segunda-feira, abril 28, 2008

Afinal para que quero um blogue?

(Em jeito de balanço)

Para que quis um blogue quando criei este, até sei; para que o quero agora, isso é que já não sei!

Quando criei este bloguezito, eu queria falar de alunos, de ensino e aprendizagem, de aulas, de métodos e estratégias de ensino, da minha disciplina que é a Matemática e de sucesso e insucesso nela, também de direcção de turma, de educação, de formação de alunos e de formação de professores, enfim, queria falar de escola.
E, quando comecei a conhecer colegas da blogosfera, pensei até que não falaria sozinha disso tudo, pensei que poderia não ser só falar, mas debater também. Troca de experiências, partilha, testemunho, isso era o que me atraía, embora tenha encontrado raríssimos blogues de docentes em que tal acontecesse.

Contudo, de tudo isso me fui desviando, pois quase logo apareceu a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, e eu própria andei centrada nela e na sua política. E, hoje, com esta sensação de que dirigi este meu cantinho sobretudo para essa política, lembrei-me de fazer uma contabilidade, já que tenho os meus posts quase todos etiquetados (de 590, têm marcadores quase 400, e os que não estão marcados são irrelevantes quanto a assunto). E não é que constato que, afinal, apenas 21 são sobre política educativa?! Vá lá, mesmo que estime nuns 30 os que à política educativa se referem, tenho mesmo que concluir que, afinal, não foi (só) a política do Ministério da Educação que me desviou e me desmotivou de escrever sobre o que tencionara inicialmente.

Dos temas que acima mencionei, há um que jamais abordei - e não foi por acaso. Jamais abordei um dos temas que me são mais gratos e de que tenho melhores memórias: a direcção de turma. Porque a burocracia que foi progressivamente assoberbando os directores de turma parecia-me retirar sentido às minhas memórias de mais de 20 anos consecutivos até outras tarefas terem requerido que deixasse esse cargo.

No entanto, tenho consciência de que a falta de condições e os climas de escola perturbados pela política de MLR foram apenas meia razão para abandonar as minhas memórias. Costuma dizer-me um amigo (e ainda hoje mesmo mo disse) que da outra metade do motivo da minha desmotivação nunca falei, que eu só falo da política deste ME porque omito a outra face do sistema educativo, que é a realidade no "terreno". Sei que o meu amigo tem razão, no terreno há muito do bom e até do excelente, mas bastante há também do menos bom, e o indesejável ou pernicioso não é tão insignificante quanto muitas vezes dizemos - dizemos, seja por corporativismo, seja por compreensão tolerante, ou seja por uma espécie de reserva ética.

Afinal, para que mantenho eu um blogue?

Talvez porque ainda vou esperando por condições mais propícias para falar do que é o tema mais importante para mim como professora: alunos - ensino e aprendizagem - educação. Mas pergunto-me: se voltar a falar disso, não será um monólogo? Não porque aquele não seja o tema prioritário no pensamento de muitos colegas, e aqui deixo a minha manifestação de apreço à 3za - uma companheira "bloguista" - por não ter perdido nunca a motivação para falar dos alunos, para partilhar as experiências e vivências com eles, para nos revelar a paixão de ensinar e ajudar a crescer. No entanto, no clima de escola que se tem vivido nos últimos quase três anos, a escrita da 3za e a dos poucos outros que privilegiam esse tema serão muito mais do que monólogos?


2 comentários:

matilde disse...

Costumo dizer, quando algum colega fala com mágoa do resultado de uma actividade que preparou com tanto entusiasmo e empenho para os seus alunos, e apenas para um ou dois sente que foi útil, tendo para todos os outros parecido uma perda de tempo... costumo dizer que, nem que seja por um, valeu a pena. Esse "um" que seja mereceu todo o tempo que utilizámos.
Basta sentir que alguem está do lado de lá - não será nunca uma multidão - mas para esses alguéns vale a pena e impossibilita que se lhes chame monólogo...

Escreve Isabel. Escreve...

;)

Delfim Peixoto disse...

Vim espreitar e fiquei maravilhado!
Abraço