O Exame e a Caculadora
ou
Quando as preocupações se tronam paranóia
Vão realizar-se pela primeira vez exames nacionais no 9º ano (final da escolaridade obrigatória) em Matemática e Português. Com aparato e minúcias, decerto inexcedíveis, nas medidas de segurança, de vigilância e de igualdade de critérios Mas... tudo bem até aqui - até a preocupação com as medidas chegarem desnecessária e ridiculamente a colocar alunos na eterna desvantagem decorrente das carências económicas.
Amanhã, vou ter que dar a notícia aos meus alunos (e decerto, aos seus, muitos colegas pelo país fora): Foi feita proibição absoluta e ameaçadora de as escolas emprestarem calculadoras aos alunos que as não possuam. (A calculadora, no 9º ano, é necessária e mesmo indispensável para resolverem vários problemas)
Àqueles a quem sempre foram fornecidas calculadoras na aula, dispensando (como é seu direito na escolaridade obrigatória) a despesa com uma calculadora científica, terei que explicar a impossibilidade de a escola as emprestar antecipadamente devido ao risco de processo disciplinar, dado que, como é natural, as calculadoras da escola estão identificadas como pertença desta e o material dos alunos será inspeccionado.
Por sugestão oral de responsável superior, "poderão adquirir uma calculadora elementar muito baratinha numa loja dos 300" - basta que tenha a raíz quadrada! E, assim, uns alunos terão o recurso que já tinham à calculadora científica pessoal, outros ficarão sujeitos às ratoeiras da "baratinha" na introdução dos dados.
(O argumento da entidade superior baseia-se numa reclamação feita por um pai num exame passado, malévola e tão ridícula que me dispenso do relato)