Terá sido logo pelos princípios da década de 90, a minha escola ainda não tinha 3º Ciclo. A Ana e eu costumávamos estar metidas nalgum projecto conjunto, mas esse foi o mais "louco".
Apresentámo-lo no Conselho Pedagógico no final do ano lectivo anterior, que o aprovou apesar de, definido o habitual - finalidade, objectivos, etc. -, assumir, em vez de um plano de trabalho a desenvolver, que tinha precisamente que partir de um plano totalmente em aberto. Tratava-se de uma iniciativa com um grupo de alunos que seleccionáramos como os mais "cadastrados" da escola - alunos repetentes, com pelo menos um processo disciplinar decorrido, problemáticos nas aulas e nos recreios. Ganháramos para o projecto mais duas colegas e a disponibilidade de um colega de Educação Física para eventuais (mas previsíveis) iniciativas desportivas.
No início do ano lectivo, os nossos rapazes receberam cada um um convite para uma reunião que, aliás, foi a única que decorreu com todos conseguindo permanecer sentados, ao princípio timidamente disciplinados, depois de se terem olhado e decerto percebido mais ou menos o critério de escolha, mas sem se pronunciarem sobre isso, até porque apresentámos logo a nossa ideia: Formarmos um grupo que fosse tendo ideias e iniciativas para animar a escola e, dentro do possível, tornar também mais agradável o seu aspecto físico; era um convite, a adesão seria voluntária, dissemos que pensáramos neles por serem dos mais velhos, portanto mais capazes de corresponderem à nossa ideia.
Todos aderiram, eram 13, nenhum era nosso aluno (se a memória não me falha, isso foi mesmo um critério nosso). E logo decidiram não sair da reunião sem um nome para o grupo, o qual, depois de algumas propostas (deles, claro), foi aprovado de imediato por unanimidade como "Os Engenhocas" quando um deles o sugeriu. Combinámos também organizar um correio - que veio a ser um folheto com o respectivo logotipo, que deixávamos no porteiro com marcações de encontros gerais ou parcelares, notícias do decorrer das iniciativas, respostas do CD a propostas que vieram a fazer, etc. Ficaram ainda esboçadas nessa reunião pequenas primeiras iniciativas, definidos os encarregados das mesmas e marcados encontros, para melhor definição delas, com, respectivamente, uma de nós quatro (professoras).
Guardo para próximo post o único relato que farei para não me alongar demasiado - uma daquelas memórias que jamais se apagam: o segundo dos dois dias de actividades de final de 1º Peíodo, no âmbito das festividades de Natal, habitualmente realizando-se num só dia com paragem das aulas, mas dessa vez em dois porque o segundo veio a ser aprovado como "a cargo" dos Engenhocas face ao plano e à preparação havida.
Mas ainda conto qual a convicção que nos levou a este projecto (convicção que sei que é partilhada por muitos professores): dê-se-lhes responsabilidades, confie-se quando afirmam que as aceitam, e eles superam-se e revelam-se.
P.S. Lembro-me muitas vezes dessa experiência com os Engenhocas, não deixaria de aparecer neste meu cantinho de memórias, mas (há uma hora atrás, constipada e a tomar medidas preventivas de gripe, até tencionava não escrever nos próximos 3 ou 4 dias) não será que me pus agora a escrevê-la por ter na mente as projectadas turmas de repetentes?
Sem comentários:
Enviar um comentário