domingo, maio 28, 2006

ECD isolado do contexto/fundo para que não querem olhar

De casa da filha, enquanto as crianças estão entretidas, venho tentar contribuir para o apelo urgente feito no Aragem, de uma forma pouco desejável que é a da pressa, mas destacando o que essencialmente já pensava. E não me detenho no articulado inaceitável ou mais gravoso, pois esse está a ser apontado por outros, pelo menos no Aragem e, julgo, no OutrÒÓlhar - vou para o "antes disso".
1.
O ECD faz parte da história da luta e das conquistas dos professores, e, de repente, uma ministra arrogou-se o direito de, sem um sério estudo e uma credível fundamentação, começar por o torpedear preparando terreno para, num ápice, de facto o revogar. Que deve ser revisto, que, nomeadamente, a questão da formação contínua, da avaliação dos professores e da consequente progressão na carreira deve ser assumida e discutida, é verdade. Mas esta ministra, além de não ter na sua "natureza" o sentido do diálogo, já revelou sobejamente a sua obsessão fanática de perseguição dos professores. Porque, sem os professores e contra eles, é provocar o suicídio do sistem educativo, a minha primeira proposta a quem, eventualmente, tenha influência junto de Sócrates, é que use, nem que seja como táctica, o que penso que foi a táctica de Eduardo Prado Coelho no artigo recente que todos lemos: Sem pôr Sócrates em causa, antes pelo contrário, insinuou a necessidade de demisssão da ministra como estando a prestar àquele um mau serviço, o que o mesmo não teria tempo para observar atentamente.
2.
A população, que não está "por dentro", louva a ministra por ver nela uma determinação em melhorar o sistema de ensino, e isso compreende-se. Mas nós sabemos que, se é necessário resolver o problema dos maus professores, desleixados e desinteresssados de uma formação contínua (que os há, embora eu continue crendo que são uma minoria), sabemos também que, para uma avaliação correcta e isenta do trabalho dos professores, urge primeiro rever/avaliar alguns modelos de formação inicial e repor um sistema de formação contínua (o direito a ela foi uma reivindicação dos professores, ainda se lembram?) que não volte a degradar-se pela formação de "pelouros" nos centros de formação, centros que nunca procederam a levantamentos das necessidades concretas dos professores das escolas que abrangem, e que se foram fechando e privilegiando as ofertas que ao grupinho dos formadores instalados convinha manter e repetir (trabalho já feito, só fazer render considerável remuneração em anos consecutivos) - esta é uma realidade, não sei se geral, mas sei que bastante existente. Por isso, a minha segunda proposta a quem, eventualmente, tenha influência junto de Sócrates, é que lhe aponte a prioridade de avaliar e, corajosamente, escolher um novo ministro e respectivos acessores, não vinculados a interesses, que se debrucem sobre os sistemas de formação (inicial e contínua) e ajam sobre os que, instalados, muito mau serviço têm prestado ao ensino.
3.
Que o eventual novo ECD, estabelecendo uma carreira sobre a hierarquização agora proposta e lançando a competição entre professores, terá consequências muito nefastas na vida e ambiente das escolas, com o negativo reflexo nos alunos, inevitável numa escola desestabilizada, parece evidente. Mas não o é para a cabeça de uma ministra que, além de agir sob preocupações prioritariamente economicistas e coadjuvada por um secretário a quem pessoalmente interessa tudo menos "mexer" nalguns males, opta pelo mais fácil (mas ineficaz), que é pôr ( e pela intimidação e prepotência) para cima dos professores o que a estes compete e mais tudo o que compete à política educativa e social, assim levando ao extremo a desresponsabilização, que já era tendência de outros governos. Assim, a minha terceira proposta a quem, eventualmente, tenha influência junto de Sócrates, é que lhe abra os olhos para as evidentes consequências negativas que referi no início deste ponto 3.
(Terceira e última proposta, por agora, nesta corrida sobre as teclas)

3 comentários:

Teresa Martinho Marques disse...

Isabel, estive aqui! Obrigada! Beijinhos

Anónimo disse...

que inveja sinto da tua situação.... poderes fugir disto tudo!
É regressar atrás no tempo com a agravante da nossa completa desautorização...

Teresa Lobato disse...

É verdade, Isabel, tanto que nós lutámos, e agora sentir tanta gente desmotivada para o problema, à espera que as coisas caiam do céu sem se importarem com o que cai...
Será que nós somos suficientes?