terça-feira, maio 23, 2006

Caça às bruxas ou paranóia?

Hoje, reunião de departamento. Apenas uma colega do grupo fora aplicadora de provas de aferição do 6ºano. Para surpresa de todos os restantes elementos do grupo (Matemática do 2º e 3º ciclos), a colega contou da sua estranheza por, além de (julgo que pela primeira vez) as provas terem o nome dos respectivos alunos, haver um espaço para indicar o nome do professor que leccionara a disciplina neste ano. Não cabendo aos aplicadores esse preenchimento, a minha colega ainda tinha a dúvida se "nome do professor" não significaria apenas nome do aplicador.
De imediato se foi esclarecer o caso junto do Conselho Executivo - era mesmo do professor da disciplina o nome que acompanharia as provas de cada turma.
A pergunta de todo o departamento 'O que andam os professores a fazer, calados, perante processos que já são pidescos?' ficou na acta e direccionada para o Conselho Pedagógico como alerta, pois terão sido raros os docentes, na minha escola, que se aperceberam do caso.

Não temos medo de avaliação individual, não recusamos (pelo contrário) uma avaliação de desempenho efectivamente correcta, mas que seja baseada em critérios e meios fidedignos (e, já agora, também queremos uma avaliação de todo o sistema, incluindo a avaliação das instituições e modelos de formação de professores, da adequação dos currículos e da eficácia das medidas até aqui tomadas.

Para o acaso de alguém estranhar a nossa indignação, permito-me transcrever, como pequeno exemplo, extractos dos comentários deixados pela Teresa na minha recente entrada "Testes, testes e mais testes" :
"Ai, digo eu, depois de falar com a minha DT sobre o que fizeram na prova de aferição. E sinto o mesmo que tu. Erros imperdoáveis de alunos que nunca os dão nas aulas... faltas de atenção de concentração nas coisas mais simples... (...). Mas estou progressivamente a desligar. Sei o que eles sabem e têm feito com entusiasmo. Eu sei que as crianças falharam em coisas por razões que não saberei nunca (As tais causas que podem ser mil) (...) houve professores que marcaram TPCs enormes e testes para a semana das provas... tive alunas a chorar sem saber para onde se virar - têm 11 anos !!!! "
"Já não estou... (refere-se a preocupada) Eles têm trabalhado tanto...Cresceram tanto este ano em tantas competências importantes..."

8 comentários:

Miguel Pinto disse...

hummm... estou a ver: maus resultados dos alunos = maus professores. Ora essa... estou varado. Com o andar da carruagem ainda iremos cair num grupo de alcoólicos anónimos... ou melhor… de alcoólicos assumidos! [influência da recente entrada do MSousa no aragem] ;)) Isto está mesmo é para depressões, caros colegas.
Agora mais sério. Uma avaliação séria do trabalho docente não prescindirá de uma observação directa e situada. Não será com estratagemas deste tipo, de clareza dúbia, que se conquista a confiança dos professores!

«« disse...

olha Isabel, a gente não gosta dele, mas quem faz bem fioi o albertinho das festas que mandou essa porcaria da aferição para as urtigas.

PS (salve seja) essas letrinhas matam-me

soledade disse...

Se o objectivo é regular e melhorar o processo de ensino/aprendizagem, as regras e critérios definem-se a priori, e envolvem-se, desde o início, os actores do processo; se o objectivo é encontrar bodes expiatórios, recorre-se a estratagemas "de clareza dúbia". Parece-me óbvio que ao longo deste ano, sobretudo através da manipulação nos media, se preparou o caminho para assacar toda a responsabilidade aos professores. Porque o min-edu sabe que os resultados não serão bons; sabe que não introduziu alterações de fundo; sabe que tomou medidas apenas cosméticas e/ou economicistas. Caça às bruxas, sem dúvida, IC.

Teresa Martinho Marques disse...

Apercebi-me disso só no dia... tudo sempre nas costas... embora fosse óbvio que, traçadas as crianças, ficava imediatamnete traçado o professor... Se ao menos alguém discutisse alguma coisa com os professores... tenho a sensação de que se anda a armar caldinho nas nossas costas...

matilde disse...

Deixem-me só fazer um reparo. A minha escola é Unidade Escolar do Oeste, ou seja, recebemos lá todas as provas do Oeste para tratar - provas, classificadores, formação, exportação de resultados para o GAVE... enfim... um trabalhinho extra... :(
A questão é que não entendo para que é que se pediu que se colocasse o nome dos professores que leccionam as turmas, uma vez que essa informação, salvo indicação em contrário, não será enviada para o GAVE, mas sim apenas os resultados das provas. Os nomes dos professores ficam pois "encerrados" nos envelopes originais que não chegam à posse do Ministério, mantendo-se nas Unidades Escolares. (Pelo menos é a informação actual que temos).

IC disse...

Bem... Tit, acho que ninguém pensa que o ME se vai ocupar directamente dos nomes, mas achas que os envelopes nos cofres ficam lá para nenhuma coisa? As provas de exame do 9º do ano passado também regressaram aos cofres das escolas, mas uns meses depois mandaram abri-los (nesse caso, para uma análise útil, mas essa análise não tinha a ver com os nomes dos alunos, nem era feita por turma)
Fizeste bem deixar a informação, mas o que não deixa de ser verdade é que as identificações nas provas de aferição eram proibidas. Ser-me-ia indiferente que aparecessem nas minhas aulas de surpresa todas as vezes que quisessem (dou-as sempre de porta aberta até para não se sufocar lá dentro, de tão pequena que é), aliás não vejo que se possa avaliar professores sem ser observando directamente o seu trabalho, como se faz nos estágios(e entendo que a avaliação deverá ser formativa), mas não venham avaliar pelas tolices e faltas de atenção de putos de 11 anos em exames, ou pelo que faz uma turma assim assim face a uma boa turma, etc. Sinceramente, duvido que o pedido de nomes, antes proibido, seja para os nomes ficarem fechados num cofre, além de que o pedido em si é incorrecto.
Beijinhos e bom resto de semana, para ti e todos que comentaram :)

Rui Diniz Monteiro disse...

Olá, Isabel.
Ando tão desanimado, tão deseperançado com a minha profissão que me tenho procurado remeter ao silêncio. Não é desatenção nem indiferença, é não espalhar pelos outros a minha amargura.
Mas sobre isto preciso de dizer qualquer coisa.
Como sabes, é raro eu dizer mal de colegas, só por uma razão: é que eles são uma minoria e, se falarmos deles, passam a ser uma "maioria" (esta verdade já foi descoberta pelos advogados, pelos médicos, pelos engenheiros, etc, etc, excepto pelos professores).
Por isso, sou muito reticente que os professores sejam objecto de ainda mais avaliações do que aquelas a que já estão sujeitos (a única coisa em défice é não haver castigos para os maus professores, mas isso também acontece nas outras profissões enquanto os problemas não chegam aos tribunais... e mesmo aí!).
Este pormenor dos nomes dos professores nas provas faz-me lembrar aquele ditado:
"Cuidado com o que pedes, pois poderá ser-to concedido!"
Na minha opinião, temos aqui uma primeira resposta aos pedidos insistentes de tantos professores para serem objecto de uma avaliação mais cerrada.

Olha, Isabel, agora que escrevi aqui tanto vou copiar este texto (com mais uns arranjos) para os indocentes a fim de ver se há debate (aqui, como cheguei atrasado, provavelmente só tu vais ler o que escrevi).

Beijinho, com amizade.

matilde disse...

A informação actual que temos (e que, admito, pode ainda vir a ser alterada) é que após o processo de recolha das classificações podemos destruir os envelopes originais... não os enviamos para qualquer lado... E daí a minha estranheza em terem sido pedidos às escolas que aplicaram as provas os referidos nomes dos profs das turmas... Olha... "num sei"... se souber de mais alguma coisa comunico ;)
Beijinhos