II - Como proporciona (ou pode proporcionar) a escola referências pró-sociais aos alunos que não as têm no meio problemático em que vivem?
De memória (o que tenho bem) e sem preocupações com terminologias ou com ir buscar as precisões de resultados percentuais, destacarei, de forma sucinta, apenas constatações feitas na análise horizontal dos depoimentos obtidos nas duas investigações referidas no post anterior (e decorrentes só dos fornecidos por pré-adolescentes e adolescentes de meios sociomoralmente problemáticos), circunscritas a dois dos eixos de análise considerados: a) Tipo de situações/comportamentos evocados (sempre espontaneamente, claro) quanto à associação quer ao mal, quer ao bem, a que, por comodidade de escrita, designarei respectivamente por situações negativas e situações positivas; b) Factores que, no entender dos inquiridos, contribuiram para a formação do seu pensamento sobre o bem e o mal.
1. Foi muito predominante a evocação de situações negativas, descritas concretamente pelos informantes do meio referido.
2. Sendo o tema proposto "O bem e o mal", era necessário lembrar aos participantes do referido meio que o tema não era só "o mal", pedindo-lhes que falassem também do que consideravam "o bem". A facilidade de discurso e de exemplificações tida até aí passava então a nítida dificuldade, em vários casos, sendo sobretudo referida a ajuda e a inter-ajuda, mas já de forma quase sempre abstracta. (Lembremos que os inquiridos aqui mencionados são apenas os de meio problemático e que tendiam a referir, e mesmo a descrever, o que observavam directamente no seu quotidiano)
3. Previsto para um segundo momento das entrevistas, depois de terem falado livremente sobre o tema proposto, o pedido de referirem o que achavam que contribuia para o seu pensar sobre o bem e o mal, destaco:
a) O factor indicado com maior e grande frequência foi a observação directa e o que viam na televisão ("às vezes as notícias são só crimes e desgraças" foi um dito de um dos meninos).
b) Também foi referida com elevada frequência a educação familiar (mas com reduzida frequência no subgrupo em que se aliava ao meio problemático a família não acompanhante, o que só poude evidenciar-se no primeiro estudo, dado que no segundo que agora li não puderam ser identificadas previamente características do ambiente familiar, devido ao maior tamanho da amostra).
c) A escola ou professores foram raramente referidos (no âmbito do que disseram concorrer para o seu pensamento sobre o bem e o mal, embora, antes, ao evocarem situações negativas, a escola tivesse sido mencionada por alguns relativamente à agressividade nos recreios)
Pretendi salientar, neste post, apenas o referido acima nos pontos 1 a 3, e, deste último, notar a raridade de referência ao papel da escola ou de professores (ao que acrescento que, no meu estudo, que abrangeu também um grupo de pré-adolescentes de meio claramente oposto ao que se está a considerar, o papel da escola também foi, nesse grupo, raramente referido ).
De memória (o que tenho bem) e sem preocupações com terminologias ou com ir buscar as precisões de resultados percentuais, destacarei, de forma sucinta, apenas constatações feitas na análise horizontal dos depoimentos obtidos nas duas investigações referidas no post anterior (e decorrentes só dos fornecidos por pré-adolescentes e adolescentes de meios sociomoralmente problemáticos), circunscritas a dois dos eixos de análise considerados: a) Tipo de situações/comportamentos evocados (sempre espontaneamente, claro) quanto à associação quer ao mal, quer ao bem, a que, por comodidade de escrita, designarei respectivamente por situações negativas e situações positivas; b) Factores que, no entender dos inquiridos, contribuiram para a formação do seu pensamento sobre o bem e o mal.
1. Foi muito predominante a evocação de situações negativas, descritas concretamente pelos informantes do meio referido.
2. Sendo o tema proposto "O bem e o mal", era necessário lembrar aos participantes do referido meio que o tema não era só "o mal", pedindo-lhes que falassem também do que consideravam "o bem". A facilidade de discurso e de exemplificações tida até aí passava então a nítida dificuldade, em vários casos, sendo sobretudo referida a ajuda e a inter-ajuda, mas já de forma quase sempre abstracta. (Lembremos que os inquiridos aqui mencionados são apenas os de meio problemático e que tendiam a referir, e mesmo a descrever, o que observavam directamente no seu quotidiano)
3. Previsto para um segundo momento das entrevistas, depois de terem falado livremente sobre o tema proposto, o pedido de referirem o que achavam que contribuia para o seu pensar sobre o bem e o mal, destaco:
a) O factor indicado com maior e grande frequência foi a observação directa e o que viam na televisão ("às vezes as notícias são só crimes e desgraças" foi um dito de um dos meninos).
b) Também foi referida com elevada frequência a educação familiar (mas com reduzida frequência no subgrupo em que se aliava ao meio problemático a família não acompanhante, o que só poude evidenciar-se no primeiro estudo, dado que no segundo que agora li não puderam ser identificadas previamente características do ambiente familiar, devido ao maior tamanho da amostra).
c) A escola ou professores foram raramente referidos (no âmbito do que disseram concorrer para o seu pensamento sobre o bem e o mal, embora, antes, ao evocarem situações negativas, a escola tivesse sido mencionada por alguns relativamente à agressividade nos recreios)
Pretendi salientar, neste post, apenas o referido acima nos pontos 1 a 3, e, deste último, notar a raridade de referência ao papel da escola ou de professores (ao que acrescento que, no meu estudo, que abrangeu também um grupo de pré-adolescentes de meio claramente oposto ao que se está a considerar, o papel da escola também foi, nesse grupo, raramente referido ).
Entretanto, ao que, de facto, quero chegar, é à pergunta que coloquei em subtítulo.
No final da semana passada decerto que muitas escolas tiveram actividades comemorativas do Natal. Também, ao longo do ano e, inclusive, com vista a actividades de final de período, serão promovidas diversas iniciativas para os alunos. Várias serão concebidas e preparadas durante algum tempo com a participação deles, sendo esses envolvimentos de alunos oportunidades formativas, quer pela responsabilização e sentido de contributo para a comunidade escolar, quer pelo desenvolvimento da capacidade de iniciativa e da criatividade, etc. Mas... serão todos os alunos, ou todos os alunos de determinada turma, igualmente envolvidos?
É natural que haja, eventualmente, receio de envolver na preparação de iniciativas aqueles alunos considerados problemáticos e de confiar na sua responsabilização. É natural que, para se confiar em que corresponderão, seja necessário ao(s) professor(es) terem já feito a experiência com sucesso. Mas, é minha grande convicção (baseada na experiência) de que esse receio é um erro em, pelo menos, bastantes desses casos. Estarão desmotivados para o estudo e o próprio insucesso contraria esforços para os motivar. Mas eles têm aptidões não reveladas, e muitos correspondem a propostas de participação em acções que envolvam, por exemplo, ajuda, ou contributo para actividades festivas ou outras que promovem a socialização, ultrapassando até as expectativas dos professores. No entanto, com uma condição: que sintam que se confia nos seus contributos e na sua responsabilização por eles (ao que, diga-se, estarão pouco habituados, além de, mesmo quando é autêntica a confiança que o professor lhes manifesta, tenderem eles a desconfiar disso).
Deixo, a finalizar, os links para uma memória escrita neste cantinho, pois é o que tenho à mão para exemplificar/testemunhar o que acabo de dizer.
No final da semana passada decerto que muitas escolas tiveram actividades comemorativas do Natal. Também, ao longo do ano e, inclusive, com vista a actividades de final de período, serão promovidas diversas iniciativas para os alunos. Várias serão concebidas e preparadas durante algum tempo com a participação deles, sendo esses envolvimentos de alunos oportunidades formativas, quer pela responsabilização e sentido de contributo para a comunidade escolar, quer pelo desenvolvimento da capacidade de iniciativa e da criatividade, etc. Mas... serão todos os alunos, ou todos os alunos de determinada turma, igualmente envolvidos?
É natural que haja, eventualmente, receio de envolver na preparação de iniciativas aqueles alunos considerados problemáticos e de confiar na sua responsabilização. É natural que, para se confiar em que corresponderão, seja necessário ao(s) professor(es) terem já feito a experiência com sucesso. Mas, é minha grande convicção (baseada na experiência) de que esse receio é um erro em, pelo menos, bastantes desses casos. Estarão desmotivados para o estudo e o próprio insucesso contraria esforços para os motivar. Mas eles têm aptidões não reveladas, e muitos correspondem a propostas de participação em acções que envolvam, por exemplo, ajuda, ou contributo para actividades festivas ou outras que promovem a socialização, ultrapassando até as expectativas dos professores. No entanto, com uma condição: que sintam que se confia nos seus contributos e na sua responsabilização por eles (ao que, diga-se, estarão pouco habituados, além de, mesmo quando é autêntica a confiança que o professor lhes manifesta, tenderem eles a desconfiar disso).
Deixo, a finalizar, os links para uma memória escrita neste cantinho, pois é o que tenho à mão para exemplificar/testemunhar o que acabo de dizer.
Aos "Engenhocas" - Uma memória (I)
«(...)Tratava-se de uma iniciativa com um grupo de alunos que seleccionáramos como os mais "cadastrados" da escola (...)»
Aos "Engenhocas" - Uma memória (II)
«O investimento (e desafio) na preparação das actividades do final do 1º Período foi na colocação nas mãos dos Engenhocas todas as tarefas de organização das mesmas. (...)»
5 comentários:
e decorrentes só dos fornecidos por pré-adolescentes e adolescentes de meios sociomoralmente problemáticos (esta parte é tua). Diz-me, encontraste jovens que apesar dos meios em que se criaram apresentavam índices sociomorais positivos? é que essa questão entronca com outra que está descrita na literatura que é dos jovens resilientes em meios socioculturais baixos e de pobreza extrema.
Miguel, eu não me debrucei sobre o comportamento, mas sobre o pensar deles, e há estudos que mostram que o juízo moral até de delinquentes não é muito diferente dos outros. Mas, sobre a tua pergunta, a minha amostra foi pequena mas sim, entrevistei meninos de um meio desgraçado que se aguentavam (isso sei porque alguns eram da minha escola). Mas repara que eram pré-adolescentes (ou muito no início da adolescência), a outra tese que replicou a minha é que abrangeu miúdos já mais crescidos, mas não distinguiu o tipo de família (há famílias acompanhantes em bairros degradados), o que a própria autora frisou bastante ser uma limitação do estudo que fez.
Já agora: Tenciono, mas daqui a um tempo, pôr um ou dois posts com palavras deles. Um dos depoimentos que nunca esqueci foi de uma menina de 12 anos que tinha um pensamento muito crítico em relação ao comportamento das pessoas do seu bairro mas que dizia que quando fosse crescida iria concerteza ser como eles porque senão seria "uma parvinha", que até "agora já começo a mentir" e a ser agressiva - o sentido das palavras dela era que teria que se defender sendo como os outros.
Miguel, ainda cá volto para referir outro caso - claro que estou a referir casos isolados, mas são exemplos que ajudam a pensar nestes miúdos, não sei se tenho outras visitas aqui, mas fica tb para o caso de ter.
Um menino de 13 anos que era da minha escola, era impecável apesar de conhecer com todos os pormenores os podres do seu bairro. Mas tinha grande apreço pelos pais, que lhe escondiam o que faziam. Não muito mais tarde os pais foram presos por tráfico de droga e o comportamento do menino alterou-se completamente, e foi enviado para psicólogo. Claro que isto não tem nada a ver com o meu estudo, vários professores da escola acompanharam o caso, não é preciso fazer investigações para se conhecerem estes casos, contei porque se tratou de um trauma, e do menino nunca mais soube nada pois eestava a acabar o 2º ciclo e saiu da escola.
Pois na minha escola não houve, nem é costume haver actividades comemorativas do Natal. Até às 17.30H de dia 15 houve matéria para leccionar!!!
Como diz o outro: aqui trabalha-se...
Isabel, estou muito curoso, porque acho que o desenvolvimento da moral pode ser um pilar fundamental para a mudança, ppor isso tudo o que escreveres será lido por mim com muito interesse.
Miguel, devo dizer que tenho sérias dúvidas acerca da eficácia dessas medidas fundamentalistas
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