Como disse em nota na entrada anterior, a segunda parte desse meu escrito, um TPC, foi composta (correspondendo ao pedido da professora de levarmos algo de um poeta ou de peça literária) por colagens de excertos da Oração de Sapiência de Boaventura de Sousa Santos, a qual (ampliada) foi publicada em livro.
Já que ambas as entradas são de um só escrito, começo nesta por retomar, a fazer a ligação, as últimas linhas da entrada anterior.
(...) E, soubera-me tão bem encontrar, em português - nosso, original - se não poesia, pelo menos o belo no horizonte projectado pelo olhar do próprio cientista, sociólogo, professor, que outro não procurei.
Não caberá dentro do programa de Psicologia Educacional. Mas só porque, creio, é esta que cabe, como ciência humana, em "Um discurso sobre as ciências".
Boaventura de Sousa Santos desculpar-me-ia, decerto, esta composição de extractos da sua Oração de Sapiência, pois creio não ter, em nada, deturpado o seu pensamento ao retirá-los do restante contexto.
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Tenho comigo uma criança(1) que há precisamente duzentos e trinta e cinco anos fez algumas perguntas simples sobre as ciências e os cientistas. Como ela, estamos de novo perplexos; instalou-se em nós uma sensação de perda irreparável tanto mais estranha quanto não sabemos ao certo o que estamos em vias de perder; admitimos mesmo, noutros momentos, que essa sensação de perda seja apenas a cortina de medo atrás da qual se escondem as novas abundâncias da nossa vida individual e colectiva. Mas mesmo aí volta a perplexidade de não sabermos o que abundará em nós nessa abundância.
Estamos de novo regressados à necessidade de perguntar pelas relações entre a ciência e a virtude, pelo valor do conhecimento dito ordinário ou vulgar que nós, sujeitos individuais ou colectivos, criamos e usamos para dar sentido às nossas práticas e que a ciência teima em considerar irrelevante, ilusório e falso.
De novo, como aquela criança, temos de perguntar pelo papel de todo o conhecimento científico acumulado no enriquecimento ou no empobrecimento prático das nossas vidas, ou seja, pelo contributo positivo ou negativo da ciência para a nossa felicidade. Duvidamos suficientemente do passado para imaginarmos o futuro, mas vivemos demasiadamente o presente para podermos realizar nele o futuro. Afinal, se todo o conhecimento é autoconhecimento, também todo o desconhecimento é autodesconhecimento.
Vivemos num tempo atónito que ao debruçar-se sobre si próprio descobre que os seus pés são um cruzamento de sombras, sombras que vêm do passado que ora pensamos já não sermos, ora pensamos não termos ainda deixado de ser, sombras que vêm do futuro que ora pensamos já sermos, ora pensamos nunca virmos a ser.
Tal como noutros períodos de transição, difíceis de entender e de percorrer, é necessário voltar às coisas simples, à capacidade de formular perguntas simples, perguntas que, como Einstein costumava dizer, só uma criança pode fazer mas que, depois de feitas, são capazes de trazer uma luz nova à nossa perplexidade.
Tenho comigo uma criança...
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(Colagem de extractos de:
Boaventura de Sousa Santos, 1985,(2))
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(1) Referência a Rousseau.
(2) Boaventura de Sousa Santos (1987). Um discurso sobre as ciências (6ª ed.). Coimbra: Ed. Afrontamento. pp. 6, 7, 8, 9, 58, 5, 6.
Nota: São adicionais ao texto do autor as palavras em letra reduzida: & 1,l & 3, l .
(...) E, soubera-me tão bem encontrar, em português - nosso, original - se não poesia, pelo menos o belo no horizonte projectado pelo olhar do próprio cientista, sociólogo, professor, que outro não procurei.
Não caberá dentro do programa de Psicologia Educacional. Mas só porque, creio, é esta que cabe, como ciência humana, em "Um discurso sobre as ciências".
Boaventura de Sousa Santos desculpar-me-ia, decerto, esta composição de extractos da sua Oração de Sapiência, pois creio não ter, em nada, deturpado o seu pensamento ao retirá-los do restante contexto.
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Tenho comigo uma criança(1) que há precisamente duzentos e trinta e cinco anos fez algumas perguntas simples sobre as ciências e os cientistas. Como ela, estamos de novo perplexos; instalou-se em nós uma sensação de perda irreparável tanto mais estranha quanto não sabemos ao certo o que estamos em vias de perder; admitimos mesmo, noutros momentos, que essa sensação de perda seja apenas a cortina de medo atrás da qual se escondem as novas abundâncias da nossa vida individual e colectiva. Mas mesmo aí volta a perplexidade de não sabermos o que abundará em nós nessa abundância.
Estamos de novo regressados à necessidade de perguntar pelas relações entre a ciência e a virtude, pelo valor do conhecimento dito ordinário ou vulgar que nós, sujeitos individuais ou colectivos, criamos e usamos para dar sentido às nossas práticas e que a ciência teima em considerar irrelevante, ilusório e falso.
De novo, como aquela criança, temos de perguntar pelo papel de todo o conhecimento científico acumulado no enriquecimento ou no empobrecimento prático das nossas vidas, ou seja, pelo contributo positivo ou negativo da ciência para a nossa felicidade. Duvidamos suficientemente do passado para imaginarmos o futuro, mas vivemos demasiadamente o presente para podermos realizar nele o futuro. Afinal, se todo o conhecimento é autoconhecimento, também todo o desconhecimento é autodesconhecimento.
Vivemos num tempo atónito que ao debruçar-se sobre si próprio descobre que os seus pés são um cruzamento de sombras, sombras que vêm do passado que ora pensamos já não sermos, ora pensamos não termos ainda deixado de ser, sombras que vêm do futuro que ora pensamos já sermos, ora pensamos nunca virmos a ser.
Tal como noutros períodos de transição, difíceis de entender e de percorrer, é necessário voltar às coisas simples, à capacidade de formular perguntas simples, perguntas que, como Einstein costumava dizer, só uma criança pode fazer mas que, depois de feitas, são capazes de trazer uma luz nova à nossa perplexidade.
Tenho comigo uma criança...
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(Colagem de extractos de:
Boaventura de Sousa Santos, 1985,(2))
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(1) Referência a Rousseau.
(2) Boaventura de Sousa Santos (1987). Um discurso sobre as ciências (6ª ed.). Coimbra: Ed. Afrontamento. pp. 6, 7, 8, 9, 58, 5, 6.
Nota: São adicionais ao texto do autor as palavras em letra reduzida: & 1,l & 3, l .
1 comentário:
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Esse Boaventura SANTOS só precisava de dizer isto:
"Vamos acabar com a Língua Portuguesa para salvar Portugal"!!
E ele sendo Sociólogo sabe isso muitíssimo melhor que eu. Mas não deve saber LER/ESCREVER Inglês!!
Ora confirma.
“Os ESPANHÓIS evoluem. Os PORTUGUESES regridem!! E deixem de culpar os Políticos e as Políticas!”.
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Coitados dos Portugueses e Coitados dos Brasileiros! Coitados dos Angolanos e dos Moçambicanos! (os 4 Povos mais CORRUPTOS da/o Europa/Mundo).
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Coitados também dos Monarcas!
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E tudo por CAUSA da Língua Portuguesa e do CLERO de tempos idos da Igreja Católica.
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MONARQUIA: "Rei-Nú", Eu i-rei, eu se-rei, eu ganha-rei, eu- cantarei (mas nunca realizo esse futuro), "Dó-Na" Maria II, “Dó-Na” Isabel I, “Dó-na” Filipa de Lencastre, etc, etc, etc.
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MULHERES: “Dó-Na” Dores, “Dó-Na” Sara, “Dó-Na” Ofélia, “Dó-Na” Ma.ria, “Dó-Na Viole.ta”……. O meu “Namora-Dó”. O meu “Amá-Dó”. Ele/a (filho/a) “Dor-Mia”. Tanta tanta PENA delas.
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POLÍTICOS: "Demo-Cracia" (poder do Demónio), "Dê-Puta-Dó", "Parti-Dó" (de "Quebra-Dó", de inútil), "Poli-Tico" (Tico & Teco. Dois Esquilos). “Sida-Dão”,
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DOENTES: "Pensa-Dôr" (Gabriel o Pensa-Dôr que tinha dôr de cotovelo das Loiras), Desperta-Dôr, Trabalha-Dôr, Computa-Dôr, Desenha-Dôr, Mora-Dôr....... milhares.
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ANIVERSÁRIO: Quantos ANÚS tens?!
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OUTROS EXEMPLOS EM: "As PALAVRAS ÚTEIS Portuguesas estão, PRACTICA-MENTE, todas XUNGADAS!", http://eunaodesisto.blogs.sapo.pt/2505.html
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ÚLTIMA HORA: Os Europeus não caíram na “Ladainha do Coitadinho”. Estão a ajudar Portugal a ACABAR COM A LÍNGUA Portuguesa.
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Ver: “Parlamento Europeu aprova INDICADOR DE COMPETÊNCIAS LINGUÍSTICAS que exclui língua portuguesa”, in http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1255406
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e Ver: “Língua Portuguesa EXCLUÍDA”, http://jn.sapo.pt/2006/04/28/primeiro_plano/lingua_portuguesa_excluida.html
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PS: Os ESPANHÓIS evoluem. Os PORTUGUESES regridem!!
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DOM Juan Carlos. DOM Quixote de La Mancha. Etc, etc, etc.
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“Dó-Na” Dores, “Dó-Na” Sara, “Dó-Na” Ma.ria. Etc, etc, etc. AXIOMA: “Um País vale o que valem as suas Mulheres”.
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“A_Deus”.
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mauricio_102@sapo.pt
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