A criança que fui chora na estrada
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.
Fernando Pessoa
2 comentários:
Na vidas andamos sempre assim às arrecuas, a ver se descobrimos que somos quem fomos ou somos pelo menos quem sonhámos ser. Só tu e Pessoa me conseguem pôr a pensar nisto!!!!! Mil beijinhos. Parabéns pela filhota!!!!
Obrigada, Madalena. Mil beijinhos também para ti :)
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