quinta-feira, janeiro 25, 2007

Mais virada para a leitura do que para a escrita...

...assim meu cantinho vai andando abandonado. Mas, às vezes eu penso nele como se não fosse um espaço virtual, mas um recanto mesmo onde me viesse sentar debaixo de uma trepadeira para soltar e depois guardar entre as pedras de um murinho uma impressão que me deixou o livro que acabei de fechar, ou a alusão a algum momento particular do dia, ou um pensamento que ou me grita ou me murmura através de alguma forma mais ou menos metafórica que me suscita a pena de um poeta ou o pincel de um artista. Ora... porque não? Um blogue não tem que ficar preso ao título, e os posts não têm que ser todos para eventuais visitantes entenderem sem ficarem a perguntar-se: A que propósito vem esta prosa ou esta imagem?

Memórias da vida de professora...? Vêm-me muitas , sobretudo das aulas, de empreendimentos como directora de turma, de casos, enfim... sobretudo memórias 'deles' - os alunos. Vêm-me ao pensamento muito mais do que vinham enquanto ainda estava no activo (nessa altura era o presente, o dia a dia, as turmas desse ano que ocupavam o pensamento). Mas... vêm e também vem logo uma recusa: "Não me apetece escrevê-las" (as memórias), "não, não quero escrever, é passado". E eu sei que isto não faz muito sentido, porque escrever memórias não tem, não tem mesmo que significar saudosismo, não foi com nenhum sentimento desses que iniciei o blogue e lhe dei o título que tem, e continua a não ser ao mantê-lo.
Mas, não vou perder tempo a deslindar o porquê desse não apetecer ou não querer. Se uma memória de prof me puxar para o teclado, escreverei, e se a seguir as memórias não continuarem a puxar para as teclas, não escreverei, e pronto - é simples.

2 comentários:

eccerui disse...

É sempre um risco ser o primeiro a comentar, mas não tão grande como ser o primeiro a escrever. Esse risco não me pertence, é todo teu, e ainda bem, e que bom risco...
Os comentários sabem sempre a pouco... São comentários, nada mais do que isso. E assim deve ser! Nunca conheci teclas que puxassem para algum lado, mas atrevo-me a dizer que as memórias (tuas) sempre puxam para cima. E como é bom lê-las e saber que não são apenas memórias, mas pistas que cada um entenderá como melhor souber.
Obrigado, e que as coisas soltas continuem soltas, com imensa liberdade para quem as quiser apanhar!!!!!

IC disse...

eccerui:
Obrigada pelas tuas palavras, embora eu não saiba se, neste momento, as minhas memórias de prof podem puxar para cima seja o que for, porque nem sei se a mim mesma conseguiriam puxar se ainda estivesse no "terreno", com tanta força externa a empurrar para baixo. Duvido muito que, mesmo que fosse mais nova e, portanto, com mais resistência em termos de horas de trabalho, tivesse condições exteriores a mim para certas iniciativas/inovações na acção com os alunos (minhas, tal como de muitos outros professores num passado até pouco remoto).
Penso que é indispensável que os MEs entendam o que devem/podem ser o horário do professor e as tarefas impostas, e, nestas, não estou sequer a pensar nas actividades de substituição na falta do professor, mas no cada vez maior trabalho quer burocrático, quer parecido pelo insignificante/nulo efeito no que importa: os alunos.
É pouco provável que este comentário seja lido por alguém, para mais já há outro post acima, mas como falar comigo mesma não deixa de me ser útil, acrescento: A profissão de professor até toca muitas vezes características de sacerdócio, mas não tem que ser sacerdócio (nem deve ser, a meu ver). O facto de eu ter tido várias fases de trabalho a exceder largamente as tais 35 horas não foi nunca incompatível com a minha recusa pessoal de a vida ser só, ou quase só, a profissão, e o gosto/dedicação pelo ensino nunca se sobrepôs a essa recusa, nem mesmo nas fases libertas de outras responsabilidades ou obrigações (como mãe, por exemplo). Por isso, não só a questão do horário de trabalho e das tarefas acessórias impostas me parece ter que ser urgentemente (re)encarada com visão correcta, mas também a restituição da autoridade aos professores, bem como a necessidade de um clima de escola que duvido que esteja a ser, neste momento, possibilitador de dinâmicas que contrariem o cair-se no mero trabalho obrigatório de rotina.
Por tudo isto, nem sei se certas dinâmicas/iniciativas passadas da parte de professores neste momento podem funcionar como partilhas que mutuamente enriquecem e mobilizam, ou se não serão até desmoralizadoras face à real diminuição de tempo para elas e de condições psicológicas - e talvez esteja aqui uma razão, que eu própria não ando a entender muito bem, de me apetecer muito pouco escrever "memórias".

P.S. eccerui, obrigada também pelo poema que acrescentaste ao meu post a Eugénio de Andrade.