quarta-feira, setembro 03, 2008

Mas onde anda essa "Esquerda Crítica"? (Pergunto eu)

Eu não digo que não ande por aí, que não fale e não actue, mas aprecebo-me tão pouco dela que me pergunto se é distracção ou cegueira minha. E admito que seja, por isso a minha pergunta não é uma insinuação de que essa Esquerda Crítica mal se vê ou sente, é mesmo uma pergunta para que algum amigo tenha a paciência de me informar e abrir os olhos - eu sei que existe e tem voz, o que não sei bem é porquê se ouve pouco (ou poucos tentam ouvi-la?) e ainda menos age (ou poucos querem agir com ela?).

Passo a esclarecer a que me refiro (a transcrição está linkada para o texto integral, de João Paulo Serralheiro na Página da Educação):

A árvore da esquerda — não só da coisa educativa, mas em geral — mostra-nos ter hoje dois ramos, cada um com os seus galhos (uns vivos, outros secos). Um desses ramos é o da Esquerda Progressista, o outro o da Esquerda Crítica. O ramo progressista aceita o sistema capitalista. Parafraseando Greg Palast, a Esquerda Progressista deseja "a melhor democracia que o dinheiro pode comprar". O reflexo deste posicionamento na educação traduz-se num esforço para procurar políticas que promovam a melhor distribuição social dos benefícios do ensino e da educação, sem tocar na estrutura-base do sistema. Os pedagogos progressistas são os partidários das «coisas giras». Preocupam-se com o carinho a dar aos «meninos» e esgotam o seu esquerdismo em temas como «a igualdade de género», o acompanhamento social e psicológico dos «meninos-problema» e outros temas afins «muito giros». Nada que ponha radicalmente em causa os fundamentos do sistema, a desigualdade e a exploração capitalista. Por seu lado, o ramo crítico toma como sustentação do seu pensamento e acção o fim da exploração capitalista. Como modo de intervenção usa «o poder suave»[2], isto é, a aposta no debate, na cooperação e na renúncia a toda a acção violenta. O pensamento crítico não sendo compaginável com o capitalismo, não pode ser confundido com as «políticas de protesto» — populares num certo sindicalismo —, estas são, quando muito, um seu galho (seco), ainda que eu as veja como um epifenómeno da sociedade capitalista. O pensamento crítico, usando o poder suave, tem em conta o movimento dialéctico da sociedade e as suas rupturas. Reconhece que a maturidade política se revela em cada ser humano quando este assume livremente a sua sorte abandonando as suas pretensões infantis a mandar sozinho no Mundo e a impor-lhe as suas convicções, emoções, crenças, caprichos ou preconceitos. É o reconhecimento dos direitos políticos dos outros que nos permite assumir o nosso poder de facto, como prémio da nossa renúncia em querer para nós o poder e a verdade absoluta. Também em política «quem tudo quer tudo perde». A maioridade política é um processo em que nos inserimos e nos permite ver a democracia como a cidade onde os humanos conversam, se confrontam na Praça da República, argumentam e decidem cooperativamente sobre os caminhos mais aceitáveis. Caminhos de todos, despidos de violência e que nunca são perfeitos, ideais, acabados. São apenas caminhos públicos, aceitáveis, justos, transitórios e com rumo. O pensamento crítico, e o poder suave, trabalham para construir o colectivo (e o individual decorrente deste), numa dada geografia, num dado tempo e num projecto partilhado com os demais sujeitos do processo histórico.
P.S. O título deste post não significa que não tenha gostado do artigo de JPS - se não tivesse gostado, não o destacava.

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