O que me preocupa e assusta não é a ideia de se passar, no nosso país, a designar como um só ciclo o que actualmente se designa por 1º ciclo e 2º ciclo. Vários países consideram como um só ciclo o ensino dos 6 aos 12 anos - a questão não está na ideia, em si, de "ciclo".
A 1ª grande questão, a meu ver, está no regime e conteúdos da formação de professores instituída ou a instituir, bem como na adequação do número de professores às exigências quer dos progressivos aprofundamentos das aprendizagens, quer das áreas especializadas que a formação de professores "generalistas" não pode abarcar com seriedade.
Assim, o que me preocupa e assusta na publicação, pelo CNE, do Relatório do Estudo "A educação das Crianças dos 0 aos 12 anos" nem é tanto o seu conteúdo (que deve ser lido, e não os "resumos" que dele faz a comunicação social), mas sim o aproveitamento que decerto a Ministra da Educação dele fará em apoio aos seus objectivos. E, porque considero que os objectivos economicistas desta ministra (e do governo a que pertence) juntamente com as desastrosas visões que tem sobre educação e ensino estão a levar o nosso sistema educativo para caminhos cujas lamentáveis consequências demorarão muito tempo a remediar, fiquei aterrada com este "apoio" do CNE .
As nossas crianças estão a ser cobaias. A quem responsabilizará o país se vier a acordar para tristes consequências das experiências precipitadas de governantes que tomam uma maioria absoluta como legitimidade para catadupas de reformas e medidas, numa correria de quem se importa muito mais com o seu percurso eleiçoeiro do que com o futuro (e o presente) dos portugueses?
Estou cansada - cansada do que observo. Já não tenho vontade de comentar. Deixo só este breve e muito superficial comentário - para escrever mais, estou cansada (ou triste, ou descrente, nem sei).
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Adenda
A Ministra da Educação já veio a público dizer que a fusão dos 1º e 2º ciclos não está nos objectivos deste governo (para a 1ª legislatura, leia-se). (Ouvi a própria Ministra na rádio, mas outras e talvez um pouco diferentes declarações se seguirâo) Mas os primeiros alicerces foram construídos por este mesmo governo com o novo regime de formação para a docência.
O relatório do CNE diz ter como um dos seus objectivos "comparar a situação portuguesa com a situação noutros países". Então, porque descreve longamente a organização da educação das crianças dos 0-12 anos em seis países e quase nada informa sobre a formação de professores nesses países? A esta são apenas dedicados dois parágrafos que se limitam a dizer que a formação para a educação de infância é, em geral, de nível superior, que a formação para o "ensino primário" é de nível universitário e que ambas são completadas por um período de estágio profissional. Acho estranho este laconismo.
1 comentário:
Ai Isabel...
(Suspiro)
Tocas no cerne.
Beijinhos
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