Nestas duas semanas não li jornais, não li artigos, não li posts, no que respeita a notícias limitei-me a um telejornal diário. E, se o mundo se confinasse a este país que tão medíocrezinho anda, nem perderia nada relevante se nem a TV ligasse - ver a triste prestação de Maria de Lurdes Rodrigues na sua ida ao Parlamento esteve dentro das expectativas já rotineiras e, quanto às cenas dos exames, quem ainda se espanta com repetições de remediação ou com perguntas ambíguas que até professores põem a discutir??
Mas, este país não é o mundo, e, no mundo, está a acontecer a agressão de uma potência militar sobre uma população de outro país - sim, eu digo assim, a comunicação social diz de outras maneiras, ou só diz Israel e o Hezbollah, o Hezbollah e Israel, parece que sumiu das bocas e das mentes a história do conflito israelo-árabe (história que não se confina à causa original), que o que é preciso é que o mundo aceite sem demasiada indignação imagens como esta, que recolhi aqui.
Este cantinho não costuma ter imagens assim, além de que é de memórias de professora. Mas ando ausente dessas memórias, ando farta de uma comunicação social quase acrítica, voz das conveniências dos senhores do mundo e de seus formais aliados, subserviente ao papel dela esperado de fazedora das cabeças ocidentais. Ando também a começar a perder algum gosto ou sensação compensatória de, apesar de tudo, pertencer a uma comunidade europeia esperada como preservadora de valores mas que, afinal, ao invés de se distinguir ou diferenciar, embarca nas águas desse poder que (por enquanto) estende pelo mundo os seus tentáculos gananciosos sem que a boca de outras nações (inclusive a que somos) pronuncie o termo terrorista ou o epíteto criminoso, como se as expressões com que intitulam o parceiro americano e se auto-intitulam - mundo civilizado, mundo democrático - concedessem por si só a imunidade. Agitar a bandeira de combate ao terrorismo ou a qualquer grupo que chacina civis indefesos é, indiscutivelmente, defender direitos humanos. Todavia, é preciso algum 11 de Setembro que ponha na visão dos possíveis outros atentados algures, perto, sobre as próprias cabeças, para se recuperar a capacidade de indignação que o quotidianozinho razoavelmente seguro que se vai vivendo faz, de facto, ir perdendo, num quase fechar de olhos a outras formas de terrorismo, belicistas quando as mais disfarçadas não chegam, mas mais geralmente invisíveis, subterrâneas, com as quais o interesse próprio e a ganância do poderio económico tornam ou mantêm num inferno a vida de povos, pois mesmo sem guerra se vive o inferno da fome ou o sofrimento da exploração ou a humilhação de governações fantoches e subservientes.
A meu ver, Israel, neste momento, está a ser uma gota de água (mas uma gota chega para fazer transbordar um copo) a que o Hezbollah serve de pretexto. E as causas perdem a sua justiça a partir do momento em que de vítima se passe a vitimador e outros interesses viciem o que foram outrora causas justas. Israel já teve oportunidades de rasgar o seu papel de vítima, neste momento só lhe consigo vislumbrar a hipocrisia filiada nessa outra hipocrisia maior que todas, sob a qual se processa (até quando, está por ver) a "democrática" supremacia americana. E é desta que estou farta, é sob os seus tentáculos que tenho sentido o mundo, apesar de saber que outros tentáculos se poderão constituir, apesar de ser pequena (embora persistente) a esperança de que alguma vez a humanidade descubra um caminho de libertação - libertação de si mesma, superação de uma parte da sua própria natureza?
Como disse acima, este cantinho não costuma exibir imagens como essa com que a ele regresso. Mas, as memórias de professora andam distantes, também não quero apagar este blogue para iniciar um com outro nome, acho, pois, que pus o título adequado nesta reentrada - sinto-me como se continuasse ausente...