No céu enfeitado, papagaio de papel: também vou no vôo. Anibal Beça (Brasil) |
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Pela Páscoa, não saí da cidade mas pairou-me uma imagem mental de férias, imagem que, por mera coincidência, se reforçou ao ver por acaso um programa de José Hermano Saraiva sobre uma terra de Portugal (não devia ter esquecido o nome). Imagem não de algum ambiente com que a natureza nos repousa e contenta os olhos, que para isso não preciso caminhar muito, basta uma tarde de passeio à serra de Sintra. Mas de ambiente humano NATURAL, as gentes saindo à praça nos fins das tardes ou nas noites serenas para cavaquear no convívio em que todos se conhecem, as crianças brincando na rua sem os sustos dos pais - cuidado com os carros! não te juntes a desconhecidos! não me largues a mão! -, de vez em quando a banda local a tocar sem estridência no coreto, e por vezes os bailaricos a acontecerem espontâneos...
Mas, se com a lupa no mapa encontrar tais lugares, os veraneantes os mudarão durante Agosto, pelo que, não projectando sair fronteiras nestas férias, o mais certo é restar-me ser turista no meu país, o que me soa estranhamente a algum antagonismo.
Mário Eloy Pereira (1936)
Ou não fosse este um blog de memórias, claro que a essa imagem mental de férias não é alheia a memória de quotidianos longínquos, independentes de férias. Dos cafés de Lisboa que não arrumavam as cadeiras às 9 da noite, onde se sabia encontrar-se sempre uma mesa de amigos ou conhecidos; dos bares, poucos mas obrigatórios, onde também sempre nalguma mesa havia conhecidos, e outros não tanto que passavam a sê-lo.
Até aqui no meu bairro os cafés, ao alargarem o serviço para os minipratos que permitem o almoço económico no intervalo do trabalho, têm agora as portas fechadas antes das 8 da noite (não duvido que por dificuldades financeiras e direito dos funcionários), e o convívio a pretexto da bica encerrou.
Claro, memória não é saudosismo - estamos no tempo de conviver em frente ao pc (mesmo que as frases curtas nem cheguem para preâmbulo de conversa), e quanto à bica também não há problema, que os hipermercados oferecem variedade de designs e preços para a podermos fazer com boa pressão, bem cremosa, na cozinha. Não vamos ser múmias - então não sabemos todos que esse café de Van Gogh aí abaixo nem do século passado já é?
-;)
1 comentário:
...também há a memória do perfume das tílias nas noites quentes dos verões dos nossos 20 anos...
cecilia
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