Comentei-o na rede Interactic 2.0, pelo que me limito a copiar para aqui esse meu comentário, com alguns pequenos prolongamentos.
-Começando por apontar um ponto positivo: Valorizar os professores. Mas, onde fez Nuno Crato ouvir a sua voz quando, após a LBSE, a formação dos professores de Matemática do Ensino Básico, especialmente do crucial 2º Ciclo(falo desta disciplina porque a lecionei durante 37 anos, primeiro no 2º Ciclo - e ainda no "Ciclo Preparatório" da Reforma Veiga Simão -, depois no 3º Ciclo), baixou muitíssimo de qualidade, juntando a formação científica à formação pedagógica, praticamente eliminando verdadeiros estágios pedagógicos, tudo com a mesma duração que antes tinha a formação científica? E com que força procurou opor-se ao ainda pior Novo Regime de formação de professores, quando do processo de Bolonha? (Não tenho voz pública, mas, no meu humilde blogue, muito denunciei tudo isso)
-"Ensino em espiral": NC critica, e valoriza conteúdos, mas esquece que, no E. Básico, além de uma boa preparação nos conhecimentos, essencial para os alunos que virão a prosseguir para áreas com Matemática ( e boa preparação a nível de conhecimentos não é simplesmente decorá-los de modo a não serem esquecidos até realizarem exames), é fundamental criar os hábitos (e o gosto) de raciocinar, de rigor, de pensar criticamente, e proceder desde relativamente cedo à iniciação em CONCEITOS, os quais só ficam elaborados por sucessivas retomas. A matemática do (decorar) "como se faz" em nadinha contribui para a Formação Matemática e desenvolvimento do pensamente rigoroso sem a aquisição de conceitos, e estes só ficam elaborados após o tal "ensino em espiral" (que Nuno Crato de algum modo caricaturiza - talvez se encontre aí a explicação para a falta de rigor de alguns dos seus escritos, nada própria de um matemático)
- Nunca adopto a expressão "Ciências da Educação" (e gosto de ter no meu registo biográfico "mestrado em Educação", pelo Departamento de Educação da FCUL - departamento que é avesso à expressão acima). Mas muito importantes são as Ciências tais como Psicologia Cognitiva, Psicologia da Aprendizagem", etc., do âmbito da investigação científica (essas sim, Ciências), pelas suas aplicações em educação-ensino-aprendizagem. NC tem na sua cabeça um "eduquês" que ridicularizou com bastante ignorância e recurso a método nada próprio de quem deveria ter rigor intelectual, como já disse acima - um "eduquês" completamente irreal nas escolas.
O que não é compatível, é juntar a formação científica sólida (o professor tem que saber bem mais do que o que tem que ensinar a determinadas idades) com essas ciências num curso de formação inicial com a mesma duração que tinha no meu tempo só a licenciatura científica especializada. E os verdadeiros estágios pedagógicos foram tornados caricaturas de estágios por motivos economicistas (pelo menos para lecionar 2º Ciclo, onde tive o que guardo como triste memória quando, uma única vez, aceitei ser professora cooperante - não confundir com professor orientador). NC denuncia o actual regime de formação inicial de professores, relacionado com o Processo de Bolonha, mas não diz que vai ter coragem para o alterar.
- Por último: NC tem-se mostrado assustadoramente retrógado, pois tem insistido na sobreposição dos conteúdos e na memorização, desvalorizando os processos. Além de que mais exames pressionarão os professores para o treino para estes, quando a aprendizagem da Matemática, precisando, claro, também de treino, não chega a ser aprendizagem que dure sem os processos que levam os alunos ao pensar, à compreensão, e ao ganho de autonomia numa relação com gosto e com esforço no prosseguimento do estudo dessa disciplina.
Perdoem-me o pecado de pouca humildade, mas tenho que dizer que tenho autoridade para opinar pois os meus alunos sempre provaram prosseguir bem preparados, e, no respeitante ao 9º ano, quer aqueles a quem atribuí o nível mais elevado (5) mantiveram, na escala de notas do Secundário, a excelência (própria das elites sobre as quais parece predominar o pensamento de NC), quer alunos a quem atribuí aquele nível 3 "baixinho" e prosseguiram para a escolaridade não obrigatória, aguentaram-se muitas vezes até para além das minhas expectativas. (Eu tinha notícias de quase todos porque a Escola Secundária era ao lado da minha E2,3).
Eu seria decerto apelidada por NC de "eduquesa", mas, por minha vez, eu considero-o não "moderno", mas sim com um pensamento extraordinariamente antiquado e voltado para as elites de alunos. Revela-o pouco no vídeo, mas não é pelo vídeo que eu o conheço (que nós o conhecemos).
Eu seria decerto apelidada por NC de "eduquesa", mas, por minha vez, eu considero-o não "moderno", mas sim com um pensamento extraordinariamente antiquado e voltado para as elites de alunos. Revela-o pouco no vídeo, mas não é pelo vídeo que eu o conheço (que nós o conhecemos).
6 comentários:
Muita coisa aqui e toda certa.
Uma Só palavra para o definir: Ignorância! Um opiário intoxicante em inclinados planos e afins, um livrito que que de reflexão não tem nada, parecendo um daqueles folhetos de fado de rua dos anos 50-60, e sobretudo, uma ignorância assustadora das dinâmicas sociais, das culturas juvenis, de reflexão e reaprendizagem dos novos tempos.Um Tecno"crato" puro e duro!
Os basbaques salivam de alegria pelo deus todo poderoso que num passe de mágica , de exames a torto e a eito, de avaliação docente pelos resultados dos mesmos, de extinção de organismos estatais para a criação de outros agora independentes e privados( sobretudo com os basbaques salivadores) e sobretudo, treino, muito treino e formatação de mentes e espíritos numa determinada ordem, numa determinada submissão!
"Um Castrador do Reino".
Como Raoul Vaneigem descalçou estes peraltas, estes pseudo-intelectos.
Ah! Tens reparado nos lambe-botas blogosféricos da nossa classe ao estilo dos miúdos ( uns mais espectaculares, outros mais refinados: "Estou aqui", "estou aqui"!?
Daqui a um ano ou dois, não escreveram nada, não endeusaram, não eram adeptos de nada! E nem sequer o galo cantará três vezes!
Existente Instante
Caro EI,
Não me tenho dado ao trabalho de paasar por certos blogosféricos porque adivinho o que dizes. Tenho preferido pôr os meus escritos no Face Book (que deixei de frequentar a não ser para isso e para ir responder a msgs ou notificações que recebo no mail)para ser lida por pessoas que eu não esperava que estivessem iludidas mostrando expectativas positivas, ainda que com alguma interrogação.
Vejo o teu blogue muito intermitente, o que já era habitual, mas, neste momento, somos tão poucos em contra-corrente... os teus excelentes escritos são necessários, se tiveres tempo.
Ouvi pouco NC na TV porque era uma perda de tempo, dado que já conhecia bem as suas ideias (e, sim, a sua ignorância, excepto, provavelmente, na sua área específica como investigador lá nas matemáticas aplicadas). E deixara de ser sócia da SPM, cujo passado foi abrilhantado por grandes figuras, e cujo presente, ou passado menos antigo, não deu continuidade ao prestígio que teve outrora.
A lucidez é assim tão difícil?!!
Os professores não têm que (nem devem) fazer a cabeça dos seus alunos com as suas ideias. Mas quando alguns são cegos, como podem formar os seus alunos para a lucidez e o espírito crítico?
Vejo com tristeza a forma acrítica com que NC está a ser recebido pela maioria dos professores nas escolas. Percebe-se porquê, mas para quem tem um pouco de cultura geral e educacional, assim como consciência política, este personagem não engana... Não abona nada a maior parte dos colegas deixarem-se enganar assim.
O teu género de desconstrução do discurso de NC está muito bem feito e seria importante atingir o maior número de pessoas a começar pelos professores.
Henrique, eu envio estes escritos para o Face Book, onde são mais lidos. Mas, se achas que este merece ser mais divulgado, podes ajudar enviando o link directo para este post por mail aos teus contactos que aches que estão ilududos por insuficiente conhecimento de NC.
É bom irmos falando sobre isto porque a minha posição é a de um espectador
que, passando, ouve falar alto e se detém um pouco a tentar perceber o que
se diz.
Vê-se que os teus comentadores são pessoas que, tal como tu, conhecem o
novo ministro de outros filmes que não este em que ele agora está metido.
Eu penso dele o que penso de quase todos: “quem os ouve falar não os leva
presos” e “cá estaremos para ver até que ponto faz o que diz e diz o que faz”.
Gosto da maneira desassombrada como ele tem enfrentado as ministras e as
teorias delas que até eu vejo que são erradas e, (desconfio muito) bastante
ditadas por José Sócrates cujo estilo é o de por as culpas em toda a gente para
virar as coisas da maneira que quer sem ouvir conselhos nem avisos.
Portanto: se ele ataca as ministras de que eu não gosto é bom. Se ele não desfaz
o que elas fizeram é mau; e se ele vai para lá fazer o que elas faziam é muito mau.
Depois veremos se a carga burocrática que hoje impende sobre os professores
desaparece ou diminui, se a avaliação dos professores adopta uma forma menos
kafkiana do que a implementada pelos governos anteriores, depois suspensa pela
AR e agora nem sei em que pé é que estamos e se os alunos passam a ficar retidos
quando não aprenderam o suficiente para transitar, em vez de passarem todos
para benefício das estatísticas.
SFred, obrigada por comentares. És um cidadão atento, mas a tua profissão não foi a de professor, por isso ouves Nuno Crato "de fora".
Creio que esta é a afirmação minha que melhor te levará a não teres boas expectativas: A nossa amiga
3za, conhecida na blogosfera como Excelente profesora enquanto escrevia sobre as suas aulas, seria apelidada com desprezo de "eduquesa" por NC se ele assistisse a uma aula sua ou lesse algum dos posts em que descrevia aulas de Matemática.
Um abraço
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