente inovadora - a aprendizagem 'técnica' já é alguma coisa, poupam muitas horas a deslindar por si, só com umas dicas de amigos, mas é pouco.

(Não haverá que inovar também no que respeita a certos promotores de acções de formação cujos pelouros parecem intocáveis, bem como a alguns "eternos" formadores?)

7 comentários:

A. Carlos Coelho disse...

Olá!
Partilho contigo o interesse por estas coisas das tecnologias e agora decidi criar também um blog, a reboque da dissertação do mestrado que estou a fazer, no âmbito das comunidades virtuais de aprendizagem!
Fico a aguardar a tua visita...
Um beijo

Madalena disse...

Pois é, Isabel, eu também receio resvalar para um ensino tradicional apoiado num computador. O ano passado tive uma experiência com a área projecto. Foi só um período. Correu bem. Era uma turma CRIE. Os computadores chegaram só sete meses atrasados. Mas disso ninguém fala. Há vários anos "fundei" um Clube "My Computer". Foi uma inovação aqui na escola e eu gostei. Mas cansei-me. No primeiro ano correu tudo muito bem. Ao fim de dois anos eles só queriam jogos e mais jogos.
Beijinho Isabel e obrigada pela reflexão!

IC disse...

António, obrigada pela visita, vou de seguida conhecer o teu blog :)

Madalena, tenciono escrever mais duas ou três memórias do meu uso das TIC. Eu também fui inovadora/pioneira na minha escola, mas o espantoso é que foi mais fácil com pouquinhos computadores do que quando ficámos com o luxo de duas salas apetrechadas (a segunda devido à inclusão da disciplina TIC no currículo do 9º ano). A instalação, que passou a ficar a cargo de entidade estabelecida pela Tutela, veio a originar que estivéssemos quase um ano inteirinho sem acesso à net, e, depois, a manutenção dos computadores tornou-se um desastre, acabando eu por desesperar e terminar a minha recta final de ensino desistindo de pôr oa pés com os alunos nalguma das duas salas de computadores!!

Teresa Martinho Marques disse...

Em perfeita sintonia... Beijinho

Miguel Pinto disse...

(Não haverá que inovar também no que respeita a certos promotores de acções de formação cujos pelouros parecem intocáveis, bem como a alguns "eternos" formadores?)

Inovar significa tornar as aprendizagens significativas; significa, a meu ver, realizar acções de formação de TIC por área disciplinar, incentivando a partilha de experiências concretas, com matérias concretas, para alunos concretos. Os colegas do grupo de informática seriam, nesta minha ideia de formação situada, coadjuvantes dos formadores. Obviamente que os pelouros a que fazes referência, IC, teriam outra configuração.

Anónimo disse...

Há sempre aqueles (formadores)que se aproveitam das situações mas isso já todos nós sabemos.Temos que ser nós mais rigorosos com aquilo que queremos para que hajam realmente mudanças.Não são só as ferramentas que fazem o bom professor e basta apoiar-se nelas para que os alunos tenham melhores aprendizagens.Não é assim.Já agora votos de um bom regresso ao trabalho.Bjs

Marina disse...

IC, concordo plenamente.

Nao sao os computadores que trazem a inovação mas sim aquilo que somos capazes de fazer com eles.
Ou sem eles!E certo que os computadores podem dar uma ajuda, mas ha tantas coisas giras que se podem fazer sem eles...
Acho eu, que ainda sou nova nestas andanças!

Bom regresso de ferias!

Beijitos