Colaboração Escola-Família
Porquê retomo memórias e começo pelas de directora de turma, disse-o no post anterior. São muito boas recordações que ainda nunca registei, quero guardá-las no meu cantinho.
É certo que a acção educativa e de acompanhamento directo dos alunos é a componente primordial da função do director de turma - e tem já implícita uma colaboração com as famílias -, mas não é por essa componente que começo. Porque a colaboração escola-família é decisiva e porque, a meu ver, ao director de turma também cabe envolver (ou tentar envolver) os pais ou encarregados de educação na acção que desenvolve junto dos alunos, bem como ir ao encontro das necessidades de apoio, informação e até formação que aqueles tenham.
Fazem-se diligências (e bem) para conseguir que vão à escola encarregados de educação de alunos de famílias problemáticas, mas há que não esquecer que muitas outras têm baixo nível de instrução e cultura, contudo preocupam-se e gostariam de proporcionar aos seus filhos um melhor acompanhamento, pelo que são muito receptivas a informação, formação e apoio que, nesse sentido, recebam da escola. O problema de pais e mães ausentes ou que se demitem existe, mas seria injusto julgá-lo tão extenso como por vezes parece.
Assim, sempre entendi que a direcção de turma, com as oportunidades de reuniões e entrevistas individuais com os encarregados de educação, também tem uma vertente de acção formativa junto destes sempre que tal se justifica. E creio que a razão de, nas reuniões, ter tido sempre a sala cheia, frequentemente com a presença não apenas do pai ou da mãe, mas de ambos, foi o facto de incluir em todas elas um debate temático.
Como fazia? É simples, e muitos outros directores de turma o faziam e fazem. Mas, muitos outros não significa todos e talvez não signifique maioria. Até porque, nas reuniões, a primeira tendência dos encarregados de educação é a de pessoalizar falando ou fazendo perguntas sobre os seus próprios educandos e, se o director de turma não tem reservas contra isso, lá se passa assim toda a reunião, após informações genéricas e distribuição das fichas de avaliação.
Ora, não falar dos casos individuais na presença de outros pais era para mim um princípio que estabelecia à partida, até por respeito pelos alunos - não presentes - e manutenção da confiança deles. E reduzir as reuniões a distribuição das fichas de avaliação, apreciação global da turma, algumas informações relativas à escola e uns alertas à necessidade de os filhos trabalharem mais, seria pobre e alguma perda de tempo para a maioria, bem como perda de oportunidade para a acção que referi acima.
Então, quando tinha uma nova turma, logo na primeira reunião lançava a perspectiva de aqueles nossos encontros virem a incluir temas a expor e debater, relacionados com a vida escolar e a educação, de acordo com interesses, preocupações ou necessidades que os presentes manifestassem. Era logo um começo motivador, e, em vários anos lectivos, realizei, a pedido, reuniões extraordinárias (isto é, além das estipuladas pela escola) para esses debates.
Também percorria as profissões dos pais e mães da turma, através das fichas dos alunos, para detectar alguma que eventualmente proporcionasse colaboração para algum tema mais especializado, o que aconteceu algumas vezes - foram algumas as sessões cujo sucesso fiquei a dever a um pai ou a uma mãe graças à sua especialidade oportuna em relação a interesses e preocupações dos encarregados de educação e, claro, à disponibilidade colaborante.
Mas, em geral, os temas pedidos ficavam a meu cargo. E um que quase sempre era pedido era o do acompanhamento da vida escolar dos filhos. As turmas tinham quase sempre bastantes encarregados de educação - por vezes, a maioria - de nível de instrução insuficiente para acompanharem directamente os trabalhos escolares, mas não faltam sugestões para o acompanhamento mesmo sem dominarem as matérias curriculares. E havia sempre, também, algum testemunho de um dos presentes, interessante e sugestivo para os outros.
É com prazer e gratidão que recordo aqueles pais ou mães - alguns professores, mas não só - que nada precisavam de sugestões (nesse tema e noutros), mas compareciam e, sem eu precisar de pedir colaboração, tacitamente ma davam animando e mantendo vivo o debate.
Uma nota, a terminar: Era também logo na primeira reunião que eu desmontava a ideia de que irem à escola falar individualmente com a directora de turma só se justificaria em situações preocupantes sobre aproveitamento escolar ou comportamento, e especialmente quando convocados. E logo ficava esboçado um calendário, com prioridade aos que tivessem algum problema ou preocupação a transmitir-me urgentemente, mas permitindo que tão breve quanto possível eu pudesse falar com todos, pois uma entrevista permitia um conhecimento mais amplo do aluno, quer a mim, que só o observava na escola, quer também ao encarregado de educação, que, embora conheça bem o(a) filho(a), muitas vezes ignora facetas escolares pouco reveladas em casa.
E, com a desmontagem que fazia daquela ideia que tinham sobre idas à escola, acabava por ganhar a adesão para marcação das entrevistas, nem que estas fossem por telefone quando havia dificuldade em comparecerem. (Telefone, mas para a escola, note-se, pois eu não considerava isso 'trabalho de casa'...) E claro que também tive casos difíceis relativamente a comparência, mas julgo que actualmente isso é mais frequente, tive sorte no meu tempo de dt.
Em suma, tenho muito boa recordação das reuniões com encarregados de educação. Talvez fosse outro tempo... não sei. (Fui dt durante mais de 20 anos consecutivos, mas depois não voltei a ser)