terça-feira, janeiro 09, 2007

Voltei, mas...

Voltei do fim de semana prolongado de repouso, mas... Em repouso, organizações de tempo que continua desorganizado só acontecem em pensamento (ou em imaginação). Não há mal nisso, planeamento antes de acção, e planeamento faz-se na cabeça, é compatível com repouso. O mal é que, algumas vezes, entre tomar decisões e pô-las em prática vai considerável distância. Por acaso, eu até nunca sofri desse mal a não ser desde há muito pouco tempo, e como não quero dizer-me que a perda de qualidades se deve à idade, arranjo outras justificações (desculpas!) para o facto de já tardar demasiado a organização do meu tempo de acordo com algumas das prioridades que decidi e que, dado não serem propriamente obrigações, vão sendo retardadas por aliciantes ou interesses, sim, mas nada prioritários.

De qualquer modo, voltei, mas... quase certa de que este cantinho vai andar ao contrário: repousará durante a semana e acordará (talvez) ao fim de semana. Até vou colocar uma memória que acabei de escrever mas pus em draft para deixar primeiro estas linhas, mas eu sei que estou a desligar-me deste meu cantinho, um tanto por falta de tempo, outro tanto porque cada vez mais sinto que as minhas memórias... são do século passado (melhor dizendo, por vezes parecem-me de um século remoto de alguma minha encarnação anterior). Mas não é por, em grande parte, serem de há um, dois, ou mais decénios atrás que sinto isso.
A verdadeira, verdadeirinha razão da intenção de memórias ter ficado por meia dúzia de casos é que memórias de professor(a) não se reduzem nem são essencialmente casos pontuais, da Rita, da Cláudia, da Cátia ou de outros. Elas são sobretudo situações mais globais. São ambientes e climas de escola(s); são evoluções e involuções em escolas ou na escola em geral; são métodos de ensino; são fases de trabalho colaborativo, partilha de experiências e dinâmicas de reuniões, e fases de esvaziamento disso pela burocratização e gasto de tempo com escassa utilidade pedagógica, com a consequência de o trabalho se tornar compartimentado ou mesmo individualmente isolado; são dinâmicas despoletadas por alguns e contangiando os outros, e perda das mesmas por cansaço ou mudança de escola desses alguns; são, em suma, o bom, o menos bom e o mau.
Claro que uma pessoa pode ficar-se pelas memórias que são boas recordações. Mas, para isso, eu preciso de apagar a marca de algumas vivências de escola nos anos mais recentes, que também a mim fizeram cansar-me e ir fechando-me na sala de aula. Essa marca, que, ao contrário de ser do século passado, precisamente foi marca por ser da parte final da minha vida profissional, não foi causada pela muito grande maioria dos professores da minha (ex)escola - se fosse, não a referiria, não iria particularizar publicamente uma escola. Mas também não se deveu exclusivamente ao tempo da actual ministra e às suas medidas, pois ela pouco ou nada se ocupou de educação e ensino, as suas principais preocupações/prioridades não são essas nem foi para isso que foi posta no cargo.
Eu acredito que os professores empenhados e dedicados são uma maioria. Quanto à indispensável competência científica, sem a qual não bastam outras competências, que até crescem pela intuição e a experiência mas ficam comprometidas sem a primeira, isso já depende da formação que é institucionalmente dada e das oportunidades de colmatar lacunas e insuficiências existentes em (pelo menos) algumas das formações vigentes, começando pelas oportunidades de serem apercebidas pelos próprios.
Mas também sei que há minorias, às vezes até ínfimas, com uma grande habilidade para conseguirem minar uma escola, pelo menos durante algum tempo. E preciso de me esquecer disso, de me distanciar, até não de tempos antigos, mas sim dos anos mais recentes que, por serem muito próximos do final de todo um percurso profissional, me desmotivam de escrita de memórias. Desmotivam porque algumas realidades que não quererei referir me tornam, pelo menos por enquanto, difícil proceder a tal escrita deixando fora dela essas realidades que não ignoro (nem ninguém ignora) que coexistem com o bom e muito bom, que coexistem com todo aquele corpo docente deste país que foi "segurando" quanto possível o nosso sistema de ensino público e tem vindo, mais recentemente, a conseguir (ou a tentar) impedir que ele bata no fundo, fazendo-o sem suficientes recursos e apoios e, agora, sem sequer estímulo ou reconhecimento.

1 comentário:

Anónimo disse...

o desalento, quando se instala, é terrível.