segunda-feira, janeiro 23, 2006

Passando para outra matemática

Agora que acabou a matemática das sondagens e projecções, vai um post que me apetece colocar desde que a Teresa me fez ter saudades de ensinar 2º Ciclo (que ensinei durante grande parte da vida). Saudades, porque (transcrevendo o que já disse num comentário) é nessa idade que a gente descobre a verdade dessa frase de Freinet que tenho aí em cima em jeito de lema do blogue. Com os adolescentes, agora fica mais difícil, não por serem adolescentes, mas porque continuo a achar que a sociedade anda a tirar as "magias" a esta geração de putos.
Eles podem gostar de Matemática, podem, sim! E, para repetir isto (porque é preciso repetir e repetir, contra as ideias de Matemática-Papão que tantas vezes já trazem para a escola, algumas vezes transmitidas até por familiares que guardam má recordação dela), para repetir isto, dizia, não vou escrever nenhuma memória, vou só "roubar" uns excertos de dois testemunhos alheios. Não pedi autorização, mas penso que as autoras não se vão zangar.

"É urgente e importante reflectir sobre o insucesso na matemática. Pessoalmente custa-me muito entender a aversão/má relação com esta disciplina. Gosto de matemática e gosto de ajudar os alunos a gostar também. Era para mim muito gratificante ouvi-los dizer entre si "afinal isto até é fácil". Era fácil porque num ambiente disciplinado mas descontraído eles iam descobrindo e construindo o seu próprio saber, dialogando com o grupo. Partilhando conhecimentos e ideias iam ganhando gosto pelos desafios propostos, confiança em si próprios, modificando a sua relação com a Matemática e, não menos importante, cimentando amizades e aprendendo a ser solidários." (De m.n., com quem trabalhei lado a lado vários anos - comentário deixado no meu post de 23 de Setembro)

"Quando hora e meia passa depressa e se ouve (sabe tão bem ouvir) “O quê? Já?”. Quando a Matemática passa de filme que nos aterroriza, a filme de aventuras preferido, onde queremos entrar como actores. Quando o Miguel, sorrindo misteriosamente, comunica à turma ........ Quando o António....... Quando a Rita.......... Quando a Cátia.......... Quando o João corrige erros no Manuel........... Quando a Maria (a repetir o 5º ano, e que diz muitas vezes de si própria que é burra) ultrapassa autonomamente as dificuldades de procedimentos de cálculo, depois de lhe ter sido finalmente provado que ela era inteligente e capaz de resolver problemas complexos... só se enganava nas contas..........Quando os dedos se agitam no ar para explicar, para perguntar... Quando já não se desiste das tarefas.......
Quando........... "
(Retalhos deste post da Teresa, creio que foi o primeiro que li quando descobri o seu blogue)

2 comentários:

Teresa Martinho Marques disse...

Esta autora não se importa nada... é claro! Sempre que quiseres Isabel! Só posso agradecer a distinção. Cheguei a casa hoje depois de mais umas aulas de matemática... e revi-me no primeiro texto que citas. Foi dia de trabalho de grupo... resolver problemas... a delícia de escutar as discussões... de provocar ideias, acrescentar desafios... de os ver rindo como se os números aos poucos fossem deixando de ter mistérios. Costumo dizer-lhes que só temos que deixar os números conversar connosco, conhecê-los bem para eles se confiarem a nós. Aos poucos o que se constrói já nem sei se é Matemática, se é Amor pela vida, se é respeito por todas as coisas. Mas é coisa boa e dá-nos prazer, a todos. Confesso que me divirto, que me sinto bem entre eles, como se voltasse atrás no tempo... (por entre os problemas hoje descobrimos, num dos grupos, que ainda tínhamos em comum a Abelha Maia e a Heidi... e a Matemática, claro, a Matemática...)

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Confesso que de matemáticas sou um zero à esquerda... Mas admiro quem gosta e quem sabe ensinar.

Grato pela tua visita neste dia que considero agora sim de reflexão.