A convite do grupo de trabalho da APM para o 3º Ciclo, participei ontem numa reunião. Os objectivos desta foram não só discutir os planos implementados nas escolas (questões gerais, dado que cada escola terá o seu plano particular entre a diversidade de situações, condições, perspectivas e diagnósticos feitos), mas também escolher os temas a incidir no plano de trabalho do referido grupo daquela associação.
Não venho (nem me compete) relatar a reunião. Menciono-a porque, a propósito da acção sobre a disciplina de Matemática, a ocupar neste momento um lugar central no combate ao défice de competências dos alunos portugueses, mais uma vez me vêm à mente dois tipos de questões.
Não venho (nem me compete) relatar a reunião. Menciono-a porque, a propósito da acção sobre a disciplina de Matemática, a ocupar neste momento um lugar central no combate ao défice de competências dos alunos portugueses, mais uma vez me vêm à mente dois tipos de questões.
Desses dois tipos de questões, o primeiro relaciona-se com dificuldades que de facto os nossos alunos revelam na resolução de problemas. Salientam-se-me quer a dificuldade de mobilização de conhecimentos, que até adquiriram, quando necessitam de os seleccionar para resolverem problemas fora do contexto/momento em que foram trabalhados (o que não deixa de ter a ver com o conhecido "problema da transferência"), quer o facto, por vezes aflitivo, de não apreenderem ou de não reterem toda a informação contida num enunciado que não seja bastante curto. São dificuldades que relembrei ontem na reunião, mas que são sobejamente conhecidas pelos professores.
No entanto, as questões da apreensão e retenção de informação escrita não devem, a meu ver, ser encaradas de forma simplista (dizendo-se, por exemplo, que os alunos "são uns cabeças no ar" - pelo menos em situação de testes estão preocupados em concentrar-se o mais possível).
Não cabe numas poucas linhas de um post tentar analisar as causas da dificuldade na leitura, embora testemunhos/considerações que ouvi de alunos meus pudessem ajudar um pouquinho a perceber o que contribui para uma aparente falta de atenção. No entanto, refiro mais uma vez (já o fiz algures neste cantinho) que me parece necessário estudar o que eventualmente se pode estar a passar, a nível cognitivo, com a atenção perante informação escrita. Não só é bastante geral a falta de hábitos de leitura, como a informação é hoje predominantemente captada pelas crianças e adolescentes através do audio-visual (fora do contexto curricular), o que me tem feito perguntar que efeitos isso terá.
Não cabe numas poucas linhas de um post tentar analisar as causas da dificuldade na leitura, embora testemunhos/considerações que ouvi de alunos meus pudessem ajudar um pouquinho a perceber o que contribui para uma aparente falta de atenção. No entanto, refiro mais uma vez (já o fiz algures neste cantinho) que me parece necessário estudar o que eventualmente se pode estar a passar, a nível cognitivo, com a atenção perante informação escrita. Não só é bastante geral a falta de hábitos de leitura, como a informação é hoje predominantemente captada pelas crianças e adolescentes através do audio-visual (fora do contexto curricular), o que me tem feito perguntar que efeitos isso terá.
Entretanto, trata-se de dificuldades que, como já disse, são bem conhecidas pelos professores, pelo que, neste esforço que se está fazendo sobre a disciplina de Matemática, estarão decerto a ser pensadas estratégias mais sistemáticas para ultrapassar ou atenuar essas dificuldades. Também parece ser, finalmente, consensual que parte das dificuldades na resolução de problemas em matemática tem a ver com dificuldades na leitura e interpretação de enunciados - tem a ver, portanto, com competências no âmbito da disciplina de Português -, havendo mesmo a directriz de ser contemplado nos planos para a matemática o trabalho conjunto com os professores daquela disciplina.
Assim, estas considerações nem viriam hoje para aqui se eu não estivesse sob o efeito de ter estado ontem a discutir acções para a Matemática. O que me parece que importa, neste momento, é aguardar pela avaliação das medidas que estão a ser implementadas nas escolas pelos professores de Matemática - mas, (nota importante) que para essa avaliação seja dada voz principalmente aos respectivos professores, e não a comentadores de números estatísticos fornecidos por apenas um exame, no final do ano lectivo.
Entretanto, outro tipo de considerações me ocorrem. Matemática e Português, português e matemática, matemática e português... é o que se ouve. E as outras disciplinas? Porque não se fala também no reforço do concurso delas para o desenvolvimento de competências de interpretação, relacionação, raciocínio indutivo e raciocínio dedutivo? Porque não se fala, até, no seu papel sobre o chamado problema da transferência que acima referi, sobretudo quando algumas disciplinas lidam com frequência com conhecimentos de matemática?
E, a finalizar, já que este post surge a propósito de uma reunião no âmbito da Associação de professores de Matemática, pergunto também (sem nenhuma insinuação implícita de resposta, pois não conheço a actividade das outras associações profissionais de professores), pergunto também, dizia, se as outras associações estão a assumir o seu papel ou contributo na perspectiva de que colmatar os défices de competências dos nossos alunos diz respeito a todas as disciplinas, apesar de o ME se mostrar predominantemente preocupado com as lacunas em matemática e com as responsabilidades dos professores desta disciplina nessas lacunas que nem sequer dizem sempre respeito só a ela, ou sequer, nalguns aspectos, essencialmente a ela.
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1 comentário:
O que fazem as associações de outras disciplinas também não sei, mas que professores de outras disciplinas se preocupam com a resolução de problemas e ensino pela descoberta, é um facto. Quanto à capacidade de retenção de informação escrita dos nossos jovens, é um outro facto incontestável, no entanto gostaria de lhe lembrar algumas questões a proposito das ditas "raízes" das dificuldades em Matemática.
Parece-me que a desculpabilização a que tenho assistido por parte de muitos professores de Matemática (acredito pelo que conheço do seu blog que não seja o seu caso) não é correcta. Com efeito, esses alunos com dificuldades tais a Português que lhes impossibilitam a descodificação de um enunciado, garantidamente não descodificarão qualquer texto em qualquer outra disciplina. Esses são os casos extremos que infelizmente tambem abundam, mas gostaria de ver os professores de Matemática, muitos dos quais revelam eles proprios algunmas dificuldades no Português e muitos de forma honesta assumem que já enquanto alunos o sentiam, a explicar casos, infelizmente também relativamente vulgares, de alunos, que tendo capacidades por vezes acima da média a Português, História, Linguas, apresentam sucessivamente maus resultados a Matemática. Quando em reuniões de Conselho de turma se interrogam estes casos os professores de matemática invariavelmente respondem que são alunos que até estudam e se interessam mas têm poucas capacidades!! Acredito que a APM não veicule opiniões deste tipo mas acredite que a atribuição de culpas de maus resultados na disciplina a dificuldade noutras áreas tem servido para um discurso extrememente desculpabilizante de professores de uma disciplina que, por exemplo na minha escola tem no 3º ciclo 3 blocos de 90 minutos semanais! Com todas as condições que estão a ser dadas estava na altura de se ver algum resultado ou pelo menos uma mudança de discurso! É que eu na minha disciplina, que também tem caracter cumulativo, talvez mais do que a Matematica, só disponho de 90 minutos semanais de contacto com os meus alunos!
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