Já que fui citada no artigo da jornalista Ângela Marques publicado hoje no Diário de Notícias (aqui), trasncrevo na íntegra o texto do meu e-mail em resposta ao pedido da minha opinião sobre o crescente uso de blogues por professores.
«Olá, Ângela Marques
Vou tentar dizer rapidamente o que penso, mas fico à disposição para algumas questões concretas que eventualmente queira colocar. E vou referir-me apenas aos blogues de professores que são assumidos como tendo por temáticas essencias as relacionadas com educação-ensino (ensino não superior).
Não me detenho no importante e óbvio aspecto geral de a blogosfera ser um espaço de liberdade de expressão e de opinião públicas aberto a todos os que o queiram utilizar.
Começo por salientar a importância de um tipo de blogues de professores voltados principalmente para a partilha de experiências e práticas, cujos autores são professores que procuram sempre inovar, que procuram novos recursos nomeadamente no campo do uso das TIC no ensino, e que partilham as suas experiências, interrogam, avaliam e proporcionam nessa partilha enriquecimento para todos os que os lêem, quer para os que também partilham as suas, quer sobretudo para os professores mais novos, dos quais há já bastantes testemunhos do apreço pelo que aprendem com outros já mais experientes. Há já bastantes blogues deste tipo, cito um apenas a título de exemplo - O Tempo de Teia:
http://tempodeteia.blogspot.com/ .
Ainda neste âmbito, há também blogues cujos autores, dominando bem as TIC, têm principalmente (ou até exclusivamente) o objectivo de divulgar os novos recursos aplicáveis ao ensino que constantemente estão a surgir, e que são preciosos para os professores que, não tendo tido uma formação nesse campo, desejam actualizar-se dado que se torna urgente a generalização do uso desses recursos, aliás motivadores para os alunos. Um exemplo: O Educação, Matemática e Tecnologias (não só recursos aplicáveis na Matemática, apesar do título):
http://blog.joseoliveira.net/
Passando para outro tipo de blog mais voltado para a política educativa e para a análise das novas medidas, é natural que encontre crítica, mas é também aí que se encontram publicadas a análise e a opinião dos que estão no "terreno", são os professores quem conhece bem este, mas são os professores precisamente os que raro espaço têm na comunicação social para serem ouvidos, mesmo quando na comunicação social são denegridos, acusados, todos metidos no mesmo saco.
Entre estes blogues, há blogues de bastante qualidade, cujos autores escolheram o ensino por vocação e, muitos, por paixão mesmo, e a exposição e debate de ideias é sempre importante como dinamização do pensamento e da reflexão, para o que há cada vez menos espaço e tempo dentro das escolas devido à catadupa de papelada e tarefas burocráticas que tem caído nas reuniões dos diversos orgãos da escola. E, se haverá professores cujos blogues possam denotar mais preocupação com a situação profissional dos docentes, outros há cujas temáticas de discussão são na defesa da escola pública e na preocupação com os alunos (os alunos todos).
Pronto, já disse o suficiente para mostrar que considero positivo o crescente interesse dos professores pela blogosfera. Como em tudo, há qualidade melhor e qualidade menor.
Mas quero ainda referir um outro uso crescente do blog pelos professores, que é a criação de blogs de turmas. Seja para a escrita de contos e poemas pelos alunos, seja para a divulgação de trabalhos destes, seja, no caso de turmas de anos mais avançados, para tratarem temas curriculares exigindo pesquisa ou proporcionando debate, etc. - o blog é motivador para os alunos e, através de um blog orientado pelo professor podem desenvolver várias competências.
Duas notas finais sobre duas observações suas:
1ª - Confesso que nunca vi dizer mal dos alunos em blogues. Mas é preciso ter em atenção dois aspectos. Um, é que há blogues de professores que são mesmo uma espécie de diário, tanto falam de outras coisas do quotidiano como das aulas, e creia que há muitos professores que quanto mais se preocupam com os alunos, mais se desesperam quando não trabalham, é natural que tenha encontrado desabafos. Outro aspecto, é que não se confunda a referência à perda de hábitos de trabalho e esforço, e à indisciplina, notoriamente crescentes nos últimos 10 ou 15 anos, com atribuição de "culpa" aos alunos. Os professores "bloguistas" mais considerados, quando referem isso, sabem e apontam que as causas são variadas, devendo preocupar toda a sociedade - pais, professores, governo, responsáveis pelos media (principalmente TV), ...
2ª - Pergunta se os blogues dos professores são lidos pelos alunos. Penso que terão pouca curiosidade por isso e, exceptuando os blogues que são criados para alunos, naturalmente que os professores não vão publicitá-los nas turmas, tal como nas aulas o que se deve é desenvolver competências de análise e de crítica fundamentada, não fazer a cabeça dos alunos com as ideias pessoais dos professores.
Desejo-lhe bom trabalho (que será decerto árduo, pois a variedade é grande e mesmo cada blogue não pode ser percebido quanto às suas temáticas predominantes por pequena amostra de postagens.
Com os melhores cumprimentos
Isabel Campeão, professora de Matemática aposentada desde Setembro último, blogue: http://msprof.blogspot.com»
14 comentários:
Pois é, Isabel. E por falar em culpa, é evidente que a culpa é dos professores dos jornalistas porque não foram capazes de suscitar o desenvolvimento do espírito crítico... Gostei muito do teu depoimento. Parabéns.
Ah... é só para te dizer que estás em forma :)
Por tudo isto que é dito, e mais pelo que fica por dizer, o teu blogue é um dos meus thinking blogs, IC. :)
Já li o artigo em questão em que fui citada embora não consultada. Acabei por não entender se o artigo foi bom ou mau, mas no fim acho que deixou transparecer que os professores desabafam ali pois não há quem os ouça. Tenho pena que me tenham citado (por vezes restiraram frases do contexto mas enfim, já sabemos como são os jornalistas) sem me consultarem, mas enfim, o que está na net é público... acho eu.
Mas ainda bem que a IC contribuiu para o artigo. O seu contributo foi o que deu mais... como dizer isto... notoriedade ao artigo.
Beijinhos
Miguel, obrigada. Nem deve ser preciso dizer-te (acho que sabes) que o teu blogue também é um dos meus thinking blogs :)
Professorinha:
Eu percebi logo no pedido de opinião da jornalista que ela estava a achar que nos blogues se diz "mal" dos alunos. E acho que fiz bem em publicar aqui o meu depoimento todo, pois já tive curiosidade de ir ver o meu site de estatísticas e estou a ter muitas visitas de pessoas que entram por procura do nome do meu blogue, que vinha referido no artigo, ao menos essas pessoas lerão algo mais do meu depoimento do que o que dele foi publicado.
Não consegui ficar indiferente.
Não vou gastar muitas palavras. O que está dito, está muito bem dito (bendito!).
A jornalista, possivelmente, deve lembrar-se do que passou na escola, o que fez e como fez.
Abraço de uma professora do Porto.
Também vou recuperar a integralidade das minhas respostas à jornalista AMarques.
Sendo acoisa mais curta concordamos em quase tudo na análise.
Olá Isabel :)
Bom, depois de a Professorinha me ter informado, fui ler o artigo do DN. E fiquei surpresa, confusa e de algum modo, insatisfeita.
Tal como a Professorinha, tenho pena que não nos tenham pedido opinião e que tenham retirado dos nossos post's apenas algumas frases descontextualizadas.
Ao ler o artigo, fiquei com a sensação de que a jornalista e a Isabel não perceberam os respectivos pontos de vista e, além disso, que é grave, a jornalista conseguiu, como quase todos os jornalistas, distorcer a informação, ora vejam:
A Isabel diz: "Nunca vi dizer mal dos alunos em blogues" e a jornalista contrapõe dando exemplos de um blog onde se escreve: "Hoje os dois demónios do 7º3..." E logo de seguida a jornalista coloca uma frase da Isabel: "como em tudo, há qualidade maior e menor".
Quando li o artigo fiquei com a sensação de que a Isabel estava a ser entrevistada e que estava a dizer que alguns blog's tinham pouca qualidade porque tinham aquele tipo de discurso! Nem queria acreditar!
Obrigada, Isabel, por nos ter disponibilizado o email que enviou à jornalista. Acho que escreveu muito bem. Foi pena não ter sido bem interpretada...
Penso que a jornalista, como não nos entrevistou, não percebe porque nos queixamos dos alunos, ou melhor, qual é realmente o objectivo das nossas lamentações.
Para além de ser um desabafo, tipo "terapia virtual", é um modo de tornar público o que se passa na grande maioria das escolas do nosso país e que passa ao lado de muita gente, inclusive de quem não devia passar - o governo! Insegurança, violência, desrespeito, enfim...
Penso, também, que a jornalista, ao dizer que há blogues que dizem mal dos alunos, não o disse ou pensou com "mau intuito"... talvez no sentido em que temos muitos problemas de indisciplina na escola - o que nos leva a fazer esta confissão na net; com o intuito de tornar público o grande problema de indisciplina na escola!
Realmente, é esse o meu objectivo. Para que colegas que venham a leccionar em escolas destas possam dar aulas "mais normais", por alguém ter feito alguma coisa pela Educação.
Nos nossos post's são frequentemente referidos o ambiente familiar e social destes alunos, as condições em que vivem, os meios de comunicação que ajudam a enxovalhar a classe e que faz com que nos desrespeitem, e nós próprios que, depois de um mês ou dois a dar aulas em escolas-problema, ficamos com a sanidade mental abalada e, acredito, que por vezes não tenhamos o bom-senso devido.
Acho que já escrevi muito! :)
*Beijinhos*
Li agora o tal artigo. Não sabia de nada do artigo ate a Professorinha o referir. Concordo com a Stora, não foi pedida autorização a ninguém para a utilização das nossas palavras. No minimo faria sentido manter-se o contexto.
A ler, pensei que a Isabel tinha sido entrevistada, afinal foi um mail, no entanto Obrigada por o ter disponibilizado na íntegra. Não custa nada saber com que linhas se coseu a Jornalista.
Um abraço
Agora sim, percebe-se a trapalhada da jornalista... MAs eu, que de vez em quando dou entrevistas (já vem de longe.... música, escrita ) dou sempre um enorme desconto ao exercício de síntese de certos jornalistas... nunca leio o que lá está (tantas vezes fiquei insatisfeita com as colagens) mas imagino o qu realmente terá sido dito. Claro que o que imaginei... foi isto! Beijinho e obrigada pela citação!!!
A jornalista Ângela Marques, no seu e-mail de pedido de opinião, colocava duas alternativas: ou enviarmos o nosso nº de telefone, e por esse meio já seria uma entrevista, ou respondermos por mail. Eu optei pela segunda e não voltei a ser contactada para mais questões.
3za, eu também já tive alguma experiência de entrevistas e sei bem que muitos jornalistas (se não todos) fazem a sua própria composição. Mas, pior é quando nem sequer transcrevem o que dizemos, mesmo que retirado do contexto total, por vezes interpretando deturpadamente o que se diz (ainda que até não façam isso intencionalmente), e sempre são preferíveis transcrições, como fez Â. Rodrigues, embora segundo a sua escolha pessoal.
Não esperava que a jornalista desse tanta atenção ao meu depoimento, e isso não devo deixar de agradecer. Não sei quantos pedidos fez, provavelmente teve poucas respostas, e, apesar de tudo, acho que foi positivo ter respondido pois, como o Paulo Guinote também considerou no seu primeiro post sobre o artigo e o seu próprio depoimento, penso que a jornalista depois de ter contactado alguns autores de blogues até terá moderado a imagem negativa que sentimos inicialmente que ia dar.
De facto a imagem que se tem depois de ler o artigo não é das melhores. Por vezes parece que há jornalistas que tendo uma visão de um assunto, apenas buscam forma de a justificar, em vez de tomar uma atitude de procura total. Será o tempo que é pouco para a, por vezes necessária, meditação...?
Obrigado pela partilha das suas respostas e pela referência.
Miguel Pinto disse:
"Pois é, Isabel. E por falar em culpa, é evidente que a culpa é dos professores dos jornalistas porque não foram capazes de suscitar o desenvolvimento do espírito crítico..."
Desculpe, caro Miguel mas não podia estar mais em desacordo: há ensinar e há aprender e há recusar-se a aprender o que é ensinado. Ora, pelo que aqui fica expost, a jornalista tem mau carácter e a responsabilidade do seu mau carácter não pode ser assacada aos seus professores. Detesto que, de forma reiterada, continuem a haver professores que culpem outros professores do mau carácter dos discípulos. Essa é uma filosofia que provou estar COMPLETAMENTE ERRADA e que não tem qualquer fundamento.
Peticao.com.pt/por-esmeralda
Petição Por Esmeralda
Diziam os antigos, e sabiamente: “parir é dor, criar é amor”.
A Esmeralda sabe muito bem o que significa a palavra amor. Felizmente, e apesar das suas origens tão atrapalhadas, foi abençoada pelo amor e carinho de um casal, a que o destino roubou a possibilidade de gerar um filho natural.
E esse casal, antes de algo mais, entregou-se à missão de a criar, amar e educar, tarefas que nunca hesitaram aceitar, confrontados pela situação duma menina em dificuldades por uma mãe sem posses e abandonada pelo pai que só o quis ser depois de chamado pelas autoridades.
Agora, estão a tirar à Esmeralda esse amor que conheceu desde sempre, o único que durante muito tempo lhe quiseram dar, o único que conheceu, mas também o maior, o completo, o total.
Sabendo do passado desta menina, que conheceu um pai e uma mãe, uma família, um projecto de vida …
- Poder-se-á acreditar na transformação radical que alguns dizem que assumiu?
- Como é que esta menina viverá, forçada a ignorar a mãezinha e o paizinho?
- Como é que esta menina pode ser feliz apagando todas as memórias boas que viveu?
- O que é que se está a fazer com esta menina?
- Como é que alguém pode avaliar o bem estar da Esmeralda numa situação de ruptura total como a que está a acontecer por estes dias?
- Estar-se-á a castigar esta menina, condenando-a a pagar com sofrimento uma pena que querem aplicar aos pais afectivos?
Esta petição tem por finalidade pedir a todos que, pelo menos por um minuto, fechem os olhos, se recriem nesta história, e olhem à sua volta, procurando noutras crianças de 6 anos, a mais improvável possibilidade de um momento para o outro deixarem de gostar de um pai e de uma mãe e passarem a gostar de uns novos.
Pensem também os Pais de uma criança de 6 anos que agora lha tiravam e não a deixavam consigo contactar. Pensem, mas pensem não no vosso sofrimento, mas no da criança.
Será possível? O que é que está a acontecer a Portugal?
Seremos todos responsáveis pela nossa inércia. Porque o que é desumano tem que ter resposta. E nenhum de nós pode ficar imune e quieto.
Por favor, reaja, junte a sua assinatura a esta petição; vamos despertar consciências e pôr este país a reflectir no que de verdadeiramente assustador e quem sabe, irremediável, poderá estar a acontecer à Esmeralda.
Um dia a mais é mais um dia de sofrimento atroz.
Por favor, envie esta mensagem a todos os seus contactos.
Contamos consigo.
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