Li de um fôlego um livro que o Henrique Santos sugeriu há dias neste seu post. Às vezes uma pessoa descobre um autor e pergunta-se, triste, como é que só agora o descobriu. Obrigada, Henrique!
Antes de mais, refiro o autor: Álvaro Gomes. Pela grande idoneidade que revela, alicerçada em vasta cultura pedagógica (e não só pedagógica). E também, no que respeita a esse único livro que dele ainda li (Blues pelo Humanismo Educacional?), pela deliciosa escrita incluindo uma requintada ironia na mordacidade com que sabe desmontar e reduzir à sua real mediocridade uma publicação recentemente erigida a "best-seller" cá pelo nosso país, na área da educação.
O livro... eu diria que é pena Álvaro Gomes ter tido que dedicar tanta atenção, através de uma entre mais de setenta obras que publicou, ao livrinho O eduquês em discurso directo, de Nuno Crato - diria... se não fosse necessário denunciar o real 'valor' desse livro que já esgotou várias edições, mas assim, digo que ainda bem que o fez.
Quando li o referido livro de Nuno Crato, não consegui terminar as últimas páginas pois estava já demasiado nauseada, e nem ocupei nenhum post a comentá-lo - apenas terei feito um ou outro comentário nalguns (poucos) blogues. Mas agora falo nele, pois fiquei muito contente por encontrar bem destacada na livraria da FNAC a resposta que ele precisava que alguém soubesse dar com a notável autoridade com que Álvaro Gomes a deu (estava bem destacada, mas não tanto, diga-se, como continua a estar O eduquês em discurso directo).
Mas, quero dizer (e sublinhar) que a náusea que o dito livrinho me causou nada tem a ver com as opiniões pedagógicas de Nuno Crato e muito menos com a pessoa do autor, pois eu posso pessoalmente despresar actos, atitudes, etc., isso não envolve os autores enquanto Pessoas nem o direito a terem as suas opiniões. Acontece é que Nuno Crato até é um investigador conceituado na sua área, para mais a da Matemática, e não é por ser Matemática Aplicada que espero menos que a formação matemática de uma pessoa tão considerada nesse campo lhe tenha incutido o hábito e a auto-exigência de rigor intelectual extensivos a qualquer obra que entenda merecer ser publicada, mesmo que noutra área.
O que me nauseou nesse livro não foi, como já disse, o conjunto de opiniões pessoais sobre pedagogia, mas sim os métodos a que recorreu e a que se limitou para ridicularizar nomes conhecidos, alguns com trabalho sério na investigação no campo da educação-ensino (outros não tanto, mas não é isso que importa quando falo dos métodos usados para essa ridicularização). Caracterizar as perspectivas pedagógicas seja de quem for por meras citações de uma ou outra frase infeliz e desinserida do contexto, ou ir buscar, em jeito de argumento, um caso de ignorância que encontrou, ou, pior, chegar ao obsceno uso de uma só ínfima citação, isolada de um extenso e importante documento, para ridicularizar alguém que já não se encontra entre nós para se defender - e tanta falta faz no domínio da Educação Matemática, que tão querida lhe era -, em suma, fazer tudo isto é que me causou a náusea.
Álvaro Gomes soube mostrar a ausência de referentes que fundamentassem, minimamente, ao menos, as "opinionites" de Nuno Crato ("opinionite" - termo usado por Álvaro Gomes), pois o que se espera de um investigador, acho eu, é que revele ter alguns fundamentos que suportem as suas opiniões. Em que consagrados pedagogos e investigadores se baseia? Porque parece nem os conhecer?
"Se, como vimos, este livro silencia a essência nuclear das Ciências da Educação, qual é o lastro fundamentante da formação pedagógica de Nuno Crato? Onde aduba ele o seu pensamento?" - Com estas palavras, Álvaro Gomes resume o que eu desejava que fosse feito publicamente, e que era, simplesmente, lembrar a responsabilidade que deve sentir e demonstrar alguém que publica um livro mas é um investigador e um homem das 'ciências do rigor', e não apenas um dos tantos jornalistas ou comentadores que vão fazendo o "serviço" que lhes é pedido ou até, nalguns casos, lhes é imposto.
Antes de mais, refiro o autor: Álvaro Gomes. Pela grande idoneidade que revela, alicerçada em vasta cultura pedagógica (e não só pedagógica). E também, no que respeita a esse único livro que dele ainda li (Blues pelo Humanismo Educacional?), pela deliciosa escrita incluindo uma requintada ironia na mordacidade com que sabe desmontar e reduzir à sua real mediocridade uma publicação recentemente erigida a "best-seller" cá pelo nosso país, na área da educação.
O livro... eu diria que é pena Álvaro Gomes ter tido que dedicar tanta atenção, através de uma entre mais de setenta obras que publicou, ao livrinho O eduquês em discurso directo, de Nuno Crato - diria... se não fosse necessário denunciar o real 'valor' desse livro que já esgotou várias edições, mas assim, digo que ainda bem que o fez.
Quando li o referido livro de Nuno Crato, não consegui terminar as últimas páginas pois estava já demasiado nauseada, e nem ocupei nenhum post a comentá-lo - apenas terei feito um ou outro comentário nalguns (poucos) blogues. Mas agora falo nele, pois fiquei muito contente por encontrar bem destacada na livraria da FNAC a resposta que ele precisava que alguém soubesse dar com a notável autoridade com que Álvaro Gomes a deu (estava bem destacada, mas não tanto, diga-se, como continua a estar O eduquês em discurso directo).
Mas, quero dizer (e sublinhar) que a náusea que o dito livrinho me causou nada tem a ver com as opiniões pedagógicas de Nuno Crato e muito menos com a pessoa do autor, pois eu posso pessoalmente despresar actos, atitudes, etc., isso não envolve os autores enquanto Pessoas nem o direito a terem as suas opiniões. Acontece é que Nuno Crato até é um investigador conceituado na sua área, para mais a da Matemática, e não é por ser Matemática Aplicada que espero menos que a formação matemática de uma pessoa tão considerada nesse campo lhe tenha incutido o hábito e a auto-exigência de rigor intelectual extensivos a qualquer obra que entenda merecer ser publicada, mesmo que noutra área.
O que me nauseou nesse livro não foi, como já disse, o conjunto de opiniões pessoais sobre pedagogia, mas sim os métodos a que recorreu e a que se limitou para ridicularizar nomes conhecidos, alguns com trabalho sério na investigação no campo da educação-ensino (outros não tanto, mas não é isso que importa quando falo dos métodos usados para essa ridicularização). Caracterizar as perspectivas pedagógicas seja de quem for por meras citações de uma ou outra frase infeliz e desinserida do contexto, ou ir buscar, em jeito de argumento, um caso de ignorância que encontrou, ou, pior, chegar ao obsceno uso de uma só ínfima citação, isolada de um extenso e importante documento, para ridicularizar alguém que já não se encontra entre nós para se defender - e tanta falta faz no domínio da Educação Matemática, que tão querida lhe era -, em suma, fazer tudo isto é que me causou a náusea.
Álvaro Gomes soube mostrar a ausência de referentes que fundamentassem, minimamente, ao menos, as "opinionites" de Nuno Crato ("opinionite" - termo usado por Álvaro Gomes), pois o que se espera de um investigador, acho eu, é que revele ter alguns fundamentos que suportem as suas opiniões. Em que consagrados pedagogos e investigadores se baseia? Porque parece nem os conhecer?
"Se, como vimos, este livro silencia a essência nuclear das Ciências da Educação, qual é o lastro fundamentante da formação pedagógica de Nuno Crato? Onde aduba ele o seu pensamento?" - Com estas palavras, Álvaro Gomes resume o que eu desejava que fosse feito publicamente, e que era, simplesmente, lembrar a responsabilidade que deve sentir e demonstrar alguém que publica um livro mas é um investigador e um homem das 'ciências do rigor', e não apenas um dos tantos jornalistas ou comentadores que vão fazendo o "serviço" que lhes é pedido ou até, nalguns casos, lhes é imposto.
2 comentários:
Isabel
de facto este autor é um valor que merecia ser conhecido pelos professores em geral. Quanto ao Nuno Crato, depois do recente êxito de vendas, já tem outro em colaboração com autores "valiosos" no campo da educação, sobre o ensino da Matemática. Vai ser outro êxito de vendas. Assim vão as elites em Portugal. Elites agora carpideiras que nos enterraram no fundo da Europa e agora culpam outros que nunca estiveram com as rédeas do poder. Que falta de vergonha baseada na suposta e real ignorância de muitos que se identificam com estas teses.
Quando venho dar uma olhada aos blogs, há sempre algo que ressalta pela positiva. Desta vez, é a vossa lucidez e independência.
Força!!!
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