terça-feira, outubro 10, 2006

Globalização e políticas educativas...

Estava pensando com os meus botões que a permanente consciência do aprisionamento das políticas nacionais (refiro-me a várias nações) a uma globalização infectada por um "vírus" a meu ver terrível e a frequente centração do meu pensamento nisso (o que não se nota aqui porque este é um blog voltado para a educação e o ensino no nosso país) anda a desviar-me da procura de um entendimento de atitudes e comportamentos que se vão propagando entre os cidadãos comuns, isto é, os cidadãos que não são detentores de poder político ou económico. E, nesse meu cogitar, bateu-me pertinentemente na mente que "o homem é ele e suas circunstâncias" e muito difícil se lhe torna reagir às circunstâncias quando elas são instiladas na sociedade pela força que têm as políticas e ideologias dos que dominam - não já, nos dias de hoje, os governos diferentes de cada país, mas os que dominam o mundo. Em suma, hoje penso nessa frase de Ortega y Gasset com um sentido terrivelmente amplo de circunstâncias a parecerem irreversíveis ou irremovíveis. Será de estranhar que muitos optem por não resistir?
Por isso, são indispensáveis não só as vozes que apelem a resistir e não desistir, mas também uma maior divulgação dos movimentos que, pelo mundo, se vão criando e ampliando contestando a inevitabilidade ou irreversibilidade que se pretende incutir nas mentes - movimentos que vão restituindo a esperança. "Globalização" tem hoje uma conotação de um processo puramente económico, a par da concentração e controle da informação nas mãos do poder financeiro, em suma, de um totalitarismo, mas a mundialização da resistência e da luta por uma sociedade mundial ou global(como se prefira designar) efectivamente democrática não é uma utopia. Inclusivamente, a não desistência dos professores, antes a persistência numa educação para a cidadania e para a formação do pensamento autónomo e crítico (e não apenas para uma integração nos interesses do "deus" mercado) tem uma importância fundamental para que aquele objectivo não seja de facto utópico.
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Aqui deixo uns excertos de um artigo*...

“(...) diversos autores (Petrella, 1999; Weissheimer, 2002; Hirtt, 2001a) chamam a atenção para o processo de mercantilização da educação, destacando que é o mercado que determina o que a educação deve fazer (...). Esses aspectos da educação como mercadoria são reforçados nos discursos oficiais com os argumentos da necessidade de adaptar a educação às mudanças que a "sociedade do conhecimento" exige por parte da escola.
(...)
As reformas internacionais da atualidade têm a mesma configuração, uma vez que estão baseadas nos mesmos princípios: os de tornar a educação um dos motores do crescimento económico, precisando aproximá-la do modelo empresarial, a fim de que ela corresponda à lógica do mercado. Os indicadores dessas reformas (...) apontam para uma formação vinculada à lógica de mercado, voltada para uma sociedade globalizada, na qual o capital, o dinheiro, é mais importante do que o homem como sujeito e ser crítico, produtor de conhecimento e construtor de sua história.
(...)
Contra essa situação alguns movimentos** sociais, sindicatos, a sociedade civil, como lugar das lutas sociais e das resistências, têm-se organizado, buscando saídas e alternativas ao modelo neoliberal. Há um sentimento crescente de que se precisa de outra mundialização, de uma globalização diferente daquela que aumentou a miséria, a exclusão, o desemprego, a dívida dos países em desenvolvimento, o número de analfabetos.
(...)
Nesse contexto de resistência e proposições, a educação, que foi fortemente atingida pelo projeto conservador neoliberal, também tem demonstrado a sua capacidade de organização, buscando caminhos (...) para desenvolver ações que possam barrar esse avanço desmesurado da privatização do ensino, além de buscarem uma educação com qualidade socialmente referenciada, isto é, que não esteja voltada apenas para uma preparação imediata para o mercado de trabalho.
(...)
A certeza de que um outro mundo é possível é que tem congregado as pessoas nas associações, movimentos, sindicatos, organizações não governamentais, buscando conjuntamente a construção dessa nova realidade. Para essa nova configuração societal, a educação deverá ter um papel preponderante, como um poderoso instrumento de libertação dos homens e mulheres e como meio de desenvolver a cidadania e permitir o acesso aos bens socialmente produzidos pela humanidade.
(...)
Os profissionais da educação que deverão actuar nesse novo mundo solidário e justo precisarão ser preparados sob outras bases, nas quais sua dignidade como pessoa e como profissional seja respeitada (...), o perfil dos cursos deve preocupar-se com uma formação para a cidadania que inclua a capacidade de fazer análises críticas da realidade, contribuindo para o bem-estar social.

Essa outra sociedade, diferente da neoliberal, está sendo construída pelos movimentos sociais, mediante a resistência, as lutas, a apresentação de alternativas contra a globalização das desigualdades, a favor da escola pública, contra a mercantilização do ensino e pela construção de "inéditos viáveis", como sonhava Paulo Freire. Essa luta significa a mundialização da resistência, pelo direito à vida, e tem congregado, cada vez mais, um número maior de pessoas, porque este modelo que aí está aumenta o número de excluídos, de despossuídos. A crença de que um outro mundo é possível está posta (...).”

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* MAUES, Olgaíses Cabral. International reforms in education and teacher training. Cad. Pesqui., São Paulo, n. 118, 2003. Disponible en: http: script="sci_arttext&pid=s0100-15742003000100005&lng=es&nrm=iso".

** Nomeadamente, realizações como o Fórum Mundial de Educação (FME), em 2001, o Fórum Continenal da Educação (no Quebec), também em 2001, o Seminário Mundial de Educação (no Fórum Social Mundial), em 2002, bem como manifestações da Rede Social da Educação Pública das Américas (Red Sepa).

1 comentário:

henrique santos disse...

Isabel
de facto para conseguir contrariar o "rolo compresso" da globalização neoliberal que actualmente existe, sustentada pelo "pensamento único" é preciso apontar outros caminhos, congregar outros movimentos, sustentar outras ideias. Os movimentos mundiais dos Fóruns Sociais e Educativos Mundiais e Continentais que já existem e que se constituem como alternativos ao modelo neoliberal são bons exemplos dessa resistência activa e propositiva. "Um outro mundo é possível" e desejável.