domingo, maio 28, 2006

Adenda ao "Intercalando"

Porque este fim de semana era dedicado à minha Inês, isto é mesmo só um intercalar rápido, até porque o projecto de alteração do ECD requer uma luta que já não será minha - daqui a poucas semanas terei deixado definitivamente a escola. Nem fui lê-lo ao site da Fenprof, passei no blog do Miguel Pinto, usei o link e não fui a mais nenhum, embora calcule que seja o assunto deste dia e próximos na blogosfera "docente".


Quero apenas antecipar duas notas, que são a minha opinião pessoal.
1ª nota:
Penso que os professores perderam oportunidades, no decorrer do ano lectivo, de reagirem. Deixemos as formas de luta tradicionais, a verdade é que não houve sequer tomadas de posição das escolas, fundamentadas pedagogicamente, face à desfuncionalização e à burocratização imensa do trabalho docente. Certo que presidentes de CEs bateram palmas à ministra, mas não creio que tal seja a posição da maioria. E, se um presidente sózinho não cumpre uma medida, pode ter um processo disciplinar, mas se muitos presidentes se organizassem para não a cumprirem colectivamente, com suporte dos sindicatos, não teria sido difícil travar a srª ministra (Sabe-se que, em Julho passado, nas primeiras reuniões com os presidentes dos CEs, ficou admirada com tão fácil aceitação daquelas primeiras medidas). Muitas medidas desviaram as escolas do fundamental, que é a formação e a instrução dos jovens, e o papel tradicional dos sindicatos é a defesa dos professores, não propriamente da pedagogia. Lembro-me de firmes posições enviadas pelo CP da minha escola em tempos idos (e não era só o da minha escola que o fazia) em nome de todos os docentes que o mesmo representava, sem que para tal fossem precisas sugestões dos sindicatos.
2ª nota:
Agora trata-se do ECD, já tropedeado por esta equipa do ME, mas, desta vez, como projecto de um novo ECD. Agora sentirão os sindicatos que desencadear lutas é seu papel. Espero que não caiam na armadilha que muito conviria a toda a estratégia usada pela ministra (que foi a de colocar os professores como os principais responsáveis da degradação e inadequação do sistema educativo e ter todo o mundo a bater-lhe palmas) com greves a exames ou avaliações, neste momento contrárias ao que já foram: a maior arma dos professores. Receio que a passividade e até o estranho medo da generalidade dos professores ao longo deste ano façam com que apenas reste esperar que pais, pedagogos com a cabeça no lugar e, sobretudo, políticos (de qualquer cor) com lucidez para conhecerem as verdareiras e profundas causas da ineficácia e degradação do nosso sistema de ensino comecem a tomar consciência NÃO SÓ de que foram cometidos erros que, ao desestabilizarem as escolas e ao bloquearem o trabalho educativo mediante uma imensidão de tarefas burocráticas, já por si prejudicam a preparação dos nossos jovens, e que tal será agravado pelas consequências da imposição de um ECD tal como o que foi apresentado, nomeadamente (mas não apenas) a criação de climas de escola gerados por divisões e competições, MAS TAMBÉM E SOBRETUDO que tomem consciência de que intenções de melhoria do sistema pela guerra contra os professores, ao invés de os ouvir e ganhar como aliados, arrisca ser o próprio suicídio desse sistema. Em suma, receio que, perdido este ano lectivo, reste esperar esse "acordar" mais geral que tire o tapete à ministra, a isole e a despeça.

6 comentários:

Teresa Martinho Marques disse...

Isabel, fiz um desafio no Aragem. Sei que será uma guerra mais nossa, mas ainda é um bocadinho tua... só se tiveres oportunidade, e calculo que seja difícil. Mas se souberes de contributos de colegas nesse sentido, encaminha-os para mim... (tens de ir ao aragem para esclarecer um pouquinho o mistério)
Bj solidário (passei ontem umas horas a ler aquele chorrilho de disparates)

Rui Diniz Monteiro disse...

"Penso que os professores perderam oportunidades, no decorrer do ano lectivo, de reagirem."

Também concordo. E não falo, como tu também não falas, só das greves que, aliás na minha escola, tiveram uma expressão reduzidíssima.

Somos submissos. Mesmo dentro das escolas em relação aos diversos poderes que abusam.

O que ninguém percebe (e muito menos no governo) é que, com a submissão dos professores, toda a gente perde. Infelizmente, também e principalmente os alunos.

Bom fim de semana.

Anónimo disse...

As formas de luta tradicionais seriam fatais neste momento. Não que esteja excessivamente preocupado com isso, mas só iriam acentuar a menorização dos professores. A estratégia seria afogar o governo com mais propostas, melhores propostas, propostas mais ousadas, detectar contradições, incoerências. Debater as propostas nas escolas, ouvir professores, alunos, pais. O governo avança propostas que fará cair, para sondar a posição do país. Avancemos propostas em excesso para sondar a disposição do país. Avancemos com uma reflexão sobre o currículo que existe (se serve), avancemos com uma avaliação dos alunos que temos (servem?), avancemos com a tolerância zero à fraude escolar, façamos mais barulho do que o concerto mediático que se avizinha. Menos metermo-nos cordeiros na boca do lobo.

Anónimo disse...

Estimada Isabel

Concordo inteiramente consigo. Infelizmente a escola que conheço está repleta de "gente" sem vontade e sem autonomia suficiente para mostrar o quanto, essa senhora que se diz ministra da educação, está enganada. Infelizmente estamos a sentir uma grande intimidação do cons. executivo que se está a tornar um tirano!O trabalho depois das 22h lectivas é tanto, aulas de substituição que não são aulas, apoios pedagógicos acrescidos com alunos com dificuldades que recebem mais alunos em recuperação que não levam qualquer material para a aula e que só lá vão provocar desacatos, enfim... aquilo é um inferno!

soledade disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
soledade disse...

Julgo que até os sindicatos perceberam enfim que o sindicalismo, pelo menos como o conhecemos, está morto, por culpa dos próprios sindicatos que se tornaram corporações; por culpa nossa, que fomos omissos e submissos; e porque o mundo mudou de tal forma que as velhas formas de luta não funcionam. Mas as escolas estão cheias de professores intimidados, sem coragem, sem iniciativa, sem autonomia. Não sei como poderemos enfrentar com eficácia a autocracia desta mulher e o circo mediático. Como havemos de denunciar a verdade das coisas. Mas temos de tentar. Que mais nos resta? Deixar cair o sistema para demonstrar de uma vez por todas que o rei vai nu? É um preço excessivo. Mas que apetecia...