quarta-feira, fevereiro 22, 2006

A estratégia do medo

(Em dois capítulos)
I
Há umas duas noites atrás, depois de ter visitado o Educar para a Saúde, do Miguel Sousa, desliguei o computador e fui para a cama ler. O tema do livro não tem a ver com educação para a saúde, no entanto, a páginas tantas de um capítulo, eu lia: "As probabilidades de uma determinada pessoa ser morta num ataque terrorista são infinitamente menores que as probabilidades de essa mesma pessoa vir a entupir as suas artérias com comida de elevado teor de gordura e morrer de doença cardíaca. Mas um ataque terrorista acontece agora; a morte por doença cardíaca é uma catástrofe distante e tranquila". (Lembrei-me logo dos hamburgers e batata frita que o Miguel referira no post) O autor do livro* (que fala do "estranho mundo da economia"), exemplificando também o caso das vacas loucas (e eu lembrei-me das tantas pessoas que deixaram de comprar carne de vaca enquanto o alarme esteve presente na comunicação social, e estou a lembrar-me agora do noticiário de hoje, falando da gripe das aves e de possível baixa na venda destas), apontara estes exemplos neste contexto: "Mas o medo prospera no tempo presente. É por isso que os peritos confiam nele; num mundo cada vez mais impaciente com os processos de longo prazo, o medo é um jogo poderoso de curto prazo".
O meu pensamento saltou então dos cuidados com a saúde e dos riscos cujo alarme a publicidade afasta das mentes e os orgãos de comunicação não fazem ressoar (saúde não é assunto sensacionalista para que dela se ocupem) para a protecção do ambiente. Mas não se deteve nas pessoas comuns, voou para senhores do poder económico no mundo, que pouco ouvem os alertas dos cientistas pois o futuro do planeta já não será na cabeça deles que poderá desabar - isso também faz parte de perigos distantes, não perturba a tranquilidade dos ditos senhores.

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*S. D. Levitt e S. J. Dubner (2006), Freakonomics - O Estranho mundo da economia. Ed. Presença

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