segunda-feira, maio 30, 2005

Ainda sobre agir a tempo

Memórias são também as da aprendizagem e progressiva aquisição de experiência no intuir causas de dificuldades de aprendizagem. E cada aluno é ele (com as “suas circunstâncias”), não igual a nenhum outro, e as causas podem ser várias e diferentes. Mas também há causas semelhantes.
No post anterior estiveram no meu pensamento aqueles pré-adolescentes que se empenham nas aulas e, preocupados com o seu baixo rendimento nalgumas disciplinas, se preocupam também em estudar em casa.

Na teoria da aprendizagem não há receitas, há apenas ingredientes à disposição. E, em qualquer uma que criemos com os ingredientes que se afiguram adequados, há sempre que incluir: intuição – q. b.

sábado, maio 28, 2005

Diagnosticar e agir a tempo

É bem diferente ouvir “stora, não vale a pena, eu para matemática não dou nada” entre os 5º e 7º anos , inclusive, de o ouvir quando se recebeu o aluno já no 8º ou 9º (últimos anos da escolaridade obrigatória). Neste segundo caso, de pouco serve o facto de, devido ao processo geral de desenvolvimento que em todos decorre com a idade, já possuir uma capacidade metacognitiva que lhe permite compreender quanto as suas dificuldades anteriores se deveram não a falta de capacidade, mas a não terem descoberto no tempo certo como pôr o raciocínio em marcha e dirigi-lo, como noutro artigo referi. Porque a Matemática básica é um edifício em que não se pode morar no 4º ou 5º andar subindo de elevador – é necessário percorrer os degraus até lá. E percorrê-los quando, já nesses anos mais avançados, sonham com uma profissão que requer a disciplina de Matemática (e com sucesso) no ensino secundário... bem, isso fica para aqueles cujas famílias podem gastar uma pequena fortuna em explicações particulares – a legislação que implementou aulas suplementares de apoio para recuperação até ainda está em vigor, só que a verba para elas sumiu, ficando apenas no papel mais um (des)investimento na educação no nosso país.

Não é só a experiência que me diz que todas as crianças sem deficiências patológicas têm capacidade para aprender – di-lo literatura do campo da investigação em educação.
“Pois.... eu fico preocupada em saber como se resolve o problema e não chego a meter a cabeça nele”, “Eu no teste queria lembrar-me, eu tinha estudado, e não consegui... afinal era só preciso pensar eu, o problema até era fácil!" "Acho que já ando a ver o que a stora quer dizer com aquilo... que os problemas não se decoram...” – estes são apenas três exemplos entre tantos outros surgidos em pequenas sessões devidamente planeadas da chamada actividade metacognitiva quando leccionava o 6º ano.

A “história” relativamente recente da Cláudia, que contarei num próximo dia, mostrará o que quero dizer com descobrir como se põe o raciocínio em marcha (e como essa descoberta ainda a tempo pode mudar tudo na relação de alguns alunos com a mat).

quinta-feira, maio 26, 2005

Os comentários

Com o comentário do Jorge a "Pergunta", fico indecisa sobre se opto por memórias soltas ou questões soltas (destas últimas já há "toques", nos comentários, que bem dão para discutir) - ou se ponho aqui primeiro o comentário dele como artigo e... entramos então em enormes questões de fundo!

Mas amanhã é feriado... mais não faço do que anotar na minha agenda :)

Entretanto, uma memória em foto e uma histórinha alegórica... (dedicada ao comentário do johndoe sobre as calculadoras - mas não só a ele)

Foto

Calculadora? - pergunta o Prof franzindo o sobrolho. Stor, sabe que o número 37 tem magia? - responde o miúdo. Ai sim? Hum... mostra lá! - diz o Prof. Mas tem que ser com a calculadora, que só três ou quatro exemplos não permitem tirar conclusões... - sentencia o puto. Isso é verdade, muito bem dito - elogia o Prof. E o garoto, lesto: Vamos à do computador, que não trouxe... Não, não é preciso - interrompe o idoso professor, já assustado - serve-te aqui da minha!

;)

domingo, maio 22, 2005

O exame e a calculadora

O Exame e a Caculadora
ou
Quando as preocupações se tronam paranóia
Vão realizar-se pela primeira vez exames nacionais no 9º ano (final da escolaridade obrigatória) em Matemática e Português. Com aparato e minúcias, decerto inexcedíveis, nas medidas de segurança, de vigilância e de igualdade de critérios Mas... tudo bem até aqui - até a preocupação com as medidas chegarem desnecessária e ridiculamente a colocar alunos na eterna desvantagem decorrente das carências económicas.
Amanhã, vou ter que dar a notícia aos meus alunos (e decerto, aos seus, muitos colegas pelo país fora): Foi feita proibição absoluta e ameaçadora de as escolas emprestarem calculadoras aos alunos que as não possuam. (A calculadora, no 9º ano, é necessária e mesmo indispensável para resolverem vários problemas)
Àqueles a quem sempre foram fornecidas calculadoras na aula, dispensando (como é seu direito na escolaridade obrigatória) a despesa com uma calculadora científica, terei que explicar a impossibilidade de a escola as emprestar antecipadamente devido ao risco de processo disciplinar, dado que, como é natural, as calculadoras da escola estão identificadas como pertença desta e o material dos alunos será inspeccionado.
Por sugestão oral de responsável superior, "poderão adquirir uma calculadora elementar muito baratinha numa loja dos 300" - basta que tenha a raíz quadrada! E, assim, uns alunos terão o recurso que já tinham à calculadora científica pessoal, outros ficarão sujeitos às ratoeiras da "baratinha" na introdução dos dados.
(O argumento da entidade superior baseia-se numa reclamação feita por um pai num exame passado, malévola e tão ridícula que me dispenso do relato)

Poema

Ai o ponteiro da tortura
naquela sala
que a matemática tornava mais escura
em vez de iluminá-la.

Felizmente só o nada-de-mim ficava lá dentro.

O resto corria no pátio-em-que-nos-sonhamos,
pássaro a aprender os cálculos do vento
aos saltos do solo para os ramos.

Mas só quando voltava para casa à tardinha
encontrava a minha verdadeira matemática à espera
na lógica dura das teclas do piano,
no perfil-oiro-pedra da vizinha,
na flauta de água macia do tanque
- chuva de Mozart nos zincos da Primavera...

Matemática cantante.
-
(José Gomes Ferreira, 1957-58)

segunda-feira, maio 16, 2005

Haiku

Nós temos cinco sentidos
são dois pares e meio d'asas.
Como quereis o equilibrio?
Haiku de David Mourão-Ferreira
Haiku enviado po k2

sábado, maio 14, 2005

Pergunta

"Stora, não vale a pena, eu para Matemática não dou nada".
Ouvi isto algumas vezes (e também os vi algumas vezes começarem a "dar").

Enquanto este blog está ainda em "projecto" (e para o acaso de ter visitas), deixo a pergunta: porquê "para Matemática não dou nada"?
Entre a listinha que se segue de possíveis respostas, escolham duas e deixem em comentário (mais tarde, deixarei eu a minha opinião, de alguma experiência feita) ;)
1 - Porque algumas crianças são pouco dotadas de inteligência.
2 - Porque a Matemática é muito difícil.
3 - Porque, nos primeiros insucessos, os deixaram perder a autoconfiança.
4 - Porque os miúdos não gostam de ter que pensar.
5 - Porque todos têm capacidade para o raciocínio, mas alguns simplesmente não descobriram como é pô-lo em marcha e dirigi-lo.
6 - Outros motivos...

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Com um ambiente propício e um tudo-nada de confiança, as crianças iriam até ao fim do mundo (C. Freinet)


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