Mas hoje (terminou a nota prévia) vou começar por fazer uma 'coisa' e, depois, terminar com uma pergunta - a pergunta, porque uma pessoa acaba por ficar interrogativa e perplexa face a factos que, mesmo que isolados, já não são nada inofensivos ou de despresar como isolados e insignificantes.
A "coisa" que vou fazer é usar o método de Nuno Crato no seu livro O eduquês em discurso directo, retirando e isolando do todo de um seu artigo, no livro cujos textos agora coordenou e publicou, duas afirmações. (Não é nenhuma vingança tipo "dente por dente", nem nenhuma cedência a um método que denunciei em post recente (aqui), pois, além de estar a informar que vou usar tal método, até o faço para dizer que, não fosse o texto global (o qual, na essência, não perfilho), esses dois excertos teriam as minhas palmas.
1º pequeno excerto:
"Estes são então acusados de falarem «eduquês» - um nome castiço e feliz que o então ministro Marçal Grilo usou para classificar essa linguagem esotérica, linguagem cuja opacidade nada tem a ver com o rigor científico, mas antes procura disfarçar a falta de rigor e o vazio dos conceitos." (destaque em negrito é meu).
Com isto estou de acordo, a minha perplexidade advém é do facto de eu ainda só ter visto entre nós certos conceitos (e terminologias) descritos com tal falta de rigor pelo próprio Nuno Crato e outros não especialistas em Pedagogia, sendo, para mim, uma surpresa se for verdade que assim são também pensados por alguns pedagogos e formadores das nossas instituições, e não apenas por leigos no assunto. (Eu disse Se for verdade).
2º pequeno excerto:
"Não é preciso ter uma formação avançada em psicologia para perceber que algumas teses disparatadas apresentadas como piagetianas mais não são que uma caricatura dogmática das ideias do mestre suiço".
Aqui, eu diria o mesmo que sobre o excerto anterior, só que algo me acentuou a perplexidade. Nuno Crato já não se limita a exemplos descontextualizados ou a casos isolados que foi descobrir algures. Aqui, refere um livro "dedicado à preparação de professores do ensino básico e muito recomendado em Escolas Superiores de Educação", cuja autora, segundo Nuno Crato afirma e exemplifica, defende ideias que, efectivamente, são "abuso intelectual" enquanto absurdas para Piaget, mas propostas em seu nome embora, claro, sem qualquer apoio nos seus escritos. Ora isto tem-me sido por demais evidente em leigos opinativos, o que eu não sabia era que tal se verificava pelo menos num livro "muito recomendado em Escolas Superiores de Educação" (e não vou ao ponto de imaginar que Nuno Crato o fosse inventar).
Não vou alongar-me pondo alguns pontos nos ii sobre o que disse e o que não disse esse génio ou colosso que foi Piaget, em cuja enorme obra nem sequer desenvolveu teorias da aprendizagem ou dos processos de aquisição de conhecimentos (não se confundam teorias da aprendizagem com teorias do desenvolvimento), e que, se até se dirigiu aos professores num minúsculo livrinho, também se fartou de acentuar que não era pedagogo. Mas, particularmente quanto ao(s) construtivismo(s), se acaso andam tão baralhados como parece, tenham dó das crianças e aprofundem primeiro esse(s) conceito(s).
Falta a pergunta que anunciei, no início, que terminaria este post. Ela é, simplesmente: O que é que é verdade preocupante e o que é meramente uma campanha de caricatura (e com que intenção?) sobre os nossos pedagogos-formadores?
Admito que ande distraída - "a leste", como se costuma dizer -, mas já não sei mesmo a resposta (e estranho o seu silêncio).
sexta-feira, novembro 03, 2006
Pelo meio de um artigo, comecei a ficar perplexa
Nota prévia:
Ignoro totalmente que teorias ou ideias pedagógicas têm andado a ser veiculadas aos professores por formadores, no âmbito da formação para o ensino dos 1º e 2º ciclos. Porque não me passa pela cabeça (não passava até há pouco) que a confusão e deturpação de determinadas teorias pedagógicas e de terminologias relativas a concepções de educação, ensino e aprendizagem não sejam mais do que disparates perfilhados por casos isolados e não significativos, não faço o juízo de que os formadores acima referidos defendam e proponham aos seus formandos práticas baseadas, em nome de teóricos conceituados, em vago conhecimento destes ou em amálgamas de ideias que julguem alicerçadas no pensamento desses teóricos devido a deles fazerem leituras superficiais, avulsas, indirectas e de credibilidade duvidosa - práticas que, se fossem como Nuno Crato ridicularizou (no seu penúltimo livro) através de exemplos que descobriu ou pensa serem comuns, seriam de facto alarmantes, destituídas do mínimo bom senso e mesmo, sim, algumas ridiculamente disparatadas. Em suma, até prova em contrário, estou longe de tal juízo e nunca vi nenhum colega, cujas ideias e trabalho tenha observado, perfilharem e reflectirem na sua prática docente tais disparates.
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