quarta-feira, maio 31, 2006

Para a serenidade

Deixara, há dois dias, a memória de duas canções, porque 'precisamos de vozes para agir'. Depois, zanguei-me (como se pode ver na entrada de ontem e não me arrependo dela), mas continuo sempre a (re)buscar a serenidade.
Lembrei-me desse poema de Kipling - mas eu, neste como noutros, por vezes lembro ou releio apenas os versos que, no momento, me "falam" -, creio que não será pecado recordar (a mim, mas dedicado a vós também, se aqui passardes desalentados) somente recortes.
(Para não ser pecado, deixarei em "rodapé" o poema total)

If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
(...)

If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
(...)
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build'em up with worn-out tools;

(...)
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on!"

(...)
Yours is the Earth and everything that's in it,
(...)
___________
If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:

If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two imposters just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools;

If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on!"

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings - nor lose the common touch,
If neither foes nor loving friends can hurt you,
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run -
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man, my son!
Rudyard Kipling, If

Petição ao PR

Corre, desde ontem, uma petição ao PR - aqui

Nota: Tem um anexo desnecessário, que, pessoalmente, preferia que não tivesse, mas ainda não dei conta de outra iniciativa, assinei porque estou disponível para reforçar iniciativas rápidas, desde que os textos se afigurem correctos.

terça-feira, maio 30, 2006

Só porque tenho uma ética

(que não tem a ministra da educação - com minúsculas, sim, não é distracção)

Se não fosse incapaz de fazer os meus alunos pagarem pelos insultos com que a ministra me atinge (não só a mim, claro), não punha mais os pés na escola a partir de amanhã (a reforma está pedida e o atestado médico não seria fraude, não conhecia o insulto, conheci o respeito em toda a vida profissional, este final de carreira tem sido uma enorme agressão psicológica).
"(...)nas escolas a cultura profissional dos professores não os orienta para os casos mais difíceis. No seu entender, há uma aristocracia nas escolas que reserva os melhores alunos para os professores mais experientes, e os piores alunos para os professores mais novos na profissão. (...)" (Pode ler-se o resto da notícia, sobre as palavras da ministra, que acabei mesmo agora de ler no Jornal de Notícias)
Talvez existam situações dessas, estamos fartos de dizer que nenhuma profissão está isenta de casos indesejáveis, mas a ministra insulta a torto e a direito.
No ano passado tomei um dos meus actuais nonos anos, era a turma mais difícil do 8º (e continua a ser muito difícil no nono), sem que ninguém me obrigasse, fui eu que optei dado que a experiência de tantos anos sempre ajuda, em vez de tomar, como era habitual, as novas turmas no 7º. Neste ano, novamente tomei uma turma bem difícil do 8º, quando podia ter tido um dos bons sétimos que temos este ano na escola - outro desafio, para mim e outros colegas (e consideráveis progressos foram conseguidos por este conjunto). Também, pela experiência que tem, uma colega igualmente de Matemática aceitou este ano nonos anos (sem os ter tido no 8º ou 7º, tal como já fizera no ano anterior) sem ser obrigada - mais por esta colega e amiga do que por mim mesma, manifesto a minha indignação a uma ministra que a ninguém respeita, pois é uma colega que sofreu no ano passado o maior drama que pode acontecer a uma mãe, mas nem assim optou pelo mais fácil).
Ao meu 8º já não faço falta, o programa está praticamente dado e a avaliação praticamente feita. Mas, deixar os meus dois nonos a umas semanas do exame (na minha escola, os professores de Português e de Matemática continuam a disponibilizar as suas aulas nas 'férias de ponto'), seria deixá-los com um sentimento de enorme insegurança, apesar de o programa estar dado e possuir todos os elementos de avaliação de que preciso)


Desculpe, quem me ler, por este desabafo, eu nem preciso de desabafar, quero, sim, deixar aqui dito à srª ministra que o que mais me custa é não lhe poder dar um bofetão - meu e, mais ainda, pela minha colega e amiga A.L. (e por todos os que desejassem, justamente, que o desse)

Prioritário - ECD: leitura e propostas

"ECD lado-a-lado" aqui (ECD em vigor e proposta do ME, colocado pelo Miguel Pinto) , ou aqui (link directo)

"Aragem urgente" e adendas no Aragem (análise/crítica, propostas, algumas acções imediatas - uma resposta em 48h, muito participada)

segunda-feira, maio 29, 2006

...

As flores, contemplamos; precisamos de jardins para repousar.
As canções, cantamos; precisamos de vozes para agir.
Hoje não deixo flores, deixo a memória de duas canções.


"Nós lutámos tanto!"

Na 5ª feira encontrei a Antonieta, amiga sempre e colega, muitos anos, nas mesmas escolas. Entretanto, viemos a separar-nos quando concorreu para escola acabada de construir, enquanto eu, preguiçosamente, me deixei ficar a uns metros de casa esperando a substituição dos velhos pavilhões, montados algures no tempo como provisórios (já não estarei na nova construção que, julga-se, surgirá finalmente em 2007).
A Antonieta está igual, o tempo não parece passar por ela. Professora de Português prestigiada e mulher d'armas, foi mais previdente do que eu ao aposentar-se no ano passado. Saturada de uma escola, digamos antes, de um sistema educativo que só mudou no sentido da degradação, e (como eu) a já estar bem somente na sala de aula, com os putos, decidiu cessar a sua carreira (aliás, bem recheada) logo que a isso teve direito, pelo que foi a tempo de não terminar uma vida profissional empenhada, dedicada e respeitada com um ano de despudorado desrespeito, na praça pública, pelo nome Professor.
Deste encontro ficou-me, sobretudo, a repetir-se na minha mente, a sua frase exclamativa e desconsolada (referindo-se ao ensino), que deixo a terminar este escrito de homenagem a esta amiga: "Nós lutámos tanto!..."
:(

domingo, maio 28, 2006

ECD isolado do contexto/fundo para que não querem olhar

De casa da filha, enquanto as crianças estão entretidas, venho tentar contribuir para o apelo urgente feito no Aragem, de uma forma pouco desejável que é a da pressa, mas destacando o que essencialmente já pensava. E não me detenho no articulado inaceitável ou mais gravoso, pois esse está a ser apontado por outros, pelo menos no Aragem e, julgo, no OutrÒÓlhar - vou para o "antes disso".
1.
O ECD faz parte da história da luta e das conquistas dos professores, e, de repente, uma ministra arrogou-se o direito de, sem um sério estudo e uma credível fundamentação, começar por o torpedear preparando terreno para, num ápice, de facto o revogar. Que deve ser revisto, que, nomeadamente, a questão da formação contínua, da avaliação dos professores e da consequente progressão na carreira deve ser assumida e discutida, é verdade. Mas esta ministra, além de não ter na sua "natureza" o sentido do diálogo, já revelou sobejamente a sua obsessão fanática de perseguição dos professores. Porque, sem os professores e contra eles, é provocar o suicídio do sistem educativo, a minha primeira proposta a quem, eventualmente, tenha influência junto de Sócrates, é que use, nem que seja como táctica, o que penso que foi a táctica de Eduardo Prado Coelho no artigo recente que todos lemos: Sem pôr Sócrates em causa, antes pelo contrário, insinuou a necessidade de demisssão da ministra como estando a prestar àquele um mau serviço, o que o mesmo não teria tempo para observar atentamente.
2.
A população, que não está "por dentro", louva a ministra por ver nela uma determinação em melhorar o sistema de ensino, e isso compreende-se. Mas nós sabemos que, se é necessário resolver o problema dos maus professores, desleixados e desinteresssados de uma formação contínua (que os há, embora eu continue crendo que são uma minoria), sabemos também que, para uma avaliação correcta e isenta do trabalho dos professores, urge primeiro rever/avaliar alguns modelos de formação inicial e repor um sistema de formação contínua (o direito a ela foi uma reivindicação dos professores, ainda se lembram?) que não volte a degradar-se pela formação de "pelouros" nos centros de formação, centros que nunca procederam a levantamentos das necessidades concretas dos professores das escolas que abrangem, e que se foram fechando e privilegiando as ofertas que ao grupinho dos formadores instalados convinha manter e repetir (trabalho já feito, só fazer render considerável remuneração em anos consecutivos) - esta é uma realidade, não sei se geral, mas sei que bastante existente. Por isso, a minha segunda proposta a quem, eventualmente, tenha influência junto de Sócrates, é que lhe aponte a prioridade de avaliar e, corajosamente, escolher um novo ministro e respectivos acessores, não vinculados a interesses, que se debrucem sobre os sistemas de formação (inicial e contínua) e ajam sobre os que, instalados, muito mau serviço têm prestado ao ensino.
3.
Que o eventual novo ECD, estabelecendo uma carreira sobre a hierarquização agora proposta e lançando a competição entre professores, terá consequências muito nefastas na vida e ambiente das escolas, com o negativo reflexo nos alunos, inevitável numa escola desestabilizada, parece evidente. Mas não o é para a cabeça de uma ministra que, além de agir sob preocupações prioritariamente economicistas e coadjuvada por um secretário a quem pessoalmente interessa tudo menos "mexer" nalguns males, opta pelo mais fácil (mas ineficaz), que é pôr ( e pela intimidação e prepotência) para cima dos professores o que a estes compete e mais tudo o que compete à política educativa e social, assim levando ao extremo a desresponsabilização, que já era tendência de outros governos. Assim, a minha terceira proposta a quem, eventualmente, tenha influência junto de Sócrates, é que lhe abra os olhos para as evidentes consequências negativas que referi no início deste ponto 3.
(Terceira e última proposta, por agora, nesta corrida sobre as teclas)

Para Inês

Crescem, mas...
meu coração continua murmurando
a Canção de embalar


Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.

O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão
E a estrela ia subindo azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.

Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.

Miguel Torga.(Diário)



No dia dos teus oito anos,
do meu pensamento vai para ti esse Brinquedo.
Avó Isabel

Adenda ao "Intercalando"

Porque este fim de semana era dedicado à minha Inês, isto é mesmo só um intercalar rápido, até porque o projecto de alteração do ECD requer uma luta que já não será minha - daqui a poucas semanas terei deixado definitivamente a escola. Nem fui lê-lo ao site da Fenprof, passei no blog do Miguel Pinto, usei o link e não fui a mais nenhum, embora calcule que seja o assunto deste dia e próximos na blogosfera "docente".


Quero apenas antecipar duas notas, que são a minha opinião pessoal.
1ª nota:
Penso que os professores perderam oportunidades, no decorrer do ano lectivo, de reagirem. Deixemos as formas de luta tradicionais, a verdade é que não houve sequer tomadas de posição das escolas, fundamentadas pedagogicamente, face à desfuncionalização e à burocratização imensa do trabalho docente. Certo que presidentes de CEs bateram palmas à ministra, mas não creio que tal seja a posição da maioria. E, se um presidente sózinho não cumpre uma medida, pode ter um processo disciplinar, mas se muitos presidentes se organizassem para não a cumprirem colectivamente, com suporte dos sindicatos, não teria sido difícil travar a srª ministra (Sabe-se que, em Julho passado, nas primeiras reuniões com os presidentes dos CEs, ficou admirada com tão fácil aceitação daquelas primeiras medidas). Muitas medidas desviaram as escolas do fundamental, que é a formação e a instrução dos jovens, e o papel tradicional dos sindicatos é a defesa dos professores, não propriamente da pedagogia. Lembro-me de firmes posições enviadas pelo CP da minha escola em tempos idos (e não era só o da minha escola que o fazia) em nome de todos os docentes que o mesmo representava, sem que para tal fossem precisas sugestões dos sindicatos.
2ª nota:
Agora trata-se do ECD, já tropedeado por esta equipa do ME, mas, desta vez, como projecto de um novo ECD. Agora sentirão os sindicatos que desencadear lutas é seu papel. Espero que não caiam na armadilha que muito conviria a toda a estratégia usada pela ministra (que foi a de colocar os professores como os principais responsáveis da degradação e inadequação do sistema educativo e ter todo o mundo a bater-lhe palmas) com greves a exames ou avaliações, neste momento contrárias ao que já foram: a maior arma dos professores. Receio que a passividade e até o estranho medo da generalidade dos professores ao longo deste ano façam com que apenas reste esperar que pais, pedagogos com a cabeça no lugar e, sobretudo, políticos (de qualquer cor) com lucidez para conhecerem as verdareiras e profundas causas da ineficácia e degradação do nosso sistema de ensino comecem a tomar consciência NÃO SÓ de que foram cometidos erros que, ao desestabilizarem as escolas e ao bloquearem o trabalho educativo mediante uma imensidão de tarefas burocráticas, já por si prejudicam a preparação dos nossos jovens, e que tal será agravado pelas consequências da imposição de um ECD tal como o que foi apresentado, nomeadamente (mas não apenas) a criação de climas de escola gerados por divisões e competições, MAS TAMBÉM E SOBRETUDO que tomem consciência de que intenções de melhoria do sistema pela guerra contra os professores, ao invés de os ouvir e ganhar como aliados, arrisca ser o próprio suicídio desse sistema. Em suma, receio que, perdido este ano lectivo, reste esperar esse "acordar" mais geral que tire o tapete à ministra, a isole e a despeça.

sábado, maio 27, 2006

Intercalando (desculpa-me, Inês)

Ouvi o noticiário das 22h. A Ministra da Educação está (ou é) mentalmente doente, o país está cego, e os pais aprovam porque não lhes passa pela cabeça a reciprocidade: serem avaliados pelos professores e outros utentes dos serviços que prestam. O doente avalia a competência do diagnóstico e da receita, o queixoso avalia a competência do processo instaurado pelo seu advogado, o camionista que todos os dias irá passar numa ponte avalia a competência do projecto para a mesma. Quanto aos pais jornalistas e outros "escribas" que bem prepararam o actual terreno, esses sabem que os professores até têm competência para avaliar a sua escrita, o seu rigor intelectual, as suas montagens, mas esses... estão a salvo de avaliações pela "liberdade de imprensa".
Creio que é de Glauco Matoso o dito: Só há duas maneiras de governar, pela força ou pela farsa. Acho que a força é, muitas vezes, resultado de paranóia ou esquizofrenia, a farsa é muitas vezes a capa da hipocrisia, mas neste ME já nem vejo uma coisa nem outra, vejo uma mais simples, a irresponsabilidade dos BURROS (desculpem-me a comparação, simpáticos animais que ninguém acusa por não serem da espécie 'animal racional')

Dois domingos

(Em véspera de domingo de festa, recordo os dois anteriores)

Eu sabia que ela ia gostar muito, mas havia sempre outros programas a adiar este, aliás, duplo - dos dois últimos domingos. No domingo passado, foi a ida ao Museu Nacional do Traje, mas detenho-me no anterior.
Nesse, levei a minha princesa a ver os coches das princesas (shiu, eu sei que não eram só de princesas e ela também sabe).
Quando passámos ao piso de cima, ao fundo de um corredor estreito, sentado numa cadeira, um vigilante observava-a de longe, ela parando demoradamente em frente de cada vitrina, comentando ou perguntando. Quando ficaram próximos, ele começou a conversar com ela. E eu fui sentido que devia manter-me discretamente silenciosa, fui sentindo que aquele homem que passa horas, muitas vezes solitárias, no fundo de um corredor, não estava explicando e contando apenas por ofício, ele tinha carinho por aquelas peças e, creio, percebeu na pequena Inês uma cúmplice para voar a um tempo passado.
Mas, uma coisa eu não sei como ele adivinhou. '_Vês, esses são de senhora. _E estes também... e tão bonitos?! _Sabes, eram usados pelas princesas, por princesas como tu.' Mas como adivinhou ele que ela era uma princesa??!!
Eu só gosto de princesas de contos infantis, talvez também, na história (que correctamente sabe contar) daquelas peças com quem convive na missão solitária de as proteger, ele tenha criado um imaginário, talvez por isso ele tenha falado para a minha princesa parecendo esquecido da minha presença e... foi isso que eu achei lindo ;)

Depois do museu, fomos ao jardim próximo. Ela também se encanta com muitas coisas que vê nos jardins, e em fachadas de prédios, coisas tantas em que eu já não repararia, que é um prazer passear com ela.

Depois, no último domingo... bem, não conto - faltaria alguém no conto, sentado numa cadeira no fundo de um estreito corredor ;)
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Tashimoto, Becoming To Be

sexta-feira, maio 26, 2006

Nota aos amigos

Não tenho feito visitas na blogosfera, o tempo, esta semana, não dá - só para uns rápidos sinais de vida aqui no cantinho. Afazeres extra, inclusive familiares. Devo estar a perder debates, momentos de riso e outros de poesia, mas se passo "ali" não resisto e detenho-me, se passo "acolá" há um link a despertar interesse... assim, tive que decidir não passar :(
Pronto, isto é só para esclarecer que o "efeito milu" não me despenhou, por alguma janela da blogosfera, para o fundo do mar do silêncio (aliás, sei nadar). ;)
Deixo-vos este jardim de Monet para, se cá vierem, colherem flores e, também, um abraço meu :)



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P.S. E, se estiverem de mau humor, façam clic aqui (com o som ligado) e recordem...

(xiiiii.... creio que é do meu tempo de teen-ager!)

quinta-feira, maio 25, 2006

(Adenda) Não lhes tirem esses anéis!!!!!

The Freedom Ring

Eastman Johnson (1860)

Tanta gente... e tão poucos...

Fere-me esta idolatria mais do que todos os crimes:
Tanto fervor desviado e perdido!
Tanta gente ajoelhando à passagem do tempo
e tão poucos lutando para lhe abrir caminho!
(...)
Jorge de Sena (Panfleto)

terça-feira, maio 23, 2006

grrrrr (adenda)

E lá interrompi eu a minha pausa! grrrrrr...

Stop!

Mark Morgan, Stop

Caça às bruxas ou paranóia?

Hoje, reunião de departamento. Apenas uma colega do grupo fora aplicadora de provas de aferição do 6ºano. Para surpresa de todos os restantes elementos do grupo (Matemática do 2º e 3º ciclos), a colega contou da sua estranheza por, além de (julgo que pela primeira vez) as provas terem o nome dos respectivos alunos, haver um espaço para indicar o nome do professor que leccionara a disciplina neste ano. Não cabendo aos aplicadores esse preenchimento, a minha colega ainda tinha a dúvida se "nome do professor" não significaria apenas nome do aplicador.
De imediato se foi esclarecer o caso junto do Conselho Executivo - era mesmo do professor da disciplina o nome que acompanharia as provas de cada turma.
A pergunta de todo o departamento 'O que andam os professores a fazer, calados, perante processos que já são pidescos?' ficou na acta e direccionada para o Conselho Pedagógico como alerta, pois terão sido raros os docentes, na minha escola, que se aperceberam do caso.

Não temos medo de avaliação individual, não recusamos (pelo contrário) uma avaliação de desempenho efectivamente correcta, mas que seja baseada em critérios e meios fidedignos (e, já agora, também queremos uma avaliação de todo o sistema, incluindo a avaliação das instituições e modelos de formação de professores, da adequação dos currículos e da eficácia das medidas até aqui tomadas.

Para o acaso de alguém estranhar a nossa indignação, permito-me transcrever, como pequeno exemplo, extractos dos comentários deixados pela Teresa na minha recente entrada "Testes, testes e mais testes" :
"Ai, digo eu, depois de falar com a minha DT sobre o que fizeram na prova de aferição. E sinto o mesmo que tu. Erros imperdoáveis de alunos que nunca os dão nas aulas... faltas de atenção de concentração nas coisas mais simples... (...). Mas estou progressivamente a desligar. Sei o que eles sabem e têm feito com entusiasmo. Eu sei que as crianças falharam em coisas por razões que não saberei nunca (As tais causas que podem ser mil) (...) houve professores que marcaram TPCs enormes e testes para a semana das provas... tive alunas a chorar sem saber para onde se virar - têm 11 anos !!!! "
"Já não estou... (refere-se a preocupada) Eles têm trabalhado tanto...Cresceram tanto este ano em tantas competências importantes..."

sexta-feira, maio 19, 2006

:)





Lá porque tenho três turmas de testes em mãos, não vou deixar o cantinho com o tema provas-exames pendurado na janela enquanto ando em crise de escrita!
Prefiro uma flor...










Claude Monet (1883), White Poppy

Tudo queimou
felizmente, as flores
tinham acabado de florir.
Hokushi
____________________________________________

Adenda
:
A todos os que costumam comentar neste cantinho peço desculpa por aparecerem outra vez as chatas letrinhas, mas tive dois infindáveis ataques de spam, nem sei se consegui apagá-los todos. Se alguém souber como evitar por outro processo, diga-me, p. f.

Adenda 2
:
Encontrei, no blogue de Henrique Santos, este Post Aberto à Ministra da Educação, voltei aqui para o referir.

quinta-feira, maio 18, 2006

Adenda

Tencionava deixar "O pequeno Azul" durante a minha ausência da escrita, porque queria mesmo interromper escritos durante uns dias, além de querer também deixar de escrever por impulso de momento, como faço quase todas as vezes, e, mais ainda, querer conter o texto longo, que assim sai por carregar no "publish" sem, à hora tardia em que escevo, ainda tentar resumi-lo.
Afinal, tinha uma "síntese" no meu próprio cantinho, numa entrada passada, recoloco-a, pois Paulo Abrantes e Hans Freudenthal ajudaram-me a exprimir o que estou a pensar...


(Cabeçalho de documento de arquivo, in www.apm.pt/apm/revista/pabrantes/EM16-1990.pdf )

(Quando ponho o meu cantinho em pausa, gosto de deixar uma imagem bonita. Mas, em tempo de provas globais e, a seguir, exames, porque não deixar esta?)

Testes, testes e mais testes

Estava a conter-me de escrever sobre o assunto, mas uma passagem no Inquietações Pedagógicas só para ver o que lá havia de novo antes de ir, de imediato, para a caminha acabar um interessante livro fez-me clicar para o meu "posting", motivada pelo artigo que me apareceu mesmo a propósito. Permita-se-me que ponha só mais abaixo o link para ele, já agora desabafo primeiro.

Tive o cuidado de deixar marcado nas respectivas folhas dos livros de ponto um (UM) teste de Matemática para os meus nonos anos, antes de entrar em férias da Páscoa. Mas, pelos vistos, devia ter tido esse cuidado logo em Setembro, pois foi uma complicação! Não têm prova global porque têm exame, mas é importante (para eles, muito mais do que para mim) terem um teste global antes de passarem por um exame que até abrange o programa de todo o 3º Ciclo.
Tenho uma das turmas desde o 8º, a outra desde o 7º, bolas (!), um professor não sabe já bem o que cada aluno sabe e o que não sabe, as competências que já desenvolveu ou não? O curto 3º Período (encurtado para os nonos) era-me muito mais preciso e precioso para (além de cumprir o programa, que é preciso acabar todo, todinho, não é? - não vá sair nesse tal exame logo um temazinho deixado para o fim porque eu o acho pouco relevante, mas quem elabora o exame pode não achar), repito, era-me muito mais precioso este tempo de recta final para umas "coisas" que a minha cabeça pensa serem mais importantes, a saber: Apelar a um esforço de mais trabalho e concentração na aula e aproveitar a receptividade ao apelo devida ao momento de proximidade de uma avaliação final ; insistir em mostrar-lhes, em cima da resolução de mais problemas, as causas de não os resolverem, tantas vezes residentes apenas nesse flagelo que é o lerem enunciados a correr e depois procurarem na memória algo que pareça servir ao problema, em vez de lerem atentamente e soltarem o raciocínio que até têm - e esse tempo de resolver problemas sempre a provar-lhes isso até já, finalmente, os fez parecerem outros; dizer àqueles a quem dei negativa no 2º Período que ainda estavam a tempo, que teriam oportunidades de recuperar, de colmatar lacunas significativas, e, sobretudo, provar isso com uma medida que é sempre muito encorajadora para eles - essas aulas a que chamamos (eu e eles) de recuperação, nas quais faço mais ginástica do que no ginásio, porque as dificuldades de cada um são de cada um e o apoio tem que ser individualizado - mas valendo, como ajuda, que os putos são solidários, pois, nessas aulas, os outros a quem entrego por exemplo uma ficha de problemas, procuram mesmo apresentá-la terminada no fim da aula, "desembrulhando-se" sem me chamarem e ajudando-se uns aos outros, pois sabem que se os vir parados tenho que tirar tempo aos colegas que estão "em recuperação".


Mas, porque estarei eu a escrever estas linhas todas, alguém me impede de aproveitar o tempo assim? - perguntará quem eventualmente me leia. Impede(m), sim. Ainda hoje me zanguei com a minha melhor turma, na realidade, verdade se reconheça, excessiva e algo injustamente, por estarem muitos deles desatentos na própria véspera do meu teste. Eles estão desconcentrados, cansados, a pensarem nos testes que terão a seguir, que requerem mais estudo com memorização do que a Matemática e que, para alguns, são decisivos (o decisivo é UM teste?), eles há mais de uma semana que quase não há dia em que não tenham um teste, o que seria normal se não fosse esta a semana que precede imediatamente aquela em que começam as provas globais. Começam 3ª feira, até na 2ª têm um teste (só por acaso não são dois testes em dias seguidos nessa disciplina porque não calhou a primeira prova global ser a da dita. E EU NÃO ENTENDO! (E não me contive, disse-o há dias nas turmas em voz alta - os miúdos lamentam-se e, quando têm razão, seria feio dizer-lhes, ou dizer-lhes somente, qualquer coisa no género Se estudassem regularmente, não andavam agora tão aflitos)

Testes antes das provas globais, eu entendo, claro, mas com um tempinho de intervalo, até porque o teste só é a última prova de que não aprenderam quando já não há tempo para esse importante momento que é o da aprendizagem na correcção individual dos testes, aproveitando os erros para os compreenderem, aproveitando o professor para mais um 'forcing' para que compreendam ou corrijam noções mal assimiladas. Agora, dois testes seguidinhos, multiplicados por n disciplinas, preenchendo considerável percentagem do tempo de um curto 3º Período... e os professores de Matemática e de Português que apanhem depois com o alarido das taxas de insucesso nos exames - sim, esses professores que tiveram as turmas, com tantos alunos difíceis e fraquitos, preocupadas com TESTE, TESTE durante semanas em que ainda era o tempo de ensinar um bocadinho mais e, para alguns, dado ser a altura em que se sentem mais responsabilizados, de aprenderem talvez dois ou três bocadinhos mais. Eu consegui um "buraquinho", ou seja, um dia sem terem outro teste, para o meu, mas não estou nada preocupada por ter feito só UM (enquanto colegas fazem dois e mais prova global), estou é aborrecida comigo por - em vez de ter perguntado a mais professores do que àqueles dois a quem cheguei a perguntar, afobados com matrizes, testes e provas globais, se pensavam que os professores de Matemática e de Português não precisavam de fazer teste nenhum e se achavam que nada tinham a ver com estas duas disciplinas - ir ainda zangar-me com a minha melhor turma, como hoje, cheinha de testes desde a semana passada, nervosos, alguns com essa coisa bloqueadora que é o medo ou ansiedade perante uma situação 'diferente' porque para a semana terão outros com um nome diferente, que até não faria grande diferença se não fosse envolvido por um ambiente também diferente, todo formal, onde nem haverá a presença do seu professor (não ajudaria a resolver a prova, mas um sorriso tranquilizador ao passar e olhar ou uma simples expressão no olhar, daquelas que eles entendem como 'Pensa mais um bocadinho', até ajuda sem qualquer fraude).
Às vezes dizemos: têm 15 anos, já não podem ser tão pouco responsáveis. Mas era bom que, nessa história dos exames nacionais que virá a seguir, se pensasse um pouco: ainda têm 15 anos, alguns 14, e, ainda por cima... isso bonito, mas difícil, que se chama adolescência.

O artigo que me deu algum apoio, fazendo-me desatar a escrever o desabafo, em vez de ir para a cama, artigo de João Filipe Matos - até o conheço, foi meu professor de metodologias de investigação qualitativa, "pegámo-nos" numa das primeiras aulas, mas depois demo-nos muito bem, coisa que também acontece comigo e alguns alunos indisciplinados ;) - está
aqui

segunda-feira, maio 15, 2006

Adenda

Betsy Cameron, There's Always Tomorrow

O pequeno Azul

"O pequeno Azul pergunta ao seu velho e sábio avô:
- Como chegar ao amanhã?
E o velho sábio responde:
Primeiro, para chegar ao amanhã, é preciso querer chegar lá ...
Em seguida, devemos escolher as pousadas aonde descansar e refletir acerca do próximo caminho a percorrer.
Depois, a cada passo do caminho, perguntar o que fazer com as pedras encontradas na estrada, nas margens e no horizonte.
Manter o olhar alternadamente no futuro e a um metro dos pés.
Finalmente e sempre:
- sentir e caminhar, caminhar e sentir, sentir e caminhar...
Como o pequeno Azul, caminhando e, sobretudo, sentindo, chegaremos ao amanhã..."

Autor desconhecido, Como chegar ao amanhã. Em www.metaforas.com.br

domingo, maio 14, 2006

Um ano depois (ou Um projecto desviado)

Faz hoje um ano, este bloguezinho. Não refiro o facto para comemorar - não apago velinha, nem trago bolo (para cantar, deixo o Chico, mas hesitei entre a fantasia e... ela desatinou ;) ). Refiro-o para contar aos que, inesperadamente, vieram a ser "compagnons de route" neste perturbado ano lectivo (e eventualmente queiram ler o conto), o que me levou a criar este cantinho, afinal com uma ideia muito depressa desviada.

Não frequentava a blogosfera, não costumava ler nenhum blog, mas a modalidade atraiu-me como meio prático de ir teclando uns escritos, aliado a um aspecto motivador da escrita que era o de me propiciar também ter um cantinho onde, além de ir nele guardando esses escritos, de vez em quando libertar este ou aquele estado de espírito mediante uma imagem ou um poema - já que não sei pintar nem escrever poesia, a procura de uma expressão metafórica de um pensamento ou estado de espírito ora me diverte, ora me permite extravasar uma zanga, ora me proporciona tranquilidade ou silêncio.
Criei o blogue prematuramente em Maio devido a ter-me posto a experimentar o manejo técnico, pois, como então disse, na entrada inicial, era um projecto a começar verdadeiramente só nas férias, dado que não queria ficar por memórias ou episódios, precisava da disponibilidade dessas férias para começar a rebuscar alguns fundamentos (nas minhas fontes de teoria/investigação), do que, com alguns dos relatos soltos, implicitamente defenderia, tendo em mente referências ou curtas notas, ao mesmo tempo que aproveitaria para ir organizando uma "revisão-síntese" pessoal, independente de uso para o blogue. Na verdade, pensei neste entretenimento como pequeno baú de "soltos" para mais tarde o abrir - nesse tempo de reformada que nem estava projectado para tão próximo como afinal ficou pelo repentino "tirem-me deste filme" - e então pensar em "sim ou não" fazer alguma coisa com as minhas memórias de prof. (Mas, este relato também é, já, somente uma memória)

Entretanto, pesquisei por blogues de professores, já não me lembro se terei deixado algum comentário ao Miguel Pinto, mas ele descobriu-me (é perito na descoberta de cantinhos de colegas) mais ou menos ao mesmo tempo, julgo, que Julho desviava o meu projecto antes do Agosto em que imaginara prossegui-lo "direitinho" (e devagar). Esse Julho em que começou, a meu ver, o maior erro no sistema educativo que vi em toda a minha vida adulta - a partir do "escândalo" dos resultados em Matemática dos exames nacionais realizados pela primeia vez no 9º ano, começou o achincalhar da classe docente, já que seria pouco lógico ficarem pelos professores de Matemática, elegendo-os como espécie aparte, vocacionada para a incompetência.
O Miguel foi o grande dinamizador de troca de opiniões e mesmo debates, e creio poder dizer que não fui só eu que fiz um percurso que, tendo, embora, momentos mais emotivos, passou também por bastantes de disponibilidade para interrogar, auto-interrogar, reflectir e tentar atitudes construtivas, mas foi acabando, progressivamente, por chegar à evidência de tanto e tamanho acumular de erros do actual ME e seus ajudantes, que já não há apelo credível ao papel dos professores no meio do descalabro que esvazia esse papel.
E, assim, neste meu cantinho, já não sei, agora, o que escrever. Mais do mesmo sobre esse descalabro, não vale a pena - é repetitivo, cansa e desmoraliza. Quanto ao meu projecto inicial sobre o ensino-aprendizagem, particularmente da Matemática, e também sobre experiências ou memórias relativas ao acto educativo global, isso pareceria insólito neste momento caótico, como embrulho lançado por extraterrestre num ambiente nada oportuno caracterizado pelo tudo ser feito para humilhar, desmotivar e desviar os professores de disponibilidades para dialogar e reflectir sobre os seus modos de ensinar e educar. Além de que uma prioridade se está tornando cada vez mais urgente - a reflexão e busca de soluções face ao problema da indisciplina dos alunos nos seus vários aspectos, incluindo a simples, mas generalizada indisciplina de trabalho. Problema, a meu ver, a requerer cada vez mais urgência, como disse, (se acaso não passa primeiro pelo problema da educação do cidadão adulto), e também mais urgente do que assuntos que entravam no meu pequeno projecto de escrita.

Já que pus de parte esse projecto, humilde, mas decorrente de experiência de uma vida profissional inteira, não vou terminar esta entrada sem, ao menos, referir uma das questões que me são mais caras, uma questão em torno da qual pugnaram (pugnámos) bastantes professores de Matemática do Básico - a dos métodos de ensino-aprendizagem da matemática nas idades da escolaridade obrigatória. Deve ter sido pela década de 80 (?, não me apetece fazer contas) que
vimos essa questão fortemente assumida e apoiada pela Direcção Geral do Básico, através do seu Departamento de Matemática, num governo de que nem estou certa da cor (lá teria que fazer contas), o que é (deveria ser) irrelevante nesse âmbito. E há que deixar de omitir que certas inovações, que requerem (re)aprendizagens e procedimentos faseados que alteram os "timings" que professsores estão habituados a querer rápidos para terem depressa uma turma a funcionar "bem", tenderam à imediata desistência de também bastantes colegas, após um "vou experimentar". Tal como há que deixar de omitir, de forma mais geral, isto é, não circunscrita à matemática, que, se é verdade que o 25 de Abril eliminou aqueles métodos expositivos e controladores dirigidos a turmas que se queriam passivas, não deixa de ser ainda pertinente cada um perguntar-se até que grau foi significativa a mudança (embora havida, obviamente), pois, provavelmente, os que mudam e inovam sempre o fizeram por predisposição, mas também haverá os que precisam de criar disposição, aceitando perguntar primeiro a si próprios se as sucessivas roupinhas novas, que até, por exemplo, a força das novas tecnologias acaba por obrigar a vestir, significam sempre, de facto, mudança por baixo da roupa.
Ups...


P.S.:

Mas também há uma pergunta a saber-se fazer a si próprio ao fim (e ao longo) de um percurso: Estas ou aquelas perspectivas de um tempo ainda são adequadas a situações de outro tempo? Sob pena de, não se sabendo fazê-la, não se ter percebido que são os novos que saberão responder aos novos tempos (e, se não souberem, mais ninguém poderá dar, por eles, as respostas).

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Adenda - Os novos.... E os outros, que papel?
(Contradição? Contra-argumento? Mas, se eu parar de discutir comigo, será a paragem de mim própria, e não estou a pensar parar eu o motor antes de ele parar por si)

Building Memories


Jack Sorenson

quarta-feira, maio 10, 2006

Fases...

Eu e meu blogue andamos em fase de alguma incompatibilidade. Crises... pequenas crises... se fazem parte da vida, também podem fazer parte de um simples blogue, ora pois!
(No domingo explicarei melhor, hoje fica só a fase em "quadradinhos".






P.S.: Autores não identificados? Não tenho culpa que ponham à disposição na net imagens sem assinatura, nem sei a quem pedir desculpa por uns "toques" em duas delas!

segunda-feira, maio 08, 2006

Rótulos (Adenda)

Refere-se Rousseau na entrada anterior e sorri para mim mesma lembrando-me de rótulos que certos "analistas" do pensar dos outros tão facilmente colocam. Mas, sejam romantismo, eduquês, outros ou os contrários, na minha testa não colam. Penso que filosofias ou ideias contrárias dinamizam e fazem crescer o pensamento, aprendi a deixar dogmatismos, os legados filosóficos que sobrevivem aos tempos têm sempre ao menos algum quê que contribui para pensar o mundo, a vida e os humanos (e até, alguns, a ciência). Aliás, entendo que o próprio conflito de contrários é que gera pensamento novo e, muitas vezes (ou todas as vezes?), transformação verdadeira de situações. Se não tivesse esta percepção (seja certa ou seja errada), não me entenderia com nada, muito menos comigo mesma.

O azar é que entre considerar isso e conseguir encontrar as pontas dos fios de novelos vai uma grande distância... se calhar infinita.


Pois... e ora aqui está uma boa e sensata ideia para esta e algumas outras noites em que os dedos se precipitam demais para as teclas...

Uma memória escrita (II)

Como disse em nota na entrada anterior, a segunda parte desse meu escrito, um TPC, foi composta (correspondendo ao pedido da professora de levarmos algo de um poeta ou de peça literária) por colagens de excertos da Oração de Sapiência de Boaventura de Sousa Santos, a qual (ampliada) foi publicada em livro.
Já que ambas as entradas são de um só escrito, começo nesta por retomar, a fazer a ligação, as últimas linhas da entrada anterior.

(...) E, soubera-me tão bem encontrar, em português - nosso, original - se não poesia, pelo menos o belo no horizonte projectado pelo olhar do próprio cientista, sociólogo, professor, que outro não procurei.
Não caberá dentro do programa de Psicologia Educacional. Mas só porque, creio, é esta que cabe, como ciência humana, em "Um discurso sobre as ciências".
Boaventura de Sousa Santos desculpar-me-ia, decerto, esta composição de extractos da sua Oração de Sapiência, pois creio não ter, em nada, deturpado o seu pensamento ao retirá-los do restante contexto.

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Tenho comigo uma criança(1) que há precisamente duzentos e trinta e cinco anos fez algumas perguntas simples sobre as ciências e os cientistas. Como ela, estamos de novo perplexos; instalou-se em nós uma sensação de perda irreparável tanto mais estranha quanto não sabemos ao certo o que estamos em vias de perder; admitimos mesmo, noutros momentos, que essa sensação de perda seja apenas a cortina de medo atrás da qual se escondem as novas abundâncias da nossa vida individual e colectiva. Mas mesmo aí volta a perplexidade de não sabermos o que abundará em nós nessa abundância.
Estamos de novo regressados à necessidade de perguntar pelas relações entre a ciência e a virtude, pelo valor do conhecimento dito ordinário ou vulgar que nós, sujeitos individuais ou colectivos, criamos e usamos para dar sentido às nossas práticas e que a ciência teima em considerar irrelevante, ilusório e falso.
De novo, como aquela criança, temos de perguntar pelo papel de todo o conhecimento científico acumulado no enriquecimento ou no empobrecimento prático das nossas vidas, ou seja, pelo contributo positivo ou negativo da ciência para a nossa felicidade. Duvidamos suficientemente do passado para imaginarmos o futuro, mas vivemos demasiadamente o presente para podermos realizar nele o futuro. Afinal, se todo o conhecimento é autoconhecimento, também todo o desconhecimento é autodesconhecimento.
Vivemos num tempo atónito que ao debruçar-se sobre si próprio descobre que os seus pés são um cruzamento de sombras, sombras que vêm do passado que ora pensamos já não sermos, ora pensamos não termos ainda deixado de ser, sombras que vêm do futuro que ora pensamos já sermos, ora pensamos nunca virmos a ser.
Tal como noutros períodos de transição, difíceis de entender e de percorrer, é necessário voltar às coisas simples, à capacidade de formular perguntas simples, perguntas que, como Einstein costumava dizer, só uma criança pode fazer mas que, depois de feitas, são capazes de trazer uma luz nova à nossa perplexidade.
Tenho comigo uma criança...
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(Colagem de extractos de:
Boaventura de Sousa Santos, 1985,(2))

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(1) Referência a Rousseau.
(2) Boaventura de Sousa Santos (1987). Um discurso sobre as ciências (6ª ed.). Coimbra: Ed. Afrontamento. pp. 6, 7, 8, 9, 58, 5, 6.
Nota: São adicionais ao texto do autor as palavras em letra reduzida: & 1,l & 3, l .

domingo, maio 07, 2006

Uma memória escrita...

... pensamentos de aluna de Educação


(No Departamento de Educação da Faculdade de Ciências de Lisboa não se usa a expressão Ciências da Educação, se se trata de cursos, os diplomas dizem "... em Educação, área x" - pelo menos não se usava até há dez-oito anos atrás)

A que propósito, aqui, esse meu escrito de então? E porque não (?), já que o encontrei há quatro dias, numa pequena operação de limpeza - ver conteúdos de disketes para deitar fora ou eventualmente guardar em disco - e este cantinho é para guardar recordações e, ao ler a primeira parte desse TPC (facultativo), parte em jeito de introdução ao pedido propriamente dito de uma professora... romântica (?), até sorri como quem pisca o olho a si mesma por achar que há 10 anos (também há 20 ou 30, julgo), apesar das consideráveis diferenças, ao mesmo tempo era igualzinha a mim agora ;) (Também porque ando com pouca apetência para escrever, não sei sobre que escrever)
Colo hoje essa parte a que agora chamo introdução ao referido TPC, tal e qual, sem mudança de uma vírgula - colocarei em posterior entrada o que foi, naquele momento, a minha escolha de um "poeta".

A Professora Ester Luisa pediu que trouxéssemos uma pequena peça literária de alguma forma relacionada com a disciplina de Psicologia Educacional. Pareceu-me que nos estava a sugerir - a nós que, professores por profissão e educadores, quiçá, pelo prazer de contemplar o crescer, voltamos agora aos assentos da aula para (re?)encontrarmos os fundamentos da nossa prática e para aprendermos a questioná-la mais e melhor - que não deixássemos lá fora, ao entrarmos nos corredores da fria objectividade científica, a componente humana, de sensibilidade e empatia, indissociável de quem o humano estuda.
Confesso que a sugestão da professora me trouxe à mente, por contraste, "cinzento + laboratório", assim mesmo, como quando se pede _ olhe para a imagem e diga, de imediato, o que lhe ocorre. (Suspeito que o cinzento tem mais a ver com as resmas de textos em Inglês do que com o laboratório - este, talvez, de Pavlov ou de Skinner).
Metodologias... métodos... métodos quantitativos... E eu (que teria dificuldade em me imaginar sem uma formação em matemática, e que até estou a gostar muito das aulas das metodologias de investigação) estou agora a lembrar-me de que humano e medida são dois atributos que só forçadamente associo. (Aliás, detesto fazer contas. Virá a propósito o poema?)

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(Descoberta da "outra" matemática)

Ai o ponteiro da tortura
naquela sala
que a matemática tornava mais escura
em vez de iluminá-la.

Felizmente só o nada-de-mim ficava lá dentro.

O resto corria no pátio-em-que-nos-sonhamos,
pássaro a aprender os cálculos do vento
aos saltos do solo para os ramos.

Mas só quando voltava para casa à tardinha
encontrava a minha verdadeira matemática à espera
na lógica dura das teclas do piano,
no perfil-oiro-pedra da vizinha,
na flauta de água macia do tanque
- chuva de Mozart nos zincos da Primavera...

Matemática cantante.
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(José Gomes Ferreira, 1957-58)

Aliás, assinalei o grau máximo em "metodologias de investigação" sempre que respondi a um questionário sobre interesses formativos, mas confesso que não gostaria nada de trocar aquela barulheira tremenda que eles (os miúdos) fazem a trabalhar em grupo, mais os disparates todos de alguns e os problemas de outros alguns (estes, muitos), pelo sossegado gabinete de estudo, qualitativa e quantitativamente repleto de dados redigidos ou assinalados por eles. Adorava ter ao dispor amostras significativas, mas compreenderia eu tudo sem lhes olhar o olhar? (dos grandes, não digo nada, é uma questão mais complicada).
Lembro-me de William James. Ignoro se poderá tornar-se ciência essa arte de ensinar e educar que, dia a dia, vamos exercendo - não sei se nascida em cada um, se aprendida por partilha, ou se promovida por eles, os miúdos, tantos, que já tivemos. Mas, ciência ou arte (será tão grande a diferença?), educação permanecerá, decerto, objecto e fonte de conhecimento e de interrogação na medida em que o humano, individual e social, assim também permaneça. Jamais, creio, o saber e a investigação lhe poderão ser alheios.
Não é por isso que, professores, aqui estamos alunos de novo? (Faltava acrescentar isto, claro, não fossem aquelas associações, ao correr do pensamento, parecer o considerar investigação do humano uma ironia!)

Não trago um poeta (José Gomes Ferreira foi só um parêntesis). Tinha ainda comigo o encantamento de uma leitura de há dias apenas. E, soubera-me tão bem encontrar, em português - nosso, original - se não poesia, pelo menos o belo no horizonte projectado pelo olhar do próprio cientista, sociólogo, professor, que outro não procurei.
Não caberá dentro do programa de Psicologia Educacional. Mas só porque, creio, é esta que cabe, como ciência humana, em "Um discurso sobre as ciências".
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Nota:
A parte seguinte desse meu texto é uma pequena composição feita com extractos da Oração de Sapiência de Boaventura de Sousa Santos, devidamente referenciados. É bonita (e não só) porque esse discurso é muito bonito (e não só ), é fácil compor um texto bonito (e não só) com pequenos excertos de quem tal discurso escreveu - coloco-a na próxima entrada.

sexta-feira, maio 05, 2006

Fim de semana



Este cantinho vai ficar a arejar, mas não com uma qualquer triste janela aberta...
(É a minha janela preferida, por isso não é a 1ª vez que a abro aqui)





E deixo som para não parecer abandonado enquanto...




... eu ando também a arejar...


"A Steven Spielberg film
E.T."
(Spielberg me perdoe o abuso da imagem)

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Bom fim de semana ;)

Adenda II

A caixa de comentários ao meu post completa-o, e lá está dito "ei, meninos e meninas acordem...", o que me fez lembrar uma canção, uma letra, deixei-a lá ;)

quarta-feira, maio 03, 2006

Adenda: Pensamento oscilante

Pensamento 1
este papel de parede
ou ele se vai
ou eu me vou

(Oscar Wilde)

Pensamento 2
Já é primavera:
Uma colina sem nome
Sob a névoa da manhã.

(Matsuo Bashô)

Não me apetece falar de escola...

... mas de que vou então falar neste cantinho de prof?

As aulas estão a funcionar bem (!!!). Manda a superstição popular que bata com os nós dos dedos aqui na madeira da mesa dizendo Diabo seja surdo, cego e mudo, não vá o diabo ouvir e amanhã ou depois eu levar outra vez as mãos à cabeça no fim da aula com alguma das minhas turmas...
Vão acontecendo episódios, uns gostosos, outros que dão para (re)interrogar , mas não é sensato fazer relatos indvidualizados do presente num espaço público, ainda que sejam favoráveis aos visados, que, mesmo sem nome, se identificam.
E, saindo da sala de aula para a escola em si (a minha e a geral), dela(s) não me apetece falar. Foi uma grande parte do ano lectivo aquela em o tema estava na cabeça e nos dedos, primeiro a comentar de impulso, depois a achar necessário aguardar para uma análise mais objectiva, lúcida e equilibrada da acção do ME e de tudo o que, directa ou indirectamente dela decorreu, depois ainda a deparar com meadas emaranhadas na cabeça e a agarrar pontas de novelos para tentar pensar direitinho, até que o terreno escola-sistema educativo me ficou irrespirável - necessidade de algodões nos ouvidos e óculos bem escuros, e, se calhar, dever passar a usar adesivo na boca para a fala não levantar pó. E, neste terreno actual, pôr memórias não faz, de momento, sentido, é perfeita inutilidade, ou é como falar de extraterrestres.
Se o Miguel Pinto não relança umas tertúlias, ainda fico muda.

terça-feira, maio 02, 2006

Exercício físico (Sermão a mim mesma)


Se tivesse um cão, estou mesmo a ver que o levaria à rua assim...



De casa à escola não demoro mais do que cinco minutos a pé, mas todos os dias tenho uma "forte" razão para ir de carro: Depois das aulas tenho que ir aqui, ou ali, ou acolá (até sei que muitas vezes, cansada de tanta deslocação na sala de aula, acabarei por vir mas é directa a casa). E, nesta minha preguicite aguda para andar a pé, até fico muito previdente: Hoje não preciso de ir a lado nenhum, mas nunca se sabe, depois das aulas pode apetecer-me. E há ainda o subconsciente, que sabe que tenho o carrito à porta e me faz atrasar até um minuto antes do toque de entrada, nesses dias ponho-me lá num minuto, mas a pé já não dá.
E o ginásio? Eu que andava tão certinha nos dois dias por semana, desde Janeiro que não ponho lá os pés. É à noite, estar já no quentinho de casa com tanto frio lá fora... e começou a ficar sempre no Para a semana recomeço. Agora, que já não está frio... Isabel, vê se largas a preguiça! Não bastou, no liceu, escapares quase sempre às aulas de ginástica? (Nesse tempo ainda não havia propriamente Educação Física). Pois escapava mesmo, que a professora quando me via aproximar-me com ar de pedido já dizia Está bem, menina, não é preciso dizer o que lhe dói hoje.

Adenda:
Queridos Migueis, se me visitarem podem deixar reforços ao sermão ou, de preferência, puxões de orelha, que eu prometo colá-los em nova adenda para ficarem bem à (minha) vista.

Adenda 2:
Prometi colar aqui os sermões e puxões de orelha, mas afinal foram tão persuasivos(as) de outro modo, que já estou a regularizar a situação no ginásio para recomeçar :)) Estendo a forma de persuasão aos que confessaram idêntica preguicite :)

segunda-feira, maio 01, 2006

Memória do 1º de Maio de 1974

Iniciei este blogue de memórias em Maio passado, vai fazer um ano no dia 14, é inevitável que, depois de há dias ter evocado Abril, também nele queira deixar a memória desse 1º de Maio na primeira vez que há um 1 de Maio desde que entrei na blogosfera.

É uma memória única: Não houve mais em Portugal outro 1º de Maio assim. O que, aliás, é natural, pois festejava-se a libertação, os abraços eram entre todos, mas, por essa libertação começava a democracia, seguir-se-iam, pois, oposições entre partidos, divergências ideológicas/políticas, divisões, tal é inerente a um sistema democrático. Evoco esse 1º de Maio de 1974 porque, simplesmente, ele de facto foi único.

Porque as filhotas eram pequenitas e eu queria que "vissem", comecei por as levar de carro, no meu saudoso boguinhas de motor a dois tempos, a elas e aos seus avós paternos, pela Avenida de Roma, antes de ir eu para o estádio que se chamou 1º de Maio (a que se acedia a pé, pela avenida paralela). Carros e multidão mal se deslocavam.
Todas as mãos se agitavam com dois dedos em V, todos os rostos sorriam e riam para os rostos desconhecidos do lado, parecia que ninguém tinha ficado em casa ou deixado de acenar à janela, a não ser os que fugiam para o Brasil ou permaneciam, de persianas cerradas, fazendo o luto pelo 24 de Abril. Não se pensava em divisões partidárias, a euforia era a da libertação. O banho de carros e de multidão que, a pé, atalhava o caminho para o estádio, os braços e os dedos no ar, as buzinas, os sorrisos e risos de todos para todos, essa manifestação assim foi tão inesquecível que ficou também gravada na memória das minhas pequenitas.
Quando consegui desviar e deixar as crianças entregues, era como abaixo se vê.

(Para o meu próprio arquivo documental, fui pesquisar as fotos na net, pois é muito difícil encontrar jornais da época naquelas prateleiras junto ao teto tão cheinhas de livros e documentos que já uma vez desmoronaram e foi um pandemónio cá em casa)