Antes de me referir a DEVER, devo salientar o DIREITO de todos os portugueses sem excepção poderem ter acesso às intenções programáticas do novo Governo. Só não vale a pena lembrar factos irreversíveis tais como as omissões na campanha eleitoral (aliás habituais, infelizmente, em campanhas anteriores dos partidos do chamado arco governativo) porque o povo português legitimou a actual maioria e o actual governo e, portanto, agora é momento de olhar para a frente, não para trás.
Entretanto, sem deixar de afirmar que o povo português não é nada estúpido ou parvo, há todos aqueles que emitem opiniões (quer com grande visibilidade/audição, quer apenas no seu pequeno círculo de convívio, ou nos seus escritos lidos por raros) que são mais "alfabetizados politicamente" (deixem-me usar esta expressão para simplificar). E são estes que, primordialmente, têm o DEVER (ou deveriam sentir esse DEVER) de começar por fazer o que eu hoje já cumpri.
Por uma questão de honestidade intelectual, esvaziei a minha cabeça das ideias ou juízos que já tinha pré-concebidos para assim ler o programa apresentado pelo Governo e ouvir com atenção quer as respostas principalmente do Primeiro Ministro e do Ministro das Finanças na Assembleia da República, quer as dúvidas, críticas e discordâncias das Oposições (tendo em consideração que o Partido Socialista está vinculado ao acordo com a troika, mas não deixa, por isso, de poder ser oposição quanto a medidas não explícitas nesse acordo).
Li e ouvi sinceramente com a minha cabeça como disse acima, pois este é o governo que foi eleito para enfrentar e gerir o Levantar do meu país, humilhado e quase afundado.
Cumprido o que considerei ser meu DEVER conseguir começar por cumprir, passo agora à questão de dar (ou não dar) a este Governo o benefício da dúvida.
E não, não me é possível dar mais do que o benefício da espera - uma espera de que o 1º Ministro cumpra uma coisa que afirmou: que estará aberto a obter consensos mais alargados pela atenção a todos os partidos da oposição. É o benefício da espera para ver se essa sua afirmação corresponderá a uma reflexão da sua parte sobre, ao menos, políticas parcelares ainda vagas, que atenuem um pouco a injustiça de fazer o povo pagar mais e mais a dívida que não é sua poupando os responsáveis por ela (que não são só o Estado), e também sobre as opções que muitos economistas consideram invertidas em termos de prioridade no sentido de gerar investimento na produtividade e desenvolvimento (aqui sou leiga, só posso dar o tal benefício da espera em termos de desejar reflexões correctas)
Propriamente o benefício da dúvida não dou. Porque, com este exercício honesto que me obriguei a fazer, eu não deixei de ser a mesma que colocou o post anterior com o título "Mensagem que urge gritar aos povos: Este não é o único mundo possível".
Um mundo conformado com o neoliberalismo (acerbado) não é o único mundo possível. E uma Europa a subjugar-se e a desistir de si mesma nos valores que já teve não tem que ser inevitável. E há um país que, apesar de ser nela dos "pequenos", tem os olhos dessa Europa postos nele, em primeiro lugar a seguir à Grécia. Esse país é o nosso, merecia, por isso, ter um governo menos conivente, um governo que pugnasse por manter ao menos o Estado Social mínimo que ainda seria possível manter, em vez de, muito provavelmente, o reduzir a Zero.
Nota: Este meu cantinho é um blogue sobre Educação. Mas, neste momento, considero que o programa governamental para a Educação está inserido numa ideologia global que abrangerá toda a política concernente ao que deveria ser - e não será - uma das prioridades: Uma Educação e um Ensino de qualidade para todos. Por isso, de pouco valeria centrar a atenção no programa específico para a Educação (intitulado, como que por ironia, "O desafio do futuro") desinserido do programa geral.
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