terça-feira, novembro 11, 2008

Quando o que se diz é tão redutor do que se passa...

Jornalistas e comentadores não são analfabetos, mas não sei para que lhes serve saberem ler se nunca (ou raramente) estudam a matéria de que falam. E assim se vai insinuando ao país que os professores (ou pelo menos 80% deles) andam a fazer tão grande alarido por causa do preenchimento de duas fichazitas.
Mas já que só referem avaliação, avaliação, e até concluíram que se trata apenas de umas fichas a preencher, pois a Senhora Ministra assim o disse, ao menos podiam ir averiguar que perversidades têm as tais fichas. Ao menos, ao menos podiam reparar nalguma dessas perversidades, numa, numazinha só, por exemplo naquela que faz pesar na avaliação do professor as tachas de insucesso e de abandono escolar.
E sobre a burocracia de que se queixam os professores, ninguém informa a opinião pública sobre a papelada que já os estava a atolar antes das grelhas da avaliação. E voltando ao modelo de avaliação, jornalistas e comentadores (salvo raríssimas excepções) ignoram ou acham de somenos importância os critérios com que os avaliadores chegaram à categoria que lhes permite assumir tal função, bem como isso de um professor de uma disciplina ir avaliar um colega de outra área científica, isto para não falar de delegação de competências a efectuar agora para deixar de ser ilegal daqui a dois ou três meses; também ignoram ou acham de somenos importância qualquer confusão entre autonomia e arbitrariedade de escola para escola - confusão que começa a arrepiar-me, confesso.
Bem... já que o tema que anda nos ouvidos de todos é o modelo de avaliação do desempenho dos professores, não vou pedir (por agora) aos senhores jornalistas e comentadores que estudem outras preocupações relacionadas com a escola pública. Mas confesso que tenho uma vozinha dentro de mim a perguntar-me baixinho se Maria de Lurdes Rodrigues se manteria ainda tão intolerante e teimosa caso aquela figura de Director da escola não andasse já a tomar forma e a fazer os seus estragos numas tantas cabeças.

3 comentários:

Existente Instante disse...

Mas um sintético e belo texto.
Isso Isabel, certeira no alvo!
Então a sua última frase é mais do que certeira. Se muitas cabecinhas "conselhiasexecutivas" não se andassem a fazer ao bolo, ao poder, aos 3000 euros (diz-se)se em tempo útil tivesse havido uma onda de demissões dos CE, este modelo tinha sido nado-morto! Mas não...os nossos queridos e queridas colegas tão democraticamente eleitos, a querem brilhar que nem graxa de sapatos!
E pode crer que a classe docente vai ter muito , mas muito que contar e temer com os tiranetes executivos de futuro, que só agora vão arreganhando os dentes mesmo que cariados! Até as listinhas dos CG, serão preparadinhas com os rapazotes e raparigotas de mão!
Mas já reparou quem em Lisboa no dia 8 pouco ou quase nada se falou disso? Já reparou que nos blogues parece haver uma lei do silêncio para o futuro modelo de gestão ? Será a cobardia e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, ou ...são colegas e como tal , mais vale esperar pelas migalhas do que comer o pão que o diabo amassou? Para aí uns 70 a 80 dos actuais PCE vão candidatar-se às divisas generalícias, quer apostar! São contra tudo isto, mas querem ser Directores Executivos, embora percebendo os "links" entre os assuntos! O que devem pensar é que os Professores são burros! Não o são, mas lá distraídos e tardios a perceberem os que os vai enlear decisivamente lá isso são!

IC disse...

Caro Existente Instante
A natureza humana é o que é, os seres humanos nascem com dois instintos - cooperação e competição -, a atração pelo poder - grande poder e pequenos poderes - é um fenómeno terrível, e a actual sociedade que os poderes foram construindo cada vez mais instila o lema do salve-se quem puder de qualquer modo que consiga, além de que ser-se verdadeiramente independente, autónomo, enfim, verdadeiramente livre, tem fortes custos. E também é verdade que dentro de qualquer aparente "unidade" há variadas motivações (bem como diferentes níveis de informação, diga-se), muitas excelentes, sinceras, generosas, outras não tanto assim.
Mas, acima de tudo, as coisas são muito complexas, tão complexas que tornam muito difícil a cada um um correcto e completo discernimento - claro que me incluo, na minha cabeça batem muitas contradições, batem vários argumentos contraditórios. E também é verdade que nas escolas não há espaço e tempo para análise e reflexão conjuntas sobre a catadupa de medidas e reformas numa perspectiva global, e vai-se reagindo a cada uma só à medida que vai caindo directamente em cima de cada pessoa, o que muitas vezes já é tarde.
Enfim... acho que estou a precisar de pôr este meu cantinho em silêncio por um tempo.

Pedro disse...

Felizmente, ainda vamos tendo alguns jornalistas que vão fazendo alguns trabalhos de investigação sérios sobre o que realmente está por trás deste modelo de avaliação. Ainda ontem a RTP deu a conhecer os modelos de avaliação existentes noutros países e a SIC tem realizado alguns debates sobre o tema.
O problema da desinformação parte mesmo do Governo que continua a insistir na mentira de que nós, professores, nunca fomos avaliados...
Abraço