Adenda:
Mal saída de fim de semana, desatei a escrever para depois ficar com a sensação de me ter perdido, pelo menos na extensão, também talvez no fio, que, a esta hora, já não distingo se ainda é o mesmo. Se calhar, reparando agora na última frase que escrevi ("não se decreta isso em nenhuma profissão, e para a nossa são precisos milhares de profissionais"), uma das coisas que queria dizer diz-se em três linhas: Nunca as transformações ou mudanças necessárias foram feitas pelas grandes maiorias; estas são depois "agarradas", sensibilizadas - as mudanças ganham movimento, o movimento propaga-se até que todos se começam a mover nelas naturalmente.
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Depois de ler todos os comentários ao meu "começar por desfazer confusões" e ao post posterior que voltou ao assunto, não consigo trazer divergências para debate pois, na verdade, não as detectei - perdoe-se-me o critério, que foi o de estar pessoalmente de acordo, no essencial, com todos, com tudo o que escreveram. Por isso, limito-me a mais umas considerações pessoais que, se estiverem correctas, justificam esse meu pensar que os nossos pensares afinal não divergem (e, se não estiverem correctas, venha então mais discussão, vamos a isso!)
1. Função do professor e função da escola não são a mesma coisa e, em dado momento, uns de nós escrevem centrando-se mais na primeira, outros alargam para a segunda - só isso; não me parecem perspectivas diferentes, apenas acentos diferentes. Mas, como eu me impus começar a pensar por uma ponta e devagarinho, centro-me agora na função do professor.
2. A nossa profissão tem de muito especial (não é a única, claro) a responsabilidade de se trabalhar com crianças e jovens para os ajudar a crescer e a apetrechar-se, a necessidade e a importância do afecto e da sensibilidade humana não estão em questão.
1. Função do professor e função da escola não são a mesma coisa e, em dado momento, uns de nós escrevem centrando-se mais na primeira, outros alargam para a segunda - só isso; não me parecem perspectivas diferentes, apenas acentos diferentes. Mas, como eu me impus começar a pensar por uma ponta e devagarinho, centro-me agora na função do professor.
2. A nossa profissão tem de muito especial (não é a única, claro) a responsabilidade de se trabalhar com crianças e jovens para os ajudar a crescer e a apetrechar-se, a necessidade e a importância do afecto e da sensibilidade humana não estão em questão.
Mas isso não se decreta, não se aprende na faculdade, não se determina que se concretize deste modo ou daquele - isso é a nossa parte humana, ficar indiferente e não tentar dar às crianças o que faz parte dos seus direitos consagrados como universais mas que muitas não têm colidiria com a incapacidade de indiferença do professor (sim, se acaso as crianças e os adolescentes com quem lida dia a dia um professor lhe são indiferentes, então errou mesmo na escolha da profissão e pode estar até a ser uma erva daninha). Entretanto, cada pessoa tem o seu modo de concretizar o afecto e a sensibilidade humana e, ao falar da função do professor, eu pretendo referir-me apenas à que é formalmente definida no conjunto dos deveres objectivos listados em qualquer decreto que os estabeleça para todos os docentes.
3. A amplitude da função do professor não é naturalmente sentida e descrita de modo exactamente semelhante por professores que leccionam níveis diferentes de escolaridade. Uns têm as suas classes com crianças, desde os 5 anos de idade, a sua função é com crianças mesmo; outros têm, no 2º Ciclo, crianças ainda, mas que há também que "puxar" para crescerem descobrindo que já são capazes de fazer mais coisas do que julgam (e muita gente julga), há que não as ver tão crianças como as anteriores sob pena de as infantilizar; outros têm adolescentes a munir não só com aquelas competências gerais que devem começar a ser trabalhadas desde a infância e continuar ao longo da escolaridade, essenciais para se tornarem num futuro cidadão autónomo (basta-me o conceito de autonomia para abranger o saber estudar ao longo da vida, o saber pensar por si e criticamente, o saber tomar opções morais ou éticas, etc.), mas a preparar também para o prosseguimento dos seus estudos com sucesso, seja esse prosseguimento um caminhar para a universidade ou um caminhar por outra via profissionalizante; outros, por fim, têm jovens com pelo menos 16 ou 17 anos de idade, a preparar para um ingresso numa faculdade, rumo à profissão com que sonham ou, ao menos, a uma para que estejam vocacionados. Portanto, o papel primordial que cada um destes professsores se atribui não pode nem deve ser exactamente o mesmo.
O facto de ter vivenciado longos anos o ser professora no 2º Ciclo e ter depois sido, durante já bastantes, professora no 3º dá-me a vantagem de poder dizer que eu não mudei, mas as minhas prioridades em algo mudaram. No 2º Ciclo, não me era assim tão importante que o programa de Matemática fosse o mais apropriado, porque qualquer conteúdo me servia para as minhas primeiras prioridades: a) eliminar medos, inseguranças, baixa auto-imagem quanto a capacidades; b) criar neles uma relação com a Matemática incutindo a ideia de jogo ou desafio de que tanto gostam, com a pequena diferença de ser consigo mesmos e com o seu raciocínio - daí essa dinâmica que se ia estabelecendo na sala de aula nos grupos e na turma; c) iniciar na distinção do que é um pensamento ou raciocínio coerente e na capacidade de expressão precisa do mesmo - processos, aliás, interactuantes. No 3º Ciclo, sobretudo nos 8º e 9º anos (considero o 7º ainda um prolongamento do 6º), a relação desejável com a Matemática deveria estar estabelecida pois é altura de pôr maior acento sobre o trabalho e o esforço individual - e o trabalho não tem que ser chato, mas o trabalho na vida não é sempre divertido nem é um divertimento, e o trabalho e o esforço fazem parte da vida, e dificilmente farão parte dela de uma forma bem sucedida sem terem feito parte da etapa de preparação para ele.
Finalizando (que já me estou a sentir perdida nesta escrita), o que me parece certo é que, com todas as nuances na função do professor consoante o nível em que lecciona, ela tem que ser exercida bem e com grande investimento, o que ficará à partida comprometido se se lhe roubar espaço e tempo com acréscimos de funções. O espaço e o tempo para todas as iniciativas de carácter extracurricular ou inter(/trans)disciplinar de professores ou de grupos de professores é também imprescindível, mas essas iniciativas variam consoante o que para cada um é significativo e se integra na sua própria aptidão.
3. A amplitude da função do professor não é naturalmente sentida e descrita de modo exactamente semelhante por professores que leccionam níveis diferentes de escolaridade. Uns têm as suas classes com crianças, desde os 5 anos de idade, a sua função é com crianças mesmo; outros têm, no 2º Ciclo, crianças ainda, mas que há também que "puxar" para crescerem descobrindo que já são capazes de fazer mais coisas do que julgam (e muita gente julga), há que não as ver tão crianças como as anteriores sob pena de as infantilizar; outros têm adolescentes a munir não só com aquelas competências gerais que devem começar a ser trabalhadas desde a infância e continuar ao longo da escolaridade, essenciais para se tornarem num futuro cidadão autónomo (basta-me o conceito de autonomia para abranger o saber estudar ao longo da vida, o saber pensar por si e criticamente, o saber tomar opções morais ou éticas, etc.), mas a preparar também para o prosseguimento dos seus estudos com sucesso, seja esse prosseguimento um caminhar para a universidade ou um caminhar por outra via profissionalizante; outros, por fim, têm jovens com pelo menos 16 ou 17 anos de idade, a preparar para um ingresso numa faculdade, rumo à profissão com que sonham ou, ao menos, a uma para que estejam vocacionados. Portanto, o papel primordial que cada um destes professsores se atribui não pode nem deve ser exactamente o mesmo.
O facto de ter vivenciado longos anos o ser professora no 2º Ciclo e ter depois sido, durante já bastantes, professora no 3º dá-me a vantagem de poder dizer que eu não mudei, mas as minhas prioridades em algo mudaram. No 2º Ciclo, não me era assim tão importante que o programa de Matemática fosse o mais apropriado, porque qualquer conteúdo me servia para as minhas primeiras prioridades: a) eliminar medos, inseguranças, baixa auto-imagem quanto a capacidades; b) criar neles uma relação com a Matemática incutindo a ideia de jogo ou desafio de que tanto gostam, com a pequena diferença de ser consigo mesmos e com o seu raciocínio - daí essa dinâmica que se ia estabelecendo na sala de aula nos grupos e na turma; c) iniciar na distinção do que é um pensamento ou raciocínio coerente e na capacidade de expressão precisa do mesmo - processos, aliás, interactuantes. No 3º Ciclo, sobretudo nos 8º e 9º anos (considero o 7º ainda um prolongamento do 6º), a relação desejável com a Matemática deveria estar estabelecida pois é altura de pôr maior acento sobre o trabalho e o esforço individual - e o trabalho não tem que ser chato, mas o trabalho na vida não é sempre divertido nem é um divertimento, e o trabalho e o esforço fazem parte da vida, e dificilmente farão parte dela de uma forma bem sucedida sem terem feito parte da etapa de preparação para ele.
Finalizando (que já me estou a sentir perdida nesta escrita), o que me parece certo é que, com todas as nuances na função do professor consoante o nível em que lecciona, ela tem que ser exercida bem e com grande investimento, o que ficará à partida comprometido se se lhe roubar espaço e tempo com acréscimos de funções. O espaço e o tempo para todas as iniciativas de carácter extracurricular ou inter(/trans)disciplinar de professores ou de grupos de professores é também imprescindível, mas essas iniciativas variam consoante o que para cada um é significativo e se integra na sua própria aptidão.
Eu meti-me nalgumas, eu envolvi quase sempre as turmas da minha direcção de turma (e envolvi-me) para alguma experiência/vivência que as fizeram crescer mais um pedacinho e fizeram os seus pais encantar-se com os filhotes de 10 ou 11 anos. Entretanto, por exemplo, a minha colega que se meteu num clube de teatro (sem especial formação nessa área) e fez as suas crianças crescerem durante o processo que culminava em representação de peças com tanto sucesso que foram apresentadas fora da escola e também fizeram os pais encantarem-se com os filhotes, possivelmente não teria jeito nenhum para as iniciativas que eu tive, como eu seria incapaz de fazer o que quer que fosse de jeito num clube de teatro.
São iniciativas/acções que se incluem na função do professor, mas que não se decretam - decretam-se os objectivos educacionais, decretam-se as habilitações que o professor tem que ter, mas não se decretam tendências particulares nem paixões (não se decreta isso em nenhuma profissão, e para a nossa são precisos milhares de profissionais).
7 comentários:
Pronto. Se me apanharem na escola a distribuir folhetos com textos da blogosfera (tal como eu tinha avisado que faria) a culpa será minha, é claro, mas também tua e de todos os que enriquecem estas tertúlias onde tanto de aprende.
Eu só posso agradecer a "síntese"(?) (mania de nos perdermos na escrita, coisa partilhada?) que também me ajuda a mim a situar-me. Revejo-me no que dizes e a tua descrição das necessidades e tipo de trabalho com crianças em estágios de desenvolvimente (idades) diferentes é magnífica. Apetece enviar cópia a quem anda lá por cima a fazer as coisas sem nos ouvir e sem perceber exactamente a diferença entre o que é mesmo necessário e aquilo que é um estorvo e empecilho à acção do Professor. E, já agora, frisar que é mesmo necessário margem de manobra, liberdade e autonomia na gestão do nosso tempo para produzir os espaços extra de apoio aos nossos meninos, as pérolas que complementam o seu dia a dia connosco, sejam elas Matemática, teatro, música, artes, o que for, mas nunca por imposição superior!
P.S. Deixei resposta à tua intervenção sobre o "programinha de post-its" com um pedido cheio de "pleases"... Quando puderes, vai até lá...
“São iniciativas/acções que se incluem na função do professor, mas que não se decretam - decretam-se os objectivos educacionais, decretam-se as habilitações que o professor tem que ter, mas não se decretam tendências particulares nem paixões”
Parece-me bem que não se decretem tendências particulares nem paixões.
A minha perspectiva é um pouco diferente: é que eu considero que existem actividades extra-lectivas que são estruturantes.
Será aceitável que um professor não encontre uma actividade extra-lectiva que o mobilize? hummm…
Ó Teresa, a minha síntese foi... que andamos todos de acordo lol.
Mas afinal o Miguel...
Ó Miguel, a minha frase que transcreveste não era para ser lida à letra!!! [riso]
Falando a sério, não conheço nada da actividade das escolas secundárias, mas nas escolas dos mais novos deve haver poucos professores que não participem em actividades extra-lectivas com alunos, podem é não ser actividades permanentes - na minha (e penso que em geral - ou estou enganada?) por exemplo o último dia de cada período é para actividades, e várias são preparadas durante o tempo necessário com os alunos, digamos que a actividade desse dia é apenas o produto - uma pecinha de teatro mesmo sem haver clube de teatro, grupos de dança, desporto, canto, etc. requerem uma preparação que passa por organização, recolhas, distribuição de responsabilidades, além de que são socializantes. E há outras iniciativas soltas, sem ser para final do período.
Bem... e se todos os professores se metessem num mesmo ano em iniciativas extra-lectivas, passávamos o tempo a ter alunos dispensados de aulas porque quem dá tempo a mais é o professor, os alunos têm os horários cheios.
(Lá estou eu a fazer de advogado do diabo, porque a verdade é que se fosses tu a escrever o que acabo de dizer eu era capaz de responder: hummm... deve haver poucos que não participem?? A minha dificuldade é que preciso de funcionar com números, e sobre empenhamentos e não empenhamentos de professores não tenho números nenhuns - alguém tem?)
Obrigada pelo Programinha!
E quanto a números... bem... a opinião pública deve ter os números todos, de certeza. Têm sempre qualquer coisa a dizer sobre a escola e o professor e... normalmente anda tudo em torno do "não empenhamento".
Eu cá acho que (sem números) até vejo muita gente de volta dos pequerruchos em actividades bem interessantes... mas, lá está, os pequerruchos são outro filme.. (ou não?). Recordo ter assistido, na Escola da Teresa L, a uma peça de tatro (Gil Vicente) de alunos bem crescidos e... foi excelente! Muito profissional, criativo e inesperado. Isto sem falar nos extraordinários festivais de poesia em que grandes e pequenos lêem poesia emocionando-nos (foi assim que eu e a Teresa nos conhecemos - ela a organizar e eu no júri, a convite dela). É possível, pois...
Adenda:Eu e a Teresa L (Talvez uma Península). Faltou. Andam por aí tantas Teresas...
"nas escolas dos mais novos deve haver poucos professores que não participem em actividades extra-lectivas com alunos, podem é não ser actividades permanentes" o que é uma pena, digo eu [e tu cerrtamente ;)]! As actividades extra-lectivas, e refiro-me concretamente à actividade dos clubes escolares, devem ser permanentes e implicar a redução da componente lectiva.
Será uma redundância referir a importância dos clubes escolares e o que eles representam na personalização do processo educativo. Mas vale a pena. É que a organização da escola pluridimensional obedece as outras lógicas de funcionamento...
Concordo com a importância referida pelos clubes escolares de que o Miguel Pinto fala. Também já tive essa experiência na escola onde estive anteriomente. E embora a zona onde a escola se inseria fosse "tenebroso" assim , naturalmente, como os seus filhos, é um facto que aqueles miúdos a jogar - era um clube de matemática e jogos -eram maravilhosos e interessados. Ali não havia problemas de violência e provocação, fossem eles meus alunos directosou não. Actualmente não há condições de desenvolver essas actividades na escola onde estou com carácter permanente porque os alunos não têm horários. Mas faz-me falta, de modo que tenho os meus jogos na escola e ando sempre a perseguir os alunos para umas partidas, tentando contrariar a moda das corridas de carros nos jogos de computador.
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