«(...) Embora ainda há pouco tempo contássemos, para citar o poeta alemão Hölderlin, que "onde há perigo, cresce também a salvação", está agora a aparecer no horizonte uma contrarrealidade nova: onde há salvação, cresce também o perigo. De imediato, insinuou-se na cabeça das pessoas uma questão nervosa: as medidas tomadas para salvar o euro estarão a acabar com a democracia europeia? Será que a UE "resgatada" está a deixar de ser uma União Europeia, tal como a conhecemos, e a tornar-se um IE, um Império Europeu com selo alemão? Esta crise interminável estará a parir um monstro político? (destaque meu)
Não há muito, era comum falar-se em termos depreciativos sobre a dissonância dentro da União Europeia. Agora, de repente, a Europa tem um único telefone: toca em Berlim e, de momento, pertence a Angela Merkel.(...)»
Ulrich Beck (sociólogo alemão) in The Guardian, 1Dez2011
2 comentários:
Estimada I.C.
Aqui venho, essencialmente para a saudar.
As atmosferas (europeia, em geral, e portuguesa, em particular) andam sombrias. Vemos, com enorme inquietação, a densa poeira que vai tornando mais opaca e irrespirável a vida do quotidiano. Surpreende e inquieta, sobretudo, que, para um problema (em grande parte) artificial, "a" resposta esteja a ser buscada em soluções (ditas) de "salvação nacional". Foi assim na Grécia. Está a ser assim na Itália.
Mas a realidade é mais subtil e, por vezes, deparamo-nos com pequenos nadas, com micro-sinais, que nos surpreendem e nos tocam, que espalham alguma luz e permitem alimentar alguma esperança, mesmo nos contextos mais adversos.
Aqui lhe ofereço uma breve interpretação de um desses pequenos sinais, interpretação que Haydn "exigiu" acompanhar.
Saúdo-a cordialmente.
Á.G.
http://www.youtube.com/watch?v=eMGzYGzgdag
Caro Professor Á.G.
Fiquei muito sensibilizada com a sua visita e agradeço-lhe o vídeo em que, ao som de Haydn, o seu belo texto releva um desses pequeninos sinais de alguma luz e esperança, contra, aliás, algumas vozes cínicas que não tiverem pudor de acusar de hipócritas as lágrimas de Elsa Fornero, talvez para tapar os olhos à insensibilidade com que, por cá, os governantes falam e falam de números e raramente de pessoas. Como se os portugueses, inclusive os mais pobres, fossem não pessoas mas notas de euros a usurpar, enquanto permanecem intocáveis os "grandes" sem ao menos darem algum exemplo, mesmo que só moral.
Este é um tempo de grande dor para quem assiste à derrocada dos valores que nortearam toda a sua vida, e à quase derrocada da esperança - digo "quase" porque em mim a esperança não morre, mesmo que num futuro que eu já não veja.
Um abraço amistoso e sentido
Isabel
Enviar um comentário