quinta-feira, maio 18, 2006

Testes, testes e mais testes

Estava a conter-me de escrever sobre o assunto, mas uma passagem no Inquietações Pedagógicas só para ver o que lá havia de novo antes de ir, de imediato, para a caminha acabar um interessante livro fez-me clicar para o meu "posting", motivada pelo artigo que me apareceu mesmo a propósito. Permita-se-me que ponha só mais abaixo o link para ele, já agora desabafo primeiro.

Tive o cuidado de deixar marcado nas respectivas folhas dos livros de ponto um (UM) teste de Matemática para os meus nonos anos, antes de entrar em férias da Páscoa. Mas, pelos vistos, devia ter tido esse cuidado logo em Setembro, pois foi uma complicação! Não têm prova global porque têm exame, mas é importante (para eles, muito mais do que para mim) terem um teste global antes de passarem por um exame que até abrange o programa de todo o 3º Ciclo.
Tenho uma das turmas desde o 8º, a outra desde o 7º, bolas (!), um professor não sabe já bem o que cada aluno sabe e o que não sabe, as competências que já desenvolveu ou não? O curto 3º Período (encurtado para os nonos) era-me muito mais preciso e precioso para (além de cumprir o programa, que é preciso acabar todo, todinho, não é? - não vá sair nesse tal exame logo um temazinho deixado para o fim porque eu o acho pouco relevante, mas quem elabora o exame pode não achar), repito, era-me muito mais precioso este tempo de recta final para umas "coisas" que a minha cabeça pensa serem mais importantes, a saber: Apelar a um esforço de mais trabalho e concentração na aula e aproveitar a receptividade ao apelo devida ao momento de proximidade de uma avaliação final ; insistir em mostrar-lhes, em cima da resolução de mais problemas, as causas de não os resolverem, tantas vezes residentes apenas nesse flagelo que é o lerem enunciados a correr e depois procurarem na memória algo que pareça servir ao problema, em vez de lerem atentamente e soltarem o raciocínio que até têm - e esse tempo de resolver problemas sempre a provar-lhes isso até já, finalmente, os fez parecerem outros; dizer àqueles a quem dei negativa no 2º Período que ainda estavam a tempo, que teriam oportunidades de recuperar, de colmatar lacunas significativas, e, sobretudo, provar isso com uma medida que é sempre muito encorajadora para eles - essas aulas a que chamamos (eu e eles) de recuperação, nas quais faço mais ginástica do que no ginásio, porque as dificuldades de cada um são de cada um e o apoio tem que ser individualizado - mas valendo, como ajuda, que os putos são solidários, pois, nessas aulas, os outros a quem entrego por exemplo uma ficha de problemas, procuram mesmo apresentá-la terminada no fim da aula, "desembrulhando-se" sem me chamarem e ajudando-se uns aos outros, pois sabem que se os vir parados tenho que tirar tempo aos colegas que estão "em recuperação".


Mas, porque estarei eu a escrever estas linhas todas, alguém me impede de aproveitar o tempo assim? - perguntará quem eventualmente me leia. Impede(m), sim. Ainda hoje me zanguei com a minha melhor turma, na realidade, verdade se reconheça, excessiva e algo injustamente, por estarem muitos deles desatentos na própria véspera do meu teste. Eles estão desconcentrados, cansados, a pensarem nos testes que terão a seguir, que requerem mais estudo com memorização do que a Matemática e que, para alguns, são decisivos (o decisivo é UM teste?), eles há mais de uma semana que quase não há dia em que não tenham um teste, o que seria normal se não fosse esta a semana que precede imediatamente aquela em que começam as provas globais. Começam 3ª feira, até na 2ª têm um teste (só por acaso não são dois testes em dias seguidos nessa disciplina porque não calhou a primeira prova global ser a da dita. E EU NÃO ENTENDO! (E não me contive, disse-o há dias nas turmas em voz alta - os miúdos lamentam-se e, quando têm razão, seria feio dizer-lhes, ou dizer-lhes somente, qualquer coisa no género Se estudassem regularmente, não andavam agora tão aflitos)

Testes antes das provas globais, eu entendo, claro, mas com um tempinho de intervalo, até porque o teste só é a última prova de que não aprenderam quando já não há tempo para esse importante momento que é o da aprendizagem na correcção individual dos testes, aproveitando os erros para os compreenderem, aproveitando o professor para mais um 'forcing' para que compreendam ou corrijam noções mal assimiladas. Agora, dois testes seguidinhos, multiplicados por n disciplinas, preenchendo considerável percentagem do tempo de um curto 3º Período... e os professores de Matemática e de Português que apanhem depois com o alarido das taxas de insucesso nos exames - sim, esses professores que tiveram as turmas, com tantos alunos difíceis e fraquitos, preocupadas com TESTE, TESTE durante semanas em que ainda era o tempo de ensinar um bocadinho mais e, para alguns, dado ser a altura em que se sentem mais responsabilizados, de aprenderem talvez dois ou três bocadinhos mais. Eu consegui um "buraquinho", ou seja, um dia sem terem outro teste, para o meu, mas não estou nada preocupada por ter feito só UM (enquanto colegas fazem dois e mais prova global), estou é aborrecida comigo por - em vez de ter perguntado a mais professores do que àqueles dois a quem cheguei a perguntar, afobados com matrizes, testes e provas globais, se pensavam que os professores de Matemática e de Português não precisavam de fazer teste nenhum e se achavam que nada tinham a ver com estas duas disciplinas - ir ainda zangar-me com a minha melhor turma, como hoje, cheinha de testes desde a semana passada, nervosos, alguns com essa coisa bloqueadora que é o medo ou ansiedade perante uma situação 'diferente' porque para a semana terão outros com um nome diferente, que até não faria grande diferença se não fosse envolvido por um ambiente também diferente, todo formal, onde nem haverá a presença do seu professor (não ajudaria a resolver a prova, mas um sorriso tranquilizador ao passar e olhar ou uma simples expressão no olhar, daquelas que eles entendem como 'Pensa mais um bocadinho', até ajuda sem qualquer fraude).
Às vezes dizemos: têm 15 anos, já não podem ser tão pouco responsáveis. Mas era bom que, nessa história dos exames nacionais que virá a seguir, se pensasse um pouco: ainda têm 15 anos, alguns 14, e, ainda por cima... isso bonito, mas difícil, que se chama adolescência.

O artigo que me deu algum apoio, fazendo-me desatar a escrever o desabafo, em vez de ir para a cama, artigo de João Filipe Matos - até o conheço, foi meu professor de metodologias de investigação qualitativa, "pegámo-nos" numa das primeiras aulas, mas depois demo-nos muito bem, coisa que também acontece comigo e alguns alunos indisciplinados ;) - está
aqui

7 comentários:

emn disse...

Na escola da minha mais velha (9º ano) só terão testes a Mat e Ptg. Parece-me ajuizado... As globais valem 25% e por isso a maioria dos professores optou por não fazer nenhum teste este período... 2 fizeram-no na tentativa de recuperação dos em risco..
Quanto ao artigo... Penso que os exames são necessários para uniformizar as aprendizagens... não me parece que sejam eles a excluir... a exclusão começa muito mais cedo...
Creio mesmo que à minha filha está a fazer bem este «banho» de globais (já começaram na sexta da semana passada...) e ela própria (que é uma aluna média) está (estranhamente) a gostar... (as matrizes são objectvas e claras e isso facilita-lhe o estudo)
E estão tb a preparaá-la para um outro ritmo que deverá adquirir para o secundário... e para a vida (deste mundo em que vivemos: somos testados a todo o momento, infelizmente...)
Já devia ter tido globais e exames mais cedo... :)

IC disse...

EMN, vim desligar o pc pq é tarde e vi no mail o teu comentário, não resisti a responder já porque foi uma boa surpresa, pois há bastante tempo não escrevias no teu blogue, fui logo lá ver se tinhas reaparecido :).(Eu sou animal nocturno :) e amanhã é meu dia livre)
Quanto às provas globais, há anos que as fazemos e eu não estou nada contra elas, pelo contrário, tanto que o meu teste de Mat, sem essa formalidade, tb foi global. No ano passado já tivemos os exames e não aconteceu nada do excesso de tempo em testes seguidos (testes e globais) que descrevi, este ano é que está a situação que referi e receio bem que a isso não seja alheia a intimidação da ministra, muitos professores sentem necessidade de justificar aos pais, com vários testes, tudo o que possa levá-los a ter que dar negativas pois estão com o papão das justificações todas que a ministra quer para reprovações. Infelizmente, isto está a acontecer - mas a minha escola é 2,3, a tua será 3+s ou s, deve ser diferente.
Quanto aos exames nacionais, a minha opinião é que interessam ao ME, até agora não consigo estar de acordo para esta idade do nono, mas talvez este ano já testem/avaliem de facto alguma coisa, no ano passado não tenho dúvidas de que os alunos quase todos fizeram o exame sem se esforçarem nadinha, tivemos muitos testemunhos disso deles próprios, não interferia em nada, não baixava nível senão para raros. Para exemplo: Eu tinha um aluno super responsável e trabalhador (era principalmente trabalhador, a cabecinha ainda precisava de rodar),dera-lhe 4 e teve 2 na prova, encontrei-o e estava envergonhadíssimo porque "tinha ido na onda" de o exame não alterar nada (encontrei-o depois dos resultados, estava envergonhadíssimo porque "até era fácil, só depois é que vi que era, confesso que não me esforcei e agora o país todo fala de nós" ; voltei a encontrá-lo depois do 1º Período e tinha tido 16 em Mat no 10º.
Fui correctora, de facto era aflitivo, itens em branco, respostas que de facto não são de aceitar em nonos anos, mas também podes crer que a grande dificuldade deles é por lerem os enunciados a correr e não os interpretarem. Estou a escrever demais, mas é porque eu este ano tenho-os feito explicarem-me o que se passa quando nem reparam num dado ou em pedidos, pois passei para lá de explicações simplistas que damos, eles em testes não estão desatentos no sentido de atitude irresponsável, e acho que há outras coisas que precisam de ser estudadas sobre o défice de competências para resolver problemas. Para terminar, falaste na matriz da prova global, aí tens um exemplo, fala-se lá em sistemas de equações e todos resolvem um problema que saia que se resolva por um sistema porque a matriz não os deixa esquecer que podem resolver assim, mas no exame um problema desses foi o que mais apareceu em branco ou iniciado por tentativas, acho que só vi uma prova com o recurso ao sistema - eles não transferem, não vão buscar o processo que estão fartos de usar no contexto de aula.
Desculpa (se vieres aqui ler), nem és de mat, mas não é preciso para veres que quero chamar a atenção de quem me leia para que a situação de exame tem muitos factores a interferir nos maus resultados, há que 1º perceber quais são alguns e ultrapassá-los antes de acusar professores e alunos e, principalmente, antes de decidir submetê-los já a exame. Eu este ano criei o "espaço problema" para resolverem problemas que nada têm a ver com a matéria que está a ser dada no momento, exactamente para ultrapassarem isso de não transferirem conhecimentos para outras situações, questão que, aliás, há muito é conhecida na investigação na área.
Ai, desculpa, EMN, que disparate de excesso de linhas, mas, se me leres, como não és de mat, até tou a ter oportunidade de estender a minha "campanha" lol

Teresa Martinho Marques disse...

Ai, digo eu, depois de falar com a minha DT sobre o que fizeram na prova de aferição. E sinto o mesmo que tu. Erros imperdoáveis de alunos que nunca os dão nas aulas... faltas de atenção de concentração nas coisas mais simples... (Ainda não falei com a outra turma). Mas estou progressivamnete a desligar. Sei o que eles sabem e têm feito com entusiasmo. Eu sei que as crianças falharam em coisas por razões que não saberei nunca (As tais causas que podem ser mil), mas a interpretação que pode ser feita disso é que incomoda... A aluna de 5 deverá ter uma prova excelente (o único 5 que dou nessa turma)... os outros terei de esperar, pois é impossível agora, no estado de agitação em que andam (houve professores que marcaram TPCs enormes e testes para a semana das provas... tive alunas a chorar sem saber para onde se virar - têm 11 anos !!!! - pois tb tinham ensaios do clube de música e espectáculo no sábado anterior... Sou a favor do trabalho e da responsabilização mas, por favor, é demais! PAssam o dia na escola, com horários tremendos... eu em miúda tinha tanto tempo para brincar e estudar, eles agora nada... Uma aluna tem ballet, cavalos, curso de teatro, clube de jornalismo e não quer prescindir de nada... escreve lindamnete... a prova de aferição foi a verdadeira desgraça. Incapaz de se concentrar, deve ter errado a maioria das coisas...
Páro aqui...o tempo não dá para mais. Só me ocorre perguntar: o que andamos a fazer às nossas crianças?

IC disse...

E a tua pergunta "o que andamos a fazer às nossas criança" faz-me ocorrer mais pensamentos sobre exames nesta idade, alongo-me porque talvez venha a utilizar esta caixa de comentários para, mais próximo dos exames, compor uma entrada.
Um adulto diz, da prova de Mat do ano passado, "tão fácil, em que estado estão os putos para estes resultados?" Mas é tb nessa "facilidade", que, em parte, é verdade, que reside o insucesso, porque em muitos itens eles nem tinham que aplicar procedimentos e cálculos que, no entanto, aprenderam esforçadamente, em que um "leigo" não se apercebe que envolveram para eles compreensão de vários conhecimentos e conceitos ao mesmo tempo; no exame, nalguns itens eles tinham é que olhar bem, pensar simplesmente, não iriam talvez à espera de que fosse tâo "simples" assim, e os resultados "revelam"... inteligência, falta dela... isso é revoltante.
Foi o que me ocorreu hoje perante a tua pergunta, resultados para diferenciar QIs??? Para que ainda conotem mais a Matemática com essa frase "para a Matemática não dou"??? E ando eu há tantos anos a batalhar com eles que não lhes falta a capacidade, têm é que aprender a usá-la, perceber porque por vezes não a estão a usar!!!!!
Aliás, só o prof de Mat pela experiência percebe o que é fácil e o que é difícil para putos de 12-13 (estou a pensar na iniciação, no 8º, verdadeiramente nas expressões algébricas, nisso de letras, variáveis que concretizamos mas para que, para eles, exige abstração que ainda está em desenvolvimento nessa idade, nem o futuro prof geralmente já percebe o que é inevitavelmente difícil para os putos, quando faz o estágio. Mas, quando badalam "defice" de competências, não estarão a badalar camufladamente deficit no QI???!!!!! E isso é FALSO em geral, que haja cuidado em pensar como avaliar, como fazer provas de exame, ou sim ou não fazê-las aos 14 anos. Cuidado tb em pensar nos tantos alunos de quem o nível 3 não é o mesmo de outros a quem não damos 4, mas que farão bem a prova, naqueles que têm o 3 equivalente a um 10 na escala do secundário, não a um 13, o exame tb tem que ser adequado a estes!

IC disse...

P.S. Teresa. quanto à tua DT e a prova de aferição, acho que fazes muito bem em "desligar". Quando, há uns anos, tive um 6º com essas provas, não liguei nem depois nem antes (só preguei um "sermão" quando os colegas vigilantes contaram que as turmas as fizeram com excessiva descontração), e não liguei porque, se, sem dúvida, é indispensável e urgente uma correcta avaliação do sistema, não quer dizer que as crianças tenham que ser cobaias e ainda por cima chorem, como contas,quando o q o ME quer é "avaliar" os seus professores e não a eles.

Miguel Pinto disse...

Há coisas que me parecem tão óbvias que, ou muito me engano, ou sou um alienado [o que é muito provável atendendo à forma como defendo a escola personalista] e ando lerdo de todo [devido à sobrecarga de trabalho?]. O que me parece óbvio é que a massificação da escola transformou o perfil do público escolar que é cada vez mais um público heterogéneo. E para quê homogeneizar as aprendizagens? É para isso que servem as provas globais e os exames. Para controlarmos os pacotes de saberes. Já conhecem a história da galinha? O lavrador de tanto pesar a galinha para a vender a bom preço acabou por se esquecer de a engordar… Que lástima. ;)) Creio que é isso que se passa com a avaliatite dos exames e das provas e das aulas de substituição disto e daquilo…

Eu não ficaria preocupado com os resultados dos alunos nesse tipo de provas...

Teresa Martinho Marques disse...

Já não estou...
Eles têm trabalhado tanto...
Cresceram tanto este ano em tantas competências importantes...
Vou ter é imensa saudade, isso sim!