domingo, dezembro 21, 2008

Feliz Natal e feliz 2009 para todos os amigos e colegas!

[Este ano o Pai Natal cá de casa vai ter que mudar um bocadinho o seu trajecto, não vai ser na minha árvore que deixará as prendas devido a problemas de saúde da minha mãe. Mas a situação está a melhorar, está a recompor-se, pelo que bisavó e bisnetos irão ter um Natal feliz (estou certa) e, assim, também nós - eu e família :) ]

(...)
Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.
(...)


Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.


Carlos Drummond de Andrade






_____________

Então é Natal...



quarta-feira, dezembro 17, 2008

Sinto falta de canções

(...)
Eh! Companheiro resposta
resposta te quero dar
Só tem medo desses muros
quem tem muros no pensar
todos sabemos do pássaro
cá dentro a qu´rer voar
se o pensamento for livre
todos vamos libertar

(...)


sábado, dezembro 13, 2008

A estrada morta (Momentos com os 'meus' escritores)

Assim começa um dos livros de Mia Couto...

A estrada morta
Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à boca. Eram cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte.
A estrada que agora se abre a nossos olhos não se entrecruza com outra nenhuma. Está mais deitada que os séculos, suportando sozinha toda a distância. Pelas bermas apodrecem carros incendiados, restos de pilhagens. Na savana em volta, apenas os embondeiros contemplam o mundo a desflorir.
Um velho e um miúdo vão seguindo pela estrada. (...)
(*)

(Talvez tenha sido só o título que se cruzou com a minha memória de uma estrada que já não percorro mas que olho afigurando-se-me a soterrar. Oxalá seja perturbação da minha visão. Meus pensamentos andam a fugir-me para o lado triste da(s) realidade(s), o melhor é libertá-los para dar espaço ao optimismo, que anda um tanto apertadinho, e a uma visão para além do 'hoje')
________
(*) Mia Couto (1992). Terra Sonâmbula. Editorial Caminho

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Canção nostálgica

(Nostalgia?! Talvez porque sinto o tempo parado, um tempo de aguardar a reconstrução da esperança... Ontem foi o 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos... a esperança está cansada... Mas o cansaço é só um momento... pronto... já passa)

Adiós, ríos; adiós, fontes;
adiós, regatos pequeños;
adiós, vista d'os meus ollos,
non sei cándo nos veremos.

Miña terra, miña terra,
terra donde m'eu criei,
hortiña que quero tanto,
figueiriñas que prantei.

Prados, ríos, arboredas,
pinares que move o vento,
paxariños piadores,
casiñas d'o meu contento.

Muiño d'os castañares,
noites craras d'o luar,
campaniñas timbradoiras
d'a igrexiña d'o lugar.

Amoriñas d'as silveiras
que eu lle daba ô meu amor,
camiñiños antr'o millo,
¡adiós para sempr'adiós!

¡Adiós, gloria! ¡Adiós, contento!
¡Deixo a casa onde nascín,
deixo a aldea que conoço,
por un mundo que non vin!

Deixo amigos por extraños,
deixo a veiga pol-o mar;
deixo, en fin, canto ben quero...
¡quén puidera non deixar!

Adiós, adiós, que me vou,
herbiñas d'o camposanto,
donde meu pai se enterrou,
herbiñas que biquei tanto,
terriña que nos criou.

Xa s'oyen lonxe, moi lonxe,
as campanas d'o pomar;
para min, ¡ai!, coitadiño,
nunca máis han de tocar.

Xa s'oyen lonxe, máis lonxe...
Cada balad'é un delor;
voume soyo, sin arrimo...
miña terra, ¡adiós!, ¡adiós!

¡Adiós tamén, queridiña...
Adiós por sempre quizáis!...
Dígoche este adiós chorando
desd'a veiriña d'o mar.

Non m'olvides, queridiña,
si morro de soidás...
tantas légoas mar adentro...
¡Miña casiña!, ¡mue lar!

Rosalía de Castro (Cantares Galegos)





quarta-feira, dezembro 10, 2008

Uma Declaração Universal por cumprir

Nos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, não é possível lembrá-la sem olhar imagens do seu incumprimento e recordar tantas outras que o vídeo não mostra. Resta-nos a canção?

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Sobre convicções

«(...)
Convicções são entidades mais perigosas que os demônios. E o problema é que não há exorcismo capaz de expulsá-las da cabeça onde se alojaram, pela simples razão de que elas se apresentam como dádivas dos deuses. Os recém-convertidos estão sempre convictos de que, finalmente, contemplaram a verdade. Daí a transformação por que passam: seus ouvidos, órgãos de audição, se atrofiam, enquanto as bocas, órgãos da fala, se agigantam. Quem está convicto da verdade não precisa escutar. Por que escutar? Somente prestam atenção nas opiniões dos outros, diferentes da própria, aqueles que não estão convictos de ser possuidores da verdade. Quem não está convicto está pronto a escutar - é um permanente aprendiz.
(...)
Dizia Nietzsche que "as convicções são piores inimigos da verdade que as mentiras". Estranho isso? Não. Absolutamente certo. Porque quem mente sabe que está mentindo, sabe que aquilo que está dizendo é um engano. Mas quem está convicto não se dá conta da própria bobeira. O convicto sempre pensa que sua bobeira é sabedoria.
As inquisições se fazem com pessoas convictas. (...)
Mas os demônios das convicções têm atributos dos deuses: são omnipresentes. Escorregam da religião. Emigram para a política. (...)
Nenhuma instituição está livre dos demônios das convicções. Nem mesmo a ciência.
(...)»
Rubem Alves
(In: O que é científico? Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 2007, pp 45-47)

sábado, novembro 29, 2008

Aproxima-se a hora de avaliar coerência

E a coerência tem que ser avaliada, e a opinião pública tem direito a poder avaliá-la no próximo dia 3.

Peço desculpa, este blogue está em pausa (e vai continuar), mas eu não ficaria bem comigo mesma se não fizesse mais esta breve interrupção.

terça-feira, novembro 25, 2008

Algumas das coisas que sempre agridem a minha cabeça

(Cabeça agredida não consegue ponderar com lucidez e isenção, por isso este blogue está em pausa - este post é apenas um breve desabafo e um pequeno parêntesis nessa pausa)

- Atitudes prepotentes
- Da falta de rigor até à verdadeira desonestidade intelectual
- Irresponsabilidade impune no lançamento precipitado e a toda a pressa eleitoralista de experiências reformistas, nomeadamente as que tornam as nossas crianças e jovens em cobaias (falta de responsabilidade e coragem políticas para procurar previamente consensos nacionais mínimos para o delineamento e o prosseguimento, no médio prazo necessário, de reformas em domínios cruciais como o da educação)
- Subversão de normas de funcionamento de um estado de direito, torneando-se leis fundamentais e alterando por simples despachos (ou menos) leis e decretos-lei, sem que haja ao menos um presidente da república que se mostre preocupado com isso
- Argumentos inconsistentes e contraditórios por parte de quem o futuro do país exige competência e ausência de trapalhadas remendonas
- Falta de profissionalismo jornalístico (Mais do que o servilismo - facilmente detectável pela opinião pública -, incomoda-me o estudo/conhecimento extremamente superficial da parte de jornalistas e comentadores)
- Exacerbação de grandes questões nacionais até à irracionalidade (da parte de sejam quais forem os intervenientes)
- Hipocrisia e oportunismos político-eleitorais

sexta-feira, novembro 21, 2008

Pausa (Estou a precisar de um tempo de silêncio)

EL SILENCIO

Me alejo del ruidoso mundo
refugiándome en el bosque del silencio,
huyéndole a molestos decibeles
que perturban mi agobiado pensamiento.

Descansando en la quieta soledad,
en mis reflexiones inmerso,
nuevas ideas estimulan mi intelecto
cual feliz renacimiento.

Me embarga una intensa calma
que invade mi interno fuero,
refresca su sed mi deshidratada mente
bebiendo del manantial del sosiego.

Embriágame el perfume de las flores
que me llega cabalgando sobre el viento,
oigo el conversar de sus olores,
como dulce susurro de barlovento.

Percibo los nostálgicos recuerdos
que vienen de muy lejos,
lejanía que refleja una distancia,
distancia que se alarga con el tiempo.

Inapreciable compañía es el silencio
con su mudo acento,
cuando se retiran nuestros tímpanos
a un merecido asueto.

Silencio que permite disfrutar
de un sordo momento,
en el que podemos soñar,
ya dormidos, ya despiertos.

En esta dimensión sin ruidos
donde rige el silencio,
descanso mi mente,
descanso mi cuerpo.

Cástulo Gregorisch

quinta-feira, novembro 20, 2008

Encontro sempre em Eugénio de Andrade poemas que me falem, poemas de que preciso...

Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.

_________________


Onde me levas, rio que eu cantei,
esperança destes olhos que molhei
de pura solidão e desencanto?
Onde me levas? Que me custa tanto!

Não quero que conduzas ao silêncio
de uma noite maior e mais completa,
com anjos tristes a medir os gestos
da hora mais contrária e mais secreta.

Deixa-me na terra de sabor amargo
como o coração dos frutos bravos,
pátria minha de fundos desenganos,
mas com sonhos, com prantos e com espasmos.

Canção vai para além de quanto escrevo
e rasga esta sombra que me cerca
Há outra face na vida transbordante:
que seja nessa face que me perca.

...

No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, novembro 12, 2008

Ausente por uns dias





Não, não vou em viagem turística. Vou só, desta vez em corpo, lá onde meu pensamento está sempre a ir, transportando o infinito amor de mãe, esse amor que vela sem distâncias em constante prece à vida.



Escassos seis dias? Ora... que é afinal isso a que se chama tempo?



E não deixarei de aranjar uns instantes para seguir as notícas... só as da Educação, não vá perder alguma 'bombástica'... basta clicar uma vez por dia para um só blog onde tudo se sabe em cima do momento ;)

Até já...

terça-feira, novembro 11, 2008

Quando o que se diz é tão redutor do que se passa...

Jornalistas e comentadores não são analfabetos, mas não sei para que lhes serve saberem ler se nunca (ou raramente) estudam a matéria de que falam. E assim se vai insinuando ao país que os professores (ou pelo menos 80% deles) andam a fazer tão grande alarido por causa do preenchimento de duas fichazitas.
Mas já que só referem avaliação, avaliação, e até concluíram que se trata apenas de umas fichas a preencher, pois a Senhora Ministra assim o disse, ao menos podiam ir averiguar que perversidades têm as tais fichas. Ao menos, ao menos podiam reparar nalguma dessas perversidades, numa, numazinha só, por exemplo naquela que faz pesar na avaliação do professor as tachas de insucesso e de abandono escolar.
E sobre a burocracia de que se queixam os professores, ninguém informa a opinião pública sobre a papelada que já os estava a atolar antes das grelhas da avaliação. E voltando ao modelo de avaliação, jornalistas e comentadores (salvo raríssimas excepções) ignoram ou acham de somenos importância os critérios com que os avaliadores chegaram à categoria que lhes permite assumir tal função, bem como isso de um professor de uma disciplina ir avaliar um colega de outra área científica, isto para não falar de delegação de competências a efectuar agora para deixar de ser ilegal daqui a dois ou três meses; também ignoram ou acham de somenos importância qualquer confusão entre autonomia e arbitrariedade de escola para escola - confusão que começa a arrepiar-me, confesso.
Bem... já que o tema que anda nos ouvidos de todos é o modelo de avaliação do desempenho dos professores, não vou pedir (por agora) aos senhores jornalistas e comentadores que estudem outras preocupações relacionadas com a escola pública. Mas confesso que tenho uma vozinha dentro de mim a perguntar-me baixinho se Maria de Lurdes Rodrigues se manteria ainda tão intolerante e teimosa caso aquela figura de Director da escola não andasse já a tomar forma e a fazer os seus estragos numas tantas cabeças.

domingo, novembro 09, 2008

Uma responsabilidade dos governantes

Já passou o dia 8, mas a minha hora de deitar ainda me mantém nele. E, como vivo em Lisboa, a partir das 20h já pude estar em casa a ouvir noticiários. Ouvi o da TV1 das 20h e, depois, fui ouvindo os da SIC Notícias até quase à meia-noite.
Assim, começo por referir as declarações de MLR que ouvi nesse período de tempo, especialmente as primeiras porque nelas fez duas afirmações que me deixaram atónita.
(Não anotei as palavras exactas, mas memorizei bem o que disse)

Uma: Que o modelo de avaliação foi negociado em cerca de "100 reuniões" e que foi o resultado do acordo negocial. Acordo??!! (Pergunto e exclamo eu). Note-se que se trata do decreto da avaliação - Decreto Regulamentar n.º 2/2008 -, não do posterior 'Memorando de Entendimento', nem este caucionou o modelo.

Outra: Que o modelo de avaliação veio a ser validado pelo Conselho Científico, orgão independente. Validado??!! (pergunto e exclamo eu de novo). Bastaria MLR ter lido a introdução à Recomendação n.º 2/CCAP/2008 para não poder fazer aquela afirmação.

Não, não vou ofender MLR acusando-a de mentir. Pergunto apenas que confusões faz na sua cabeça.

Quanto a outras afirmações de MLR, também me fico por perguntar quem a informa e, pronto, sobre elas fico por aqui. Ah... já gora pergunto também se tem dos professores a ideia de que pelo menos mais de dois terços deles são mentecaptos manipulados por sindicatos.

Mas tudo o que disse acima até é o menos importante. Pois, neste momento, eu já nem me detenho no esforço de procurar isentamente compreender razões (maiores ou menores) de ambas as partes - governo e professores. Porque, mesmo que houvesse algumas razões 'teóricas' correctas nas intenções da Ministra e nem todo o descontentamento dos professores fosse justificado, um facto se sobrepõe a isso: a desmoralização e a desmotivação dos professores, incluindo tantos e tantos dos melhores que o país tem (ou tinha). E só isso deveria preocupar todo o país. E só isso deveria preocupar os que governam a Educação e Ensino. E só isso deveria, se a política não fosse o que tristemente é, levar esses governantes a suspender (para rever) o que está a fazer tantos professores perderem o gosto e o entusiasmo pela sua profissão, pois nenhuma reforma ou medida educativa compensará essa perda, nenhuma reforma ou medida na Educação poderá substituir o imprescindível: estabilidade e bom 'clima' nas escolas, gosto pelo ensino e condições para dedicação aos alunos. Encontrem-se as medidas para elevar a qualidade de ensino dos professores que precisem de a melhorar e encontre-se um modelo de avaliação justo e credível, mas sem deixar de, simultaneamente, zelar para que não se perca o (muito) que se tem de bom.
O país precisa que os bons professores sejam acarinhados e respeitados, e que os menos bons sejam formados e estimulados, mas isto não se faz à força e sem respeito, muito menos por processos de competência e credibilidade duvidosas.
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Adenda
Para os meus (nossos) arquivos de memórias... (De M.N. Bravo. O YouTube é de facto precioso!)

terça-feira, novembro 04, 2008

Aproxima-se o dia 8...

Não vou escrever sobre ele. Cada um tem a sua cabeça para pensar.

Então...até sábado! ;)
Lá estarei...

Por um rápido regresso da tranquilidade e da confiança às escolas; pelos estímulos externos ao prazer de ensinar e educar, prazer que cegamente um ministério da educação tem vindo a cercear; pelo respeito pela profissão docente e pela sua dignificação; e, sobretudo, por uma escola pública democrática e de qualidade para todos.


Adenda (06-11-2008)

Novo e definitivo percurso da manif - aqui. Ponto de partida: Terreiro do Paço.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Descubra as diferenças...


Essa "malha apertada" verifica-se na Finlândia, enquanto por cá também se verifica uma malha apertada para que as notas escolares melhorem em flecha nas estatísticas.
Dispenso-me de indicar as diferenças. Sugiro esse trabalho a Maria de Lurdes Rodrigues.

sábado, novembro 01, 2008

sexta-feira, outubro 31, 2008

Já tardava...

O comunicado conjunto da FENPROF e Movimentos de Professores já foi amplamente divulgado, no entanto não é totalmente claro quanto ao dia 8 de Novembro. Só fiquei completamente esclarecida com o pequeno texto que a FENPROF colocou no seu site, além do referido comunicado:

Sabe-se que a união faz a força. Já tardava que esse saber se aplicasse.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Um testemunho que deveria fazer MLR pensar

Primeira escola pública do ranking, a Infanta D. Maria, de Coimbra, está a ser penalizada pelo abandono dos professores mais experientes.

"Com a instabilidade que aqui se vive, não será por muito tempo que nos mantemos como a primeira escola pública no ranking."

"A avalancha de pedidos de reforma tem transformado a escola num inferno."

No Público de hoje. Como o link para o jornal não é permenente, leia-se o texto integral colocado pelo Paulo Guinote aqui.

Prémio "Dardos"

Agradeço ao Miguel o carinho de contemplar este meu cantinho com o prémio “Dardos”, mais uma das nossas correntes blogosféricas, no qual (passo a transcrever) «se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web”

Quem recebe o “Prémio Dardos” e o aceita deve seguir algumas regras:

1. - Exibir a distinta imagem;
2. - Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;
3. - Escolher quinze (15) outros blogues a que entregar o Prémio Dardos.»

Passo a fazer as minhas quinze nomeações, sem critério específico de ordem. (Alguns dos blogues que indico não serão "outros" blogues, mas não conseguiria evitar repetições)

-
outrÒÓlhar
-
Terrear
-
Tempo de teia
- Da Crítica da Educação à Educação Crítica
- (Re)Flexões
- Ao londe os barcos de flores
-
Chora Que Logo Bebes
-
4thefun
-
Existente Instante
-
Professores Sem Quadro
-
Conversamos?!
-
Revisitar a Educação
-
Arte por um Canudo 2
-
Universos paralelos
-
O Canto do Vento

quinta-feira, outubro 23, 2008

Mais do mesmo (mas num crescendo imparável). Até quando?

Diariamente se escreve mais do mesmo na blogosfera docente, e o mesmo é a ADD. Mais testemunhos ou notícias pouco acrescentam ao que já foi escrito antes e antes, pouco acrescentam até ao que foi previsto logo que se conheceu o desastroso decreto 2/2008. No entanto, esse escrever mais e mais sobre a mesma ADD tem sido, parece-me, o reflexo do mal-estar e do descontentamento que continuam a crescer nas escolas, já bem evidente no 8 de Março, mas agora avolumado pela generalização da aplicação do referido decreto no quotidiano concreto das escolas. O que, durante um tempo, foi uma denúncia por previsão ou antecipação das perversidades do modelo de avaliação do desempenho dos docentes criado por Maria de Lurdes Rodrigues, está agora a ser uma constatação que gera maior consciência não só do peso da burocracia que o modelo impõe, mas (e sobretudo, talvez) da sua perda de credibilidade perante as diversas situações que começaram a evidenciar-se como atropelos à seriedade que um processo de avaliação requer.

O que já não sei é se esse aumento novamente crescente de mal-estar e descontentamento, feito de fadiga a que não se reconhece utilidade para aqueles a quem se destina a escola e de descrença na exequibilidade de uma avaliação séria, justa e formativa, vai culminar numa força negocial que os professores só podem ter se quiserem e souberem unir-se, e não terão se se dispersarem por descontentamentos ao mesmo tempo contra as medidas da actual ministra da Educação e contra as organizações legalmente instituídas para os representar.

E é mais que altura de os professores não embarcarem em dispersões que mais não são que tiros nos próprios pés. Porque é mais que tempo de suspender um processo que anda a envenenar a vida nas escolas. E, quem sabe (?), talvez haja que fazer dessa pedra envenenada que está a ser a ADD a primeira pedra a arrancar do edifício de uma reforma que Maria de Lurdes Rodrigues fabricou, a fim de que as atenções possam voltar a dirigir-se para outras pedras talvez mais basilares desse mesmo edifício e que parecem esquecidas. Pedras tais como, além do ECD - que é pano de fundo da ADD -, o novo modelo da gestão e o novo regime de formação para a docência - o primeiro andando relegado para segundo plano, e o segundo não tendo estado nunca em primeiro plano como alvo das atenções (talvez porque se sabe que se enfrentariam demasiados poderes e interesses, independentemente de qualquer governo do momento).

Enfim... que mais e mais do mesmo tenha efeito depressa, que os professores tenham discernimento para se unirem impondo a rápida revisão do actual modelo da avaliação do desempenho docente, pois, se este está a ser um veneno que urge depurar, outras questões basilares esperam espaço para as atenções.
Ah... E também esperam espaço para as atenções "pequenos" temas como colaboração, ambiente humano...

terça-feira, outubro 21, 2008

Sobre Amizade

Ajudando a chorar

A menina chegou em casa atrasada para o jantar.
Sua mãe tentava acalmar o nervoso pai enquanto pedia explicações sobre o que havia acontecido. A menina respondeu que tinha parado para ajudar Janie, sua amiga, porque ela tinha levado um tombo e sua bicicleta tinha se quebrado.
- "E desde quando você sabe consertar bicicletas?" perguntou a mãe.
- "Eu não sei consertar bicicletas!" disse a menina. "Eu só parei para ajudá-la a chorar".

sábado, outubro 18, 2008

Contemplação (Pensamento para o longe)


Adriano Correia de Oliveira. Contemplação.

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Claude Monet (1888). Les Montagnes de Esterel.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Momentos

Há dias que anoitecem de repente muito antes do anoitecer. Depois há que não desistir de recuperar a luz do Sol.

domingo, outubro 12, 2008

As minhas páginas web - uma memória

ou
A propósito da frenética campanha de implementação das tic no ensino

(Na sequência do post anterior, ocorreu-me esta memória; depois, o meu pensamento regressou à actualidade, por isso o subtítulo)

Estávamos ainda na década de 90 do anterior século quando envolvi a minha turma de dt do 9º ano na criação da nossa primeira página da escola - uma página de Matemática que os meus alunos baptizaram de RacioMat. Há muito que a desactivei, mas ainda guardo a recordação do grupo de alunos voluntários que prosseguiram com a incumbência da sua actualização ao nível dos conteúdos.

Posteriormente, criei a página Eu e a Matemática, com a ajuda da mão do meu amigo Francisco no 'visual'. Estava engraçada, apelativa para os miúdos, e chegou a ser bastante concorrida. Contudo, isto dos 'visuais' tem as suas modas, depressa ultrapassadas, pelo que fiquei surpreendida com um prémio recente (que referi aqui).


Entretanto, a primeira página RacioMat tivera uma secção que transpus para o placard da minha sala de aula na forma de concurso (mensal, às vezes quinzenal), concurso que suscitava grande contentamento entre os alunos de cada vez que era afixada a lista dos vencedores do mês. No final do ano lectivo eram apurados os três vencedores do ano e não esqueço que, no último ano em que o concurso funcionou, o primeiro vencedor foi um dos meus alunos mais fraquinhos - não esqueço o seu sorriso de orelha a orelha perante a vitória. Os problemas eram de lógica, não requeriam especiais conhecimentos de matemática, pelo que era frequente um aluno mais fraco acertar enquanto que outros melhores se precipitavam na entrega das respostas e erravam - por isso o concurso era motivador.

Foi o tipo de problemas desse concurso que me levou à experiência que relatei no post anterior - a página Lógica para Todos, abandonada por mim logo que a alojei, o que me devia envergonhar (mas eu só queria penetrar no css e no xhtml, e depois não continuei).


Mas tudo isto vem à minha memória a propósito da actual campanha frenética dos computadores na escola, e mais os quadros interactivos, e agora o computador Magalhães, campanha eleitoralista ignorante do facto de as tic jamais poderem constituir por si só solução para os problemas de insucesso escolar.
E eu não deixo de achar curioso que, tendo-me empenhado no uso dos computadores com os alunos logo que tive na escola uns escassos e já velhos pcs, não sinta agora grande contentamento com o investimento do governo em computadores para as escolas e os alunos, não que esse investimento em si não seja bem-vindo, mas porque as tic não se introduzem à pressão (influindo até o seu uso na avaliação dos professores) como se contivessem dentro de si ou por si só as inovações desejáveis nos tradicionais métodos de ensino - como se o computador, a internet e todos os recursos cada vez mais acessíveis fizessem sozinhos o milagre de mudar os métodos anquilosados de ensino que ainda se constatam em bastantes situações.

Desde aquelas minhas primeiras páginas web não passaram assim muitos anos, no entanto a rápida evolução fez delas páginas velhas e fora de moda. Entretanto, desejo que os ímpetos de modernidade dos nossos governantes de hoje sirvam bons intentos pedagógicos, acima de intentos eleitorais que nada têm a ver com a escola e a formação a que os alunos têm direito.

Página feita... página abandonada!

Foi a última que fiz destinada a alunos de 2º e 3º ciclo. Para aí há uns dois anos, não me lembro com precisão. Foi mesmo só uma página web pequenina, eu andava a querer experimentar um modelo css, em xhtml (nem sei bem se são correctas estas designações, não devia escrever sem perguntar a um amigo informático, mas como estou livre da avaliação de desempenho não faz mal). É assim como nos blogues, mas estes são criados automaticamente e depois uma pessoa lá vai aprendendo a mexer nos códigos, enquanto que criar uma página sem ser só "siga os passos 1, 2, 3" é mais complicado. Eu bem quis usar o meu velho e querido FrontPage, mas não é que ficava tudo fora do sítio de cada vez que acrescentava qualquer coisa?! Então lá fiz a página toda à mão, lá vi onde mudava códigos - enquanto outros continuavam (e continuam) chinês para mim. Eu, que já percebia bem o velho html, deparei-me (e continuo a daparar-me nos blogues) com mais o "x", pois, se não estou a dizer disparate, parece-me que o tal de xhtml encheu de mistérios o html sem x!

Mas tudo isto para contar que fiz e alojei a minha pequena e simples página de Lógica para Todos e depois... pronto, lá ficou abandonada, nunca mais a actualizei. Coitadita, lá vai tendo uma ou duas visitas por dia, que isso de as pessoas andarem a pesquisar no Google lá as vai levando aos sítios mais recônditos, mas a verdade é que hoje lembrei-me dela e fui revê-la. Ui! Aqueles problemas de lógica precisavam de variar, pus os primeiros só para levar a cabo aquela experiência, é uma vergonha não os acrescentar e mudar... só não sei por que não estou a ter vergonha de mostrar a página a quem queira seguir o link... mas por que hei-de ter vergonha se ela lá está com o meu nome?!

E pronto, já tive um pretexto para mais um post, que isto de querer manter o cantinho e andar com tanta falta de inspiração, motivação, disposição (sei lá qual o "ão" mais adequado!) não é fácil.

sábado, outubro 11, 2008

A minha neta e o ábaco

A minha neta Inês (10 anos) mostrou-me um ábaco no seu livro de Matemática e lembrei-me que tinha um arrumado algures cá em casa. Ela quis logo que eu o procurasse e achei-o.


Estivemos a brincar com ele, nas contas ficámos na subtracção porque entretanto a mãe veio buscá-la. Fez quatro ou cinco subtracções e a última já fez num instante. Nada de papel e lápis nem de calculadora, cálculo mental também não que este de hoje seria muito difícil para ela.
Quando se foi embora, o último resultado ficou no ábaco. Pedira-lhe para subtrair 714 a...

(1 124 630)

Ora descubra o leitor como fazer! Lembre-se de que cada haste tem 10 peças. A Inês fez - vê-se abaixo o resultado que deixou - e ao leitor eu dou 20 segundos para pensar como, e já é muito pois li algures que alunos chineses fazem cálculos no ábaco em menos tempo do que levam os nossos a digitar os números no teclado da calculadora.

O leitor descobriu em menos de 20 segundos como fazer? Ora confesse... ;)

sexta-feira, outubro 10, 2008

Mixwit

Roubei-o à Tit (ela deu licença) e fui experimentar. Provavelmente conhecem este serviço Mixwit (gratuito, claro), mas eu não conhecia. Bem... é só um brinquedo, mas até dá para pôr várias músicas na mesma 'cassete', como podem verificar.
Pus duas apenas para ver se resultava, aproveitando para recordar a voz da Joan Baez e lembrar que, apesar de desesperanças que às vezes temos, há sempre motivos para dar "gracias a la vida"...



quarta-feira, outubro 08, 2008

Adenda ao post anterior (ainda sobre a metacognição)

Como já disse, durante o que chamei 'a minha fase da metacognição' concebi e apliquei exercícios 'metacognitivos' em sessões para o efeito. Mas depois deixei de realizar essas sessões formais, já tinha aprendido a provocar deliberadamente situações de 'experiência metacognitiva', passei a provocá-las pontualmente quando necessário e oportuno. Lembrei-me agora de que já tenho descrita neste cantinho uma memória como exemplo dessas situações, e essa memória até é bastante especial pois a situação mudou mesmo a vida de uma aluna na Matemática.
Uma dificuldade frequente dos alunos na resolução de problemas, sobretudo nos mais novos - do 2º Ciclo -, reside na preocupação em encontrar a resolução na memória apesar de ela não estar lá se o problema é diferente dos que já resolveram. "É isso... eu estou a querer saber a solução do problema, estou é preocupada a querer lembrar-me em vez de pôr a cabeça dentro do problema" - este é um tipo de comentário-descoberta que ainda tenho gravado na memória de uma ou outra das sessões que referi acima.
Neste âmbito, o caso da Cláudia foi exemplar. Pode parecer que era rápido de resolver, mas não, porque há alunos que estão de tal maneira habituados a estudar Matemática e a proceder na base de memorização que julgam que estão a raciocinar quando de facto não chegam a estar, e assimilam a recomendação do professor para primeiro compreenderem continuando a integrá-la no seu esquema habitual de estudo ou funcionamento mental.
O caso da Cláudia está descrito aqui. Acho que vale a pena ler.

segunda-feira, outubro 06, 2008

A minha Fase da Metacognição

Nota 1:
Ao chamar "fase" não quero dizer que, depois dela, tenha abandonado o meu interesse pela aplicação da metacognição no processo de aprendizagem dos alunos; quer apenas dizer que foi um período em que me embrenhei em literatura teórica e da investigação sobre o assunto, ao mesmo tempo que fazia algumas experiências, tudo assim em jeito de investigação-acção, nesse vai-vem entre teoria e prática pelo qual se vai desenvolvendo a formação do professor.

Nota 2:
Esta memória está desactualizada, tem quase 20 anos, mas, como disse no post anterior, escrevo-a para o meu "album" de recordações. No entanto, os diversos 'exercícios metacognitivos' que, na altura, fui propondo a alunos (além do que vou descrever aqui) parecem-me adequados a aulas de Estudo Acompanhado, que então ainda não existiam.

Quando li pela primeira vez um artigo sobre a metacognição e sua aplicação na sala de aula, fiquei especialmente interessada na ideia de "experiência metacognitiva". Flavell, o autor que introduziu o termo "metacognição" no início da década de 70 do passado século, distinguia "conhecimento metacognitivo" de "experiência metacognitiva", ocorrendo esta durante ou a seguir a um empreendimento cognitivo.
Ora, qualquer professor, mesmo no tempo em que ainda não tinha ouvido a expressão "metacognição", já utilizava intuitivamente o conceito com os alunos, já os ia fazendo 'pensar sobre o pensar'. Mas o que me interessou especialmente foi aprender a provocar intencional e planeadamente situações de experiência metacognitiva da parte dos alunos.
Não têm aqui cabimento considerações teóricas relativas a diferentes conceptualizações e classificações no domínio referido. Apenas pretendo registar uma memória.


Quando li um pequeno livro de G. Gibbs em que o autor descrevia seis exercícios para 'aprender a aprender' (*), achei particularmente interessante o primeiro desses exercícios e decidi experimentá-lo na então minha turma de dt. Nessa altura a minha escola ainda só tinha 2º Ciclo. Gibbs aplicava o exercício com alunos universitários e eu sabia que poderia ser prematuro para as idades de 6º ano, mas a turma de dt que eu tinha era uma boa turma, era heterogénea mas muito interessada e participativa, pelo que adaptei o exercício facilitando-o por instruções também por escrito numa ficha apelativa e apropriada à idade dos alunos. Além disso, disse-lhes que iriam experimentar realizar uma actividade difícil pois costumava ser aplicada a alunos mais velhos, mas que conseguiriam desde que a executassem com grande concentração, sobretudo logo na primeira parte.
Talvez tenha sido o aviso de que seria difícil associado à minha convicção de que seriam capazes que os fez corresponderem daquela maneira que consegue surprender-nos quando eles ultrapassam as nossas melhores expectativas.

O exercício decorria pelo método 'em pirâmide' (método que eu viria a chamar para mim mesma 'bola de neve' pelo efeito que tinha e adiante referirei). Compunha-se de quatro partes:
Na primeira, cada aluno procurava recordar uma qualquer situação de aprendizagem em que se tivesse sentido especialmente mal sucedido (estávamos numa hora "roubada" à aula de Matemática, mas a situação não tinha que ser nesta disciplina). Evocada a situação, tentava então identificar factores pessoais (expressão obviamente descodificada na ficha de instruções) que tivessem concorrido para o insucesso, anotando-os. Depois, o mesmo para uma situação em que se tivesse sentido bem sucedido, identificando agora factores pessoais concorrentes para esse sucesso.
Na segunda parte do exercício, os alunos, em pares, contavam um ao outro as experiências pessoais recordadas, reparando se haveria eventuais semelhanças nas causas atribuídas.
Na terceira parte, em grupos de quatro (dois dos pares anteriores), enumeravam e anotavam factores (sempre só pessoais) que, agora mais em geral, considerassem contribuir para sucesso ou para insucesso nas situações de aprendizagem.
Finalmente, a última parte consistia num debate de toda a tuma: rotativamente, cada grupo escolhia e lançava à discussão um dos itens que tinha anotado, e os colegas pediam esclarecimentos e comentavam.
O debate foi muito vivo e a participação foi sendo crescente. Os alunos estariam a pensar pela primeira vez no que diziam, às vezes era como se estivessem a pensar em voz alta, mas o método mostrou ter o efeito de bola de neve que mencionei acima, e alguns alunos davam testemunhos pessoais, desinibindo-se progressivamente.

Gravei o debate porque experimentara o exercício tendo também em vista um trabalho para um curso que então frequentava. Pedi aos alunos que não ligassem ao gravador e, de facto, esqueceram-se completamente dele. Foram deliciosos, crescidos, e eu estava mesmo surpreendida e encantada.
Aliás, tendo transcrito só excertos do debate, a professora para cuja disciplina fiz o trabalho também ficou tão entusiasmada que me pediu para ouvir toda a gravação. (Era longa, pois quando tocou para a saída da aula houve vários "Oh! Já?" e a turma pediu para continuar na aula seguinte, ao que acedi com algum receio de que a quebra fosse inadequada, mas a verdade é que a discussão continuou e durou toda essa segunda aula).

Como tenho guardado o trabalho, fui agora dar-lhe uma vista de olhos e verifiquei que, no final, os alunos elegeram de entre os itens discutidos os dois que mais os preocupavam: dificuldades em estar atento ("pois... eu às vezes estou preocupada em estar atenta e estou é a pensar que tenho que estar com atenção em vez de estar mesmo a ouvir") e bloqueios do raciocínio ("não sei como é que isto se chama, mas quando estamos a querer perceber ficamos assim... bloqueados e não conseguimos perceber nada").

Enfim... memórias preciosas que guardo! E o mérito foi da turma - faço sempre questão de o dizer.
Mas não devo deixar de acrescentar que o sucesso desse exercício metacognitivo teve como condição muito importante a obtenção de séria concentração e reflexão dos alunos logo na primeira parte, decisiva para o desenrolar das seguintes, e também que, a meu ver, a realização de exercícios como aquele deve ser ponderada consoante as idades e as características das turmas para que não aconteça ser uma situação mal sucedida.

Adenda
Vim a realizar com a mesma turma mais cinco sessões, agora com 'exercícios metacognitivos' criados por mim, embora inspirados em leituras, relacionados respectivamente com a atenção, a evocação, as 'tendências auditivas' / 'tendências visuais', as estratégias de estudo e as estratégias de resolução de problemas. Essas sessões também tiveram em vista um trabalho, agora para a prova de candidatura ao 8º escalão. Os alunos manifestaram grande apreço por esses exercícios e foi a avaliação que faziam deles que me levou a prosseguir.

Posteriormente, convidei quatro colegas de diferentes disciplinas para um projecto de escola e, aprovado este pelo CP, realizámo-lo durante dois anos lectivos, ao fim dos quais foi abandonado devido a três dessas colegas terem mudado de escola. As actividades foram concebidas por nós e tornaram-se populares entre os alunos, que as baptizaram de aa (de 'aprender a aprender'), sendo, aliás, de tipo apropriado para as aulas de Estudo Acompanhado, que na altura ainda não existiam.
Também é uma memória muito boa que guardo dessa minha "fase da metacognição" - memória muito boa relativamente aos alunos participantes (voluntários, em conjuntos de 10 sessões para cada leva de alunos, abrangendo em qualquer dos dois anos cerca de 60% dos alunos do 6º ano da escola), memória também muito boa do envolvimento e entusiasmo das colegas que participaram.
___________
(*)Gibbs, G. (1981). Teaching Students to Learn: a Student-Centred Aproach. Philadelphia: Open University Press.

Restam-me as memórias, por que não voltar a elas?


E o que aconteceu comigo foi que, ficando velho, dei-me conta de que os anos que me restavam não me davam tempo para acompanhar a literatura que se produzia sobre a educação. Parei de ler e tratei de gozar e cuidar dos meus próprios pensamentos sobre o assunto - que nada têm de científico, pois não se baseiam em estatísticas.
Rubem Alves*

É-me difícil ter pensamentos actualizados sobre educação pois, mesmo que tentasse acompanhar a literatura sobre o assunto, faltar-me-ia agora estar por dentro do contexto - "estar no terreno", como costumo dizer. Mas neste meu blogue já há alguns registos que são como páginas de um album de recordações, não há mal se escrever outras linhas que nada mais sejam que recordação.

Acho que vou trazer para aqui uma memória que tem quase 20 anos. Irá para a entrada a seguir.
_________
*In Gaiolas ou Asas. Edições Asa (2004), p. 51.

segunda-feira, setembro 29, 2008

We are the world, we are the children... - Relembrando uma canção

para começar a semana...



Boa semana para todos!
[Vou estar ocupada, é provável que esteja ausente deste cantinho toda a semana. Mas ele já está habituado às minhas intermitências ;) ]

domingo, setembro 28, 2008

O ser humano é para a economia ou a economia para o ser humano?

É a pergunta com que termina um artigo de hoje no Público, de Frei Bento Domingues (não sou religiosa, mas isso nada interessa para o caso).
O autor não deixa de lembrar que os progressos na história da humanidade decorreram muitas vezes de males históricos - guerras, por exemplo. Será um processo dialéctico, contudo, apesar de a dialéctica nos ser indispensável para compreender a história e a realidade, o homem é chamado de ser racional, de ser inteligente, pelo que a sua acção bem podia ter menos contradições!
Como o artigo só está disponível online para assinantes, deixo, com a sugestão de leitura, o início do artigo com link para o texto integral: Quando só o lucro interessa, a consciência humana corre o risco de ser visitada por um anjo inquietante!

sábado, setembro 27, 2008

Ainda a auto-estima

A estória do post anterior fez-me ficar a pensar na auto-estima das crianças. Por que não escrever um pouco ao correr do pensamento?

Referindo primeiro o autoconceito - no qual podemos integrar a auto-estima como componente avaliativa -, lembro-me que muitas vezes na minha vida de professora-educadora pensei que eram assustadoras as indicações, da investigação, de que se define bastante cedo na criança uma tendência que vai persistir na evolução do seu autoconceito, ou seja, que são criados cedo aspectos básicos do autoconceito que irão tender a manter-se estáveis e mesmo resistentes à mudança. No entanto, também sabemos que o autoconceito tem várias facetas com diferentes graus de estabilidade e de mutabilidade.

Ora, nas avaliações que as crianças vão fazendo de si mesmas influi poderosamente o "feedback" que recebem e que apreendem não só nas palavras e suas ênfases, mas também nos olhares e nas expressões faciais daqueles com quem convivem - olhares e expressões que captam até mesmo quando o emissor mal se deu conta de que as emitiu. Pensando agora nos professores, é grande a responsabilidade que lhes cabe em gerir com supremo e sensível cuidado as apreciações que vão emitindo continuamente sobre o trabalho escolar de cada aluno e sobre o próprio aluno.
Penso que é tarefa dos professores descobrirem em cada criança que têm nas suas turmas tudo o que nela é valorizável a fim de a guiar para o que ela já pode fazer e, daí, levá-la à autoconfiança para empreender o que ainda não sabe fazer.
Mas, por vezes, são os próprios professores que carecem de expectativas mais positivas que lhes permitam transmitir confiança aos alunos, incluindo àqueles que vão recorrendo a expedientes inadequados para se afirmarem. Se há coisa que eu tive oportunidade de aprender cedo na minha vida de professora foi o poder das minhas próprias expectativas positivas. Nas tantas vezes em que apostei nelas, julgo que era uma autêntica confiança em que os alunos seriam capazes de corresponder que se transmitia. Provavelmente, com os alunos que perdi não soube fazer essa aposta - ou, para alguns desses, já era tarde. De qualquer modo, não se trata de empreendimentos para um só professor, nem sequer só para os professores, pois as crianças não convivem de perto só com estes, e antes de terem estes já havia a família e o restante meio social próximo.
Todos temos conhecido alunos que procuram afirmar-se mediante comportamentos negativos. Eles exibem os rótulos que lhes atribuíram ou se auto-atribuíram, e sabemos que as crianças tendem a reforçar esses rótulos. Mudá-los não é tarefa fácil, mas cabe aos educadores serem mais persistentes a empreender mudá-los do que as crianças a conservá-los!

Auto-estima (estória)

Agora gosto de mim

Tive uma grande sensação de alívio quando comecei a entender que um jovem precisa de mais do que apenas um assunto. Sei bem matemática, e a ensino bem.
Eu achava que isso era tudo o que precisava fazer. Agora, ensino crianças, e não matemática.
Aceito o facto de que posso ter sucesso apenas parcial com algumas.
Quando não tenho que saber todas as respostas, parece que consigo ter mais respostas do que quando tentava ser o especialista.
O jovem que realmente me fez entender isso foi Eddie. Certo dia, perguntei-lhe por que achava que estava muito melhor do que no ano anterior. Ele deu sentido a toda a minha nova conduta.
"É porque agora gosto de mim quando estou com você", disse ele.


sexta-feira, setembro 26, 2008

Ser ou não ser subserviente

Pão e Ervilhas

Nasrudin estava sobrevivendo numa dieta miserável de pão e ervilhas. Seu vizinho, que também se dizia um homem sábio, morava num palacete e deliciava-se com refeições sumptuosas oferecidas pelo próprio imperador. Um dia o vizinho interpelou Nasrudin;
- Se você ao menos aprendesse a bajular o imperador e ser subserviente como eu não precisaria viver de pão e ervilhas
- E se você ao menos aprendesse a viver de pão e ervilhas como eu não precisaria bajular e ser subserviente ao imperador – respondeu Nasrudin.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Outono - II


vimeo

De novo Vivaldi e Van Gogh para celebrar o Outono que eu queria Verão ainda, mas que tem também encantos.
Uma belíssima composição musical e pictórica (como no vídeo do Verão) - valem a pena os 11 minutos de duração.

terça-feira, setembro 23, 2008

domingo, setembro 21, 2008

sábado, setembro 20, 2008

Campanha de ajuda a Cuba

O Henrique deixou-me o alerta - com pedido de divulgação, a que me associo - de uma Campanha de Solidariedade com Cuba face às necessidades prementes de alguns bens essenciais devidas à devastação dos últimos furações que por lá passaram.

“Amigos(as)
Aqui segue uma lista de instituições que se encontram a recolher os bens alimentares para ajuda ao povo cubano.
O primeiro avião com alimentos parte no dia 24 de Setembro, na próxima 4ª feira.
Ainda temos tempo para fazer chegar uma primeira ajuda a estes locais.
Depois deste outros se seguirão.
Toda a nossa disponibilidade solidária é importante!
Refiro os alimentos necessários:
- leite em pó
- massa
- arroz
- conservas

beijinhos a todos
Manuela Silva

locais de recolha de alimentos:
PORTOCOMCUBA
Rua Barão Forrester, 790
4050-272 Porto
Telefones: 962 539 884 / 966 316 201 / 938 460 221
Casa Sindical de Vila do Conde
Rua do Lidador, 46 - R/C - 4480-791 VILA DO CONDE - Telef. 252631478
Sindicato do Comércio, Escritórios - CESP (Delegação Porto)
Rua Fernandes Tomás, 626 - 4000-211 PORTO - Telef. 222073050
Delegação do CESP na Póvoa de Varzim
Rua da Junqueira, 2 - 4490-519 PÓVOA DE VARZIM - Telef. 252621687
CASA SINDICAL (TVC)
Av. da Boavista, 583 - 4100-127 PORTO - Telef. 226002377
Sindicato dos Professores do Norte
Rua D. Manuel II, 51-3.º - 4050-345 PORTO - Telef. 226070500
Sindicato da Construção e Madeiras
Rua de Santos Pousada, 611 - 4000-487 PORTO - Telef. 225390044
Casa Sindical de Santo Tirso
Rua Tomás Pelayo, - 4780-557 SANTO TIRSO - Telef. 252855470
União Local de Felgueiras
R. dos Bombeiros Voluntários, R/C - Esq.-T. - FELGUEIRAS - Telef. 252631478
Casa Sindical USP
Rua Padre António Vieira, 195 - 4300-031 PORTO - Telef. 225198600
Casa da Paz - (Secretariado permanente da Campanha)
Rua Rodrigo da Fonseca, 56 - 2º - Lisboa (perto do Marquês de Pombal)
Contactos
Telefones: 213 863 375 / 213 863 575
Fax: 213 863 221
Telemóveis: 962 022 207, 962 022 208, 966 342 254, 914 501 963

Campanha de ajuda humanitária ao povo de Cuba.
Porto mobiliza-se para a ajuda ao povo de Cuba.

A PORTOCOMCUBA, organização promotora da campanha de ajuda humanitária ao povo de Cuba lançada em Portugal na sequência da dramática devastação provocada pela passagem de dois furacões e uma tempestade tropical, apelou hoje em conferência de imprensa, à mobilização de todos os portugueses em torno do objectivo de, até dia 24 de Setembro, se reunir o maior número de embalagens de Leite em pó, massa, arroz e conservas para a ajuda imediata ao povo cubano.
A PORTOCOMCUBA reafirmou que sempre esteve e sempre estará solidária com o povo cubano nos momentos mais ou menos difíceis da sua história, e que assumirá a ajuda fraterna nesta circunstância de maior necessidade. Apelou ainda à compreensão geral da população em relação a estas necessidades imediatas do povo cubano.

______________________
A União de Sindicatos do Porto também se solidarizou com a campanha de recolha de alimentos para as vítimas dos furacões em Cuba, levada a cabo pela Comissão PortoComCuba.”

sexta-feira, setembro 19, 2008

Não lhes estraguem o prazer de ler!



As minhas netas mais pequenitas gostam muito de ler desde que aprenderam a ler. A Inês está no 5º ano, e a Lionore na 3ª classe (esta lá longe, que eu tenho duas netas suiças).
Rubem Alves suscitou-me o que escrevi em título. (Faço uns cortes no seu texto(*) só porque não se devem pôr escritos longos nos blogues)





«Uma das minhas alegrias são as cartas que recebo das crianças. Escrevem-me a propósito dos livros infantis que escrevi. (...)
Pois eu recebi uma carta de um menininho. Não vou revelar o nome para não o comprometer diante da professora. Li a cartinha dele tantas vezes que já a sei de cor. Transcrevo:
"Prezado Rubem: (...) Li o seu livro O patinho que não aprendeu a voar. Eu gostei, porque aprendi que liberdade é fazer o que quer muito mesmo. Escreva para mim. E eu tenho uma professora demais. Com todos os livros que a gente lê ela manda fazer ditados, encontrar palavras com dígrafo, encontro consonantal e encontro vocálico."
A minha alegria inicial foi interrompida por um estremecimento de horror: eu não sei o que é dígrafo! Meu Deus! Ele, um menininho de nove anos de idade, já sabe o que é dígrafo. E eu não. Dígrafo tem de ser uma coisa muito importante, essencial, para ser incluído no currículo de um menininho de nove anos de idade. Com certeza é necessário conhecer o dígrafo para ser iniciado nos prazeres da leitura, que é a única coisa que importa. E eu não sabia disso. (...)
Quando eu estudei acho que a palavra "dígrafo" ainda não tinha sido inventada por algum gramático, como resultado de uma pesquisa linguística e uma tese. Mas os infinitamente variados nomes da análise sintáctica já existiam, embora não fossem os mesmos que existem hoje. (...) A análise sintáctica ensinou-me a ter raiva da literatura. Somente muitos anos mais tarde, depois de ter esquecido tudo o que aprendera na análise sintáctica, aprendi as delícias da língua. Aí, parei de falar os nomes anatómicos dos músculos da amada. Lia e entregava-me ao puro gozo de ler.»
__________
(*)Rubem Alves. Gaiolas ou asas. Edições Asa (2004), pp. 23-26.
Quadro: Jessie Wilcox-Smith

terça-feira, setembro 16, 2008

Reflexão 1 (Quer comentar?)


foto pessoal

_______________________________________
Esse foi o 4º post deste meu cantinho, já lá vão quase três anos e meio (só lhe acrescentei agora o parêntesis no título).
Por que o fui buscar? Foi porque fui levada por um comentário que recebi no mail (penso que todos usam a funcionalidade da recepção de comentários no mail) e que verifiquei ser a um post de Setembro de... 2005, por acaso sobre "Matemática e métodos de ensino". Fiquei então a pensar como me desviei quase logo ao princípio da intenção de escrever memórias de professora, muito especialmente no âmbito do ensino/aprendizagem da Matemática. E então tive curiosidade de contar, usando os meus marcadores, quantas vezes escrevi aqui directamente sobre esse assunto que me é tão caro. Se não contei mal, foram apenas 5 de 656 posts (6 se contar com essa pequena alusão que fui encontrar nos inícios do meu blogue e me deu para agora recolocar)

Será pretencioso ter acrescentado no título : "querem comentar?" - os meus amigos e colegas da blogosfera têm mais que fazer do que vir comentar a este canto recatado. Mas que não seja por o pensamento acima se referir à Matemática, pois creio que ele pode ser reformulado para qualquer outra disciplina - talvez assim, por exemplo: 'mais do que transmissor do seu saber, o professor tem que ser condutor do aluno na descoberta do saber .' E lá vamos para 'métodos de ensino' (Que coisa... Custa-me sempre escrever 'ensino' sem a palavrinha 'aprendizagem'). Ou não vamos? E também para instrumentos - computadores, quadros interactivos, ...

sábado, setembro 13, 2008

Pensando especialmente neles...

... nos meninos e meninas que agora se estão a sentar pela primeira vez nas cadeirinhas da escola. E também na minha neta Inês e nos outros meninos que, como ela, estão a começar uma nova escola - a do 2º Ciclo.

(...)
Um menino caminha
E caminhando chega num muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente o futuro está

(...)



Bom fim-de-semana e boa semana para todos!

Associações de ideias...

Vim daqui da Teia da 3za já passava das duas e meia da manhã, mas o que lera fazia-me querer deixar aqui umas linhas, e não, não queria palavras minhas porque com as minhas eu não saberia dizer o que queria. E então fui folhear o Diário de Sebastião da Gama, e depressa encontrei um bocadinho da ponte que queria...

"A aula passada ao papel fica sempre mesquimha. A aula de Português acontece, como atrás ficou dito em letras grandes; mas acontece , acontece na sala 19 e não aqui, neste papel aos rectângulozinhos. Depois, eu não sei inventar nem doirar; e há uns tempos para cá nem sequer sei reproduzir - ando doente da mão." (...)
"Pertinho da sala 19 mora um pintassilgo (ou pássaro que o valha...). Volta não volta lá se põe ele a cantar e é um gosto ouvi-lo: há alegria, há ternura na sua cantiga, Por importante ou urgente que seja o que estou dizendo, é muito mais importante e muito mais urgente ouvir o pintassilgo: quebro, mal o oiço, ou a frase ou a palavra ao meio. Todos escutam." (...) (*)

As minhas associações de ideias talvez não sejam muito claras, para mais a esta hora da noite, mas acho que a 3za me percebe ;)
______
(*) Sebastião da Gama. Diário. Edições Ática, 1958, pp 67-68, 75-76

sexta-feira, setembro 12, 2008

Sem comentários... (Falta-me sentido de humor quando é humor negro)

Ensino obrigatório até ao 12º ano pode “já não ser preciso”
“Criaram-se em todas as escolas sucundárias cursos profissionais, alargou-se a acção social escolar. Preparou-se o país de tal forma que até podemos hoje pensar que essa decisão pode vir a não ser necessário tomar”, explicou MLR.

(Não tenho paciência para ouvir a entrevista, creio que basta
esta notícia)

quinta-feira, setembro 11, 2008

A propósito de dificuldades de aprendizagem

Estava a ler um artigo(*) longo e a dada altura o autor referiu-se especificamente a dificuldades dos alunos na Matemática, lembrando que a falta de gosto por essa disciplina estabelece-se muitas vezes porque os professores não têm consciência das dificuldades que as crianças podem ter para compreenderem certos conceitos que parecem simples - dificuldades que eles próprios decerto tiveram quando crianças, mas de que se esqueceram. E recordou um exemplo verídico que passo a contar (não transcrevo porque vou traduzir do francês):
Foi pedido a uma criança que escrevesse trinta e três. Fácil! Ela conhece 30 e 3 e escreve os dois números lado a lado: 303. O adulto exclama: Mas não! Escreveste trezentos e três! Está com atenção! E a criança murmura: Como assim?! Escrevi bem 30 e 3! E brigam comigo! É chinês, este cálculo! Desisto de compreender alguma coisa disto!
Como o autor comentou a seguir, também eu comento que o sistema decimal não é coisa simples, o homem até precisou de séculos para inventar o zero, e muitas outras coisas para nós muito simples não o são de facto para os pequenos estudantes - e não só para os mais pequeninos.
Quantas confusões e obstáculos ficarão na cabeça dos alunos se não estivermos nós atentos à 'complicação' do que nos parece simples em vez de julgarmos que são eles que não estão atentos?
____
(*) Aqui

terça-feira, setembro 09, 2008

Mas vou até o fim

(Porque não gosto do cantinho em silêncio mesmo quando não ando com disposição para escrever, e porque há momentos em que também preciso de dizer "mas vou até o fim", e porque gosto muito desses dois e os dois aí juntos estão uma delícia)

sexta-feira, setembro 05, 2008

Momentos... (E uma adenda)

Talvez O Vento Saiba

Talvez o vento saiba dos meus passos,
das sendas que os meus pés já não abordam,
das ondas cujas cristas não transbordam
senão o sal que escorre dos meus braços.

As sereias que ouvi não mais acordam
à cálida pressão dos meus abraços,
e o que a infância teceu entre sargaços
as agulhas do tempo já não bordam.

Só vejo sobre a areia vagos traços
de tudo o que meus olhos mal recordam
e os dentes, por inúteis, não concordam
sequer em mastigar como bagaços.

Talvez se lembre o vento desses laços
que a dura mão de Deus fez em pedaços.
Ivan Junqueira

(Mais um poema que devo à Amélia Pais )


ADENDA
Quando 'só vejo sobre a areia vagos traços', prefiro voltar a pôr o cantinho em pausa até que meus olhos fiquem mais sãos.
Talvez o poema não me tocasse tanto se eu tivesse menos anos, mas talvez também eu não fosse precisando apenas de umas pausas e este cantinho já estivesse demolido se eu não tivesse amigos com bem menos anos do que eu (e a blogosfera é um espaço onde também paira a palavra amigo e nos faz chegar palavras de amigos) que me ajudam a não me enredar e quedar nos sussurros do vento.

Continuando a corrente

A Teresa teve a simpatia de nomear este meu cantinho apesar de, como já lhe deixei dito, ele se ter tornado tão intermitente que merece mais puxões de orelhas do que prendinhas. (Ver a corrente aqui e aqui).

Depreendi que são sete as nomeações a fazer para continuar a corrente. A limitação do número torna isto sempre difícil! Mas também não consigo seguir o critério de não repetir nenhuma das nomeações da Teresa...

Aqui ficam as minhas nomeações (por ordem alfabética):









Ai... já estão oito... Não deve fazer mal, não vi escrito que tinham que ser só sete!
E até acrescento mais uma, fora da ordem alfabética porque nessa sou suspeita...

quinta-feira, setembro 04, 2008

Em jeito de adenda

Mary Cassatt (1905). Looking into the Hand Mirror


O poder do olhar do professor

O olhar do professor tem o poder de transformar uma criança em inteligente ou burra.
Rubem Alves (2003)(*)

Eu poderia testemunhar (não só eu, muitos de nós, provavelmente todos os professores) por vários casos verídicos quanto essas palavras de Rubem Alves são verdadeiras.
Vou escolher só um caso: em que uma aluna foi olhada de modos antagónicos, respectivamente pela directora de turma e pela professora de Matemática. O olhar da dt tinha "peso" junto dos alunos e de outros professores da turma; o da prof de mat (deixem abreviar assim para comodidade de escrita) tinha-o também pela disciplina, pois uma criança "burra" não conseguiria ter sucesso nela. Mas o olhar de um(a) director(a) de turma pode ter uma importância enorme (muitas vezes para sorte, algumas também para azar de quem é olhado)


Saliento como nota prévia: Não faço pessoalizações, o tempo já passado e o resumo por alto tornam o caso anónimo, digamos que é um breve exemplo abstracto de casos ("olhares") que também acontecem aqui e ali, e o bom seria nunca acontecerem.


A Maria (de outro nome, mas prefiro mudá-lo) teve a mesma dt e a mesma prof de mat do 7º ao 9º ano, mas no 9º o restante conselho de turma mudou devido a mudança de escola dos respectivos professores.
No início do 7º ano, a Maria, que transitara com nível negativo a Matemática, mostrava-se, nas aulas desta, distraída, conversadora e desinteressada. Mas não demorou muito o dia em que, em vez de desculpas evasivas, conversou com seriedade e sinceridade com a professora. Disse então que tinha "pouca queda" para os estudos e que na Matemática, "a disciplina mais difícil", nessa é que não conseguiria, que o pai até sabia e já contava com isso, e por isso é que participava tão pouco. E acrescentou, baixando a voz para que só a professora ouvisse: "é que eu sou um bocado burra, setôra".
A última afirmação, convicta, feita como quem faz uma confidência, claro que bateu forte na professora. Era daquelas situações que provocam logo um desafio, uma aposta que se tem a responsabilidade de ganhar, pois não há alunos burros, e a Maria era saudável, não tinha nenhuma deficiência.

Não interessa narrar que estímulos e estratégias a professora usou (todo o professor tem obrigação de os conhecer, ainda que cada um os use ao seu jeito pessoal). Salto já o relato para o 9º ano da Maria. (Antes, esclareço só que o programa de Matemática do 7º ano retomava os conteúdos essencias do 2º Ciclo quase como iniciação, pelo que é o ano mais propício à recuperação de alunos que aí chegam com insucesso nessa disciplina, o que também ajudou a acção da professora) Nesse 9º ano, ela já não preocupava a professora, já não precisava de especial atenção, tornara-se empenhada e trabalhadora e os seus testes já tinham passado a ser sempre positivos e, agora, nunca abaixo dos 60% pelo menos.
Mas, como acima disse, nesse ano o conselho de turma mudara, no início alguns dos novos professores anotaram as informações da dt, a qual, no caso da Maria (aliás, também em mais casos, mas eu optei por contar um só), a caracterizava como "coitadinha, tem muitas dificuldades, não dá, na minha disciplina não tem hipóteses". E não terá adiantado muito que a prof de mat a tenha rebatido, as anotações eram das informações da dt, a esta é que cabe dá-las, para mais uma dt da turma desde o 7º ano e "corre" que é uma dt muito competente... (Já agora, digo que nunca tomei nota dessas informações quando recebia novas turmas, excepto casos de doença ou outros problemas objectivos - nos meus últimos anos de ensino até recebi oitavos anos sem ter começado com eles no sétimo, mas tinha a mesma atitude, que não era por acaso nem por preguiça de tomar 'certas' notas)

Volto a abreviar (não são os intervenientes que quero focar, mas sim o tipo de situação) contando apenas que a Maria, no 3º Período do 9º ano, começou a faltar a certas aulas, até acabar por faltar a todas nas últimas semanas do ano lectivo. Mas apareceu no teste final de Matemática - um teste global -, cujo resultado não deixou de ser afectado pelas faltas, contudo até estudou e até conseguiu os 50% como positiva à justa mas sem favor (e a professora era tida como exigente).
Os pais da Maria eram pessoas pouco instruídas e que não faziam grande questão em que ela terminasse ao menos o 9º ano, pelo que lhe restavam, como incentivos (e desincentivos), "os olhares" dos professores. Entretanto a mãe, a quem a dt escrevera a pedir que enviasse justificações das faltas, acabou por as enviar. No Conselho de Turma para avaliação final a dt informou que as tinha aceite apesar de fora de prazo porque era "chato" reprovar a Maria por faltas, era melhor reprovar por notas.

Duas notas finais:

1 - A prof de mat tentara demover a Maria de desistir. Mas a úitima conversa foi curta, a professora já tinha constatado o efeito da caracterização da Maria que a dt fizera no novo conselho de turma e continuara a repetir, e sabia que, naquela altura, ela estava mesmo reprovada com três negativas, melhor dizendo, com quatro, pois nos conselhos de turma em que aparecem 3 negativas firmes é frequente ficar outro professor hesitante e logo vem a quarta para evitar "aborrecimentos" (tal como sabemos que noutros conselhos de turma tantas vezes alunos acabam por ser aprovados com mais negativas do que a Maria tinha, subidas algumas no último).
E foi nessa última conversa que voltou a ouvir a Maria repetir o que dissera no início do 7º ano, mas agora com um sorriso meio irónico, como quem pisca o olho (embora pouco alegre): "sou burra", ao que apenas respondeu que ela já sabia bem que isso não era verdade - sim, a Maria pelo menos isso já sabia, ao menos isso já não era preciso provar-lhe ;)

2 - Este caso só saiu da cabeça da prof de mat quando encontrou por acaso a Maria e esta lhe disse (contrariamente ao que receara pois ela já tinha 15 anos, já estava fora da escolaridade obrigatória) que voltara a matricular-se e regressara à escola porque afinal queria ir para determinado curso profissional e, portanto, queria terminar o 9º ano. (Afinal a "história" não acabou mal)

Ah! Mais uma nota: não gostei nada de fazer este relato, mesmo abreviado, mas as palavras de Rubem Alves que citei no início exprimem uma verdade que dá grande responsabilidade aos professores e não é coisa abstracta - e os alunos são crianças e adolescentes bem concretos, e estão quase a regressar às aulas...

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(*) Conferência promovida pela ASA (pela mão do JMA)