Eles eram 13, os mais "cadastrados" da escola. Esta ainda era só de 2º Ciclo, mas eles tinham 14, 15 anos, um ou outro a caminho dos 16. Já há tempos lhes dediquei dois posts, mas, dado que encetei este título - memórias de alunos problemáticos -, não consigo deixar de me reportar àquela memória antes de trazer outras, pois é talvez a mais forte da minha vida profissional, e foi o projecto mais "louco" em que me meti no âmbito dessa mesma vida.
Não vou reescrever o que já escrevi, basta seguir os links: Aos "Engenhocas" - Uma memória (I) e Aos "Engenhocas" - Uma memória (II)
Do primeiro desses dois posts, transcrevo somente esta consideração final: dê-se-lhes responsabilidades, confie-se quando afirmam que as aceitam, e eles superam-se e revelam-se. E, do segundo, também o final: Confio que experiências de valorização, em que sobretudo tenham oportunidade de se sentirem valorizados aos seus próprios olhos, não são inúteis.
Mas quero acrescentar agora uma outra consideração - ou talvez seja uma pergunta...
Há iniciativas que uma pequenina equipa de professores consegue levar a cabo uma ou duas vezes, mas seria irrealista pensar que poderiam os mesmos professores continuarem a repeti-la em muitos mais anos lectivos, a não ser que se alargassem as condições e os recursos humanos. Porque, ao assumir-se a responsabilidade de certo tipo de iniciativas, é necessário dedicar-lhes bastante tempo para além do horário de trabalho e manter grande disponibilidade. No caso dos Engenhocas (nome que os próprios escolheram para o seu grupo), que eram de turmas diferentes e não eram nossos alunos (nossos - equipa de quatro professoras), o tempo semanal e comum de 50 minutos que nos foi concedido era praticamente simbólico, só encontros com eles e outras formas de comunicação requeriam muito, tanto mais que tínhamos como decisivo que se mantivessem sempre com pequenos projectos distribuídos consoante os perfis dos moços - isso era decisivo para o sucesso da iniciativa ao menos em termos de integração na escola e de cessarem os comportamentos problemáticos.
No entanto, é possível e bastante mais fácil promover e concretizar iniciativas mais simples e mais pontuais sob as mesmas perspectivas (que a experiência até demonstrou não serem meras crenças de professores ou de "eduquês"), perspectivas tais como as que se subentendem no que acima transcrevi dos meus próprios posts anteriores. Contudo, uma das constatações que fui fazendo ao longo da minha vida profissional foi a de morrerem certas experiências (com alunos problemáticos e com quaisquer outros), tidas como "mais arrojadas" ou simplesmente diferentes das rotinas instaladas, quando os respectivos promotores mudam de escola ou as cessam por qualquer outro motivo, ao invés de ficarem nas escolas como património de experiências a aproveitar, a alargar e a continuar, ainda que mais simples devido a escassez de condições.
Porquê? Nunca compreendi bem, o que sei é que esse facto, que tantas vezes se verifica, acaba por desiludir e levar professores a começarem a pouco e pouco a diminuir os seus empreendimentos para a escola e a preferirem fechá-los entre as quatro paredes da sua sala de aula, onde não há resistências de adultos e onde vale sempre a pena investir trabalho e tempo - e entusiasmo também.
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