Um depoimento de um participante num conjunto de entrevistas (em que não são feitas perguntas direccionadas para qualquer questão específica que induza algum discorrer não espontâneo), não permite qualquer tipo de generalização. Aliás, os extractos que se seguirão nada acrescentam a causas ou motivos que percebemos para alguns (sublinho "alguns") comportamentos, agressivos e outros, sem precisarmos de depoimentos. Se trago para aqui esses extractos é porque eles têm a particularidade de revelar, da parte de uma menina ainda criança, não só a consciência do efeito da pressão do meio em que vive, mas também indícios de pensamentos de difícil resposta na sua idade, semelhantes a dilemas morais, tratando-se de um caso em que não pode contar com ajuda da família para encontrar as melhores respostas.
Sobre o efeito da pressão social na produção de conformidade a normas ou padrões de grupo**
Sobre o efeito da pressão social na produção de conformidade a normas ou padrões de grupo**
ou
Dilemas numa menina ainda criança
Cátia tinha 12 anos e vivia num meio, quer social, quer familiar, problemático. Mas, embora não fosse minha aluna, sabia que era uma menina que se revelava habitualmente pacífica, não dando quaisquer problemas de comportamento.
"(...)
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Foi cá na escola... Foi com a Vânia. Mas eu tava mesmo a pensar que era mal, porque sim, e isso... Prontos, que eu não devia, porque depois ela ficava pior, e eu também ficava, mas se eu não fosse dar-lhe, ela só andava a provocar, também me chamavam medricas, ou assim.
(...)
Sempre a tratarem-se mal (as pessoas)... Nem todas são assim, não é? A maioria delas são... Não é só no meu bairro.
(...)
Quando vejo crianças ou adultos assim à porrada penso porque é que hão-de fazer isso, não vale a pena, mas muitas das vezes acho que não é assim. As pessoas dizem anda embora, mas como é que é, se eu vou-me embora, as pessoas começam a chamar-me cobarde. Mas ele ou eu pode ficar ferido. Por isso, não sei... Quando eu já for assim um bocadinho adulta... uma pessoa lembrar-se do que se passou, porque uma pessoa não se pode ficar, manter a ouvir, ouvir sem fazer nada. A pessoa também tem que ter as suas responsabilidades, não vai ficar uma parvinha no meio das outras.
(...) Eu tou rodeada de pessoas que mentem, e então eu também já minto. Uma pessoa para se esquivar de levar tareia... de ser maltratada, depois uma pessoa também mente. Mas se uma pessoa sabe que é verdade, não é tar para aí a mentir, a dizer não sei, não sei.
(...)"
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* De estudo já referenciado no post I
** Existem, de há muito, estudos sobre o efeito referido, distinguindo, nomeadamente, a conformidade pública e a privada.
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P.S.:
A Cátia tinha um aproveitamento escolar satisfatório, mas, para o final do ano lectivo (no seu 6º ano), começou a faltar bastante. Apesar das diligências da directora de turma, a mãe obrigava-a a faltar à escola porque "precisava dela".
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A Cátia tinha um aproveitamento escolar satisfatório, mas, para o final do ano lectivo (no seu 6º ano), começou a faltar bastante. Apesar das diligências da directora de turma, a mãe obrigava-a a faltar à escola porque "precisava dela".
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Adenda
Agora que já és "assim um bocadinho adulta", como estarás com os teus dilemas, Cátia? Uma flor para ti... |
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