quinta-feira, dezembro 07, 2006

Intervalo para um poema

O RELÓGIO
(adereço conceptual para usar no pulso)

Pára-me um tempo por dentro
Passa-me um tempo por fora.

O tempo que foi constante
no meu contratempo estar
passa-me agora adiante
como se fosse parar.
Por cada relógio certo
no tempo que sou agora
há um tempo descoberto
no tempo que se demora.

Fica-me o tempo por dentro
passa-me o tempo por fora.
Ary dos Santos. Adereços, Endereços (1965)

2 comentários:

Marina disse...

o tempo que passa por fora envelhece mas o que fica por dentro enriquece, nao e?
Digo eu, que ainda estou pouco experinete nestas coisas de passagem do tempo!

Beijitos IC e bom fim-de-semana!
Espero que o tempo passe bem devagarinho!

Anónimo disse...

No tempo psicológico, no que "me pára por dentro", Ary estará sempre vivo, mas, no que passa por fora, Ary deixou-nos já há uma eternidade... (e aqui juntam-se os tempos - o cronológico com o psicológico.)