quarta-feira, julho 25, 2007

Boas férias!

Que todos as possam aproveitar para descansar, descontrair e renovar o espírito (ou o estado de espírito).

Eu sairei só por uma semana, depois estarei mais ou menos por aqui, mas vou dar férias ao meu blogue. Não é que ele mereça, passou o ano em pausas e intervalos e o resto do tempo a queixar-se de enjoos que atribui a remessas de alimentos estragados que chegam a uns sítios onde continua a meter o nariz e a que chama Escola Pública e Sistema Educativo, mas o coitado até anda mesmo com evidentes sintomas de desmotivite aguda, não vou regatear-lhe as férias, não seja por falta delas que não cura a desmotivite e os enjoos, que são maleitas muito indesejáveis!

Até logo. Boas férias!

sábado, julho 21, 2007

Para o fim de semana deixo...

... deixo a beleza dos quadros de Van Gogh - e não só os quadros.
(Em qualidade da imagem, não é o melhor vídeo com essa canção de homenagem, mas optei pela versão legendada)

(...)
Agora eu entendo
O que você tentou dizer-me
E o quanto sofreu pela sua lucidez
E como você tentou libertá-los
Eles não ouviriam
Não sabiam como
Talvez agora ouçam
(...)
Agora acho que entendo
O que você tentou dizer-me
E o quanto você sofreu pala sua lucidez
E como você tentou libertá-los
Eles não ouviriam
Ainda não ouvem
Talvez nunca ouvirão

__________________

P.S.:

Já tinha entrado em fim de semana, mas o artigo de Carlos Ceia no Público de hoje (só acessível online a assinantes) relativo ao regime jurídico da habilitação profissional para a docência faz-me transcrever um excerto, no qual consta o endereço para documento mais completo do mesmo autor.

«(...)Já expliquei em longo documento técnico os vários problemas que o decreto-lei levanta (ver www.fcsh.unl.pt/docentes/cceia/Educacao/que_profs_formar.pdf). Este parecer, o do Conselho Nacional de Educação, e todos os que as universidades e politécnicos enviaram foram ignorados até à data. Este decreto-lei não tem uma filosofia, uma literatura, uma bibliografia ou uma ciência a apoiá-lo ou a justificar as suas opções, logo o debate parece ser inútil. Mas as consequências graves que transporta para o futuro da formação inicial de professores, hipotecando a qualidade da formação das próximas gerações e afastando-se de todas as tendências internacionais nesta área, obrigam-nos a continuar o protesto. (...)»

quinta-feira, julho 19, 2007

De como um(a) aposentado(a) também precisa de férias

Eu não sei que 'diabo' de escola de vida tive (saber, sei - sei até muito bem, é só maneira de falar), que não consigo alhear-me quer das questões a que a minha profissão esteve ligada, quer do mais que se passa neste país (e não só nele). Não é porque me falte em que me ocupar.

[Não só não me falta em que me ocupar, como continuo com coisas pendentes, à espera de tempo. Aliás, é espantoso como aquela grande organização que o trabalho profissional exige para que se consiga que o tempo chegue para todas as prioridades da nossa vida faz que se encaixe tudo nas horas de cada dia ou semana e depois, quando deixa de haver horários e obrigações a cumprir (pelo menos em boa parte do tempo, pois continua a ter-se responsabilidades e obrigações - na vida elas não são só as profissionais), parece que cada dia não chega para quase nada.]

Mas, dizia eu, não consigo alhear-me especificamente das questões da educação, e pergunto-me porquê (ou para quê), dado que já não tenho que - nem posso - lidar com elas. Poder, até podia ainda escrever - não importava que fosse lida só por dois ou três, cada um dá o seu minúsculo grãozinho de contributo e, se todos dessem, já fazia um saco cheio. Mas, a verdade é que a experiência dos 'velhos' fica ultrapassada nestes tempos de mudanças vertiginosas e não faz muito sentido que os velhos continuem a ler-estudar tudo o que é necessário só para actualizarem a sua experiência quando já não a podem aplicar no terreno próprio.
Além disso, há também aquele sentimento de inutilidade/impotência que não anda só a atingir os mais velhos, também os menos velhos o têm perante tantas medidas impostas prepotentemente - mas esses têm um tempo de actividade pela frente, é questão de esperar um pouco, que as cegueiras e arbitrariedades de quem está a atolar o ensino público hão-de ter o tempo contado, as consequências hão-de tornar-se tão evidentes que até a tanta gente que anda "distraída" e tinha a obrigação/responsabilidade de não andar vai dar-se conta.

E todo este palavreado só para dizer que também estou a precisar de umas férias - férias de observar todos os dias esta política (des)educativa em curso, escape desse clima de mediocridade e de obsessões a resvalarem para doença maníaca que sinto emanar dos gabinetes que decidem, regulamentam e despacham essa "política" quer nas suas linhas de fundo, quer em múltiplos pormenores absurdos, contraditórios e impositivos de uma burocracia insana. Não sei é se consigo fazer essas férias antes da semaninha em que vou mudar de ambiente, e sem net fico sem informação, que pela tv mal chego a ela - mas falta pouco, é já de hoje a oito dias, e depois, quando voltar, apesar do Agosto no calor de Lisboa, sempre respiro ar menos poluído durante mais um mês, pois estarão os senhores governantes em férias, e os senhores deputados também (mas certos silêncios destes últimos nem se vão notar - serão só uma continuação).

terça-feira, julho 17, 2007

Compartimentos

Quando falo com algum amigo (ou amiga) que ainda está no activo e lecciona no ensino superior, fico com maior percepção de quanto as questões de educação-ensino andam compartimentadas.
Como não vou descrever em público conversas particulares, deixo apenas um ou dois exemplos vagos e não situados:

1 - Se eu abordar a questão do novo regime jurídico da habilitação profissional para a docência no ensino não superior e, nomeadamente, a do professor generalista, já sei que é melhor preparar-me para ouvir alguma resposta no género de 'já é assim em muitos países da Europa'. E cá temos a ideia falaciosa instilada pela "política global" de que o que é é o que deve ser ou o que tem que ser.

2- E se eu for mais longe e lembrar a ideia (que ainda não é uma proposta, mas que já apareceu publicamente como hipótese a considerar) de fusão dos 1º e 2º ciclos do Ensino Básico num só, a resposta então é certa: "Isso não é possível, é claramente contra a Lei de Bases do Sistema Educativo". E cá fico eu com a sensação de que o meu interlocutor do ensino superior se anda a dar pouco conta do que, dizendo mais respeito ao ensino não superior, tem vingado com atropelos de direitos adquiridos e ambiguidades em termos constituicionais, ultrapassando-se rapidamente ilegalidades mediante revogação de decretos e aprovação de novos. (Alterações profundas a uma lei são mais difíceis? Ora! Vamos ver o (pouco) tempo que vão demorar alterações à Lei Sindical...)

Podia dar outros exemplos mais elucidativos dessa percepção de compartimentação das preocupações de professores de graus diferentes de ensino, mas já teria que descrever conversas tidas - não que elas tenham algo que não se possa contar (apenas significam que cada um está envolvido no seu 'terreno', e isso até é natural, ainda que, a meu ver, não deva bastar).
Quis apenas deixar esta breve nota sobre compartimentos - estes e muitos outros compartimentos se verificam nas questões do ensino.
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P.S.:
Ao escrever as linhas acima, eu estava a pensar mais nas grandes questões do ensino em si e nas opções das políticas educativas que marcam o rumo da educação no nosso país. Por isso, estava também a pensar em alheamentos que se andam a verificar entre aqueles que nelas podem e devem intervir com independência face a interesses meramente políticos, necessitando, para isso, de se manterem atentos e detentores de uma visão global - globalidade em que as diversas medidas se vão encaixando e vão tendo consequências interferentes umas com as outras.
Mas, depois voltei aqui ao lembrar-me de que, não havendo nada que valha ao sistema educativo sem professores mobilizados e com estatuto de carreira que os motive e dignifique, também os ataques e as medidas prepotentes relativas às carreiras docentes (e que a mais não obedecem do que a prioridades economicistas) não deviam ser consideradas "questões deles" (dos que as sofrem) - não deviam ficar em compartimentos. Não deviam, porque vão ter reflexos no próprio ensino, e ensino em qualquer grau ou nível devia ser objecto da preocupação de todos. (Além de que não deviam ser deixados para compartimentos dos directamente interessados ou lesados também para que, quando chegar a vez a outros, não seja tarde - Brecht bem deixou o aviso)

sexta-feira, julho 13, 2007

A minha estranha rejeição de escrever

Abro o blogger a perguntar-me: Vou escrever o quê? Vou escrever para dizer que não quero escrever?!
Mas talvez me faça bem pensar nisso em voz alta - não que esteja à espera que ainda alguém me leia, mas isto é público, não deixa de dar a sensação de que se está a pensar em voz alta.

De náusea, ou enjoo, já falei aqui. É uma náusea espantada, também um tédio que não consegue limitar-se a tédio porque a situação não me é indiferente - a escola foi parte da minha vida e o sistema educativo foi parte das lutas em que participei, não me é possível ficar agora indiferente. Mas tanto disparate, tanta estreiteza de vista na catadupa de medidas legislativas (agora mais uma série de regulamentações que mais uma vez nenhuma negociação concreta vão aceitar), tanta avaliação que não deixa tempo para mais nada (mais parecendo doença maníaca), tanta incapacidade para perceber que todo o clima de sufoco que é gerado nas escolas (sufoco em papelada/burocracia e sufoco sob múltiplas pressões externas) só contribuirá para as afundar esvaziando-as dos objectivos e preocupações essenciais... Está a ser demais!


Talvez eu ande com uma rejeição a escrever, apesar de tanta coisa que me vem à mente, para proteger as minhas memórias. No entanto, também sei que ando como uma balança a que falta um prato - tenho só o prato, e pesado, da actual política educativa, faltando-me o outro, o das aulas, o dos alunos. Falta-me porque não o posso ter não estando já na escola, falta-me também porque dos alunos não ouço falar - a não ser por números estatísticos - nas intervenções da ministra da educação e seus colaboradores (incluido-se nestes muitas vozes "sonantes" deste país), que nem pejo têm de fazer dos alunos cobaias.

Enfim, eu, que nunca fui pessoa para ficar calada (bem o sabem todos os que me conhecem de perto), ando cada vez mais a encarar com estranha recusa este cantinho onde tenho oportunidade de falar se quiser. Talvez porque, como já tenho dito, faço questão de persistir na esperança e, estando a ficar sem ela em termos de curto prazo, prefiro não mostrar o pessimismo (ou descrença) que começa a ser inevitável. Entretanto, estou a dizer isto porque tenho a acrescentar que acredito que este meu estado de espírito seria diferente se tivesse ainda o tal outro prato da balança que agora me falta - os alunos. Porque o trabalho com estes e para estes tem que continuar, é por isso que se escolheu a profissão de professor, e essa razão maior há-de prevalecer como motivação.

É uma razão que já não me pertence concretizar, essa falta é propícia a que se me instale a náusea que me causa o que anda a encher o referido prato da minha balança, a que falta o outro prato para equilibrar e manter o espírito positivo que gosto de ter. Mas... aos professores no activo esse outro prato não falta, com ele hão-de manter/recuperar serenidade, lucidez e firmeza - firmeza sobretudo, ela anda fugida de muitos (de demasiados, incluindo presidentes de CEs), mas a sua necessidade há-de acabar por se impor. (Marx disse que a liberdade é a consciência da necessidade, e eu atrevo-me a dizer, a propósito ou a despropósito - acho que a despropósito, mas não faz mal, serve para o que quero dizer - que a maioria dos professores anda a precisar de ganhar consciência da necessidade de firmeza, em vez de conformismo. Mas as tomadas de consciência levam o seu tempo, há que ter um bocadinho de paciência para aguardar - eu é que já estou fora do meu tempo de ter paciência).

quarta-feira, julho 11, 2007

Resultados em Matemática - Acusar e pressionar professores não resultou

Não posso emitir opinião sobre as causas de terem piorado e sido tão negativos os resultados dos exames do 9º ano - só uma análise das provas feitas pelos alunos permitirá avançar com algumas explicações sobre o sucedido.
Não me pronunciei aqui sobre o grau de dificuldade da prova (ou grau de facilidade - como preferirem), mas comentei em mais do que um post publicado sobre o assunto noutros blogues que não estava tão certa como muitos acharam da facilidade dela para os nossos alunos, quer porque conheço o tipo de dificuldades que têm 'à primeira vista' de um teste (e, num exame, não pode haver quem os faça ler com uma 'segunda vista'), quer porque as notícias que tive na altura iam bastante no sentido de os alunos terem saído do exame considerando-o difícil. E, embora a prova não tivesse itens que ultrapassassem os conhecimentos e o nível de desempenho que é de exigir, a verdade é que a facilidade que parece haver aos olhos dos adultos não é confirmada pelos alunos que temos.

Mas, como comecei por dizer, não posso analisar as causas destes resultados - e não penso, de modo nenhum, que seja ao conteúdo da prova que elas se podem atribuir.
O que me parece óbvio (aliás, sempre me pareceu - não é apenas hoje que o digo) é que acusar professores, intimidá-los e pressioná-los para trabalharem para um exame treinando e treinando os alunos para ele não resulta. A educação matemática das nossas crianças está cada vez mais difícil (e, claro, os professores têm responsabilidade pelo facto, mas também a têm os ministérios da educação, as famílias e a sociedade em geral), mas não é a trabalhar com os olhos postos nas estatísticas a obter que alguma vez se irá longe numa verdadeira educação matemática (a qual, aliás, começa incutindo-se nas crianças o gosto por ela).
E, como a paciência me anda a faltar, fico por aqui.
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P.S.:
Ah! Deveria comentar também a ida de Maria de Lurdes Rodrigues à AR? Peço desculpa, mas...

sábado, julho 07, 2007

E para fim de semana deixo...

(Prevejo fim de semana prolongado para serenar)

... deixo um quadro de Chagall (1887-1985), pois hoje seria seu aniversário - agradeço à Amélia Pais ter lembrado.


Marc Chagall (1974). L’Ange du Jugement.

Mas o que é isto??

Só hoje dei conta (distracção imperdoável) - alteração à Lei Sindical, ainda por cima com atropelos ao direito constitucional à negociação!

Por agora, deixo dois destaques elucidativos:

E faço também as perguntas que faz a FENPROF:


«Surpreendente é que, apesar dos sucessivos ataques movidos pelo Governo aos Sindicatos, à liberdade de exercício da actividade sindical, às regras da negociação e, de uma forma geral, às mais elementares normas do Estado de Direito Democrático, se tenham deixado de ouvir os verdadeiros socialistas que é suposto existirem no Grupo Parlamentar do PS. Por onde andarão?! Por que continuam a assumir este insuportável silêncio?!»

sexta-feira, julho 06, 2007

Gerações...

Termino neste post a transcrição de alguns excertos de uma conferência* proferida por Bento de Jesus Caraça em 1933 - termino com as palavras finais dessa conferência que não perdeu actualidade, como se pode verificar aqui e aqui.

«Houve quem dissesse um dia que as gerações dos homens são como as das folhas, passam umas e vêm outras.
Está na nossa mão o desmentir o significado pessimista desta frase.
Só figuram de folhas caídas, para uma geração, aquelas gerações anteriores cujo ideal de vida se concentrou egoisticamente em si e que não cuidaram de construir para o futuro, pela resolução, em bases largas, dos problemas que lhes estavam postos, numa elevada compreensão do seu significado humano.
Essa concentração egoísta tem um nome - traição, e, se hoje trairmos, será esse o nosso destino - ser arredados com o pé, como se arreda um montão de folhas mortas.
E não queiramos que amanhã tenham de praticar para connosco esse gesto, impiedoso mas justiceiro, exactamente o mesmo que hoje nos vemos obrigados a fazer para com aquilo que, do passado, é obstáculo no nosso caminho.»
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* Bento de Jesus Caraça. A Cultura Integral do Indivíduo-Problema Central do Nosso Tempo. Conferência proferida em 1933.
In Cultura e Emancipação (seguir link)

quinta-feira, julho 05, 2007

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In Albano Martins (1995). Com as Flores do Salgueiro. Homenagem a Bashô. Ed. Universidade Fernando Pessoa.

quarta-feira, julho 04, 2007

Excertos de uma Conferência* (1933). II - E aqui reside o grande drama

(Como disse em I, há textos que parecem não ter data - lê-los ou recordá-los é sempre oportuno)

«(...)
E aqui reside o grande drama em que, de todos os tempos, se tem debatido a humanidade - condenada a só poder evolucionar e progredir sob a acção vivificadora e fecunda de alguns dos seus indivíduos, ela vê-se ao mesmo tempo impotente para impedir que esses indivíduos se tranformem em seus verdugos. Ela assiste, incapaz de o evitar, à criação das castas que são como outras tantas sanguessugas sobre o seu corpo, sem, ao menos, lhe restar a solução de as eliminar, porque isso equivaleria à sua morte no pântano estéril da incapacidade.

Encarada sob este ângulo, a História da Humanidade aparece-nos como uma gigantesca luta, gigantesca no espaço e no tempo, entre o indivídual e o colectivo. Luta gigantesca, e trágica, e sangrenta, em que transparece um domínio quase permanente do individual sobre o colectivo e, de longe em longe, um estremecimento do grande corpo mortificado, um movimento de revolta, um triunfo efémero do colectivo, que logo cai sob outro ou o mesmo jogo pela sua incapacidade de se reconhecer e dirigir.

E esse grande corpo, curvado ao peso dos seus donos, segue o seu caminho sem parar, cai aqui, levanta-se além e aspira, aspira sempre a qualquer coisa de melhor. Mas esse «qualquer coisa» é vago e impreciso e, por isso mesmo que o é, leva a todos os desvios e todos os erros, pressurosamente amparados e com cuidado mantidos, precisamente por aqueles - o princípio individual em acção - a quem uma consciência colectiva forte ameaçaria no seu poderio egoísta.

(...)

A vitória duma ideia revolucionária significa, na época em que se dá, um acontecimento momentaneamente estável, mais perfeito que o anterior, entre as forças em presença; significa que se deu um novo passo no sentido de subtrair o colectivo à tirania do individual; sentem-no bem as massas, que, nessas épocas de comoção dos fundamentos da sociedade, se lançam, num explosão de entusiasmo, ao assalto do corpo decrépito e parasitário que sobre elas vive.

Mas a sua falta de preparação cultural, o não reconhecimento de si mesmas como um vasto organismo vivo e uno, torna-as incapazes de levar a sua obra mais além da destruição do passado; impossibilita-as de proceder à construção da ordem nova que a sua revolta preparou.

(...)

Passa algum tempo e começa nova diferenciação - os interesses egoístas dos dirigentes sobrepõem-se aos interesses gerais, são novos elementos individuais que começam a exercer opressão sobre a colectividade (...)

Tudo recomeça, disse acima, mas seria vão pretender-se que recomeça exactamente nas mesmas bases. Não; da etapa anterior, alguma coisa, às vezes muito, ficou definitivamente adquirido.
(...)»


(Escolho esse último parágrafo para terminar este post com um pensamento de algum conforto. Haverá um terceiro post com excertos da parte final da mesma conferência.)

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* Bento de Jesus Caraça. A Cultura Integral do Indivíduo-Problema Central do Nosso Tempo. Conferência proferida em 1933.
In Cultura e Emancipação (seguir link)

domingo, julho 01, 2007

Excertos de uma Conferência (1933). I - As ilusões nunca são perdidas

(Há textos que parecem não ter data - lê-los ou recordá-los é sempre oportuno)

«Tudo isto (estava-se em 1933) fez que se amortecessem alguns entusiasmos das primeiras horas. Que importa? É essencial que tenham existido! Mas foram algumas ilusões perdidas, dir-se-à. Não. As ilusões nunca são perdidas. Elas significam o que há de melhor na vida dos homens e dos povos. Perdidos são os cépticos que escondem sob uma ironia fácil a sua impotência para compreender e agir, perdidos são aqueles períodos da história em que os melhores, gastos e cansados, se retiram da luta, sem enxergarem no horizonte nada a que se entreguem, caída uma sombra uniforme sobre o pântano estéril da vida sem formas.
(...)
Não é fácil tarefa o alguém abalançar-se hoje a emitir juízo, por mais despretencioso que ele deseje ser, sobre o tempo que vivemos. Mas não há também tarefa mais importante nem mais urgente. O que o mundo for amanhã, é o esforço de todos nós que o determinará. Há que resolver os problemas que estão postos à nossa geração e essa resolução não a poderemos fazer sem que, por um prévio esforço do pensamento, procuremos saber, por uma análise fria e raciocinada, quais são esses problemas, quais as soluções que importa dar-lhes - saber donde vimos, onde estamos, para onde vamos.
E pensemos, agora que ainda o podemos fazer. Amanhã pode ser tarde, porque a tempestade que tem vindo a acumular-se sobre as nossas cabeças pode desencadear-se e arrastar-nos nos seus turbilhões brutais. A violência da borrasca não nos permitirá que façamos mais do que gestos elementares e instintivos que só não nos trairão se forem, a todo o momento, orientados e dominados por uma personalidade de uma só peça, aquela personalidade que temos de forjar - enquanto é tempo.
(...)»

Bento de Jesus Caraça. A Cultura Integral do Indivíduo-Problema Central do Nosso Tempo. Conferência proferida em 1933.
In Cultura e Emancipação (seguir link)

[A continuar (mais excertos da mesma conferência): Sobre a luta entre o indivíduo e a colectividade e sobre a aquisição da cultura]

Selecção difícil...




A Maria Lisboa nomeou-me e já lhe agradeci. Não acho nada que este cantinho mereça tal voto, mas tomo-o como um carinho.
Para verem a origem desta ideia e o respectivo regulamento, cliquem na imagem.


É difícil escolher, entre muitas maravilhas, um número tão reduzido - mesmo para mim que alargo pouco as minhas visitas na blogosfera por condicionamentos de tempo. Mas não quero deixar de corresponder ao desafio, pelo que aqui vão as minhas nomeações, por ordem alfabética.

Ao Longe os Barcos de Flores

Da crítica da Educação à Educação Crítica

outrÒÓlhar

Página em Branco *


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* Nomeio apenas esse blogue da Maria Lisboa, entre os vários dela ou em que ela colabora, porque o regulamento exige o nome de um blogue. Mas o que me leva a essa nomeação não é só esse blogue, é todo o conjunto de posts e de intervenções combativas dela na blogosfera, incluindo informações/alertas que têm contribuido para que eu, afastada do "terreno", me mantenha também alertada.

** O difícil não foi nomear, mas sim deixar alguns mais por nomear - nesta iniciativa há um regulamento, as nomeações são para enviar por mail, tive que cumprir. Mas deixo aqui ao menos a referência a mais cinco das minhas maravilhas, assim faz a dúzia, que é conta mais a meu gosto (e ainda mais seria se fosse para as duas dúzias, uma nem sequer vai dar para referir as maravilhas todas que são minhas companhias no Aragem). Também por ordem alfabética:
Madalena, Marina, Miguel, Tit, Tsiwari.