Um paper mostrado pelo JMA, intitulado “Collaborative Cultures”, fez-me pensar, mais uma vez, nas condições de hoje nas nossas escolas - condições e estímulos - para o trabalho colaborativo entre professores. Nesse paper refere-se, por exemplo: “Teachers engage in frequent, continuous, and increasingly concrete and precise talk about teaching practice.”
Lembrei-me de uma reportagem que li há tempos (perdi-a, já não está online) sobre os professores da Finlândia - país que tanto se aponta como modelo na Educação enquanto os nossos governantes em nada nele se inspiram -, reportagem na qual se dizia que os professores têm tempos semanais para trabalho colaborativo.
Lembrei-me ainda de uma mesa redonda publicada há poucos meses, não recordo se no jornal do SPGL, se no da FENPROF, em que Lurdes Silva (uma amiga minha ex-sindicalista que continua a dar alguma colaboração à FENPROF) pedia à Ministra da Educação "um simples papelinho", "só um simples papelinho" a determinar que fosse incluído nos horários, na componente não lectiva de estabelecimento, tempo para reuniões de trabalho colaborativo entre professores. E recordei então um pequeno episódio que relato mais abaixo e que tem a ver com as prioridades de MLR para essa componente dos horários.
Mas não preciso de ir a exemplos de outros países. Encontro nas minhas memórias muitas boas recordações de trabalho colaborativo que eu própria vivenciei. Trabalho colaborativo no meu grupo de disciplina; trabalho colaborativo na concretização de projectos extracurriculares; trabalho colaborativo de apoio a jovens colegas.
Recordo, como mero exemplo, o grupo da A., da C. e da M.J., todas professoras de Matemática de longa experiência e reconhecida competência, que, no entanto, me pediam (porque eu era coordenadora) que convocasse reuniões extraordinárias, embora informalmente, sem marcação de faltas (mas o grupo comparecia todo), para debatermos, trocar ideias, partilhar estratégias e procedimentos didácticos que se revelassem mais bem sucedidos face às dificuldades dos alunos, enfim, para unirmos o nosso empenho e entusiasmo nisto de ensinar.
Mas não preciso de ir a exemplos de outros países. Encontro nas minhas memórias muitas boas recordações de trabalho colaborativo que eu própria vivenciei. Trabalho colaborativo no meu grupo de disciplina; trabalho colaborativo na concretização de projectos extracurriculares; trabalho colaborativo de apoio a jovens colegas.
Recordo, como mero exemplo, o grupo da A., da C. e da M.J., todas professoras de Matemática de longa experiência e reconhecida competência, que, no entanto, me pediam (porque eu era coordenadora) que convocasse reuniões extraordinárias, embora informalmente, sem marcação de faltas (mas o grupo comparecia todo), para debatermos, trocar ideias, partilhar estratégias e procedimentos didácticos que se revelassem mais bem sucedidos face às dificuldades dos alunos, enfim, para unirmos o nosso empenho e entusiasmo nisto de ensinar.
Essas reuniões - tal como outras entre colegas de disciplinas diferentes, em que várias vezes participei - realizavam-se voluntariamente, por gosto e com gosto, pois muitos professores davam bem mais tempo a trabalho na escola do que aquele a que o seu horário obrigava antes da tal componente não lectiva que MLR estabeleceu com vista às actividades de substituição chamadas 'não lectivas' para não custarem ao Estado.
Mas, nas minhas memórias mais recentes, já encontro recordações diferentes, digamos que recordações não boas. Nas minhas memórias mais recentes, encontro reuniões de departamento sobrecarregadas de informações e de papelada, que terminavam com a pergunta: Quando teremos tempo para falar das aulas?
E, sobre trabalho colaborativo, a minha última recordação é reveladora dos critérios e das prioridades de Maria de Lurdes Rodrigues. Eu conto (foi no meu último ano de actividade docente - ainda a procissão dos decretos e despachos ia no adro):
Mas, nas minhas memórias mais recentes, já encontro recordações diferentes, digamos que recordações não boas. Nas minhas memórias mais recentes, encontro reuniões de departamento sobrecarregadas de informações e de papelada, que terminavam com a pergunta: Quando teremos tempo para falar das aulas?
E, sobre trabalho colaborativo, a minha última recordação é reveladora dos critérios e das prioridades de Maria de Lurdes Rodrigues. Eu conto (foi no meu último ano de actividade docente - ainda a procissão dos decretos e despachos ia no adro):
Sabendo que iria ser introduzida, nos nossos horários, a componente não lectiva de estabelecimento, solicitei por escrito, ao meu presidente e em nome do pequeno grupo de Matemática do 3º Ciclo (éramos apenas três), que nos fosse atribuído um tempo semanal comum para reunião de trabalho. O pedido fundamentou-se na necessidade de reforço do trabalho nessa disciplina, necessidade que os resultados dos primeiros exames nacionais do 9º ano tinham trazido para as vozes do ME e da comunicação social. O pedido foi atendido, mas o meu presidente recomendou-nos muito que fizéssemos por que passasse despercebido na escola para que outros grupos não pedissem o mesmo – nomeadamente o de Português e o do 2º Ciclo de Matemática, mais numerosos e que teriam os mesmos argumentos. A preocupação do presidente residia no facto de que lhe seria impossível atender outros pedidos para tempo de trabalho colaborativo, por muito que o considerasse necessário, dada a obsessão da Ministra em que não houvesse nenhum aluno no recreio fora dos intervalos, pelo que a grande maioria dos tempos não lectivos tinha que ser destinada a ter sempre professores disponíveis (na maior parte das vezes desocupados na sala de professores) para eventuais substituições – e assim foi essencialmente “aproveitada” a componente não lectiva de estabelecimento, nesse primeiro ano em que as escolas nem tinham tido tempo para organizarem actividades de substituição.
O exemplo que acabei de dar é hoje insignificante face a tudo o que veio depois atolar os professores em papelada – e, também, gerar climas de competição em vez de colaboração. Muitos professores passaram a ter mais reuniões, mas não para se ocuparem dos alunos ou de algo que acreditem repercutir-se positivamente no trabalho com eles e para eles.
O exemplo que acabei de dar é hoje insignificante face a tudo o que veio depois atolar os professores em papelada – e, também, gerar climas de competição em vez de colaboração. Muitos professores passaram a ter mais reuniões, mas não para se ocuparem dos alunos ou de algo que acreditem repercutir-se positivamente no trabalho com eles e para eles.
Que condições teria hoje para prolongar as boas recordações – que são muitas – de trabalho colaborativo entre professores visando os alunos, a real melhoria das suas aprendizagens e também as iniciativas extracurriculares que contribuem para a sua formação global?
Que condições e estímulos deu Maria de Lurdes Rodrigues?
Que condições e estímulos deu Maria de Lurdes Rodrigues?
P.S.
Eu não disse, nem as minhas memórias me dizem, que todos os professores tinham uma cultura de trabalho colaborativo, e talvez se estivesse longe dessa generalização. Mas, o certo é que minar o que de bom já exista nunca é caminho sensato para melhorar seja o que for.
7 comentários:
Este assunto dá pano para mangas, IC. Há um procedimento extremamente simples que deve ser aplicado em todos os departamentos e que pode facilitar o desenvolvimento da colaboração: criar um espaço/local (virtual - moodle? - ou não) para as informações de carácter geral que ocupam, normalmente, parte significativa do tempo das reuniões. É preciso ocupar o tempo de reuniões com o essencial – debate, reflexão, partilha, deliberações,...
Concordo inteiramente com o que escreves, IC, e com o que o Miguel relembra.
As reuniões destes HiperMegaSuperAgrupamentos são, na sua generalidade, desperdiçadas com meras transmissões de informações...
É necessário agilizar esse passar de informações. É precioso o tempo destinado ao trabalho colaborativo entre disciplinas afins e, não devemos esquecer, entre Conselhos de Turma (CT). Os Projectos Curriculares de Turma só serão realidade qdo as reuniões de CT forem mais frequentes e, sobretudo, mais rentabilizadas.
Bjo e bfs
Meus caros Miguel e Tsiwari, o assunto dá mesmo pano para mangas e eu reconheço que não é fácil organizar os horários para rentabilizar a componente não lectiva de estabelecimento. Deixo só algumas notas:
1. Na minha escola era norma afixar no prazo de 48 h um resumo de acta do CP com as informações, mas chegava-se à reunião de departamento sem que a maior parte tivesse lido. Mas penso que isto se resolveria com uma sensibilização-responsabilização dos professores.
2. Acho que tudo começou mal com a prioridade às substituições. Qual o balanço delas? Estarão a ser assim tão importantes? (Para mais, ouço dizer que os professores passaram a faltar muito menos)
3. Os departamentos já eram grandes (na minha escola cada um abrangia a disciplina dos dois ciclos - 2º e 3º). Agora, são enormes, mas nada impede que se subdividam para reuniões.
4. Parece que vão ser dadas horas aos coordenadores-avaliadores. Poderiam não ser dadas apenas para trabalho individual, mas sim previstas para funcionarem em tempos comuns com outros professores.
Enfim... a grande e primeira questão está no clima que seria necessário para que o trabalho colaborativo fosse uma das prioridades. Mas esta ministra não cuidou nem de bons "climas", nem de estímulo. Tudo ficou mal à partida.
E, quanto aos conselhos de turma e aos projectos curiculares de turma... bem, nem digo nada. Uma das tristes memórias que tenho é das reuniões com toda a gente em silêncio a preencher os planos de recuperação (já havia, mas a ministra fez deles mais papelada)- três páginas a multiplicar por n alunos, cada professor para seu lado a preencher os seus espaços na papelada que ia rodando.
Enquanto não se entender que planos, estratégias, etc. (e grelhas) têm é que estar na cabeça de cada um e serem partilhados e debatidos oralmente, deixando-se para papeis só um resumo com o essencial... enfim... não digo mais.
P.S.
Errata: curriculares, não curiculares.
(Ora! Que o mal fossem as gralhas!)
Boa reflexão. Para haver trabalho colaborativo tem de haver confiança. Para haver confiança tem de haver espaços e tempos e clima e projectos comuns. Só assim a cultura se constrói e dá frutos. Evidentemente que este objectivo político nunca existiu.
JMA, fico mais segura do que penso, porque também me parece que esse objectivo político nunca existiu. Mas, por acaso, hoje estou um pouco esgotada por mais uma longa discussão com um grande amigo (não é professor, mas até já foi), ele "bate-me" por eu culpabilizar tanto a actual política educativa. Enfim... eu sei que também há muito a construir pelos próprios professores, mas ninguém me convenceu até agora que não seja verdade que a actual política educativa criou grandes dificuldades a isso.
Não é uma questão de opinião ou crença, ou ideologia, ou partido: é uma questão de facto. Há medidas positivas neste mandato, claro. Mas não foram nunca nesta direcção. E se foram, quais são? Que efeitos tiveram?
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