sexta-feira, setembro 03, 2010

A preocupação...

Foi há mais de três anos. À mesa de jantar familiar, conversávamos na brincadeira com o meu neto (então no 8º ano) sobre a adolescência. Às tantas, veio a propósito, perguntei-lhe: _Qual é a tua maior preocupação? Resposta quase imediata: _ Não adormecer numa aula.

Risos, ao mesmo tempo perplexos.

_Não estou a brincar, é verdade. Tenho aulas em que faço um esforço tão grande para manter os olhos abertos e, mesmo assim, de vez em quando fecham-se. E se eu adormeço mesmo, com todos a verem?


Por motivo de morada, já fez o 9º ano noutra escola, onde permanece, agora prestes a começar o 12º. Felizmente (ou sorte)... não voltou a ter tal preocupação.


Razão daquela? Ele mesmo explicou: _Nalgumas disciplinas os professores e professoras falam todo o tempo. Eu ainda perguntei: _E não vos fazem participar, não vos vão fazendo perguntas? Resposta: _Só às vezes.


Eu e a mãe preferimos mudar de conversa. Também não a vou continuar aqui, mas os amigos que me lerem podem contar, na sala de professores, esta história da grande preocupação de um adolescente num ano lectivo. Porque a verdade é para dizer: Ainda há quem passe boa parte das aulas a expor para uma turma passiva. Ou talvez não tão passiva assim, pois os alunos em geral não adormecem; resolvem a questão conversando indisciplinadamente uns com os outros. São uns indisciplinados!!!


ADENDA

Antoine de La Garanderie, num livro de que não lembro o nome, punha na boca dos alunos estas palavras: "Professor, não nos diga para estarmos atentos, diga-nos antes como devemos fazer para estarmos atentos". Parafraseando La Garanderie, eu diria: Professor, não nos diga para estarmos atentos, venha antes às nossas mesas guiar as nossas actividades.

(Com muitas saudades)

3 comentários:

Isabel Preto disse...

Estou a gostar desta nova vertente do Blog: Por vezes, nem pensamos nesses pormenores, mas é certo, se prepararmos aulas em que eles vão construindo saberes, em vez de ouvir...resolvem-se muitos problemas!
Beijinhos tão grandes.

Miguel Pinto disse...

É um caminho desafiador aquele que escolheste, IC. :)
Reforças o problema do ensino estar centrado apenas na acção do professor, como se fosse indiferente o tipo de alunos que assistem às aulas: Desde que o professor ensine, pouco importa se os alunos aprendem.
Na minha área disciplinar este problema é descrita por um palavrão: "densidade motora" da aula precária.

Miguel Pinto disse...

o problema é descrito e não "descrita", naturalmente