quinta-feira, julho 13, 2006

Perplexidade face ao tema 'exames'

Haver ou não haver exames no 9º ano e que significado ou importância atribuir a resultados já são questões polémicas. Só me faltava agora sentir simplesmente perplexidade perante o assunto!!!

A M. teve 3 na prova de Matemática do 9º ano, tal como tivera 3 atribuído por mim na classificação de frequência. Até aqui, nada a justificar a evocação do caso. Entretanto, aconteceu que a P. também teve 3. Ora, com a M. tudo bate certo, enquanto que com a P. tudo leva à perplexidade.
A M. até se sentia sempre preocupada e insegura com a Matemática porque por vezes esta não lhe corria bem, de vez em quando, quer no 8º, quer no 9º, tinha um teste negativo (embora isso estivesse longe de predominar), mas o seu nível à luz dos meus critérios era 3 - critérios que não nascem de subjectividades. Obtido o 3, não era aluna para deixar de estudar nas duas semanas antecedentes ao exame e também nunca iria para este na atitude de já não importar dado que estava "passada" pois, além de briosa, na sua insegurança era-lhe importante provar a si própria que se sairia bem. É por tudo isto que digo que, com a M., o resultado bateu certo. Mas o resultado da P. (aluna daquelas 'fora de série') não só não bateu certo, como parece inexplicável, pois teve apenas 3 como a M. e outros colegas de níveis de competência bem aquém dos dela, sendo a sua descida não de um nível, mas de dois - de 5 para 3. Acresce que qualquer professor que conheceu a P. confirmará que não era só uma boa aluna, ela era (é) excelente. Foi o único 5 que dei no conjunto das minhas duas turmas de 9º, mas dava-lhe 6 se pudesse "furar" a escala.
Sim, a P. tinha um nível muito bom em termos de competências cognitivas, era excelente na relação com a Matemática, já muito autónoma e com o gosto de perceber tudo em profundidade e em pormenor, a sua concentração ia a ponto de não se deixar perturbar por uma turma turbulenta, além de também não ser aluna para ir para o exame achando que o resultado já não tinha importância. E era calma e concentrada, e eu não estou a pensar nalgum engano ou demasiado rigor na correcção da prova - podia não ter chegado aos 90% por qualquer excessivo zelo do corrector ou por percalço seu, mas a verdade é que nem chegou aos 70 (no exame, 4 é atribuído a partir da pontuação 70 inclusive).
Sei que um caso não chega para que o tema 'exame' me passe a causar perplexidade. No entanto, sobretudo depois de ver a prova, não difícil e até quase sem itens que pudessem considerar-se inesperados para os meus alunos, não só não imaginei esta aluna a baixar do seu 5, como também pensei que talvez a H. e o M. subissem os seus quatros - esse 4 em que os mantive porque nos quatros e cincos sou bastante exigente como sempre o reconheceram os meus alunos e vários pais atentos. Pois não subiram, ao contrário, tiveram 3 - mais dois resultados inferiores a 70%, lado a lado com a mesma classificação daqueles colegas que mantiveram um 3 que eu atribuíra como nada mais do que médio - lado a lado, inclusive, com O V., que conseguiu 3 na prova tal como na frequência e, no entanto, o cômputo final foi reprovação de ano. Contudo - e para finalizar estes exemplos com outro a contrariar tendências que aqueles sugerem -, penso na I., com boas capacidades, mas não tão boas quanto a H. ou o M., que foi a exame com 4 e nele 4 teve.

Não consigo, não consigo mesmo imaginar, para mais nesta prova deste ano, como é que a excelente e impecável P. cometeu tantos erros ou lacunas para descontar pelo menos 31 pontos!!! Como é que cometeu quiçá tantos ou quase tantos como colegas de não mais do que nível 3 médio??? Enfim, já não sei aventar hipóteses de causas de certos resultados nos exames, enquanto que até agora, se causas certas não sabia em cada caso, várias me pareciam óbvias enquanto conjunto de situações ou atitudes dos alunos passíveis de ocorrer e de concorrer para taxas de insucesso a nível nacional que interrogo se não são excessivas em termos de correspondência real a verdadeiro défice de competências dos nossos jovens alunos - e, note-se, o tipo de resultados que exemplifiquei não entra na estatística do insucesso, pois limitei-me a casos que, mesmo baixando em relação à nota de frequência, se mantiveram na escala positiva.

P.S.:

Acrescento, não para fugir a pôr-me em causa, mas apenas porque, sendo verdade, é uma achega para a reflexão sobre o assunto, que tenho a felicidade de poder dizer que os alunos que me saíram das mãos para o Secundário com 5 andaram neste pelos 18, 19, valendo então as perguntas: 'o que indica a nota de exame?', 'a nota de exame numa idade de 9º ano indica o mesmo que as notas que os professores atribuirão no Secundário?', 'para que sucesso trabalhamos?', 'significa o sucesso num exame o mesmo que sucesso no prosseguimento da escolaridade ou na vida?'

2 comentários:

carlos ponte disse...

Parece-me ver nesta prosa um meio de esconjurar a “culpa” pelo 3 da P. Não há lugar para perplexidades. São resultados absolutamente normais. Repare que quando queremos medir algo e queremos que o resultado seja o mais fidedigno possível, fazemos várias medições e, após anular aquelas que por excesso ou por defeito se afastam dos resultados "normais", trabalhamos com os restantes. Sem qualquer dúvida, a classificação de P. é um desses casos logo nada significativo para os resultados globais, daí que não seria necessário aquele post scriptum.
Cumprimentos de Carlos Ponte

Anónimo disse...

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