No meu penúltimo post (aqui), no qual referi um texto da 3za sobre as suas aulas de Matemática numa turma de 2º Ciclo, os dois comentários deixados (um deles da própria 3za) centraram-se na questão do elevado número de alunos por turma. Penso que ninguém duvida de que, se houvesse verdadeira vontade política de diminuir o insucesso escolar, a medida que a 3za referiu como tendo sido tomada há pouco tempo no Canadá de diminuição do número de alunos por turma teria, entre nós, significativos resultados. Ao menos no ensino básico, em que se procura que os alunos vão criando autonomia no estudo e trabalho e na sua relação com as disciplinas num processo progressivo que, em geral, requer que também 'cresçam' em idade, tal medida seria fundamental para que o professor consiga o trabalho e apoio individualizado de que a maioria desses alunos precisa.
No caso da Matemática, o funcionamento das aulas numa estrutura de trabalho em grupo - metodologia que defendi e pratiquei toda a vida desde o meu segundo ano de ensino e que foi igualmente defendida para essa disciplina por muitos professores, pelo menos da minha geração, - até facilita o trabalho do professor perante turmas com grande número de alunos. Não dispensando apoio individualizado e estratégias diferenciadas, não deixam de predominar as solicitações dos grupos sobre solicitações individuais (seis ou sete grupos é diferente de 25 ou 28 alunos, ou de 14 pares - embora tal estrutura de funcionamento requeira que o professor seja detentor das estratégias adequadas a que se estabeleça um funcionamento responsável nos grupos e uma verdadeira dinâmica de grupo).
Mas, embora eu não seja conhecedora das metodologias e didácticas próprias de cada uma das outras disciplinas, parece-me que têm razão colegas de várias outras disciplinas quando recusam salas de aula dispostas para funcionamento permanente em grupo - a metodologia que sempre preconizei para a Matemática tem fundamentos teóricos e em resultados de investigação (que não têm lugar neste post), o que não quer dizer que seja a adequada a outras disciplinas.
Mas, no título deste escrito, referi "dois factores". Comentado o primeiro - o excessivo número de alunos por turma em grande número de casos -, passo a um testemunho pesoal sobre um segundo factor que diminui (quando não impede mesmo) a eficácia do trabalho do professor. E este testemunho decorre da experiência que tive essencialmente nos meus dois últimos anos de ensino devido a, neles, não ter recebido as turmas no início do ciclo (agora 3º Ciclo, que passei a leccionar exclusivamente após ter ensinado grande parte da minha vida profissional no 2º Ciclo).
No caso da Matemática, o funcionamento das aulas numa estrutura de trabalho em grupo - metodologia que defendi e pratiquei toda a vida desde o meu segundo ano de ensino e que foi igualmente defendida para essa disciplina por muitos professores, pelo menos da minha geração, - até facilita o trabalho do professor perante turmas com grande número de alunos. Não dispensando apoio individualizado e estratégias diferenciadas, não deixam de predominar as solicitações dos grupos sobre solicitações individuais (seis ou sete grupos é diferente de 25 ou 28 alunos, ou de 14 pares - embora tal estrutura de funcionamento requeira que o professor seja detentor das estratégias adequadas a que se estabeleça um funcionamento responsável nos grupos e uma verdadeira dinâmica de grupo).
Mas, embora eu não seja conhecedora das metodologias e didácticas próprias de cada uma das outras disciplinas, parece-me que têm razão colegas de várias outras disciplinas quando recusam salas de aula dispostas para funcionamento permanente em grupo - a metodologia que sempre preconizei para a Matemática tem fundamentos teóricos e em resultados de investigação (que não têm lugar neste post), o que não quer dizer que seja a adequada a outras disciplinas.
Mas, no título deste escrito, referi "dois factores". Comentado o primeiro - o excessivo número de alunos por turma em grande número de casos -, passo a um testemunho pesoal sobre um segundo factor que diminui (quando não impede mesmo) a eficácia do trabalho do professor. E este testemunho decorre da experiência que tive essencialmente nos meus dois últimos anos de ensino devido a, neles, não ter recebido as turmas no início do ciclo (agora 3º Ciclo, que passei a leccionar exclusivamente após ter ensinado grande parte da minha vida profissional no 2º Ciclo).
Sabemos bem como a indisciplina nas aulas foi aumentando e generalizando-se e sabemos também que ela não se verifica apenas em alunos ditos problemáticos ou de famílias sem condições para educarem para uma atitude responsável face às aulas e ao trabalho escolar. E esse fenómeno não pode ser só imputado aos pais, nem só aos professores com dificuldade em actuarem com firmeza - trata-se de um problema que toda a sociedade deveria assumir, até porque não estou a referir-me aos casos de alunos cujos comportamentos os rotulam de alunos problemáticos (bastando um ou dois numa turma para causarem grandes dificuldades e desestabilização), dado que não foram desses casos que tive nas turmas, já de 8º ano, que recebi nos meus últimos dois anos de ensino. Tratou-se, sim, de me deparar com turmas que vinham efectivamente habituadas e estarem nas aulas numa indisciplina que me deixou atónita, habituados a levantarem-se quando lhes apetecia para irem às vezes até litigiar com colegas, a brincar e falarem alto uns para os outros como se estivessem no recreio e não houvesse um professor presente. E isto, eu tenho que dizer, doa a quem doer, exigiu-me quase um mês para perceberem que não funcionariam assim nas minhas aulas e para se ir estabelecendo um ambiente de trabalho disciplinado (quase um mês, porque não entrei por sanções drásticas, os alunos vinham mesmo com esses hábitos permitidos pelo menos nalgumas aulas sem que se pudesse dizer que eram dificilmente educáveis dado que mostraram que eram, sim, educáveis).
Entretanto, não foi propriamente esse quase um mês que interferiu na eficácia do meu trabalho. Os hábitos de alheamento do trabalho ou de desatenção, obviamente não corrigidos e demasiado instalados no meio dessa indisciplina a que pareciam habituados quando os recebi, tinham causado atitudes desistentes em Matemática pois ocasionaram o inevitável insucesso que levou bastantes a transitarem sucessivamente com nível negativo nessa disciplina. Já crescidinhos, já mais preocupados com o seu futuro escolar, não deixaram de ser receptivos ao meu desafio para recuperarem, mas, num ano tão adiantado, o professor, que não faz milagres, não consegue recuperar senão alguns, tanto mais que não basta a receptividade dos alunos na aula, para tal recuperação é necessário que complementem as actividades de recuperação que lhes são proporcionadas nas aulas com trabalho e esforço em casa, o que é muito mais difícil que consigam quando o sentido de esforço e responsabilidade não foi começado a criar na idade devida.
Em suma, mais do que o número elevado de alunos numa turma, é essa indisciplina crescentemente verificada que bastante concorre para a ineficácia dos esforços de professores. E não nos detenhamos apenas na indisciplina associada a 'mau comportamento', pois esse é outro problema de mais difícil solução, mas não é a situação mais geral. Indisciplina é também a falta de preocupação em manterem-se atentos e concentrados no trabalho, mesmo que calados e, portanto, não perturbando os colegas; indisciplina é também a falta de estudo e de cumprimento de trabalhos de casa, mesmo minúsculos; indisciplina é também a ocupação dos tempos fora do horário escolar com os diversos aliciamentos que a sociedade lhes oferece sem responsabilização para destinarem um pouco de tempo ao menos para o estudo.
A finalizar, ressalvo que, se aos casos que testemunhei não é alheia uma permissividade decorrente, talvez, de impreparação de alguns professores para integrarem a autoridade e a exigência numa boa relação que desejam ter com os alunos (autoridade e exigência que, aliás, estes apreciam), será mais geral a permissividade e a não responsabilização para que a sociedade concorre, reflectindo-se em famílias e em professores ou, talvez mais verdadeiramente, dificultando o esforço educativo de famílias e professores que remam contra a maré de um 'clima' bastante geral em que crianças e jovens são aliciados, por exemplo, para jogos como os de computador e playstation viciando-se neles, e em que, também, "teorias" sobre "efeitos traumatizantes" da disciplinação e dos castigos normais (não violentos, claro) e coerentes com o não cumprimento do trabalho escolar mediante privações temporárias de algum dos entretenimentos que estão a impedir esse trabalho. Sempre ouvi alunos com pais apoiantes mas exigentes anunciarem-me que estavam de castigo como quem anuncia que foi tomada uma medida justa e eficaz. Entretanto, as referidas teorias já se ouvem em conversas nos autocarros ou do lado de fora dos portões das escolas.
5 comentários:
Exactamente! Mas é mais fácil "deixar andar"....
Nunca hei-de perceber como há pessoas capazes de "trabalhar" sem verem os resultados positivos do dito. POis é aí, e apenas aí, que está a compensação de uma profissão.
Para alguns é dinheiro, prémio, promoção, para nós é o que sabemos...miúdos felizes e satisfeitos que nunca mais nos esquecem!
A parte do teu texto, sobre o trabalho de grupo, fez-me lembrar uma colega (do teu grupo) que já não vejo há alguns anos e que, também, sempre usou o trabalho de grupo na sala de aula... a Lena Pato.
PS: Sobre o resto não me apetece falar...
Sim, Maria Lisboa, a Lena Pato :)
Gostei muito de ler este texto. Sou mais uma das que tenta remar contra a maré.
Completamente de acordo. Por um lado a questão do T grupo (sou fã e resolve muitos dos problemas do número excessivo de alunos)... por outro... realmente há uma tendência para "um estar" com características que evidenciam falta de treino anterior e permissividade relativamente às mais elementares regras de convivência em ambiente de traballho ou à disciplina do próprio trabalho. Há que resolver primeiro essas questões ou nada se consegue ( e nem sempre é fácil... e nem sempre é possível para todos...). Rememos, pois... sempre.
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